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sábado, 18 de dezembro de 2021

A ordem de Cister, reformadora da ordem de Cluny, séculos XII a XV

I. - Ordem de Cister

A Ordem de Cister, ou Ordem Cisterciense, é uma ordem religiosa monástica católica beneditina reformada. Aos seus membros religiosos de clausura monástica dá-se o nome de monges (ou monjas) cistercienses, ou monges brancos, como ficaram conhecidos devido à cor do hábito.


brasão da ordem de Cister
hábitos dos monges da ordem de cister


II. - Resumo Histórico


 medalha de Robert de Molesme
Roberto Molesme, foto wikipedia
Saint Michel de Tonnerre, 1068: Por volta de 1068, Roberto de Champanhe foi chamado pelos monges da abadia de Saint-Michel de Tonnerre, na diocese de Langres, para ser seu abade. Cansado das intrigas dos monges, encontrando muita resistência à exigente aplicação da regra beneditina e notando a impossibilidade de introduzir reformas, aspira rapidamente a deixar o seu cargo.

Abadia de Molesme, 1075Pouco depois, monges anacoretas da floresta de Collan, na diocese de Langres, pediram ao Papa Gregório VII que Roberto se tornasse seu abade. O Papa aceita e envia Roberto, que acha o lugar impraticável, e funda um mosteiro por volta de 1075, em Molesme, perto de Châtillon-sur-Seine. Inicialmente, o estabelecimento era constituído apenas por cabanas ramificadas em torno de uma capela dedicada à Santíssima Trindade. 

Rapidamente, a casa atrai muitas doações e fica mais rica, mas também atrai novos monges, resistentes a tal austeridade. A disciplina é relaxada. Quando Roberto tenta restaurá-la, os monges se rebelam contra ele. Ele renunciou ao cargo, deixando a autoridade para seu prior, Alberico.

Abadia de Citeaux, 1098:

diagrama da abadia de Citeaux
Abadia de Citeaux



foto da lateral da abadia de citeaux mostrando suas colunas e janelas
Abadia de Citeaux, foto de Pierre Jean Durieu
Foi então que no início de 1098 Roberto e um grupo de monges da abadia de Molesmes conseguiram autorização para se estabelecerm em uma terra não cultivada ao sul de Dijon, um local isolado e alagadiço chamado Cîteaux e fundarem um novo mosteiro. Este novo mosteiro , para usar o termo na época, propõe-se a observar com perfeição a regra de São Bento, até então praticada de uma maneira morna na ordem de Cluny. Entre esses poucos pioneiros, três homens se destacam: Roberto de Chanpanhe, abade de Molesme, Alberico e Estevão.

Eles deixaram a congregação monástica de Cluny para retomar a observância da antiga regra beneditina, como reação ao relaxamento da própria Ordem de Cluny, que já havia nascido com o espírito de reavivar o obedecimento da regra de São Bento.

 foto de uma construção isolada da abadia no meio do campo
Abadia de Citeaux, foto de Pierre Jean Durieu
Em 1099 decidiu-se providenciar  o regresso de Roberto a  Molesmes, devido ao declínio daquela abadia, o que se concretizou imediatamente e o regresso foi acompanhado por uma dezena de monges. 

A abadia de Citeaux passou a ser governada por Alberico, seu segundo abade depois de Roberto. Em 1100, Alberico obteve do Papa Pascoal II uma bula que colocou o mosteiro sob a proteção da Santa Sé, embora ele não reconhecesse o benefício da isenção.

Vídeo com as imagens da comunidade de Citeaux nos dias atuais




Entrada de Bernardo de Claravau, 1112

 quadro com as feições de Bernardo de Claravau
Bernardo, foto Wikipedia
Em 1112, ou pouco antes, chega ao mosteiro Bernardo de Clairvaux com cerca de trinta companheiros e familiares (certamente por etapas), e que se torna um dos protagonistas da ordem. A chegada de novos membros à casa é um dos fatores que mostra que a experiência monástica foi um sucesso. Muito em breve sua expansão em novas casas tem início. Em 1113 é fundada a primeira casa "filha" de Cîteaux: La Ferté (Saône et Loire), no ano seguinte Pontigny (Yonne) e em 1115 as abadias de Morimond (Haute-Marne) e Clairvaux (Aube). Esta última foi fundada e chefiada por São Bernardo quando ele tinha apenas 22 anos. 


