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quinta-feira, 27 de junho de 2019

A origem das músicas "Ave Maria" - Bach / Gounod e Schubert

1. - Introdução


As mais bonitas e conhecidas músicas em prece / louvor à Virgem Maria são as compostas por Bach/Gounod e Schubert. São cantadas em casamentos, bodas, festejos de natal, ...,. O mais curioso é que nenhuma das duas foi composta originalmente para ser uma homenagem à Maria. As duas com o passar do tempo foram ganhando versões com a oração da Ave Maria em latim, como letra padrão. 


 Virgem Maria com o Menino de Esteban Murilo
Virgem Maria por Esteban Murilo, 1660, RijksMuseum, Amsterdã



A oração católica da Ave Maria em latim como segue:

Ave Maria Gratia plena
Ave Maria
cheia de Graça
Dominus tecum Benedicta tu in mulieribus Et benedictus fructus ventres Tui, Jesus
O Senhor é convosco
Bendita sois vós entre as mulheres
Bendito é o fruto do vosso ventre
Jesus
Sancta Maria, Mater Dei Ora pro nobis peccatoribus Nunc et in hora Mortis nostrae Amen
Santa Maria, Mãe de Deus
Rogai por nós pecadors
Agora e na hora
de nossa morte
Ámen


2. - Ave Maria de Bach / Gounod 


Ave Maria de Bach / Gounod consiste de uma melodia do compositor romântico francês Charles Gounod especialmente projetada para ser sobreposta ao Prelúdio No. 1 em dó maior, BWV 846, do livro I de JS Bach, O Cravo bem temperado, escrito cerca de 137 anos antes. 


Prelúdio de Bach - O Cravo bem temperado


O Cravo Bem Temperado é uma coleção de música para cravo solo, composta por Johann Sebastian Bach. Ele inicialmente escreveu prelúdios e fugas tendo por base os 24 tons (12 maiores mais 12 menores), surgidos em 1722 "para o proveito e uso dos jovens músicos desejosos de aprender e, especialmente, para o entretenimento daqueles já experientes com esse estudo".



 quadro de Bach  Formalmente, O Cravo Bem Temperado engloba uma gama extraordinariamente grande de estilos. Os Prelúdios são formalmente livres, embora individualmente muitos exibam formas melódicas tipicamente barrocas, frequentemente vinculadas a uma coda estendida e livre (por exemplo, os prelúdios em Dó menor, Ré maior e Si bemol maior do Livro I). 



A obra mais conhecida do Cravo Bem Temperado é o prelúdio nº 1 do Livro I, uma progressão simples de acordes arpejados. A simplicidade técnica deste prelúdio tornou-o uma das obras para teclado mais estudadas pelos que iniciam os seus estudos musicais (seja em piano ou em cravo). Este prelúdio escrito por Bach, luterano conservador, também serviu de base, mais de um século depois, para a Ave Maria de Charles Gounod. (fonte: wikipedia.pt)

Vejam como era o prelúdio originalmente e como ele se adapta perfeitamente como base / acompanhamento para a melodia de Gounod.





Obs: Vejam que nessa peça original não havia nenhuma referência a Virgem Maria.


Ave Maria de Gounod


  quadro de Charles Gounod A peça é composta por uma melodia do compositor romântico francês Charles Gounod especialmente projetada para se sobrepor ao Prelúdio No. 1 em C maior, BWV 846, do Livro I de J.S. Bach, O Cravo Bem Temperado, escrito cerca de 137 anos antes.


Originalmente, essa ária foi uma improvisação Gounod em piano sobreposta ao primeiro prelúdio do Livro I do Cravo Bem Temperado de Bach . A partir desta improvisação, o pianista Pierre Zimmermann , futuro sogro de Gounod, realizou uma versão para violino acompanhada de um pequeno coro. Só mais tarde foi produzido o arranjo para violino (ou violoncelo ) e piano (ou harmônio ), destinado a ser tocado em concerto sob o título de "Meditação" e publicado por Heugel .




A primeira versão da Ave Maria


Ainda é Zimmermann quem irá adaptá-la para a voz no texto da versão clássica latina da oração Ave Maria. Esta será criada em 24 de maio de 1859 por Caroline Miolan-Carvalho

Juntamente com a Ave Maria de Schubert, a Ave Maria de Bach / Gounod tornou-se um acessório em missas para casamentos e outras celebrações.


Gravação com Sarah Brightman

As cenas do vídeo são do filme Jesus de Nazaré, 1977, de Franco Zefirelli, com Olivia Hussey no papel de Maria.







