1. - O Real Gabinete Português de Leitura
Em 14 de maio de 1837, na residência do Dr. Antônio José Coelho Lousada, após uma exposição do advogado e jornalista José Marcelino da Rocha Cabral, foi criado o Gabinete Português de Leitura. Estavam presentes 43 acionistas, e o objetivo da associação era promover a instrução e melhorar o nível de conhecimento dos compatriotas que chegavam para realizar seus projetos de vida no país de acolhimento.
Real Gabinete de Leitura Português no Rio de Janeiro, foto historiacomgosto
Foram criados três Gabinetes de leitura de raiz portuguesa no Brasil nessa época. Rio em 1837, Recife em 1850, e Salvador em 1863.
Há uma teoria que diz que a inspiração para a criação desses gabinetes, foram as "boutique a lire" francesas, criadas logo depois da revolução de 1789, com a finalidade de emprestar livros, mediante o pagamento de uma pequena quantia de dinheiro.
O belíssimo edifício da atual sede, foi projetado em estilo neomanuelino por Rafael da Silva e Castro. Ele foi construído entre 1880 e 1887, e foi inaugurado pela Princesa Isabel e o Conde d'Eu em 10 de setembro de 1887.
A partir de 1900 o Gabinete foi aberto para o público em geral.
2. - Histórico das localizações
O Gabinete Português de Leitura teve a sua primeira sede no sobrado do número 83 da rua de S. Pedro, embora, em 1842, se transferisse para a rua da Quitanda, onde ocupou um “belo prédio de três pavimentos, de fachada azulejada e beiral de telhas de canal esmaltadas em Alcobaça”; no entanto, o espaço necessário para guardar os numerosos livros que possuía tornou-se exíguo e, em 1850, a diretoria viu-se obrigada a procurar novo abrigo, desta feita, na então “periférica” rua dos Beneditinos.
medalhão no canto do teto "Vasco da Gama" |
Nessa época todos estavam de acordo que "a necessidade mais urgente do Gabinete Português de Leitura era uma casa própria para a sua biblioteca, com as vastas proporções que requeria a sua avultadíssima livraria"; seria “um edifício que atestaria no futuro o patriotismo e a dedicação dos actuais acionistas do Gabinete”.
Pedro Alvares Cabral |
O espaço destinado a acomodar os livros apresentava-se cada vez mais limitado, a ponto de o relator do parecer de contas de 1872 afirmar: “O Gabinete Português de Leitura, no Rio de Janeiro, terá um edifício digno de acolher os seus livros, os tantos milhares de bons amigos que aqui nos rodeiam neste acanhado tabernáculo, em cujos altares não cabe nem mais um ídolo. Erija-se pois o templo, ou, mais parecidamente, construa-se o arsenal das armas da inteligência, onde o espírito venha revestir-se de aptidão e força para as grandes conquistas do progresso”.
Uma vez que os terrenos adquiridos pelo Gabinete na Rua da Lampadosa se encontravam já desonerados, a ideia de construir o próprio edifício começou a tomar formas palpáveis.
3. - O projeto Arquitetônico
Neste mesmo ano de 1872, os responsáveis receberam, dois projetos que se destinavam à casa da sua livraria; o primeiro, “no gosto da renascença italiana”, saíra da pena do arquiteto Pedro Bosisio e o segundo, traçado por Rafael da Silva Castro, “adotava no seu desenho a arquitetura manuelina, que no edifício dos Jeronymos em Belém, consubstanciou o que Camões fez na poesia épica, e frei Luís de Souza na prosa descritiva”.
O arquiteto lisboeta, numa carta-memória descritiva, escrita na capital a 19 de Julho de 1872, referia que, conforme lhe haviam recomendado, utilizara naquela fachada, assim como em todo o edifício o estilo manuelino, seguindo com especialidade a arquitetura da igreja dos Jerônimos.
Mosteiros dos Jerônimos
Mosteiros dos Jerônimos
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Aproximava-se, entretanto, o tricentenário da morte de Camões e, a instituição não pretendia, nem desejava, manter-se alheia à efeméride, tendo já a diretoria, no seu relatório de 1878, aventado a hipótese de aderir às comemorações. Decidiu-se então lançar nessa data a pedra fundamental do novo edifício.
A encomenda
Quando se consumou a decisão de integrar o lançamento da pedra fundamental da biblioteca no âmbito daquela data comemorativa, foi afastado o projeto de Rafael da Silva Castro e, o “plano do edifício, cuja fachada principal seria modelada no estilo manuelino”, era o que tinha sido encomendado ao “provecto e distinto arquiteto o Sr comendador Bethencourt da Silva” o que significava a certeza antecipada de se tratar de uma “obra de mérito”; apesar disso, era ponto assente que “a fachada manuelina viria completa de Lisboa, e que no plano da obra entraria considerável material de ferro”.
