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domingo, 20 de fevereiro de 2022

História de Paris, França - 06 (2a Guerra Mundial - Paris Ocupada)

 I. Introdução - "Entreguerras"


Entreguerras é a denominação dada ao período do século XX que se estende do fim da Primeira Guerra Mundial, em 11 de novembro de 1918, até o início da Segunda Guerra Mundial, em 1 de setembro de 1939.

O período foi marcado pela Grande Depressão, associada a graves tensões sociais e políticas, culminando com a ascensão dos regimes totalitários em alguns países europeus, o que neste período ocorreu também no resto do mundo.

Esse período entreguerras pôs fim à hegemonia do capitalismo, quando o socialismo foi colocado em prática.


Desenho de autor desconhecido representando Stalin, Mussolini e Hitler os ditadores europeus
Desenho de autor desconhecido, não consegui identificar a origem

As consequências do conflito foram sentidas durante anos. Tanto derrotados quanto vitoriosos sofreram enormes perdas. A grande guerra deixou um saldo de milhões de mortos, cidades destruídas, economias falidas e conflitos sociais. A reconstrução da Europa enfrentou dificuldades colossais: recuperação e modernização do parque industrial, carência de matérias-primas básicas e desemprego. A fome ameaçava milhões de cidadãos desempregados, muito embora a pobreza do Império Britânico tenha se reduzido. O sentimento de civismo europeu foi abalado por estas graves consequências

Estes graves problemas sócio-econômicos e políticos foram as causas da Segunda Guerra Mundial(fonte: wikipedia)


II. - Segunda Guerra Mundial  


Hitler desafiou os tratados de Versalhes e de Locarno com a remilitarização da Renânia, em março de 1936. Ele recebeu pouca resposta de outras potências europeias.  Quando a Guerra Civil Espanhola começou em julho, Hitler e Mussolini apoiaram as forças nacionalistas fascistas e autoritárias em guerra civil contra a República Espanhola, esta última era apoiada pela União Soviética. Os dois lados usaram o conflito para testar novas armas e métodos de guerra,  tendo os nacionalistas como vencedores no início de 1939. 

Em outubro de 1936, Alemanha e Itália formaram o Eixo Roma-Berlim. Um mês depois, a Alemanha e o Japão assinaram o Pacto Anticomintern, com a adesão da Itália no ano seguinte. Na China, após o incidente de Xi’an o Kuomintang e as forças comunistas concordaram com um cessar-fogo, com o objetivo de apresentar uma frente unida para se opor à invasão japonesa.


foto de soldados alemães ergeundo uma barreira

foto da Batalha de Varsóvia mostrando muitos soldados poloneses nas ruas com grandes casacos para proteção do frio do inverno
Batalha de Varsóvia

O primeiro dia de setembro de 1939 é geralmente considerado o início da guerra, com a invasão alemã da Polônia; o Reino Unido e a França declararam guerra à Alemanha nazista dois dias depois. Outras datas para o início da guerra incluem o início da Segunda Guerra Sino-Japonesa, em 7 de julho de 1937.

III. - A Conquista de Paris


A estratégia francesa de defesa estava baseada na Linha Maginot, um conjunto de trincheiras construído após a Primeira Guerra Mundial. A Linha Maginot cobria toda a fronteira entre Alemanha e França, começando ao Sul, perto da Suíça, e terminando na fronteira com Luxemburgo, nas Ardenas. Com essa linha, os franceses tinham os seguintes objetivos:

  • Evitar um ataque surpresa
  • Dar tempo para o exército francês se mobilizar (2-3 semanas)
  • Economizar forças (França tinha apenas 39 milhões de habitantes, contra 70 milhões de habitantes da Alemanha)
  • Proteger a Alsácia e Lorena e suas indústrias
  • Ser o ponto de partida para um contra-ataque
  • Forçar um ataque alemão pelos flancos (Bélgica ou Suíça)


foto de um bunker da linha marginot
Bunker da linha maginot, foto de John C. Watkins V em Wikipedia

Batalha da França, também conhecida por Queda da França, foi a invasão da França e do Belgica, Países Baixos e Luxemburgo pela Alemanha Nazista, em 10 de Maio de 1940 durante a Segunda Guerra Mundial .

Unidades blindadas alemãs atravessaram a região florestal das Ardenas, flanqueando a Linha Maginot e derrotando os defensores Aliados. A Força Expedicionária Britânica foi evacuada no que ficou conhecido como a Batalha de Dunquerque na Operação Dínamo, e muitas unidades francesas juntaram-se à Resistência ou passaram ao lado dos Aliados.

A Itália declarou guerra à França em 10 de junho. Paris foi ocupada em 14 de junho, e o Governo Francês fugiu para Bordeaux no mesmo dia.