O mosteiro de Cister (citeaux) e essas quatro primeiras abadias mantiveram um status especial dentro da ordem cisterciense e todas as fundações subsequentes seguem uma das cinco linhas de afiliação que derivam daí. Cister é o centro da Ordem Cisterciense, ponto de encontro dos Capítulos Gerais da Ordem e do Definitório, um corpo menor em relação ao número de membros que o integram.

Abadia de Claravau, 1115

Em 1115, aos 25 anos, Bernardo liderou a comunidade que se estabeleceu em Clairvaux (Aube) para fundar um novo mosteiro de Cister , o quarto depois de La Ferté (Saone e Loire, 1113), Pontigny (Yonne, 1114) e Morimond (Upper Marne, 1115). 

foto da fachada da abadia de Claravau
Abadia de Claravau, fonte site:monestirs.cat

Clairvaux (Claravau/vale claro), com São Bernardo, tornou-se um lugar singular dentro da reforma cisterciense, a partir daqui teve confrontos dialéticos com Cluny, representado por Pedro o Venerável. Apesar de os primeiros anos das fundações monásticas terem sofrido momentos de precariedade, em 1118 Clairvaux já havia conseguido fundar a primeira da longa série de abadias "filhas": Trois-Fontaines (Marne).


Aprovação da Ordem de Cister, 1119

Através da "Charta Charitatis", em complemento à regra da Ordem beneditina, Estevãoterceiro abade de Cister - estabeleceu que a autoridade suprema da Ordem seria exercida por uma reunião anual de todos os abades. Os mosteiros seriam supervisionados pelo mosteiro-sede, de Citeaux, e pelos quatro mosteiros mais antigos da Ordem. Com a aprovação da Carta da Caridade, em 1119, surge propriamente a Ordem Cisterciense, sendo assim a primeira ordem religiosa canonicamente instituída da Igreja.


III. - Difusão, crescimento e declínio da ordem Cisterciense


Como todas as ordens monásticas, Citeaux também se reporta a São Bento e sua regra. O Século XII será o século dos monges brancos assim como o século XI foi o século dos monges pretos. 

A ordem terá um papel importante na história religiosa do século XII, vindo a impor-se em todo o Ocidente por sua organização e autoridade. Uma de suas obras mais importantes foi a colonização da região a leste do Elba, onde promoveu simultaneamente o cristianismo, a civilização ocidental e a valorização das terras.

Com a restauração da regra beneditina inspirada pela reforma gregoriana, a ordem cisterciense promove o ascetismo, o rigor litúrgico e erige, em certa medida, o trabalho como valor fundamental, conforme comprovam seu patrimônio técnico, artístico e arquitetônico.

 foto de um monge copista trabalhando em sua escrivaninha
Sala dos copistas, Abadia de Citeaux, foto de Pierre Jean Durieu



Além do papel social que desempenha até a Revolução Francesa, a ordem exerce grande influência no plano intelectual e econômico, assim como no campo das artes e da espiritualidade, devendo seu considerável desenvolvimento a Bernardo de Claraval (1090-1153), homem de excepcional carisma. Sua influência e seu prestígio pessoal o tornaram o mais célebre dos cistercienses. Embora não seja o fundador da ordem, continua sendo o seu mentor espiritual.

A ordem no auge do crescimento na Europa

No final do século 13, existiam cerca de 500 casas cistercienses. No auge da ordem, no século 15, ela teria quase 750 casas.

Muitas vezes acontecia que o número de irmãos leigos se tornava excessivo e desproporcional aos recursos dos mosteiros, às vezes chegando a 200, ou mesmo a 300, em uma única abadia. Com o passar do tempo, no final do século 14, o número se equilibrou. 