Há vários arranjos instrumentais diferentes para a música de Gounod, incluindo para violino e violão, quarteto de cordas, piano solo, violoncelo, trombones e até uma versão para cavaquinho do compositor brasileiro Waldir Azevedo.

Muitos cantores de diferentes estilos ao longo de séculos têm cantado a Ave Maria de Gounod/Bach, como Alessandro Moreschi, a soprano Maria Callas, Luciano Pavarotti, José Carreras, Andrea Bocelli, Karen Carpenter entre outros. (fonte: wikipedia.fr)



3. - Ave Maria de Schubert (A terceira canção de Ellen)


"A terceira canção de Ellen", foi composto por Franz Schubert em 1825 como parte de seu Opus 52, um cenário de sete canções do popular poema épico de Walter Scott , A Dama do Lago , traduzido livremente para o alemão.


quadro com retrato de Schubert   No poema de Scott, a personagem Ellen Douglas, a Senhora do Lago, foi com seu pai exilado se alojar na caverna dos Goblins, pois ele se recusou a se juntar ao seu anfitrião anterior, Roderick Dhu, em rebelião contra Rei James. Roderick Dhu, o chefe do Clan Alpino, sobe a montanha com seus guerreiros, mas pára e ouve o som distante do harpista Allan-bane, acompanhando Ellen que canta uma oração dirigida à Virgem Maria, pedindo-lhe ajuda. Roderick Dhu faz uma pausa e depois vai para a batalha.


O primeiro verso da Canção de Ellen

Ave Maria! suave jovem ! 
Ouça a oração de uma donzela! 
Tu podes ouvir da natureza; 
Tu podes salvar em meio ao desespero. 
Seguro nós podemos dormir debaixo de teus cuidados, 
Embora banidos, proscritos e insultados - 
Donzela! ouça a oração de uma donzela; 
Mãe, ouve uma criança suplicante! 
Ave Maria! 



Ave Maria de Schubert

As palavras de abertura e o refrão da canção de Ellen, " Ave Maria ", podem ter levado à idéia de adaptar a melodia de Schubert como cenário para o texto completo da tradicional oração católica romana " Ave Maria ". A versão latina da "Ave Maria" é agora tão freqüentemente usada com a melodia de Schubert que leva ao pensamento equivocado de que ele originalmente escreveu a melodia como um cenário para a "Ave Maria". (fonte: wikipedia.en)


Interpretação de André Rieu e Mirusia


Uma ótima gravação com interpretação fabulosa e som de alta qualidade.




Versão Stevie Wonder

Sempre gostei dessa interpretação de Stevie Wonder. O solo de gaita é fantástico.





Interpetração de Maria Callas

As interpretações de Maria Callas são imperdíveis. Sempre constam na minha lista de favoritas. Nessa versão Maria Callas canta em alemão.





4. - Referências


Wikipedia: português - cravo bem temperado / francês - Ave MariaGounod / inglês - Ave Maria Schubert



sábado, 15 de junho de 2019

As uvas e os vinhos I - Introdução

I. - Introdução às Uvas e aos Vinhos


a) O que é vinho ?


O Vinho de uma forma geral é  uma bebida alcoólica produzida por fermentação do sumo de uva.  Na União Europeia, o vinho é legalmente definido como o produto obtido exclusivamente por fermentação parcial ou total de uvas frescas, inteiras ou esmagadas, ou de mostos. No Brasil, é considerado vinho a bebida obtida pela fermentação alcoólica de mosto de uva sã, fresca e madura, sendo proibida a aplicação do termo a produtos obtidos a partir de outras matérias-primas.


foto de cachos de uva escura


b) Uvas para produção de vinho


A Vitis vinifera é a espécie de videira mais cultivada para a produção do vinho na Europa. Esta trepadeira da família das vitáceas, cujo fruto é a uva, foi cultivada por várias civilizações europeias desde há milhares de anos, o que originou dezenas de variedades, as denominadas castas, por meio de seleção artificial. 



vinhedo na borgonha
plantação de uvas na Borgonha


Originária da Região do Mediterrâneo até o sul da Alemanha, a Vitis vinifera é cultivada em todas as regiões de clima temperado, fazendo da produção de vinho uma das atividades mais antigas da civilização, desde o período neolítico.

c) Quantos tipos diferentes de uvas existem ?


Existem no mundo cerca de 5.000 tipos diferentes de uvas viníferas, essas  que são dedicadas a produção de vinhos finos. Na Itália são entre 300 a 1.000 tipos diferentes. 