Em 17 de junho, o Marechal Pétain anunciou publicamente que a França iria propor um armistício, que foi assinado pela França e a Alemanha em 22 de junho, quando se deu a rendição do Segundo Grupo do Exército Francês. O armistício entrou em vigor a 25 de junho. Para o Eixo, a campanha foi uma vitória espetacular.


IV. - A Ocupação de Paris


Paris sofreu a ocupação alemã entre 14 de junho de 1940 e o 24 de agosto de 1944. Esta ocupação é caracterizada pela escassez de alimentos, pela ditadura do ocupante e pelos ataques aos judeus.

foto do exército alemão desfilando na Champs Elysées em Paris com o arco do triunfo ao fundo
Exército alemão desfila na Champs Elysées após conquista da cidade


Os alemães marcam seu território simbolicamente substituindo as bandeiras francesas pela bandeira nazista nos prédios públicos, nas sedes da República, como a Assembleia Nacional e o Senado. A Wehrmacht marcha na Champs-Élysées. Desde o início, existe essa "força declarada de ocupação”, embora uma das preocupações do ocupante alemão seja manter a paz civil.  Os residentes estão proibidos de sair. Os soldados alemães, por sua vez, receberam ordens de se comportar bem sob pena de sanções;  

Visita de Hitler à Paris


Continuando sua viagem vitoriosa pelas capitais europeias, Adolf Hitler visitou Paris , cidade que o fascinou, pela primeira vez em 18 de junho de 1940. Essa visita foi muito rápida e ele praticamente visitou as tropas e voltou para Munique.  
foto de Htiler e seus generais no Trocadero com a torre Eiffel ao fundo
Presença de Hitler em Paris após a conquista da cidade

No dia 23 ou 28 de junho   visitou  a capital francesa uma segunda vez, sempre de forma breve e discreta (três veículos) na companhia do escultor Arno Breker e dos arquitetos Albert Speer e Giesler, principalmente para se inspirar no seu planejamento urbano (ele havia dado a ordem de poupar a cidade durante as operações militares)A partir das seis horas da manhã, vindo do aeródromo Le Bourget , desce a rue La Fayette , entra na Ópera , que visita em detalhe. Ele pega o boulevard de la Madeleine e rue Royale , chega a Concorde , depois ao Arco do Triunfo . A  comitiva desce a avenida Foch , depois vão ao TrocadéroHitler posa para os fotógrafos na Esplanade du Trocadéro, de costas para a Torre EiffelEles então vão para a escola militar , depois para os Invalides e meditam longamente diante do túmulo de Napoleão I. Hitler quis posar como o novo Napoleão da Europa. Nesse dia Hitler praticamente visitou os principais monumentos da capital francesa. 
   

V. - A Vida na Paris ocupada


a) Paris não era mais a capital dos franceses livres


O acordo firmado pelos alemães e o então presidente francês François Lebrun dividiu a França em duas: a zona ocupada pelos nazistas e a zona não ocupada (zona livre),  governada pelos franceses e com a capital na cidade de Vichy, ao sul.   Nos termos do acordo, o exército francês deveria ser dissolvido. Além disso, a França deveria arcar com o custo da invasão alemã.

b) Trânsito de veículos civis proibido


Carros particulares, Taxis e Ônibus foram proibidos de circular pela cidade, sendo permitido somente o trânsito de veículos militares ou com autorização especial dos nazistas.

c) Transferência de obras do Louvre


Em 1938, quando Hitler invadiu a Áustria e parte da Tchecoslováquia, autoridades francesas, prevendo o pior, iniciaram a operação de transferência das obras de arte do Museu do Louvre para castelos fora de Paris, longe do alvo dos alemães. Usando empresas de transporte, milhares de obras de arte, embaladas em caixas de madeira seguiram, sem nenhuma escolta ou segurança, para o Vale do Loire. Um total de 5.446 caixas foram transferidas em mais de 200 viagens.

foto de corredor do Louvre vazio dirante a guerra
O Louvre durante a guerra


d) Funcionamento dos Cinemas


Depois da tomada de Paris pelos alemães, todos os cinemas foram fechados. No dia 25 de junho, depois da assinatura do armistício, sessenta cinemas reabriram suas portas em Paris, dos quais quatro ficaram reservados às tropas alemãs.  A partir de julho, foram reabrindo outros cinemas. Apesar do clima tenso, os cinemas, bares e cabarés viviam cheios durante a ocupação, porém os filmes americanos e ingleses foram banidos, assim como o jazz, pois, de acordo com um jornal que colaborava com a ocupação, tinham um sabor “negro-judeu”. 