O declínio da ordem e o surgimento das ordens mendicantes



Por cem anos, até o primeiro quarto do século 13, os cistercienses suplantaram Cluny como a ordem mais poderosa e a principal influência religiosa na Europa Ocidental. Mas então, por sua vez, sua influência começou a diminuir, quando a iniciativa passou para as ordens mendicantes , na Irlanda, no País de Gales, na Itália e em outros lugares.

 foto de três monges franciscanos andando pelas ruas
Monges da Ordem dos franciscanos, fundada em 1209
foto de 
Levoshko Konstantin



No entanto, algumas das razões do declínio cisterciense foram internas. Em primeiro lugar, a dificuldade permanente de manter o fervor inicial de um corpo que abrangia centenas de mosteiros e milhares de monges, espalhados por toda a Europa. A própria razão de ser da ordem cisterciense consistia em ser uma reforma, por meio de um retorno ao monaquismo primitivo com seu trabalho agrícola e sua simplicidade austera. Portanto, qualquer falha em viver de acordo com o ideal proposto era mais prejudicial entre os cistercienses do que entre os beneditinos.

IV. - Os Cistercienses e a grandeza dos vinhos da Borgonha


A ideia de que características específicas de cada região definem o vinho deu origem também ao conceito de denominações de origem, vastamente difundido ao redor do mundo hoje em dia. Este conceito é baseado no trabalho desenvolvido na França, onde se concentraram os primeiros esforços nas definições geográficas.

O que pouca gente sabe é que a base de todo o sistema francês de denominações de origem reflete, por sua vez, os conceitos adotados na Borgonha desde a Idade Média. E os monges cistercienses estão na origem disso.

Foi na Borgonha, porém, que este grau de qualidade atingiu um nível jamais visto. Os responsáveis por isso foram os monges cistercienses, sobretudo após sua bem sucedida experiência em Clos de Vougeot.

Mesmo antes da chegada de Bernard, porém, a abadia de Cîteaux já havia recebido doações e adquirido terras no que hoje é o Clos de Vougeot. Como regra, os cistercienses focavam em terras ainda não cultivadas, pois um dos princípios da ordem era a volta à simplicidade. O trabalho braçal no campo, deste modo, aparecia como prioridade. Mas os cistercienses rapidamente aprenderam a explorar as terras de forma eficiente.

 foto da Chateau de Clos Vougeot e seus vinhedos
Chateau de Clos de Vougeot, foto de ricochet64 em shutterstock



Depois de Clos Vougeot a próxima experiência bem sucedida dos cistercienses com o vinho foi quando voltaram suas atenções para o vilarejo de Vosne-Romanée e os climats de Grands Echézeaux e Richebourg. Adquiriram uma área de cerca de 10 hectares em Richebourg, que passaram a cultivar, embora transportassem as uvas para Clos de Vougeot, para vinificação e maturação dos vinhos.

Estes monges identificaram os pontos bons e ruins de geologia e microclima de cada parcela, e então comparavam com os vinhos elaborados, buscando a relação entre terroir e seus diferentes sabores.

Os monges mapearam e delinearam cada parcela (climat), criando o conceito de cru, pelo qual cada lote de vinho é segregado e nomeado de forma distinta. E este sistema foi copiado e adotado por muitos outros, sendo até hoje uma parte fundamental de como a Borgonha é julgada e apreciada.

Os monges cistercienses, portanto, trouxeram inestimáveis contribuições para a vinicultura. E isso não é limitado à Borgonha ou à França, mas também para todo o mundo do vinho, onde seus conceitos são até hoje postos em prática.


V. - Outras abadias cistercienses famosas na França e fora dela


A existência de um curso de água ou um lago é condição essencial para a fixação desta ordem. Por isso não é de estranhar que muitos dos mosteiros cistercienses tenham nomes associados à água, tais como Fontaine-Guérard, Fontenay, Fontenelle em França ou Fountain em Inglaterra.

As abadias cistercienses de Fontenay na França, Fontes na Inglaterra, Alcobaça em Portugal, Poblet na Espanha e Maulbronn na Alemanha são hoje reconhecidas como Patrimônios Mundiais da UNESCO .