Normalmente existem tipos de uvas que se adaptam melhor em uma região e outras que são universais e se dão bem em qualquer lugar. Abaixo relacionamos as castas de uvas tintas e brancas mais conhecidas.


Castas de uvas tintas
Castas de uvas brancas







Obs: A mesma uva pode ter tem nomes diferentes dependendo do local onde é cultivada. Exemplo: Zifandel na Califórnia e Primitivo na Itália. Tempranillo na Espanha e Argentina e Aragonês no Alentejo (Portugal) e Tinta Roriz na região do Douro (Portugal)

d) Como se dá o processo de fermentação da uva para a produção do vinho?


O processo básico de produção dessa bebida é a fermentação alcoólica, um processo anaeróbio (que não depende da presença do gás oxigênio). Durante a fermentação ocorre transformação do açúcar presente na uva em etanol. Esse processo é efetuado por microrganismos diversos, como as leveduras (fungos unicelulares)


 mosto de uva no processo de fermentação
mosto da uva no processo de fermentação, foto revista adega


e) O que são os taninos ? Qual a sua importância no Vinho ?


Cientificamente falando, os taninos nada mais são que polifenóis, isto é, substâncias orgânicas que combinam várias ligações de hidrogênio e oxigênio.


Fontes de Taninos


Eles são encontrados principalmente na parte externa de vários tipos de plantas, funcionando como um mecanismo de defesa contra pragas e predadores. Isso porque, como têm sabor amargo e causam sensação de adstringência, eles inibem os ataques de insetos.


fontes de tanino


Dizer que um vinho é muito tânico geralmente significa que ele é adstringente.


Importância para saúde

No quesito saúde, os taninos são excelentes para o nosso organismo, já que possuem propriedades antioxidantes.


Corpo e Equilíbrio


Quando falamos de vinho, talvez o mais importante, seja saber que os taninos são um elemento estrutural e servem para dar corpo e complexidade ao vinho. Isso porque eles causam um certo choque na nossa boca: beber um gole de vinho tinto causa sensações, de fato, totalmente diferentes de tomar um copo de água, certo?

Em excesso, evidentemente, os taninos podem deixar o vinho desagradável, daí a necessidade de “equilibrá-los” ou “amaciá-los”.

Tipo de Uva
Em primeiro lugar, é bom saber que alguns tipos de uva já são naturalmente mais ricas em taninos do que outras. É o caso, por exemplo, das espécies viníferas: Cabernet Sauvignon; Tannat; Tempranillo; Nebbiolo; Sirah.

Já uvas como a Pinot Noir, Barbera e Zinfandel tem menos taninos.

Amadurecimento da fruta

Outro ponto importante é o estado de amadurecimento da uva no momento da colheita, já que os taninos também amadurecem junto com a fruta, ficando mais suaves e menos amargos, à medida que o tempo passa.

Tempo de contato com a casca

Como os taninos estão presentes principalmente na casca, caule, folhas e sementes das plantas, é nos vinhos em que há mais contato com essas partes durante a fermentação que se encontram as maiores quantidades de taninos.

(fonte: casa Valduga - https://blog.famigliavalduga.com.br/o-que-sao-os-taninos-e-por-que-eles-sao-tao-importantes/)

f) O que determina a qualidade do vinho,  só o tipo de uva ?


A qualidade de um vinho depende de três grandes fatores (Uva, Ambiente de cultivo e Metodo de Produção)

a) Uva



 variedades de uvas para a produção de vinho
Cada uva tem um sabor diferente e produz um vinho diferente. Quando misturadas em diferentes quantidades confere outro sabor característico.

Algumas uvas são mais doces, tem mais corpo, ...,.





b) Terroir (Ambiente de plantio)

Além do tipo de uva e da mistura utilizada temos a importância do ambiente onde a uva está sendo cultivada. Normalmente chama-se isso de terroir. Ele engloba a noção de todo o ambiente envolvendo o terreno, as temperaturas e suas mudanças, a quantidade de chuva, vinha velha ou nova.


 Terroir no Alentejo para a  produção de vinhos
Terroir no Alentejo com terreno mais arenoso

Exemplo: Em um terreno com muita umidade as videiras não tem que fazer muito esforço para obtenção de água e os frutos são mais fracos. Locais com diferenças de temperatura grande entre o dia e a noite também produzem uvas mais encorpadas.


c) Método de produção e armazenamento

Método de fabricação - Vai desde a colheita, até a produção e separação do suco, a fermentação se natural ou ativada. O método de armazenamento pode ser barricas de carvalho ou aço inoxidável. O enólogo responsável vai acompanhando o vinho em sua fermentação e verificando o teor alcóolico, e definindo as adições para completar e / ou corrigir o sabor, aromas, ...,.


 barris para a estocagem de vinho



g) Vou gostar mais de um vinho mais caro do que  um mais barato ?