Durante a exibição dos filmes de propaganda do poder instalado ou do jornal cinematográfico alemão – que era exibido em versão francesa com o título de “Actualités Mondiales” – os espectadores vaiavam e a projeção continuava com a sala semi-iluminada (foto acima), a fim de que a polícia municipal pudesse identificar melhor os manifestantes. Nas salas de espera, os exibidores colocavam cartazes pedindo ao público que não vaiasse, porque o cinema poderia ser fechado caso isso ocorresse.

e) Publicações de Jornais, Livros e Revistas


Toda a publicação de jornais, livros e revistas era censurada e submetida a aprovação dos nazistas para a sua publicação. Algumas livrarias e editoras eram autorizadas a imprimir e vender livros desde que aceitassem a determinação dos nazistas. Alguns autores eram "proibidos /  vetados" e sua permanência na cidade desaconselhada.

f) Férias e Divertimento para os Nazistas (Paris, a festa continuou!?)



foto da capa do livro Paris a festa continuou
Permanecer em Paris era um prêmio para os oficiais alemães. Para eles Paris era uma colônia de férias. Festas e mais festas aconteciam regadas ao bom vinho e champanhe frances. 


g) Os Filhos da Ocupação


Depois do fim da guerra, estatísticas apontavam pelo menos 200.000 “filhos da ocupação”, que eram crianças nascidas dos relacionamentos de mulheres francesas com oficiais alemães neste período. Estas mulheres foram reconhecidas como “nacionalmente indignas” e sofreram, além da degradante humilhação em público, penas de seis meses a um ano de prisão, seguida da perda total de direitos civis por mais um ano, quando ainda eram violentadas e insultadas nas ruas. Muitas tinham a cabeça raspada e outras humilhações.  Muitas, não suportaram a vergonha daquela situação e sucumbiram cometendo suicídio.

fonte: https://parissempreparis.com/12-coisas-que-voce-nao-sabia-sobre-ocupacao-nazista-em-paris/


VI. - Perseguição aos judeus - Episódio do Vel d'hiver

No acordo de rendição os franceses se comprometeram a entregar todos os judeus aos alemães. Em 1942 as medidas contra os judeus na França se intensificaram. Em maio, os judeus foram forçados a usar a Estrela Amarela e, em junho, a SS se reuniu com oficiais franceses para coordenar operações em todo o país.

O velodrome d'hiver (O velódromo de inverno)


O Vel d’Hiv foi o nome dado ao Velodrome d’Hiver (Pista de Ciclismo de Inverno). Este foi o local em Paris onde entre 7.000 e 13.000 judeus estrangeiros e apátridas, 3.000 deles eram crianças, foram concentrados após as detenções em toda a cidade em 16-17 de julho de 1942 pela polícia e oficiais franceses. Após cinco dias, os prisioneiros foram transferidos para campos de trânsito e depois para Auschwitz, onde a grande maioria deles foi morta.

Na França e em Paris algumas organizações anti-semitas já existiam antes da chegada dos alemães, lógico que não era na escala de violência adotada.

foto do velódromo d'hiver, ou velódromo de inverno de Paris,  no evento Nunca Mais, que marcou uma rememoração do acontecido no local
                                         Episódio de recordação do evento ("Nunca mais 16/07/1942)

Mais recentemente, em 16/07/2017, o Presidente Emmanuel Macron reafirmou neste , ao lado do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, a responsabilidade da França na chamada "rafle du Vel' d'Hiv'" (ataque ao velódromo de inverno), que levou à deportação de judeus sob as ordens do governo colaboracionista francês em julho de 1942. O presidente afirmou que "foi a França que organizou a rafle" e que o regime de Vichy, "apesar de não representar todos os franceses, era o governo da França" naquele momento.


VII. - Resistência francesa


Resistência Francesa, chamada na França de La Résistance, designa o conjunto de movimentos e redes que durante a Segunda Guerra Mundial prosseguiu a luta contra o Eixo e os seus delegados colaboracionistas desde do armistício do 22 de Junho de 1940 até à Liberação em 1944. Seus membros eram conhecidos como partisans ("partidários", em francês).

foto de um soldado e um civil armado mostrando a resistência francesa
Resistência Francesa
A Resistência foi um movimento formado por franceses que não aceitavam a submissão do Estado Francês ao poder nazista, e que se encontravam desiludidos com Pétain e com a política colaboracionista. A instauração da Revolução Nacional pôs fim aos partidos e aos sindicatos, para servir os ditos interesses "patriotas", forçando os dispersos grupos de resistência a unirem-se na luta contra o inimigo comum, para alcançarem a libertação do país.