Abadia de Fontenay, 1119

A Abadia de Fontenay é um antigo complexo monástico cisterciense localizado na Comuna francesa de Marmagne. Fundada por Bernardo de Claraval em 1119, a abadia é a melhor preservada dentre as que o célebre monge criou na Borgonha. A abadia foi construída em estilo românico e é um dos mais antigos e importantes monumentos arquitetônicos da Ordem de Cister, tendo sido classificada Patrimônio Mundial pela UNESCO em 1981. Com exceção do refeitório, já demolido, todos os edifícios monásticos estão bem preservados.

foto da lateral da Abadia de Fontenay
Abadia de Fontenay, foto de canadastock em shutterstock.com


Vista do pátio 

foto do Claustro da Abadia de Fontenay
Abadia de Fontenay, foto de canadastock em shutterstock.com


Abadia de Senanque, Provence, França, 1148

A abadia de Sénanque (Abbaye Notre-Dame de Sénanque ) é uma abadia cisterciense perto da vila de Gordes, no departamento de Vaucluse em Provence, França.

Foi fundada em 1148, sob o patrocínio de Alfant, bispo de Cavaillon, e Ramon Berenguer II, conde de Barcelona, conde de Provence, por monges cistercienses que vieram da abadia de Mazan, na Ardèche. Cabanas temporárias abrigavam a primeira comunidade de monges empobrecidos. Em 1152, a comunidade já tinha tantos membros que Sénanque pôde fundar a Abadia de Chambons, na diocese de Viviers.

foto da Abadia de Senanque com os campos de lavanda na frente
Abadia de Senanque, foto de prochasson frederic em shutterstock

A abadia hoje está em funcionamento, e ela é famosa por seu campo de lavandas que fica completamente florido no mês de julho.

Mosteiro de Alcobaça - Portugal (1153 a 1222)

Esse mosteiro de Santa Maria de Alcobaça foi fundado por iniciativa do primeiro Rei de Portugal, Dom Alfonso I (1139 a 1185), o qual fez a doação dessas terras no ano de 1153 à Abadia de Claravau, com a condição de eles construirem ali um mosteiro da ordem. 

foto do mosteiro de Santa Maria de Alcobaça
Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça, foto de trabantos em shutterstock.com

Os primeiros monjes chegaram em 1157, e a construção no lugar atual começou efetivamente em 1178. A construção foi interrompida devido às incursões islâmicas em 1184 e 1195. Com a chegada de mais membros vindos da França, se continuou a construção que estava em condições de habitação por volta de 1222. A igreja foi consagrada em 1252, quase cem anos depois da doação das terras.

 vista interna dos jardisn de Santa Maria do Alcobaça
Vista do pátio interno, foto de Benny Marty em shutterstock.com

Mosteiro de Maulbronn, baden-Wurttemberg, Alemanha, 1147


O Mosteiro de Maulbronn (em alemão: Kloster Maulbronn) é um dos mosteiros cistercienses medievais em melhor estado de conservação na Europa Situa-se perto de Maulbronn, Baden-Württemberg, Alemanha, e está separado da cidade por uma cintura de fortificações. Em 1993 foi declarado Património da Humanidade pela UNESCO.

 foto da fachada do mosteiro de Maulbronn
Mosteiro de Maulbronn, foto de gokcentunc em baden-wurttemberg,

O mosteiro foi fundado em 1147 sob auspícios do primeiro Papa cisterciense, Eugénio III. A igreja principal, construída em estilo transitório do românico para o gótico, foi consagrada em 1178 por Arnold, bispo de Speyer.

Atualmente funciona como um seminário protestante.

Mosteiro de Poblet, Espanha, 1151


O Real Mosteiro de Santa Maria de Poblet (em catalão: Reial Monestir de Santa Maria de Poblet) é um mosteiro cisterciense, fundado em 1151, localizado no município de Vimbodí, na província de Tarragona (Catalunha). O primeiro cenóbio foi patrocinado por Raimundo Berengário IV de Barcelona, que o entregou aos monges da abadia de Fontfroide em 1149.

foto aérea do Mosteiro de Poblet, Terragona Espanha
Mosteiro de Poblet, Tarragona, Catalunha, foto de KarSol em shutterstock.com

Foi panteão real da Coroa de Aragão, do final do século XII até a extinção da dinastia real aragonesa no final do século XV.

