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quarta-feira, 9 de junho de 2021

A lenda de Cupido (Eros) e Psique - esculturas de Canova

 1. - A lenda de Cupido e Psique


Filha de um rei, Psique, cujo nome em grego antigo significa alma , é extraordinariamente bela, a ponto de assustar todos os seus pretendentes. A deusa do amor Afrodite / Vênus , louca de ciúme , enviou Eros / Cupido (deus do amor, filho de Penia e Poros) para colocar uma flecha no coração da jovem para fazê-la se apaixonar pelo mortal mais feio e desprezível que existe. Eros se apaixona perdidamente pela bela assim que a vê e começa um relacionamento amoroso com ela em um suntuoso palácio. Ele a faz prometer não tentar descobrir sua identidade.


escultura de cupido e psique visão frontal
Psique reanimada pelo beijo de cupido,
Antonio Canova, 1787-1793, Louvre



Mas aos poucos Psiquê se sente solitária e decide pedir ao amante que lhe dê permissão para convidar as irmãs. Já que eles acreditavam que ela estava morta, Cupido aceita, e Psiquê se apressa em convidá-las para o palácio. As duas irmãs mais jovens têm muito ciúme das riquezas de Psiquê e dizem a ela que Eros é certamente um monstro que está esperando o momento certo para matá-la. Psiquê começa então a questionar a sinceridade de Cupido e, durante a noite, enquanto ele está deitado ao lado dela, ela enfrenta o proibido por curiosidade e, subjugada pela beleza sobrenatural de seu amante, ilumina seu rosto. Então, inadvertidamete deixa escapar uma gota de óleo quente que cai no ombro alado do jovem deus. Eros, desonrado, voa pela janela sem olhar.


escultura de cupido e psique visão lateral
A escultura de Eros e Psiquê vista pela lateral



Em vingança, Afrodite obriga Psiquê a fazer diferentes trabalhos, o último dos quais é buscar um pouco da beleza de Prosérpina , a deusa do Inferno, mas ela não deve em caso algum abrir a caixa que a contém. Psiquê prossegue até que a curiosidade vença; ela então abre a pequena caixa, mas ela está vazia, ela contém apenas o sono do Submundo que entorpece todos os seus membros, um por um, até que desmorona inerte no chão. Eros não pode esperar mais pelo retorno de sua amada. Ao vê-la deitada no chão, ele corre até ela e a desperta desse sono mágico com um beijo.


rostos de cupido e psique na escultura
Os rostos de Cupido e Psique

Essa obra "Psique reanimada pelo beijo de Cupido" no museu do Louvre, retrata esse momento. 


2. - Antonio Canova


Antonio Canova foi o expoente máximo da escultura neoclássica européia, pois quis devolver à escultura, a simplicidade e a pureza características da antiguidade.

 

Nasceu em Possagno, república de Veneza, em 1º de novembro de 1757. Órfão desde a infância, foi trabalhar como aprendiz no ateliê de Giuseppe Bernardi, também chamado Torretti, que lhe proporcionou uma formação eminentemente barroca. Em 1779 mudou-se para Roma e estudou as grandes obras clássicas, que exerceram sobre ele profunda impressão. O grupo “Dédalo e Ícaro”, realizado em seu próprio ateliê veneziano, foi a primeira obra a assinalar o abandono do estilo barroco.

 

foto de antonio canova
Antonio Canova


Após dois anos de viagens, quando visitou Nápoles e as ruínas de Herculano e Pompéia, Canova regressou a Roma em 1781 e realizou a obra que lhe deu grande prestígio, “Teseu e o Minotauro”, cuja perfeição anatômica foi possível graças a sua prática diária de desenho.

 

Recebeu depois a incumbência de realizar dois monumentos funerários, dos Papas Clemente XIII e Clemente XIV, ambos em Roma. Dessa época romana é também a escultura “Eros e Psiquê”, da qual realizou duas versões. Nela o artista demonstrou total domínio da estética clássica, sobretudo na textura que deu à pele das figuras e na espontaneidade do panejamento. Quando Roma foi invadida pelos franceses, Canova transferiu-se para Viena, mas em 1802 aceitou o convite de Napoleão para pintar, em Paris, retratos do imperador e de sua família, idealizados à maneira das esculturas romanas.

