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quarta-feira, 8 de maio de 2024

Complexo Convento, Basílica e Museu de Santa Clara em Nápoles

1. - Histórico 


O Mosteiro de Santa Clara, ou Monastero di Santa Chiara, localizado em Nápoles, Itália, é um dos mais significativos e emblemáticos monumentos religiosos e históricos da cidade, destacando-se tanto por sua arquitetura quanto por sua rica história cultural.


Mosteiro com vista do telhado verde da Igreja e do claustro,
foto dreamstime, @Dudlajzov

Fundação e Motivação

O Mosteiro de Santa Clara foi fundado em 1310-1328 por Roberto de Anjou, também conhecido como Roberto o Sábio, Rei de Nápoles, e sua esposa Sancha de Maiorca. A fundação do mosteiro foi motivada por uma mistura de devoção religiosa e o desejo de criar um complexo monumental que servisse como panteão para a dinastia angevina (dinastia d'Anjou). O local escolhido tinha uma importância estratégica e simbólica, situado no coração de Nápoles.

Em 20 de janeiro de 1343, quando o Rei Roberto morreu, ele foi sucedido por sua sobrinha, Joana de Anjou, enquanto Sancha, por vontade expressa de seu marido, foi nomeada guardiã da nova rainha, que tinha dezesseis anos. Neste período de regência fundou o primeiro orfanato da Europa. 

Pouco depois, obrigada a deixar a corte, a rainha Sancha retirou-se para o mosteiro de Santa Maria della Croce, em Nápoles onde, em 1344, fez os votos e tomou o nome de irmã Clara da Santa Cruz.

Expansão e Importância

O mosteiro rapidamente se tornou um dos maiores e mais importantes de Nápoles, crescendo em tamanho e influência ao longo dos séculos. Sua expansão deve-se em parte à generosidade dos monarcas e nobres que o dotaram com ricas doações, e também à importância que o convento adquiriu como centro de vida religiosa e cultural na cidade. Ele serviu não apenas como um local de oração, mas também como um centro de educação para as filhas da nobreza napolitana.


2. - Igreja Basílica - Arquitetura Gótica


A igreja do mosteiro é um exemplar notável da arquitetura gótica em Nápoles. Construída junto com o mosteiro no início do século XIV, a igreja reflete o estilo gótico provençal, adaptado às tradições locais e às necessidades do local. Sua estrutura é marcada por linhas simples, mas majestosas, com um interior que originalmente possuía uma nave única, ampliada posteriormente para acomodar capelas laterais. A igreja foi severamente danificada durante a Segunda Guerra Mundial, mas foi meticulosamente restaurada, preservando muitos de seus elementos góticos originais.


Nave principal da Igreja de Santa Clara, foto Berthold Werner, Wikipedia.it


O interior é de nave única com dez capelas de cada lado. O presbitério é caracterizado pela presença de monumentos funerários da família real angevina. No centro fica o túmulo de Roberto de Anjou criado pelos irmãos Bertini, enquanto os dois túmulos do lado direito, destinados a abrigar os restos mortais de Carlos da Calábria e Maria de Valois, são do grande mestre Tino di Camaino. O túmulo do lado esquerdo, porém, é de Maria di Durazzo, criado por um escultor anônimo, chamado Maestro Durazzesco.

Altar-mor, fonte: https://www.monasterodisantachiara.it


Atrás do altar-mor encontra-se o antigo Coro das Clarissas, ambiente onde as religiosas participavam em funções religiosas. A capela, estruturada em forma de casa capitular cisterciense, é composta por três naves, duas das quais cobertas por abóbadas de cruz. O Coro, hoje Capela da Adoração, é um espaço reservado à oração,


A Virgem Costurando é a única parte do afresco que sobreviveu à destruição da Igreja. Ela representa a Virgem Maria costurando e o Menino sentado ao lado dela. A obra é atribuída à escola de pintura de Siena, mas o autor é desconhecido.

Afresco " A Virgem Costurando" 



A única capela da basílica que manteve a sua aparência do século XVIII alberga actualmente os restos mortais de vários príncipes da Casa de Bourbon Duas Sicílias e, em particular, à esquerda está o monumento funerário do Príncipe Filipe falecido em 1777, filho do Rei Carlos III, executado segundo projeto de Ferdinando Fuga de Giovanni Attigiati, enquanto os querubins são obra de Giuseppe Sammartino.

Capela São Francisco de Assis


Em 1340, a igreja, onde trabalharam grandes artistas da época como Tino di Camaino, os irmãos Bertini e, muito provavelmente, Giotto, foi aberta ao culto.

Na segunda guerra mundial a Igreja foi completamente destruída sendo reconstruída logo depois.