Enriquecido com diferentes doações, alcançou o seu máximo esplendor no século XIV, e a sua total decadência e abandono em 1835 como consequência da desamortização de Mendizábal em que a área foi desapropriada. Em 1930 foi iniciada a sua restauração, de jeito que em 1935 a igreja pôde ser dedicada novamente ao culto, e em 1940 retornavam à sua abadia alguns monges. Nem todos os espaços podem visitar-se, por serem dependências em clausura utilizadas pelos cistercienses que novamente ocupam o mosteiro.

Em 1991 foi declarado Patrimônio da Humanidade pela UNESCO.


VI. - A arte e arquitetura do período Cisterciense


Os costercienses darão origem a um novo estilo da arte / arquitetura que são as igrejas ogivais e que se caracterizarão depois como o estilo gótico. 


VII. - O nome do Século XII


O grande homem do século XII, não está ao lado de Suger, abade de Saint-Denis, nem mesmo perto de Henrique II Plantageneta no reino Inglês que inclusive domina a Aquitânia (hoje região de Bordeaux). O grande personagem foi Bernardo de Claravau, responsável pela extraordinária expansão da ordem Cisterciense. Diz-se que Bernardo tinha uma conversa tão atrativa que todas as moças noivas tinham medo que ele conversasse com seus noivos e namorados porque facilmente ele os convencia a entrarem para o convento da ordem.

VIII. - A criação das regras da Ordem dos Cavaleiros Templários


Fundação

A ordem foi fundada após a Primeira Cruzada, por Hugo de Payens, em 1118, com o apoio de mais 8 cavaleiros, entre eles André de Montbard, tio de Bernardo de Claraval, e do rei Balduíno II de Jerusalém, que os acolheu em seu palácio em uma das esplanadas do Templo. Nasce assim os Pobres Cavaleiros de Cristo, que, por se estabelecerem no monte do Templo de Salomão, vieram a ficar conhecidos como Ordem do Templo, e por Templário quem dela participava.  A finalidade da Ordem era proteger os peregrinos que se dirigiam a Jerusalém, mais precisamente o caminho de Jafa a Cesareia, vítimas de ladrões em todo o percurso e, já na Terra Santa, dos ataques que os muçulmanos faziam aos reinos cristãos que as Cruzadas haviam fundado no Oriente. 


quadro dos cavaleiros templários em batalha
cavaleiros templários, wikipedia


No outono de 1127, Hugo de Payens e mais 5 cavaleiros se dirigem à Roma visando solicitar ao papa Honório II o reconhecimento oficial da Ordem. Nessa visita, conseguem não só o reconhecimento oficial como o apoio e influência de Bernardo de Claraval, no Concílio de Troyes em 13 de janeiro de 1128. Através da bula papal Omne datum optimum, emitida em 29 de março de 1139 pelo papa Inocêncio II, a Ordem foi reconhecida oficialmente pelo Papado e ganhou isenções e privilégios, dentre os quais o de que seu líder teria o direito de se comunicar diretamente com o papa e o direito de construir seus próprios oratórios e serem enterrados neles.



A regra templária

A regra dessa ordem religiosa de monges guerreiros (militar) foi escrita por São Bernardo de Claravau. A sua divisa foi extraída do livro dos Salmos: "Non nobis Domine, non nobis, sed nomini tuo ad gloriam" (Slm. 115:1 - Vulgata Latina) que significa "Não a nós, Senhor, não a nós, mas pela Glória de teu nome" (tradução Almeida). A regra dividia-se em 72 capítulos distribuídos em sete seções: I- A regra primitiva; II- Os estatutos hierárquicos; III- Penitências; IV- Vida Monástica; V- Capítulos comuns; VI- Maiores detalhes de penitências e VII- Recepção na Ordem

IX. - Papas da ordem de Cister

Como reflexo de sua influência na formação religiosa na Europa, a ordem de Cister, teve cinco papas originários de sua ordem justamente entre os séculos XII e XIV. 
PapaInicioTérminoPeríodo de Pontificado
Beato Eugênio III15 de Fevereiro de 11458 de Julho de 11538 anos, 143 dias
Papa Lúcio III1 de Setembro de 118125 de Novembro de 11854 anos, 85 dias
Papa Celestino IV24 de Outubro de 124111 de Novembro de 124116 dias
Beato Gregório X1 de Setembro de 127110 de Janeiro de 12764 anos, 131 dias
Papa Bento XII22 de Dezembro de 133425 de Abril de 13427 anos, 126 dias