 

Essa característica se pode observar em Paulina Borghese como Vênus vencedora, e nas duas estátuas de Napoleão, uma em bronze e outra em mármore, nu e de corpo inteiro, completadas em 1811.

 

A convite do Papa, depois da queda definitiva de Napoleão, Canova regressou a Paris, onde conseguiu a devolução das obras de arte italianas confiscadas durante a invasão napoleônica, fato que lhe valeu o título de marquês de Ischia.

 

Antonio Canova faleceu em Veneza em 13 de outubro de 1822. Embora sua obra, como a de todos os neoclássicos, tenha sido acusada de fria, mais tarde a crítica do século XX reconheceria nele um escultor acadêmico de suma maestria e elegância. (fonte:  


3. - Cópias de "Cupido reanimando psique"


  • Museu de Arte de Villa Carlotta de Tremezzo às margens do Lago de Como, na Itália (cópia)
  • Museu Hermitage de São Petersburgo (cópia)
  • Metropolitan Museum of Art de Nova York (cópia)
  • Museu Sainte-Croix de Poitiers (cópia)
  • Cemitério de Montparnasse em Paris , Tumba 2 de Lesieutre -Kirsz


4. - Outra escultura de Cupido e Psique



outra versão da escultura feita por Canova, Cupido e psique em pé
Cupido e Psique, Canova, Louvre, 1796 e 1797



Essa outra escultura é conhecida como "Cupido e Psique em pé". Uma segunda versão dessa escultura está no museu Hermitage em São Petersburgo.


5. - Referências


Cupido e Psique - Wikipedia francesa

Antonio Canova - https://segredosdeparis.com/eros-e-psique-museu-do-louvre

 


quinta-feira, 3 de junho de 2021

Grandes Cientistas: "Lise Meitner"- A descobridora da fissão nuclear

 1. - Lise Meitner


Lise Meitner  foi uma física austríaca que estudou radioatividade e física nuclear, tendo sido a descobridora da fissão nuclear. Ela nasceu em Viena7 de novembro de 1878 e faleceu em Cambridge27 de outubro de 1968.

Na capital austríaca, o casal Philipp Meitner, advogado, e Hedwig (Skovran) Meitner tiveram oito filhos. Elise, cujo nome será posteriormente encurtado para Lise, foi a terceira, sucedendo às suas irmãs Gisele e Auguste. Os ascendentes do casal eram judeus e tinham a sua origem na Morávia. Como muitos emigrantes de profissão liberal, os Meitner converteram-se ao protestantismo embora a designação de livres pensadores lhes assentasse melhor.


foto de Lise Meitner
                                            Lise Meitner
                                                                       

2. - Pequena Biografia


Foi a terceira de oito filhos de uma família judaica. Entrou na Universidade de Viena em 1901, onde foi aluna de Ludwig Boltzmann. Após o doutoramento partiu para Berlim, em 1907, para estudar com Max Planck e lá começou a trabalhar com o químico Otto Hahn

foto de Ludwig Boltzmannfoto de Max Planck
         Ludwig Boltzmann            Max Planck            



Trabalhou com Hahn durante trinta anos, cada um dirigindo um departamento do Instituto Kaiser Wilhelm de Berlim. Hahn e Meitner colaboraram entre si no estudo da radioatividade, ela com seu conhecimento de física e ele com seu conhecimento de química.

Dificuldades de Lise em Berlim


Entre 1907 e 1910 inclusive, Lise publicou onze artigos, nove dos quais em colaboração com Hahn – todos sobre processos radioativos. E, entre 1912 e 1914, mais treze são publicados. Entretanto, Otto Hahn tornava-se um membro destacado do Departamento de Química da Universidade de Berlim e Lise Meitner continuava na sombra.


fotografia mostrando Otto Hahn e Lise Meitner no laboratorio de trabaho deles em Berlim
Otto Hahn e Lise Meitner no laboratório de Berlim


Lise Meitner não recebia qualquer remuneração por suas pesquisas e não podia ensinar pois a universidade não permitia que mulheres fossem remuneradas.