O conceito mais errado que se pode ter sobre os vinhos é que quanto mais caro o vinho melhor será o sabor e que porisso gostaremos mais. Tremendo erro. Se você não apreciar daquele tipo de uva, do sabor que o envelhecimento confere e da técnica de fabricação, você não vai gostar do vinho, independente do preço.

O que é certo é que vinhos muito baratos pode caracterizar uma produção descuidada e com um teor alcoolico exagerado ou desbalanceado que além de não ter um bom sabor leva a terrível dor de cabeça do dia seguinte.

O preço do vinho muitas vezes é conferido por nuances que os apreciadores esporádicos não conseguem perceber.

Resumindo não há receita pronta. Se você é um consumidor inicial alguns vinhos carmenere chilenos são um bom ponto de partida. A partir daí, tem que ir experimentando e identificando o que você gosta, o que consegue diferenciar e o que para você constitue o melhor custo-benefício.

h) O que é um  vinho varietal ? E um "assemblage" ?


Vinho Varietal

Um vinho varietal é aquele elaborado a partir de uma única variedade de uva ou aquele com alta predominância de determinada uva. Um vinho Merlot brasileiro, por exemplo, é um exemplar produzido basicamente com uvas Merlot. 

A legislação de cada região e de cada país é que determina a porcentagem necessária para que o vinho seja considerado varietal. No Brasil, para que um vinho traga o nome de apenas uma uva estampado no rótulo precisa ter ao menos 75% dessa variedade na sua composição.


 três tipos de vinho varietais
varietais: negroamaro, primitivo de salento,
 cabernet sauvignon

Em países como Austrália e África do Sul, a porcentagem mínima da uva varietal deve ser de 85%, enquanto Nova Zelândia, Califórnia e Chile seguem a mesma quantidade necessária que o Brasil. Entretanto, algumas regiões dos Estados Unidos exigem a predominância de pelo menos 90% de conteúdo varietal.

Há também vinhos de certas denominações que não trazem o nome da uva no rótulo e são varietais 100%. Aí é preciso ter um pouco de conhecimento sobre a região para saber o que está degustando.

Quando você degusta um dos tintos maravilhosos que deram renome à região francesa de Borgonha está apreciando um vinho composto 100% pela uva Pinot Noir. Quando aprecia um Barolo, denominação italiana, está experimentando um exemplar composto exclusivamente pela uva Nebbiolo.

Vinho Assemblage


Assemblage é a mistura de diferentes tipos de uva no processo de produção de um vinho, ao contrário do que ocorre com os varietais, nos quais se utiliza uma única cepa.

Um bom exemplo de assemblage são os vinhos feitos na Região de Bordeaux na França. Geralmente feitos com Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc e Merlot, sendo permitido aos Bordeaux, utilizar Petit Verdot, Malbec e Carmenére.

A mistura de cepas utilizadas nos assemblage tem como objetivo adicionar novos aromas e sabores ao vinho deixando-os mais complexos, ou suaves, dependendo do objetivo esperado.

Uvas com taninos acentuados, como por exemplo a Tannat, auxiliam a dar corpo e estrutura a uma uva mais suave como por exemplo o Merlot.

II. - O Início da produção de vinho


Egípcios

Os egípcios foram os primeiros a registrar em pinturas e documentos (datados de 3000 a 1000 a.C.) o processo da vinificação e o uso da bebida em celebrações. Os faraós ofereciam vinhos e queimavam vinhedos aos deuses; os sacerdotes usavam-nos em rituais; os nobres, em festas de todos os tipos; as outras classes eram financeiramente impossibilitadas de sua compra. O consumo de vinho aumentou com o passar do tempo e, junto com o azeite de oliva, foi um grande impulso para o comércio egípcio, tanto o interno quanto externo. Os primeiros enólogos foram egípcios.



quadro de escravos egípcios transportando cestos de uva


A partir de 2 500 a.C., os vinhos egípcios foram exportados para a Europa Mediterrânea, África Central e reinos asiáticos. Os responsáveis por essa propagação foram os fenícios, povo oriundo da Ásia Antiga e natos comerciantes marítimos. Em 2 000 a.C., chegaram à Grécia.

Gregos

Cultivado ao longo da costa do Mediterrâneo, o vinho seria cultural e economicamente vital para o desenvolvimento grego.