X. Os Cistercienses no mundo atual


A ordem no mundo atual 

Um movimento de reforma em busca de um estilo de vida mais simples começou na França do século 17 na Abadia de La Trappe , e ficou conhecido como Trapistas . Os trapistas foram eventualmente consolidados em 1892 em uma nova ordem chamada Ordem dos Cistercienses da Estrita Observância ( latim : Ordo Cisterciensis Strictioris Observantiae ), abreviada como OCSO.  Os Cistercienses que não observaram essas reformas e permaneceram dentro da Ordem dos Cistercienses e às vezes são chamados de Cistercienses da Observância Comum ao distingui-los dos Trapistas.

Atualmente, a ordem cisterciense é de fato constituída dessas duas ordens religiosas e várias congregações. A ordem da « Comum Observância contava em 1988 com mais de 1300 monges 1500 monjas, distribuídos em 62 e 64 monastérios, respectivamente. A ordem cisterciense da estrita observância (também chamada o.c.s.o.) compreende atualmente quase 3000 monges e 1875 monjas, distribuídos em cento e dois mosteiros masculinos e setenta e dois mosteiros femininos, em todo o mundo. São comumente chamados "trapistas", pois a criação da ordem resultou da reforma da abadia da Trapa (em Soligny-la-Trappe, Baixa-Normandia, França). 

foto da abadia trapista em Soligny
Abadia Trapista em Soligny la trappe, foto de François BOIZOT em shutterstock.com 


Mesmo separadas, as duas ordens têm ligações de amizade e relações de colaboração. O hábito também é semelhante. Os cistercienses são conhecidos como monges brancos em razão da cor do seu hábito.

Embora sigam a regra beneditina, os monges cistercienses não são propriamente considerados beneditinos. Foi no IV Concílio de Latrão (1215) que a palavra "beneditino" surgiu, para designar os monges que não pertenciam a nenhuma ordem centralizada, em oposição aos cistercienses.

Cerveja Trapista


Dos 174 mosteiros trapistas existentes no mundo, existem quatorze cervejarias que produzem cervejas trapistas dentre elas onze das quais são autorizados a marcar suas cervejas com o selo de autenticidade trapista, garantindo a origem monástica de sua produção. Esses onze mosteiros estão assim distribuídos:

foto de onze cervejas trapistas autorizadas como o selo de autênticas
Cervejas trapistas autorizadas a terem o selo de "autênticas", foto wikipedia

  • Cinco na Bélgica, dois na Holanda, um na Áustria, um nos Estados Unidos, um na Itália e um na Inglaterra.

XI - Os Cistercienses no Brasil 


Abadia de Nossa Senhora da Santa Cruz em Itaporanga

A vinda da ordem dos cistercienses para o Brasil só aconteceu a partir de 1936 quando os monges provenientes da Abadia de Himmerod na Alemanha começaram a sofrer histilidades do regime nazista que ameaçavam a conitnuidade da comunidade naquele local. Foi então que os monges vieram para o Brasil e fundaram a Abadia de Nossa Senhora da Santa Cruz em Itaporanga - SP e foi o primeiro mosteiro cisterciense a ser fundando - com continuidade - no Brasil, e o primeiro a ser erigido como Abadia. O Mosteiro foi fundado em 1936 por monges provenientes da Abadia de Himmerod.

 

 foto da Abadia de Nossa Senhora de Santa Cruz no Brasil
Abadia Nossa Senhora de Santa Cruz, foto site Cistersiences no Brasil

Mosteiro de Nossa Senhora da Assunção de Itatinga


Também em 1938, a Abadia de Hardehausen estava transferindo seus monges e seu abade, para o Brasil. Em 3 de abril de 1952, a Santa Sé suprimiu a Abadia de Hardehausen, na diocese de Paderborn, Alemanha, que existia desde 28 de maio de 1140, e transferiu para o Mosteiro de Nossa Senhora da Assunção de Itatinga, na Arquidiocese de Botucatu.