Só em 1912 lhe é atribuída uma pequena bolsa em reconhecimento do mérito da sua investigação, em resposta a uma solicitação de Planck para que ela assumisse o lugar como sua assistente na Universidade, sucedendo a Max von Laue. Serão necessários mais dez anos para que ela venha a integrar, como membro efetivo, o Departamento de Física da mesma Universidade.


O surgimento do nazismo


Quando a Áustria foi anexada pela Alemanha em 1938, apesar de convertida ao protestantismo, Meitner se viu forçada a fugir da Alemanha para a Suécia (via Países Baixos e Dinamarca), onde continuou seu trabalho no Instituto Manne Siegbahn em Estocolmo, porém com poucos recursos em parte devido ao preconceito de Siegbahn contra mulheres na ciência.

Hahn e Fritz Strassmann deram continuidade ao trabalho iniciado anteriormente com Meitner. Hahn escrevia para Meitner descrevendo os resultados, e mais tarde encontraram-se clandestinamente em Copenhague, em novembro, para planejar uma nova rodada de experiências. As experiências químicas da evidência da fissão nuclear foram desenvolvidas no laboratório de Hahn em Berlim e publicadas em janeiro de 1939. 


foto de um grupo de cerca de quinze físicos mais famosos da época reunidos em uma conferência com todos em pé e apenas Lise Meitner de mulher presente no centro da foto ao lado de Niels Bohr
                  Conferência de físicos - ao centro Niels Bohr e Lise Meitner


Em fevereiro do mesmo ano, Meitner publicou através de uma carta à Revista Nature, junto com seu sobrinho Otto Frisch, quando esteve visitando-o na Dinamarca, a explicação física sobre o processo que denominou de fissão nuclear. Meitner provou que a divisão do átomo de Urânio (em átomos de Bário e Criptônio) libera energia e nêutrons, que por sua vez causam fissão em mais átomos liberando neutrões e assim sucessivamente, dando origem a uma série de fissões nucleares com liberação contínua de energia, num processo denominado reação em cadeia. Meitner reconheceu o potencial explosivo desse processo. Imediatamente esses resultados foram confirmados no mundo inteiro.

Prêmio Nobel omitido


Em 1944 Hahn recebeu o Prêmio Nobel de Química por sua pesquisa em fissão nuclear. Meitner foi ignorada pelo comitê (Siegmann fazia parte do comitê), principalmente porque Hahn não mencionou sua participação na pesquisa desde que ela deixou a Alemanha; muito pelo contrário, ele afirmou que seus experimentos químicos foram unicamente responsáveis por tal descoberta. 


foto de reprodução de um pequeno aparato experimental usado para experiência de fissão de átomos
                                                   Aparato experimental para a fissão dos átomos


Auxiliares de Meitner exigiram que fosse reconhecido que ela foi a primeira a provar através de seus cálculos a fissão nuclear, contudo não foi possível fornecer tal evidência para ajudá-la.

O erro cometido pelo instituto Nobel nunca foi reconhecido, mas parcialmente retificado em 1966, quando Hahn, Meitner e Fritz Strassmann receberam o Prêmio Enrico Fermi.


Indicações para o prêmio Nobel


A primeira nomeação de Lise para o Prêmio Nobel foi em Química, em 1924 e em conjunto com Otto Hahn, por Hans Goldschmidt. De novo o será em 1925, 1929 e várias vezes ao longo dos anos 30, sempre com Hahn, sempre para Química, por Planck e outros cientistas. Depois, para Física ou para Química, só, com Hahn ou com Frisch. Perfez o total de 15 nomeações. Nunca recebeu o Prêmio Nobel.



3. - A Fissão Nuclear


O processo de fissão nuclear é a quebra do núcleo de um átomo instável em dois núcleos menores pelo bombardeamento de partículas como nêutrons. 

Os isótopos formados pela divisão têm massa parecida, no entanto geralmente seguem a proporção de massa de 3 para 2. 