No mundo mitológico, Dionísio, filho de Zeus e membro do 1o escalão do Olimpo, era o deus das belas artes, do teatro e do vinho. A bebida tornou-se mais cultivada e cultuada do que jamais fora no Egito, sendo apreciada por todas as classes.

A partir de 1000 a.C., os gregos começam, a plantar videiras em outras regiões europeias. A bebida embriagou a Itália, Sicília, seguindo à Península Ibérica. Os gregos fundaram Marselha e comercializaram o vinho com os nativos, sendo este o primeiro contato entre a bebida e a futura França.


 vaso para servir vinho
Para o gosto contemporâneo, o vinho daquela época era bastante incomum. Homero o descreveu delicado e suave, mas apesar do romantismo e das tradições festivas que a bebida evocou na época, o vinho da Antiguidade "era ingerido com água do mar e reduzido a um xarope tão espesso e turvo que tinha que ser coado num pano e dissolvido em água quente", afirma o historiador inglês e enólogo Hugh Johnson, autor do livro A História do Vinho' (CMS Editora)'.


Romanos

Fundada em 753 a.C., Roma era inicialmente uma vila de pastores e agricultores. A partir do século VI a.C., começou a se expandir e, já em 146 a.C., a península Itálica, o Mediterrâneo e a Grécia estavam anexados ao seu território.

Os vinhedos eram cultivados em áreas interioranas e regiões conquistadas. Os romanos levavam o vinho quase como uma “demarcação de território”, uma forma de impor seus costumes e sua cultura nas áreas que conquistavam. Dessa forma, o vinho terminou virando a bebida dos legionários, dos gladiadores, das tabernas enfurnadas de soldados. Junto com os romanos, os vinhedos chegaram à Grã-Bretanha, à Germânia e, por fim, à Gália ― que mais tarde viria se chamar França.

quadro de pessoas servindo e divulgando e comercializando vinho

Diferentemente do que se leu nas histórias de Asterix, Roma não tardou em conquistar toda a região da Gália. Sob o comando do imperador Júlio César, enfrentaram os gauleses e, seguindo pelo vale do Rhône, chegaram até Bordeaux. A disseminação das videiras pelas outras províncias gaulesas foi imediata, e pode ser considerada um dos mais importantes fatos na história do vinho. Nos séculos seguintes, cidades como Borgonha e Tréveris surgiram como centros de exportação de vinhos, que inclusive eram superiores aos importados.

A predileção da época era pelo vinho doce. Os romanos colhiam as uvas o mais tardar possível, ou adotavam um antigo método, colhendo-as imaturas e deixando-as no Sol para secar e concentrar o açúcar.

Diferente dos gregos, que armazenavam a bebida em ânforas, o processo romano de envelhecimento era moderno. O vinho era guardado em barris de madeira, o que aprimorava o sabor do vinho (o mesmo ainda é feito no cultivo das videiras ao sul da Itália e de Portugal). Ao lado do Império, o vinho atingiu o apogeu nos séculos I e II.

III. Plano da Publicação

Os próximos capítulos após esse capítulo introdutório serão dedicados aos vinhos e as uvas dos principais países produtores. Começaremos com a Itália no capítulo II, França no capítulo III, Portugal capítulo IV, Espanha capítulo V, Chile capítulo VI. Já temos um capítulo publicado referente a Argentina que seria o capítulo VII.

IV. - Referências


wikipedia  -  vitis viniferas  /  vinho  / história do vinho /

Blog Casa Valduga - https://blog.famigliavalduga.com.br/o-que-sao-os-taninos-e-por-que-eles-sao-tao-importantes/

O mais completo guia sobre vinhos - Philip Seldon


quinta-feira, 13 de junho de 2019

História de Paris V - Da belle époque ao período entre guerras

1. - Da belle époque à segunda guerra mundial (1870 a 1939)


A Belle Époque (expressão francesa que significa bela época) foi um período de cultura cosmopolita na história da Europa que começou em 1871, com o final da Guerra Franco-Prussiana,  e durou até a eclosão da Primeira Guerra Mundial, em 1914. A expressão também designa o clima intelectual e artístico do período em questão. Foi uma época marcada por profundas transformações culturais que se traduziram em novos modos de pensar e viver o cotidiano.


 quadro de Toulouse Lautrec - Dança no Moulin Rouge
Dança no Moulin Rouge, Toulouse Lautrec, 1890, Museu de Arte da Filadelfia, fotografia The Yorck Project em Wikipedia


Foi considerada uma era de ouro da beleza, inovação e paz entre os países europeus. Novas invenções tornavam a vida mais fácil em todos os níveis sociais, e a cena cultural estava em efervescência: cabarés, o cancan, e o cinema haviam nascido, e a arte tomava novas formas com o Impressionismo e a Art Nouveau. A Belle Époque foi representada por uma cultura urbana de divertimento, incentivada pelo desenvolvimento dos meios de comunicação e transporte, os quais aproximaram ainda mais as principais cidades do planeta.