A 18 de junho de 1940 o General de Gaulle apelou (pela rádio) aos franceses com competências militares para se juntarem a ele em Londres. Os que responderam ao apelo são classificados como membros da «France libre» (França livre) ou resistentes do exterior.

foto do general Charles de Gaulle
De Gaulle
A resistência do interior diz respeito aos homens e mulheres que, em França, seja na zona ocupada (chamada zona Norte), seja em zona livre (zona Sul, não ocupada até novembro de 1942), se organizaram para perpetrar ações contra as forças da Alemanha nazi, portanto contrárias à legalidade do invasor ou do governo de Vichy.


Em sua origem (1940), a França livre criou diversas redes de informação na metrópole, e os primeiros contactos com os movimentos de resistência interiores foram estabelecidos em finais de 1941. A unificação das duas resistências sob o comando do general de Gaulle foi principalmente dirigida por Jean Moulin, em 1942-1943. Foi como simbolismo dessa resistência comum entre a «França cativa» e a «França livre» que esta última foi renomeada em julho de 1942 para «França combatente».


VIII - Colaboracionismo x Resistência


Esse episódio da Ocupação alemã e do colaboracionismo com o ocupante nazista, simbolizado pelo general Henri Philippe Pétain (1856-1951) e o governo de Vichy, e a atuação da resistência francesa para a libertação, se perpetua na história francesa gerando sempre discussões sobre os papéis de um ou outro, e o que poderia ter sido feito em oposição.  

IX. - Libertação e Paris salva da destruição total - (Dietrich von Choltitz)


foto do exército americano desfilando pelas Champs Elysées comemorando a liberação de Paris
Liberação de Paris, foto de Jack Downey, U.S. Office of War Information, fonte Wikipédia


Quando os aliados invadiram a Normandia no chamado “Dia D” e as tropas aliadas chegavam perto de Paris, Hitler deu a ordem para deixar Paris arrasada por explosões de dinamite nas pontes e grandes edificios e bombas incendiárias nos bairros centrais. O General alemão Dietrich von Choltitz, um amante das artes e consciente do que Paris representa para o mundo, interrompeu as comunicações com o alto comando alemão e negou-se a deixar tudo em ruínas. Desta forma as pontes históricas, o Louvre, e tantas outras edificações se salvaram intactas.

foto do General Dietrich von Choltitz que evitou a destruição de Paris descumprinod as ordens de Hitler
Dietrich von Choltitz
Dietrich von Choltitz, recebeu no dia 23, o seguinte telegrama: 
“A cidade não deve cair nas mãos do inimigo, a não ser que esteja devastada”. Conta-se que Hitler telefonou para Choltitz perguntando aos berros: “Brennt Paris?” (“Paris está em chamas ?”). 

Para alguns historiadores, a decisão de manter a Cidade Luz intacta nasceu de uma conversa com o prefeito parisiense, Pierre Taittinger. O francês disse ao alemão que ele voltaria ali algum dia e pens... pensaria que teve o poder para destruir tudo aquilo, mas decidiu preservar a cidade. 

Choltitz de fato voltou ao hotel Meurice, o local do diálogo, em 1959. Reconhecido pelo barman, pediu para visitar seu antigo quarto. Foi ao balcão e olhou para as Tulherias. Depois de um longo silênc... 


Leia mais em: https://super.abril.com.br/historia/o-inimigo-que-salvou-paris/


X. - Referências


https://parissempreparis.com/12-coisas-que-voce-nao-sabia-sobre-ocupacao-nazista-em-paris/

https://super.abril.com.br/historia/o-inimigo-que-salvou-paris/

https://aboutholocaust.org/pt/facts/o-que-aconteceu-no-vel-d-hiv

Wikipedia: Ocupação de Paris


XI. Outras Publicações da Série


História de Paris, França - 01 (fundação ao século XV)
https://historiacomgosto.blogspot.com/2018/07/historia-de-paris-franca-01.html

História de Paris, França - 02 (Século XV ao Século XVII)

História de Paris, França 03 século XVII ao século XVIII

História de Paris, França - 04 (Quase cem anos de revoltas, guerras e transformações)
Esse capítulo trata do período mais tumultuado da história de Paris e da França. O período entre 1789 e 1870, que englobou a revolução francesa e todas as suas consequências.

História de Paris V - Da belle époque ao período entre guerras

Essa postagem se refere ao período de ouro de Paris vivido entre 1870 a 1914 (primeira guerra mundial) e  depois o período entre as duas grandes guerras de 1919 a 1939. Foi um período de grande efervescência artística e cultural.

História de Paris, França - 06 (2a Guerra Mundial - Paris Ocupada)
https://historiacomgosto.blogspot.com/2022/02/historia-de-paris-franca-06-2a-guerra.html

História de Paris, França 07 - Paris contemporânea (Séculos XX e XI)