A abadia de Itatinga recebeu: "todos os direitos e privilégios que até então canonicamente, possuía a Abadia de Hardehausen e de que, em geral, gozam as Abadias Cistercienses".

Lista de todos os Mosteiros Cistercienses no Brasil


NomeCidadeAno Fundação    
Abadia Nossa Senhora da Santa CruzItaporanga (SP)1936Masculino, Congregação Brasileira
Abadia Nossa Senhora de São BernardoSão José do Rio Pardo (SP)1939Masculino, Congregação de São Bernardo
Abadia Nossa Senhora Mãe do Divino PastorJequitibá (BA)1939Masculino, Congregação Brasileira
Abadia de Nossa Senhora da Assunção de Hardehausen-ItatingaItatinga (SP)1140-1951Masculino, Congregação Brasileira
Abadia Nossa Senhora de FátimaItararé (SP)1953Feminino, Congregação Brasileira
Mosteiro de Nossa Senhora do Divino Espírito SantoClaraval (MG)1969Masculino, Congregação de Casamari
Abadia Cisterciense Nossa Senhora da Santa CruzSanta Cruz de Monte Castelo (PR)1973Feminino, Congregação Brasileira
Abadia Cisterciense Nossa Senhora AparecidaCampo Grande (MS)1976Feminino, Congregação Brasileira
Abadia Trapista Nossa Senhora do Novo MundoCampo do Tenente (PR)1983Masculino, Ordem Cisterciense da Estrita Observância (trapistas)
Mosteiro Trapista Nossa Senhora da Boa VistaRio Negrinho (SC)2010Feminino, Ordem Cisterciense da Estrita Observância (trapistinas).

XII - Outros capítulos da série Abadias e Mosteiros, 

Anteriores

Abadia de Cluny e o reavivamento monásitco nos séculos X e XI

Cristandade, Mosteiro e Abadias no período de Carlos Magno

História do Monaquismo Cristão Ocidental I


XIII - Referências

epopeia das abadias na França (site francês)
https://dico-du-patrimoine.fr/la-grande-epopee-des-abbayes-en-france-une-breve-histoire-du-monachisme/ 

os mosteiros na catalunha  (site catalão) 
https://www.monestirs.cat/ - 
 
expansão da ordem cisterciense no mundo e em portugal (site português) - 
https://stringfixer.com/pt/O._Cist. - 

os cistercienses no Brasil - 
https://cistercienses.wordpress.com/mosteiros-cistercienses-no-brasil/ 

A ordem de Cister - wikipedia
https://pt.wikipedia.org/wiki/Ordem_de_Cister

quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

O lançador de discos (discóbolo) .

I. - O Discóbolo


O lançador de discos ou Discóbolo é uma das mais aclamadas obras de arte da Antigiuidade. Ela foi produzida em bronze no apogeu do período clássico grego (450 a.C.) por um escultor chamado Miron. Ela representa um atleta momentos antes de lançar um disco e e´provavelmente a estátua mais famosa do mundo de um desportista em ação.

O original não existe mais, entretanto sobrevivem algumas cópias romanas feitas em mármore.

Segundo nos dizem Plínio, o Velho e Luciano de Samósata, o original fora produzido em bronze em torno de 455 a.C para ser instalado em um palácio de Atenas, possivelmente criado para comemorar um atleta vitorioso no antigo pentatlo

cópia reduzida em bronze do lançador de discos da Gliptoteca de Munique
Cópia reduzida em bronze da Gliptoteca de Munique, foto de Matthias Kabel em Wikipedia


II. - Quem foi Míron


Míron, o autor da escultura, nasceu em Eleutas, na fronteira entre a Ática e a Beócia, no ano de 480 a.C.. Ele viveu a maior parte da sua vida em Atenas e era conhecido pelo seu trabalho na representação de atletas. Miron trabalhava principalmente com o bronze devido à sua maleabilidade que permitia que os escultores criassem posições mais dinâmicas e acrescentassem detalhes que deixassem as obras mais realistas. As esculturas de bronze são menos pesadas que as de mármore e mais fáceis de serem transportadas e com isso as obras gregas se espalharam por toda a região do Mediterrâneo.