Em paralelo com o desenvolvimento foi surgindo o crescimento da demanda dos operários por melhores condições de vida. O primeiro e mais forte movimento ocorreu em 1870 e foi chamada de Comuna de Paris. (Texto: wikipédia)


Antecedentes - Comuna de Paris

Durante a Guerra franco-prussiana de 1870, Paris é sitiada por vários meses, mas não é tomada pelos exércitos prussianos. 

Recusando o armistício assinado em 26 de janeiro de 1871 e em seguida das eleições de fevereiro as quais levam ao poder os monarquistas desejosos de pôr fim à guerra, os parisienses se insurgem em 18 de março de 1871. É o início da Comuna de Paris. A Assembleia monarquista instalada provisoriamente em Versalhes, se embate contra e Comuna entre os dias 22 e 28 de maio, no que se chamou de Semana sangrenta. Esta permanece até os nossos dias como a última guerra civil que Paris conheceria.



"A Comuna de Paris foi a realização de uma forma de governo controlada por trabalhadores e membros de classes populares da França e de outros países, que ocorreu na capital francesa entre 18 de março e 28 de maio de 1871."


 foto de barricada na comuna de Paris
foto de Bruno Braquehais
foto de barricada com pessoas em pé em cima dos sacos na comuna de Paris
foto: autor desconhecido


Apesar do curto período de existência, a Comuna de Paris tornou-se um marco no movimento operário, sendo sua experiência evocada em vários processos revolucionários posteriores, como a Revolução Russa de 1917, a Revolução Alemã de 1918-1919, a Guerra Civil Espanhola de 1936-1939, o Maio de 1968 na França e a Revolução Portuguesa de 1974-1975. (texto wikipédia)


foto de barricada com pessoas armadas em cima e na frente da barricada
foto: autor desconhecido

O final

Os antigos governantes, representantes do governo republicano burguês que haviam sido retirados do poder de Paris, conseguiram organizar uma reação ao governo revolucionário socialista da Comuna de Paris. Com forte aparato militar e policial, a alta burguesia da cidade reagiu com força e violência, prendendo ou executando os líderes e demais integrantes da Comuna de Paris.

Em 28 de maio de 1871, os republicanos retomaram o poder na capital francesa, acabando com a primeira experiência de um governo revolucionário e socialista de composição operária. (fonte: https://www.suapesquisa.com/historia/comuna_paris.htm)

A partir de então Paris caminha para um tempo de prosperidade conhecida como a belle époque.


2. - La Belle Époque



Durante a Belle Époque, a expansão económica de Paris foi significativa; em 1913 a cidade possuía cem mil empresas que empregavam um milhão de trabalhadores. Entre 1900 e 1913, 175 vários cinemas foram criados em Paris, surgiram numerosas lojas de departamentos que contribuíram para o engrandecimento da cidade luz. 

Duas exposições universais, 1889 e 1900, deixaram uma grande marca sobre a cidade. 


 cartaz característico  da belle epóque - com moça e muitos motivos florais - no caso publicidade champenois   cartaz com propaganda de música da belle epoque


Exposição de 1889


A Exposição Universal de 1889 aconteceu em Paris, de 6 de maio até 31 de outubro daquele ano. A Torre Eiffel, que servia de entrada para a exposição, foi construída especialmente para essa ocasião, celebrando assim o centenário da Revolução Francesa (1789).

A exposição cobria uma área total de 0,96km². Calcula-se que cerca de 28 milhões de pessoas visitaram a exposição, que incluía o Palácio das Artes Liberais. Casas chinesas, templos maias, pavilhões indianos, mesquitas e inúmeros pavilhões de colônias e países do mundo deleitavam os olhares dos visitantes.


foto da Torre Eiffel construída para a Exposição Universal
 foto de Alphonse Liébert (1827–1913),
 Biblioteca do congresso dos EUA


Os Destaques da Exposição e os Pavilhões Sul Americanos


A revista inglesa Engineering cobriu detalhadamente as construções da exposição e em uma de suas edições fez o seguinte comentário:

"a exposição será famosa por quatro características distintas. Em primeiro lugar, por seus edifícios, especialmente a torre Eiffel e o salão de máquinas; em segundo lugar, por sua Exposição Colonial, que pela primeira vez traz vividamente à apreciação dos franceses que eles são donos de terras além do mar; em terceiro lugar, será lembrado por sua grande coleção de material de guerra, o tema mais absorvente hoje em dia, infelizmente, para os governos, se não para os indivíduos; e, em quarto lugar, será lembrado, e por boa causa por muitos, pela maneira extraordinária como os países da América do Sul estão representados."

 gravura do pavilhão brasileiro montado para a exposição Unversal
Pavilhão Brasileiro
 foto do pavilhão argentino construído para a exposição universal
Pavilhão Argentino


Torre Eiffel


A Torre Eiffel foi construída para a Exposição Universal de 1889 (centenário da Revolução Francesa) a qual acolheu 28 milhões de visitantes. 

A torre, que é o edifício mais alto de Paris, é o monumento pago mais visitado do mundo, com milhões de pessoas frequentando-o anualmente. O seu nome foi dado em homenagem ao seu projetista, o engenheiro Gustave Eiffel. Ela foi construída como o arco de entrada da Exposição Universal de 1889.

Possui 324 metros de altura e fica cerca de 15 centímetros mais alta no verão, devido à dilatação térmica do ferro. Foi a estrutura mais alta do mundo desde a sua conclusão até 1930, quando perdeu o posto para o Chrysler Building, em Nova Iorque, Estados Unidos. Não incluindo as antenas de transmissão, é a segunda estrutura mais alta do país, atrás apenas do Viaduto de Millau, concluído em 2004.


foto da Torre Eiffel no lado oposto do champ du mars
Torre Eifel, foto HistoriacomGosto

Observação: Pelo plano original, a torre deveria ser desmontada ao final de um período de 20 anos. Quando o contrato expirou, em 1909, a Torre Eiffel quase foi demolida, mas o seu valor como uma antena de transmissão de rádio a salvou. Os últimos vinte metros da torre correspondem à antena de rádio que foi adicionada posteriormente.

Exposição de 1900


A Exposição Universal de 1900 foi realizada em Paris, para celebrar as conquistas do século passado e acelerar o desenvolvimento para o próximo. O estilo que foi universalmente presente na Exposição foi Art Nouveau.


 cartaz da belle epoque de propaganda da exposição de Paris de 1900 . O estilo hippie de alguns anos depois nos Estado Unidos tem motivos muito parecidos com os da belle epoque. Muitas flores, cabelos cacheados, ...,.   A exposição foi aberta a 15 de abril de 1900 e prolongou-se até o dia 12 de novembro daquele ano, recebendo nos sete meses de duração cerca de 50,8 milhões de visitantes.



Edificada no Campo de Marte a exposição ocupava uma área gigantesca, com pavilhões nacionais e temáticos, exibindo produtos das várias nações, como metalurgia e indústrias de madeira e têxtil de países como Rússia, Japão, Itália e Hungria.



A exposição também fazia a propaganda da ação “civilizatória” que países como França, Inglaterra e Países Baixos, tinham em suas colônias.



As novidades da Expo 1900


As principais atrações da exposição eram os novos meios de transporte (uma esteira rolante denominada “Rua do Futuro”), a inauguração da primeira linha de metrô de Paris – Porte de Vincennes - Porte Maillot, Invalides e Lyon), a fonte luminosa e o uso pela primeira vez da eletricidade para iluminar os ambientes externos, a projeção dos filmes dos Irmãos Lumière, a construção dos Petit e Grand Palais, e também os Jogos Olímpicos de 1900 que foram organizados durante a exposição.

Metropolitano de Paris


A primeira linha do Metropolitano de Paris, o Grand Palais, o Petit Palais e a Ponte Alexandre III são inaugurados à ocasião da Exposição de 1900, a qual recebe cinquenta-e-três milhões de visitantes.



foto de entrada de estação de metrô estilo belle epoque
entrada do Metro
 foto de entrada de estação subterrãnea de metrô estilo belle epoque
edícula de Hector Guimard, foto de Moonik

Petit Palais

Inaugurado como museu no dia 11 de Dezembro de 1902, com o nome de Palácio das Belas Artes da Cidade de Paris, o Petit Palais recebeu uma rica decoração de pinturas murais entre o ano da sua inauguração e 1925. A decoração escultórica é igualmente significativa, com diversas figuras alegóricas, bustos e relevos. Os elementos em ferro forjado são parte essencial da decoração, sendo especialmente notáveis no portão da entrada e nas escadarias. O prédio também é ornamentado com vitrais, mosaicos e pisos com pedras nobres, num conjunto luxuoso e imponente.