A reviravolta
A reviravolta
Entretanto, e sem que se consiga vislumbrar com clareza todos os meandros, a verdade é que após o recebimento dos projetos iniciais de Bethencourt da Silva, a encomenda acabou por ser, numa reviravolta inexplicável à luz dos documentos, preterido por o “do edifício no estilo manuelino, traçado em Lisboa pelo arquiteto o sr Rafael da Silva e Castro”.
Os responsáveis pelo Gabinete, ao optar, em 80, pelo projeto de Silva e Castro, talvez tivessem em mente a proposta enviada pelo arquiteto lisboeta no ano de 1872, mas como, posteriormente, vieram a adquirir, na rua da Lampadosa, mais dois prédios contíguos, encarregaram o arquiteto de riscar novo alçado, dado que a fachada se alongara quase para o dobro;
Lançamento da Pedra Fundamental
Ultrapassando todo este imbróglio, a verdade é que, integrando as festas camonianas, no dia 10 de Junho de 1880, foi lançada, pelo Imperador Dom Pedro II, a pedra fundamental do edifício. O ato contou com a presença das autoridades mais representativas da cidade, de muitos convidados e teve o “concurso de muito povo”. No pavilhão, previamente erguido para esse fim, leu-se o “auto do assentamento da pedra fundamental do edifício para a biblioteca do Gabinete Português de Leitura no Rio de Janeiro”, que foi assinado por Sua Majestade e por grande número dos presentes.
4. - Construção
Dentro de um programa consentâneo com o ideário que norteou a construção do edifício, deviam ser representados o infante D. Henrique, Luís de Camões, Vasco da Gama e Pedro Álvares Cabral. Os quatro aparecem na Fachada do prédio.
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O Interior do Prédio
As atenções, depois de 1884, voltaram-se para o interior do prédio, fazendo prosseguir os acabamentos e, simultaneamente, erguer as colunas, os varandins e as estantes destinadas a albergar o extraordinário espólio literário, que havia sido acumulado ao longo dos anos.
A Inauguração
Em 10 de Setembro de 1887 se festejou o quinquagésimo aniversário da fundação do Gabinete, “a livraria já se achava colocada nas galerias da grande sala da biblioteca” e as festividades puderam desenrolar-se nas novas instalações sitas na antiga rua da Lampadosa, embora as obras só tivessem terminado em Setembro do ano seguinte. Foi realizada uma cerimônia com a presença da Princesa Isabel e o Conde d'Eu em 10 de setembro de 1887
A inauguração oficial foi efetivamente acontecida a 22 de Dezembro de 1888.
O Título "Real Gabinete ..."
O Gabinete Português de Leitura do Rio de Janeiro, a que D. Carlos, por decreto de 12 de Setembro de 1906, se dignou conceder o título de Real, em 1884 já apresentava, exteriormente, o seu edifício concluído e coberto. Neste “templo da cultura”, a estrutura superior do salão destinado à livraria, primitivamente pensada em madeira, acabou por ser, sob parecer de Frederico Branco, substituída por uma outra de vidro e ferro; com efeito, ao apresentar esta proposta, o arquiteto demonstrou estar na posse de conhecimentos tecnológicos modernos, difundidos sobretudo no período romântico.
O Gabinete Português de Leitura do Rio de Janeiro, a que D. Carlos, por decreto de 12 de Setembro de 1906, se dignou conceder o título de Real, em 1884 já apresentava, exteriormente, o seu edifício concluído e coberto. Neste “templo da cultura”, a estrutura superior do salão destinado à livraria, primitivamente pensada em madeira, acabou por ser, sob parecer de Frederico Branco, substituída por uma outra de vidro e ferro; com efeito, ao apresentar esta proposta, o arquiteto demonstrou estar na posse de conhecimentos tecnológicos modernos, difundidos sobretudo no período romântico.
É por demais significativo constatar que o entusiasmo e emoção, despertados pelo edifício do Gabinete Português de Leitura, não decorreram do fato de aquele ser, com grande margem de certeza, a primeira obra de estrutura metálica construída no Rio, mas giraram em tomo do “belo estilo manuelino”, patenteado pela sua arquitetura, e da mensagem ideológica que continha.
5. - Os detalhes do Real Gabinete na atualidade
a) Portas de Entrada
b) Salão Principal
Interior do Gabinete Real de Leitura, foto de Mayumi Yshikawa, wikimedia commons |
c) As peças especiais
d) A Claraboia e o Lustre
e) Os Livros
O inventário da biblioteca feito em 1872 acusava a existência de 44.917 volumes, um número impressionante, na época para uma biblioteca particular.
