Páginas

sábado, 15 de julho de 2023

Breve história da Suíça e aspectos de Zurique, maior cidade.

 1. - Formação da Suíça e Zurique

No primeiro capítulo da série,  escrevemos sobre as características geográficas gerais da área da Suíça com suas montanhas, seus rios e lagos. Nesse capítulo introduzimos um pouco da história e mostramos Zurique a maior cidade e capital financeira do país. 

Zurique, cidade antiga, avenidas a beira do rio Limat



2. - Resumo Histórico da formação da Suíça 


Antiguidade


A história da Suíça começa antes do Império Romano, por volta de  500 a.C.,. Nessa altura, muitas tribos celtas estavam localizadas nos territórios do Centro-Norte da Europa. A mais importante delas era a dos Helvécios, nome que iria originar a designação atual da Suíça. Os Helvécios não eram selvagens mas sim avançados na técnica de confecção de joias e outras peças pequenas, como confirmaram as escavações feitas no Lago Neuchâtel. 

Em 58 a.C., os Helvécios tinham planeado descer para Sul, mas foram parados na batalha de Bibracte pelo Exército Romano sob o comando do general Júlio César e obrigados a recuar.


Tribo Celta, autor não identificado

Romanos


Os Romanos controlaram o território suíço até cerca do ano 400 dC. Foram criadas fronteiras e fortalezas ao norte do Reno para conter as invasões bárbaras provenientes do norte da Europa. 


Guerreiro Romano

Na época do imperador Augusto (27a.C.– 14d.C.), os romanos conquistaram a parte Oeste da Alemanha e da Áustria. Várias das grandes cidades suíças da atualidade foram fundadas durante esta era: Genibra (Genebra), Lausana, Octoduro (Martigny), Saloduro (Soleura), Turico (Zurique), Seduno (Sião), Basília (Basileia), Bilício (Bellinzona), entre outras.


Período Medieval


Sob o reinado dos reis carolíngios, o feudalismo proliferou, e os mosteiros e bispados constituíram-se em bases importantes de manutenção do poder. O Tratado de Verdun de 843 outorgou a alta Borgonha (a parte ocidental da Suíça atual) a Lorena e o Reino Alemão (a parte oriental) ao reino oriental de Luís o Germânico, que formaria parte do Sacro Império Romano Germânico.

No século XII, os duques de Zähringen receberam autoridade para governar parte dos territórios burgúndios que englobavam grande parte da zona ocidental da Suíça moderna. 

A dinastia Zähringen fundou muitas cidades, incluindo Friburgo em 1157 e Berna em 1191 mas terminou com a morte de Bertoldo V em 1218, e as suas cidades tornaram-se, subsequentemente, reichsfrei (essencialmente uma cidade-estado dentro do Sacro Império Romano-Germânico).  

                               Estátua de Bertoldo V em Berna


A extinção da dinastia Kyburg abriu caminho para que os Habsburgos passassem a controlar grande parte dos territórios a sul do Reno, o que os ajudou a subir ao poder. 

Rudolfo de Habsburgo, que se tornou rei da Alemanha em 1273, revogou o estatuto de Reichsfreiheit aos "Cantões Florestais" de Uri, Schwyz, e Unterwalden. Os Cantões Florestais perderam assim o seu estatuto independente e passaram estar sob a protecção do Sacro Império Romano-Germânico.

Confederação Helvética (CH) - Alta Idade Média


A história da Suíça como unidade propriamente dita começa a 01 de Agosto de 1291, com os habitantes de Uri, Schwyz e Unterwalden a unirem-se contra os Habsburgos da Áustria, através da Bundesbrief (Carta de Aliança). A união destes três cantões era denominado Waldstätte e habitado principalmente por camponeses, servos e nobres. Este permaneceu durante muito tempo sobre a proteção do Sacro Império Romano-Germânico, até à subida dos Habsburgos ao poder.


Quadro representando a Waldstatte

Em 1318, os Habsburgos e Waldstätte assinaram um tratado de paz, depois da Batalha de Morgarten. Em 1332, Lucerna foi recebida como aliada. Este pequeno povoado foi estrategicamente importante, pois permitiu a navegação no Lago dos Quatro Cantões, que passou a pertencer à Confederação.

Três anos depois, Zurique revoltou-se contra o poder dos Habsburgos, embora só aderisse à Confederação em 1351. Esta foi um dos mais importantes aliados, pois Zurique detinha uma população de 12.000 habitantes, uma das maiores da região, na altura.