III. - O Lançamento de Discos


O lançamento de discos era uma etapa do pentatlo, na qual um atleta arremessava um disco pesado. Aqui Miron captura o estado de momentânea imobilidade do atleta. 

A definição grega para esse momento é "rhytmos" e se refere a um ação de contém harmonia e equilibrio. 

IV. - Detalhes da Obra


a) Músculos flexionados

foto da parte da escultura com foco nos músclulos flexionados
Na antiguidade, os lançadores de disco se exibiam nus o que permitia que os artistas retratassem os músculos flexionados. Miron descreve o momento em que a figura irá lançar o disco com um realismo convicente, trasnmisitndo uma sensação de firmeza e vigor e de delicado equilíbrio ao corpo.







b) Rosto sereno

parte da foto mostrando que mesmo preparado para o lançamento o rosto está sereno
O lançador de discos tem um ar sereno enquanto se vira para olhar o disco. Para o observador moderno, o rosto do atleta parece despido de emoção. Para os antigos escultores, era importante representar o corpo como a encarnação estética do ideal atlético, em vez de se concentrar na expressão facial. 





c) Formas triangulares

O físico dos lançadores de discos era admirado porque nenhum grupo muscular se desenvolvia mais do que os outros. A simetria das proporções do atleta é acentuada pelo ângulo feito pela coxa e aquele feito pelo tórax e o braço estendido.

 pernas e braços formam uma figura triangular


V. - Comentário sobre o Estilo da Obra


Estilisticamente o Discóbolo ilustra a transição do Estilo Severo para o Estilo Clássico. A descrição anatômica tem um caráter mais naturalista do que a idealização praticada pelos seus antecessores imediatos, e apesar de dinâmica, é mais ou menos confinada dentro do plano frontal, à maneira de um alto-relevo. 

A vanguarda da escultura grega logo após Míron se tornou celebrada por dar a verdadeira independência tridimensional à escultura, criando obras igualmente eficientes em todos os ângulos. Essas características, se lhe dão um caráter transicional, não lhe retiram mérito próprio como obra perfeitamente acabada sob todos os aspectos, quando analisada no contexto de seu próprio momento histórico e cultural.

Sob outro ponto de vista, Míron foi um pioneiro justamente pela introdução de uma abordagem anatômica e cinesiológica mais próxima do natural, e por ter conseguido sintetizar em arte um ideal de beleza física, de equilíbrio dinâmico e de harmonia entre mente e corpo, antecipando em muitos aspectos a produção de Fídias e Policleto. (fonte:Wikipedia)


V. - Cópias Romanas


A quantidade de cópias conhecidas indica que a obra foi muito popular na Roma Antiga.  As cópias, eram então realizadas geralmente em mármore, e por causa das especificidades do material precisavam incorporar alguma base de apoio maior para o peso da pedra na forma de troncos de árvore ou rochas. Esse recurso retira muito do impacto e elegância da composição original em bronze de Miron, que se mantinha somente com suas próprias pernas graças à maior resistência do metal. 

Os restauradores às vezes faziam pequenas mudanças nas cópias romanas, pensando aprimorá-las. No British Museum, em Londres, a cópia em mámore do lançador de discos mostra a cabeça do atleta com o olhar para baixo, ao invés de voltado para trás, observando o disco. 


cópia do lançador de discos do Museu Britânico
Cópia do lançador de discos no British Museum, foto de Steve F-E-Cameron


Devemos lembrar também que nenhuma das cópias conservou indicação de como a estátua original era colorida, um costume comum entre os gregos que devia acrescentar às esculturas muita vivacidade e naturalismo. Além disso, das cópias que chegaram aos nossos dias somente uma, em bronze, em tamanho menor que o original, está completa; todas as outras apresentam danos mais ou menos extensos.


VI - Referências


Tudo sobre ARTE - Editora Sextante - comentário de obra por Julie Chan (JC)

Wikipedia - Discóbolo

Observação: Toda a análise da obra foi extraída do livro "Tudo sobre ARTE" e colocada aqui com o seu crédito e o propósito de divulgação cultural.