 foto da fachada do Petit Palais (pequeno palácio)
Pequeno Palácio, foto de Mistervlad em shutterstock.com


Pont Alexander III

A ponte de estilo Beaux-Arts, com os seus postes de iluminação exuberantes de estilo Art Nouveau, ninfas e cavalos alados nas extremidades foi construída entre 1896 e 1900. Recebeu o seu nome em homenagem ao czar Alexandre III que tinha concluído a aliança Franco-Russa em 1892. A pedra fundamental foi lançada pelo seu filho, o czar Nicolau II em outubro de 1896. O estilo da ponte é o mesmo do Grand Palais.

A construção da ponte é uma maravilha de engenharia do século XIX. Foi concebida pelos arquitetos Joseph Cassien-Bernard e Gaston Cousin e foi sujeita a controlos rigorosos para evitar que tapasse a vista dos Campos Elísios ou dos Invalides.

Foi construída pelos engenheiros Jean Résal e Amédée d'Alby e inaugurada em 1900 para a Exposition Universelle (Exposição Mundial) desse ano, tal como foram o Grand Palais e o Petit Palais ali perto.

 foto da ponte Alexander com sua bela iluminação - pedesrais de ferro esculpidos
Ponte Alexander III, foto de f11fotos em shutterstock.com

Deslocamento Industrial

A indústria progressivamente se desloca para os subúrbios próximos onde se acha mais espaço disponível: Renault a Boulogne-Billancourt ou Citroën a Suresnes. Essa migração é a origem do "banlieue rouge". Entretanto, certas atividades permanecem fortemente implantadas dentro da cidade intra-muros, em particular a imprensa e a publicação.

Da Belle Époque aos Anos malucos, Paris conhece o apogeu da sua influência cultural (notavelmente no entorno dos bairros de Montparnasse e de Montmartre) e acolhe muitíssimos artistas tais como Picasso, Matisse, Braque e Fernand Léger.

3. - Primeira Guerra e período entre guerras


Em 1910, a Grande Cheia do Sena provoca uma das mais graves inundações que a cidade conheceria e causa três bilhões de francos em prejuízos. Durante a Primeira Guerra Mundial, Paris, poupada dos combates diretos, sofre bombardeios  e tiros de canhão alemães. Esses bombardeios são esporádicos e não constituem nada além duma operação de caráter psicológico. 

O Entre-guerras se desenrola sobre um fundo de crise social e económica. O poder público, em resposta à crise de habitação, vota a Lei Loucheur, a qual cria as Habitation à Bon Marché (HBM, habitações de preço social) erigidas no lugar da antiga enceinte de Thiers. Os outros imóveis parisienses são, essencialmente, dilapidadas e constituem focos de tuberculose; a densidade urbana culmina em 1921, Paris intra-muros conta com 2 906 000 habitantes.

foto do local onde se instalam as habitações mais populares de Paris
Porte de Clignancourt, onde as Habitações a preços populares se instalam


Paralelamente, loteamentos se desenvolvem por todos os cantos no entorno da cidade, em "banlieues" onde a expansão se faz de modo anárquico, frequentemente em campos abertos sem organização e sem serviços públicos. 

Os parisienses tentam retomar a sua preeminência política num contexto de múltiplos escândalos financeiros e de corrupção dos meios políticos.  Em 6 de fevereiro de 1934, a manifestação das Juventudes Patriotas contra a esquerda parlamentar se degenera em violência e faz dezessete mortos e mil cento-e-cinco feridos, a que se segue em 14 de julho de 1935, uma importante demonstração em favor da Frente Popular conta com quinhentos mil manifestantes.

4. - Referências


Comuna de Paris -

Me Tales Pinto em https://www.historiadomundo.com.br/idade-contemporanea/comuna-de-paris-1871-o-assalto-aos-ceus.htm

https://www.suapesquisa.com/historia/comuna_paris.htm


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5. - Outras Postagens da série


História de Paris, França - 01 (fundação ao século XV)

História de Paris, França - 02 (Século XV ao Século XVII)

História de Paris, França 03 século XVII ao século XVIII

História de Paris, França - 04 (Quase cem anos de revoltas, guerras e transformações)

História de Paris V - Da belle époque ao período entre guerras

https://historiacomgosto.blogspot.com/2019/06/historia-de-paris-v-da-belle-epoque-ao.html


História de Paris 06 - Segunda guerra mundial - Paris Ocupada

História de Paris Contemporânea - 07