3. - Zurique - A maior cidade da Confederação Helvética

Zurique é a maior cidade da Suíça. Apesar de ser bem antiga, não podemos dizer que é bonita ou charmosa pois é uma cidade muito espalhada pelas margens do lago, Entretanto alguma beleza existe e nos chama atenção principalmente nas margens do rio Limmat onde se concentram bares, clubes, jardins e pequenas praias onde as pessoas no verão se sentam para refrescar, passar o tempo e até nadar. 

Alguns dados de Zurique nos lembram de sua maior relevância devido a importância econômica.

Zurique localiza-se no nordeste do país, no centro da zona germanófona. Possui 379.915 habitantes (2012), sendo a cidade mais populosa da Suíça. Sua região metropolitana,  contava com cerca de 1,8 milhão de habitantes em 2011, representando cerca de 20% da população do país. É também a capital do Cantão de Zurique.

A cidade foi construída no século V pelos alamanos. Converteu-se em cidade imperial em 1218, entrando na Confederação Helvética em 1351 e obtendo grande importância, graças à aquisição de numerosos condados vizinhos e à grande prosperidade do seu artesanato têxtil. 

Parte antiga de Zurique a beira do lago / rio limatt


Ulrico Zuínglio introduziu a reforma protestante em Zurique a partir de 1519. A cidade e o cantão foram governados pela rica burguesia protestante até à reforma liberal de 1830.

No período pós-Segunda Guerra Mundial, a cidade conseguiu estabelecer uma significativa evolução urbana e econômica, estendendo sua influência global ao longo das últimas décadas do século XX. É hoje considerada uma cidade global "alfa".  Sedia inúmeros bancos, organizações e entidades internacionais das mais variadas do mundo. Em 2009, ficou entre as "10 cidades mais poderosas do mundo"

3.1 - Pontos de Interesse em Zurique


a) Estação de trem - Hauptbanhoff

A estação de trem de Zurique é a maior estação de trem da Suíça. O centro comercial está aberto 365 dias por ano, desde o início da manhã até tarde da noite. O interessante é que na parte térrea encontra-se um grande salão terrivelmente vazio enquanto na parte subterrânea encontra-se um movimentado comércio. Os trens de lá partem para toda Suíça e Europa. Em um dos lados da estação começa a Banhoffstrasse e de lá também saem "trams" para toda Zurique.  

Fachada principal da HauptBanhoff


b) Banhoaffstrasse - principal rua comércio luxo

Banhoffstrasse, foto historiacomgosto

A Banhoffstrasse é uma rua central que parte da estação de trem e tem as principais lojas de moda e artigos de luxo como relógios, jóias, ...,. A Banhofstrasse tem um tram que passa no centro da rua e leva a várias conexões. 

c) Cidade antiga (old town)

A chamada cidade antiga é caracterizada por construções mais antigas com balcões, trechos com madeira no meio, estilo einxamel, que hoje são restaurantes ou estabelecimentos comerciais.

Rua na Cidade antiga de Zurique

Pequenas praças e ruelas

pequena praça na cidade antiga de Zurique, foto HistoriacomGosto



d) Igrejas 

d.1 - Grossmunster

Com duas altas torres, a Grossmunster, ou  grande catedral, domina a silhueta de Zurique a partir da margem leste do rio Limat.

Segundo a lenda, Carlos Magno fundou a igreja na virada do século VIII para o século IX, sobre os túmulos de Félis e Régula que eram irmãos e membros da Legião Tebana, que era perseguida em uma caça aos cristãos, no ano de 286 d.C.,. Consta que chegando em Zurique, os irmãos  foram capturados, e executados. Depois da decapitação, ficaram de pé, pegaram suas próprias cabeças e caminharam até o local em que hoje está a Grossmunster.

Catedral de Zurique convertida em igreja reformada






d.2 - Igreja de São Pedro  

A maior característica da Igreja de São Pedro é o seu grande relógio na torre. Com diâmetro de 8,7 m é o maior relógio de Igreja da Europa. 

Igreja de São Pedro

A Igreja está construída no local onde existia uma igreja românica do ano 1.000 dC. Com a reforma ela também passou a ser uma igreja reformada.

Interior da Igreja de São Pedro




d.3 - Igreja das Mulheres - Frauemunster

A Fraumunster é uma igreja em Zurique que foi construída sobre os restos de uma antiga abadia para mulheres aristocráticas fundada em 853 dC por Louis, o alemão, para sua filha Hildegard.