Imagem da destruição



3. Porcelanas no Jardim e Claustro


O Claustro das Clarissas, parte do complexo de Santa Clara, é famoso por seu majestoso jardim decorado com majólicas, típicas porcelanas pintadas, uma característica única que o distingue. Essas decorações foram adicionadas no século XVIII, sob a direção de Domenico Antonio Vaccaro, e representam cenas da vida cotidiana, bem como motivos florais e paisagísticos. As porcelanas refletem a influência da cerâmica de majólica na região de Nápoles e são um exemplo esplêndido da arte barroca aplicada a um espaço ao ar livre.

O que são as Majólicas


Majólicas referem-se a uma forma de cerâmica vidrada originária da Itália durante o Renascimento, conhecida por sua rica decoração em esmalte colorido. Este tipo de cerâmica recebeu seu nome da ilha de Maiorca, que era um centro de comércio para a cerâmica no século XV e servia como ponto de transbordo para a exportação de cerâmica árabe para a Itália. As majólicas são especialmente notáveis por suas técnicas de vidrado que permitem uma vasta gama de cores vibrantes e designs detalhados, muitas vezes com cenas mitológicas, históricas, florais ou da vida cotidiana.

colunas de porcelana majólica, foto historiacomgosto


Características Principais:

  • Técnica de Vidrado: A técnica de vidrado envolve a aplicação de uma camada de esmalte opaco branco, conhecido como "bianco di Spagna" ou esmalte estanífero, sobre a qual os desenhos coloridos são pintados. Após a pintura, as peças são novamente levadas ao forno para que o vidrado se funda à cerâmica, criando uma superfície lisa e brilhante.
claustro com colunas de porcelana, foto historiacomgosto

colunas de porcelana majólica, foto historiacomgosto

mosaicos , foto historiacomgosto


  • Decoração: A decoração das majólicas é variada, abrangendo desde desenhos geométricos simples até cenas complexas e detalhadas. Os temas podem incluir alegorias, cenas da Bíblia, mitologia, paisagens, flora, fauna e cenas do cotidiano.


4. - Afrescos do Claustro


visão geral do corredor com afrescos no mosteiro de Santa Clara, foto historiacomgosto


Os afrescos dos corredores do claustro são uma fusão de arte religiosa e cenas do cotidiano, representando uma mistura única de espiritualidade e vida mundana. Eles cobrem as paredes dos corredores que circundam o jardim central do claustro, criando um ambiente de contemplação e beleza.


  • Temática Religiosa: Muitos dos afrescos retratam cenas da vida de Santa Clara e São Francisco de Assis, fundadores da Ordem das Clarissas e dos Franciscanos, respectivamente. Essas cenas narram momentos significativos de suas vidas, como a renúncia à riqueza e a dedicação aos pobres e a Deus.
Santa Bárbara


São Francisco

  • Cenas do Cotidiano: Além das cenas religiosas, os afrescos incluem representações do cotidiano napolitano do século XVIII. Estas cenas mostram uma variedade de atividades sociais e domésticas, oferecendo uma visão da vida na época, desde festividades e celebrações até momentos mais íntimos e cotidianos.
  • Estilo e Técnica: Os afrescos são notáveis por seu uso vibrante de cores e detalhes minuciosos, característicos do período barroco. A técnica empregada nos afrescos permite uma rica expressão de texturas e profundidade, criando uma sensação de movimento e vida que captura a atenção do espectador.
  • Integração com a Arquitetura: Os afrescos não existem isoladamente; eles são integrados harmoniosamente com a arquitetura gótica e barroca do claustro. As colunas, arcos e janelas do claustro complementam e realçam a beleza dos afrescos, criando um espaço coeso que é tanto um lugar de devoção quanto de apreciação artística.


5. - Museu


Dentro do complexo de Santa Clara, há também um museu que abriga uma coleção de arte sacra, artefatos e relíquias que contam a história do mosteiro e de sua comunidade religiosa ao longo dos séculos. O museu oferece aos visitantes uma visão profunda da vida monástica, da arte e da cultura napolitana.

Busto da Rainha Sancha




6. - Importância Histórica e Cultural


No seu auge, o Mosteiro de Santa Clara era um dos centros religiosos e culturais mais importantes de Nápoles. Ele não apenas desempenhou um papel crucial na vida espiritual da cidade, mas também na promoção das artes, servindo como um importante patrono para artistas e artesãos. O mosteiro e sua igreja foram testemunhas de eventos significativos na história de Nápoles e permanecem até hoje como símbolos da rica herança cultural da cidade.

Em resumo, o Mosteiro de Santa Clara é um complexo monumental que encapsula a história, a arte e a espiritualidade de Nápoles. Sua fundação, expansão e as ricas decorações refletem a importância da fé, da cultura e da arte na história napolitana. O mosteiro não é apenas um lugar de beleza arquitetônica e artística, mas também um testemunho vivo da história vibrante e multifacetada de Nápoles.


7. - Referências


Mosteiro de Santa Clara - Livro Nápoles

Mosteiro de Santa Clara - Chat Gpt

Mosteiro de Santa Clara - Wikipedia