O processo de fissão é uma reação exotérmica onde há liberação de energia e ocorre em usinas nucleares e em bombas atômicas. A fissão é considerada uma forma de transmutação nuclear pois os fragmentos gerados não são do mesmo elemento do que o isótopo gerador.

diagrama mostrando o exemplo da fissão do átomo de urânio



4. - A criação da Bomba Atômica



A descoberta da fissão do núcleo do átomo provocou uma verdadeira reação em cadeia. A corrida a novas experiências e a novos resultados surgiu em muitos laboratórios, em particular, nos Estados Unidos, na Alemanha, na França, no Reino Unido e na Dinamarca. Enrico Fermi, que estava nos Estados Unidos desde 1938, em fuga ao regime fascista italiano, é um dos mais interessados. 

No verão de 1939 já tinham sido publicados em revistas científicas da especialidade mais de mil artigos tendo por tema a fissão nuclear e os seus produtos. Sobre o extraordinário potencial energético dessa reação já não restavam quaisquer dúvidas; para o bem ou para o mal... 

Entretanto, a situação de Lise Meitner pouco ou nada se alterou; Manne Siegbahn quase a ignora. A Segunda Guerra Mundial surge com toda força. 

Ficou famosa a carta endereçada ao presidente Franklin Roosevelt, então presidente dos EUA, em agosto de 1939, alertando-o para as potencialidades da construção de bombas que usassem o princípio da fissão nuclear... nas mãos do inimigo. A carta foi assinada pelos maiores cientistas da época, inclusive por Einstein. O Projeto Manhattan é posto em ação; Robert Oppenheimer dirige-o. Lise Meitner não imagina a dimensão que o seu trabalho e de Hahn, evidentemente toma. 

Lisa Meitner não criou nenhuma arma ou bomba e nunca nem sequer pensou nisso. Ela identificou um fenômeno da natureza, a radioatividade, e explicou físicamente como e porque acontecia. 

Ela soube, isso sim, que a decifração da fissão nuclear foi uma descoberta científica merecedora do Prêmio Nobel.



5. - Aplicações da fissão nuclear



A  técnica da fissão nuclear é utilizada em várias áreas da ciência, não podendo somente ser associada criação de bombas. 

  1. Medicina: A radiatividade resulta da fissão nuclear. Assim, ela é utilizada em raio-x e tratamentos de tumores.                                                                               
    foto de exemplo de um raio X de tórax
                                                          raios X
  2. Produção de Energia: A fissão nuclear é uma alternativa na produção de energia de forma mais eficiente e limpa, pois não emite gases. Os reatores nucleares são capazes de controlar a violência do processo de fissão desacelerando a ação dos nêutrons para que não ocorra uma explosão. A esse tipo de energia damos o nome de Energia Nuclear. Além dos perigos de uma reação em cadeia descontrolada, o surgimento dos detritos ou subprodutos das reações que também são materiais radioativos, são impecilhos para a sua utilização em maior escala.
  3. Bombas Atômicas: As bombas atômicas funcionam em decorrência dos processos de fusão e fissão nuclear e tem um alto poder de destruição. A reação de fissão nuclear deu origem ao Projeto Manhattan, criado com o objetivo de construir armas nucleares.

(fonte: toda matéria)



6. - Final de vida


Foram várias as universidades que lhe ofereceram doutoramentos honoríficos e academias de grande prestígio que a incluíram como seu membro. Mais tarde, o elemento de número atômico 109, obtido por Peter Armbruster e Gottfried Münzenberg, foi batizado de Meitnério, símbolo Mt, em sua honra (1982). 


foto de Lise com estudantes
                                                                   Lise com estudantes 

Lise Meitner viveu quase até aos 90 anos de idade; faleceu no dia 27 de outubro de 1968. Após uma queda que lhe quebrou os ossos da bacia em 1960 (o que voltará a acontecer em 1967), abandonara a Suécia e fixara-se em Cambridge (Inglaterra), onde passara a residir perto de Otto Frisch e sua família. 

Gravado no seu túmulo, ressaltam as palavras de Frisch: ͞A physicist who never lost her humanity.



7. - Referências


Biografia de Lise Meitner

- https://static.sites.sbq.org.br/rvq.sbq.org.br/pdf/v4n2a07.pdf


Aplicações - https://www.todamateria.com.br/fissao-nuclear/


8. - Outros artigos da série


Emmy Noether - A grande matemática


Ada Lovelace - A primeira programadora de computadores

https://historiacomgosto.blogspot.com/2021/03/ada-lovelace-primeira-programadora-de.html