Fraumunster, foto historiacomgosto

A abadia foi dissolvida em 30 de novembro de 1524 durante a reforma de Huldrych Zwingli (Ulrico Zuinglio) , apoiada pela última abadessa, Katharina von Zimmern. A Igreja passou a ser uma igreja reformada e continua com suas celebrações.

Interior da Igreja de Fraumunster, foto historiacomgosto


Vitrais de Chagal

A Igreja tem um presbitério da metade do século XIII em estilo românico tardio, um transepto gótico primitivo e uma nave que foi remodelada várias vezes. O presbitério é iluminado por vitrais de Marc Chagal elaborados em 1970.

Os vitrais mostram cenas bíblicas e cada um tem uma cor dominante. O vitral central cuja cor dominante é o verde, mostra cenas da vida de Jesus.

Vitrais de Chagal na Igreja de Fraumunster, foto historiacomgosto

Grande orgão

Como era tradição em todas as igrejas nos cantões alemães, um grande orgão faz parte dos rituais de celebração e se cultiva a sua música ainda hoje. 

Orgão e nave na igreja Fraumunster, foto historiacomgosto



d.4) Igreja católica - Augustinerkirche (Igreja de Sto. Agostinho)

Essa igreja de estilo gótico foi construída no fina do século XIII para uma comunidade de monges agostinianos. 

Quando a reforma desativou o mosteiro, a igreja foi desconsagrada e ficou inativa por quase 300 anos. Em 1847 a igreja, depois de uma restauração, foi reconsagrada e assumida por católcos. Sua aparência atual é de última reforma feita em 1958-1959. A Ausgustinerkirche fica bem no núcleo da cidade antiga no meio de ruelas sinuosas e casas com balcão envidraçado. 

Igreja "Augustinerkirche" no núcleo da cidade antiga, foto historiacomgosto


e) Rio Limmat

No verão, as margens do rio Limmat em pleno centro de Zurique se tornam praias e locais de divertimento e lazer. É comum as pessoas nadarem no rio, principalmente nos finais de semana ou finais de tarde, ou simplesmente sentarem em qualquer margem para refrescar  os pés ou alimentar ospatos e gansos. 

Margem do rio Limmat, foto historiacomgosto

Margem do rio Limmat, foto HistoriacomGosto


f) Ópera

A casa da Ópera de Zurique é sede da companhia do mesmo nome desde 1891 e tem capacidade para 1.100 pessoas. Ela fica em uma grande praça próxima às margens do rio Limmat. 


Ópera de Zurique, foto HistoriacomGosto


g) Museu Lindt em Zurique - O gosto suíço pelo chocolate

Os suíços amam chocolate, além de produzirem bastante para o mundo inteiro, eles detém o maior consumo per capita. Dados de 2021 apontam o seguinte ranking de consumo:

País                Consumo por habitante

1. Suíça    ---     10,06  kg por ano. 
2. Áustria  ---       9.06  kg por ano 
3. Estônia  ---       8.8   kg por ano
4. Irlanda   ---      8.76  kg por ano
5. Alemanha --      8.12 kg por ano

No mesmo ano o consumo de chocolate no Brasil foi de 3,6 Kg per capita. 

Obs 1: vale ressaltar que cerca de 70 % do consumo de chocolate na Suíça é de chocolate ao leite. 

Obs 2: Os maiores produtores de cacau para chocolate hoje estão na África e são principalmente Gana e Costa do Marfim.


O chocolate foi introduzido na Europa no século XVI, em 1528, quando Hernán Cortés chegou à Espanha com as primeiras sacas de cacau e todos os utensílios necessários à preparação do xocolatl. A exótica bebida não tardou a cair no gosto da corte. A infanta Ana d'Áustria, educada em Madri, levou a novidade para a corte francesa, em 1615, após seu casamento com Luís XIII. 

Em Paris, o chocolate se converteu, então, em bebida da moda no meio aristocrático, e, a partir daí, difundiu-se por toda a Europa. Mais tarde, já no século XIX, o seu uso, como bebida, entra em declínio sendo gradativamente substituído pelo chocolate sólido, cuja origem remonta aos anos 1830, na França. 