Em 15 de Março de 1935, pelo decreto nº 25.134, o governo português concedeu ao Real Gabinete o benefício de receber de todos os editores portugueses um exemplar das obras por eles impressas. Esse estatuto permite uma atualização permanente da biblioteca em termos do que se edita em Portugal.
Atualmente a Biblioteca conta com um acervo bibliográfico de 350.000 volumes, todos eles informatizados.
Obras raras
Entre as obras mais raras da biblioteca podemos citar a edição "prínceps" de "Os Lusíadas", de 1572, que pertenceu à "Companhia de Jesus"; as "Ordenações de Dom Manuel" por Jacob Cromberger, editadas em 1521; os "Capitolos de Cortes e Leys que sobre alguns delles fizeram", editados em 1539; "A verdadeira informaçam das terras do Preste Joam, segundo vio e escreveo ho padre Francisco Alvarez", de 1540.
Possui ainda manuscritos autógrafos do "Amor de Perdição", de Camilo Castelo Branco e o "Dicionário da Língua Tupy, de Gonçalves Dias, além de centenas de cartas de escritores.
f) O Piso - Mosaico e Ladrilho Hidraulico
A entrada e as dependências administrativas do Gabinete tem um belo piso sendo parte em mosaico e parte no estilo que chamamos ladrilho hidraulico.
Ladrilho hidráulico, mosaico hidráulico ou piso hidráulico (às vezes impropriamente chamado azulejo hidráulico), é um tipo de revestimento artesanal feito à base de cimento, usado em pisos e paredes, que teve seu apogeu entre o fim do século XIX e meados do século XX.Foi apresentado como alternativa ao mármore ou como uma “cerâmica” que não necessitava de cozimento.
A partir dos anos 1960, o surgimento de outros materiais substituiu progressivamente os pisos hidráulicos por elementos menos elaborados e mais rentáveis.
g) O salão da Diretoria
h) O Altar da Pátria
Obra de ourivesaria e escultura de grande significação e importância, esta obra de arte é única e de valor incalculável, na opinião dos entendidos, tendo em vista que não se encontraria quem produzisse outra semelhante.
Medindo 1,70 m de altura, a alegoria assinala os fatos principais da epopéia lusitana, desde as suas primeiras conquistas marítimas. Da sua base em mármore negro, formando belo contraste com a prata de que é feito, apontam para os quatro pontos cardeais outras tantas naves, PARA BUSCAR DO MUNDO NOVAS PARTES, como indicando que nenhum ponto do globo habitado foi estranho aos audazes navegadores.
Em plano mais elevado, em faces opostas, rodeados de Nereidas e de Tritões, assistem Vênus e Netuno à partida dessas caravelas, tendo a seus pés o oceano revolto, onde se banham outras divindades do mar. Todas estas figuras são talhadas em marfim, o que as torna mais suaves em relação ao metal. Essa evocação simbólica foi inspirada nos “Lusíadas”, donde se lê, em cada uma das flâmulas que flutuam nos mastros das naves, um verso do poema.
O centro é formado por espessa coluna de minúsculos relevos, em volta da qual se destacam, em prata e marfim, os vultos dos quatro principais criadores das glórias lusitanas: o INFANTE D. HENRIQUE, VASCO DA GAMA, PEDRO ÁLVARES CABRAL e LUÍS DE CAMÕES. No cimo da coluna, sobre os motivos ornamentais, duas figuras simbólicas representam os dois rios do Oriente, perlustrados pelos portugueses: o INDO e o GANGES.
Arremata-a a imagem da Fé, alçando para o infinito a Cruz eterna, que guiou sempre o espírito do grande povo português, através de triunfos e vicissitudes, e o protegeu nos seus admiráveis arrojos. Executada em prata e marfim, na Casa Reis & Filhos no Porto pelo ourives Antonio Maria Ribeiro. Fez parte do Pavilhão Português da Feira de Amostras, Exposição do Rio de Janeiro em 1922, por ocasião do Centenário da Independência do Brasil. Após a exposição, em 1923, a Colônia Portuguesa no Rio de Janeiro a adquiriu e ofereceu ao Real Gabinete.
i) Medalhões nos cantos do Teto
Nos cantos do teto do salão encontram-se pintados os heróis Vasco da Gama, Pedro Alváres Cabral, Luís de Camões, e a deusa Minerva. Minerva era a deusa romana das artes, comércio e sabedoria.
6. - Referências
Real Gabinete Português de Leitura - Livro e site
Real Gabinete Português de Leitura - Wikipédia
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