Em 1819 François-Louis Cailler instalou, em Corsier-sur-Vevey, Suíça, uma das primeiras manufaturas de chocolate mecanizadas, criando assim a marca de chocolate mais antiga entre as que sobreviveram até os dias atuais. Atualmente ela fica na região de Gruyere.

Ao mesmo tempo, o chocolate entrou no país onde encontraria seus melhores promotores e pioneiros da indústria. Em 1826, Philippe Suchard abriu uma fábrica de chocolate em Serrières. Depois dele, Jacques Foulquier (antecessor de Jean-Samuel Favarger) fez o mesmo, em Genebra (1826); Charles-Amédée Kohler, em Lausanne (1830); Rudolf Sprüngli, em Zurique (1845); Aquilino Maestrani em Lucerna e St-Gall (1852); Johann Georg Munz, em Flawil (1874); Rodolpho Lindt começou em (1879) e  Jean Tobler, em Berna (1899). Em 1899 foi criada a Lindt & Sprungle que fabrica os chocolates Lindt.

Museu da Lindt, foto historiacomgosto

`Área de vendas do museu da Lindt com ampla variedade, foto historiacomgosto


h) Lago de Zurique

É neste lago que o Rio Linth que é proveniente dos glaciares do maciço de Tödi no Cantão de Glaris desemboca.  Este rio passa desde o extremo noroeste do lago, atravessa a cidade de Zurique e, enfim, se torna o rio Limmat. Os outros rios que desembocam nesse lago são pouco caudalosos. A área do lago é de aproximadamente 90 km², sua extensão máxima é de 40 km, sua máxima profundidade é de 143 metros e sua altitude é de 406 metros.

Lago de Zurique, foto HistoriacomGosto


4. - Reforma religiosa na Suíça - Zurique, ponto de partida

Além da Alemanha de Lutero, a Suíça também teve uma grande participação na história da reforma religiosa protestante.  A partir de Zurique, com Zwingli, e Genebra, com Calvino, a Suíça também pode ser vista como um dos  berços do protestantismo.

O personagem principal da Reforma Suíça é Ulrich Zwingli. Vigário de St. Gallen, ele chegou a Zurique em 1519 e rapidamente começou a pregar. Em alguns anos, a igreja da cidade foi completamente reformada e finalmente chegou no ano de 1525, quando Zurique aboliu oficialmente a missa católica.

Estátua de Ulrich Zwingler, foto swiss.info

Genebra foi outro grande centro do protestantismo impulsionado pelo advogado francês João Calvino que chegou na cidade em 1536. Um ano antes Calvino tinha publicado na Basileia um dos textos mais influentes da Reforma, O Institutio Christianae Religionis. Em alguns anos, sua transformação rigorosa da Igreja transformou Genebra em um pilar da Reforma

Em 1566, as duas igrejas chegaram a um acordo doutrinário (a Confissão helvetica posterior) que sancionava definitivamente o papel da Suíça como o segundo maior centro da Reforma, um centro alternativo ao dos luteranos.

Cantões que permaneceram católicos

Entretanto, nem toda a Suíça aderiu à Reforma. Muitos territórios e Cantões permanceram católicos. Algumas regiões se tornaram mistas como os Grisões. O resultado é um ambiente diversificado de tradições, mas como toda Europa, todas as religiões se ressentem da falta de participações nas suas celebrações e proclamações de fé.  

Tradicionalmente a Suíça central e as áreas que fazem fronteira com a Itália permaneceram católica. Áreas de Lucerna, Interlaken, ...,.

Igreja Jesuíta em Lucerna, foto HistoriacomGosto

Portanto, apesar da reforma a igreja católica resistiu através do tempos e com a imigração de trabalhadores italianos, espanhóis e portugueses, os católicos tem superado em número os protestantes na Suíça desde a década de 1970.   

fonte: https://www.swissinfo.ch/

Partipação das religiões por área e em percentual:

fonte: Wikipédia

   




















Na Suíça como um todo temos a seguinte distribuição:

Catolicismo - 36,5 % 
Igreja Reformada Suíça - 24,4 %
Outras Igrejas Calvinistas e Protestantes - 2,9 %
Cristãos Orientais não Católicos - 2,4 %
Outros Cristãos - 0,7 %
Sem religião - 25 %
Outras religiões - 6,9 %
Não determinado - 1,3 %
(fonte: Wikipedia)

5. Referências

Gorssmunstes - Viajento
Reforma religiosa - https://www.swissinfo.ch/
Chocolates na Suíça - Wikipedia,