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domingo, 19 de maio de 2024

Siracusa, o berço grego da Sicília, períodos grego e romano

1. -  Introdução


Siracusa, é uma cidade muito rica em história e cultura, que se localiza  na costa sudeste da Sicília. Ela é um verdadeiro testemunho das civilizações que se sucederam no Mediterrâneo. Fundada por colonos gregos em 734 a.C., tornou-se uma das cidades-estado mais influentes da Grécia Antiga, conhecida por sua riqueza, poder e magníficas construções. Ao longo dos séculos, Siracusa foi palco de inúmeros eventos históricos, sob o domínio de romanos, bizantinos, árabes e normandos, cada um deixando sua marca indelével na cidade.

Visão geral de Ortigia, centro histórico de Siracusa, foto de 

2. - Resumo Histórico


2.1 - Fundação e Era Grega (734 a.C. - 212 a.C.)


Siracusa foi fundada por colonos gregos liderados por um nobre coríntio chamado Arquias. Rapidamente prosperou, graças à sua posição estratégica e à fertilidade de suas terras, tornando-se uma das cidades mais poderosas do mundo grego. Durante este período, destacou-se pela sua cultura, economia e força militar, chegando a rivalizar com Atenas e Cartago.


Siracusa foi uma das primeiras cidades da Sicília fundada pelos gregos.

Mapa Siracusa - Corinto

Os principais personagens dessa época foram  Arquias (fundador), Dionísio, o Velho (tirano), Platão (filósofo que visitou a cidade).


2.1.1 - A história de Dionísio e Platão em Siracusa


Dionísio I, também conhecido como Dionísio, o Velho, foi tirano de Siracusa de 405 a.C. até sua morte em 367 a.C. Sua governança ocorreu em um período crítico da história grega, marcado por conflitos internos e externos, e sua liderança teve um impacto significativo na propagação das ideias e da civilização grega, especialmente no contexto da Sicília e do Mediterrâneo ocidental.
Importância na Propagação das Ideias e Civilização Grega

Dionísio I desempenhou um papel crucial na expansão do poder e da influência grega no Mediterrâneo. Ele transformou Siracusa em uma das cidades-estado mais poderosas do mundo grego, rivalizando com Atenas e Esparta em termos de poder militar e influência cultural. Sob seu governo, Siracusa não apenas consolidou seu domínio sobre a Sicília, mas também estendeu sua influência sobre partes do sul da Itália e do Mar Adriático, servindo como um importante centro de difusão da cultura grega.

Dionísio também foi um grande patrono das artes e da literatura, atraindo poetas, filósofos e artistas para a sua corte.

Dionisio I, Tirano de Siracusa


Platão visitou Siracusa, por várias vezes ao longo de sua vida, e essas visitas tiveram um impacto significativo tanto para ele quanto para a história da filosofia ocidental. A primeira visita de Platão a Siracusa ocorreu por volta de 387 a.C., e as razões e consequências dessas visitas são multifacetadas, envolvendo tanto questões pessoais quanto filosóficas.

Estátua de Platão, Atenas, HistoriacomGosto



Razões para a Visita

1. Interesse Filosófico e Político: Platão estava profundamente interessado na aplicação prática de suas ideias filosóficas, especialmente suas teorias sobre a governança ideal e a justiça. Ele viajou para Siracusa com a esperança de influenciar o governo da cidade-estado e implementar suas ideias sobre a "Realeza Filosófica", onde os reis seriam filósofos ou os filósofos se tornariam reis.

2. Convite de Dion: Dion, cunhado e amigo de Platão, era um membro influente da corte de Dionísio I, o tirano de Siracusa. Dion era um admirador das ideias de Platão e acreditava que a filosofia do ateniense poderia melhorar o governo e a sociedade de Siracusa.


Porto de Siracusa, foto dreamstime,


Importância da Visita

1. Tentativas de Reforma: Platão tentou, sem sucesso, aplicar suas ideias filosóficas ao governo de Siracusa, especialmente durante as suas interações com Dionísio I e, mais tarde, com Dionísio II. Suas tentativas de reforma enfrentaram resistência e acabaram falhando, mas essas experiências forneceram a ele uma compreensão prática dos desafios de aplicar ideais filosóficos na política real.

2. Influência sobre Platão e sua Filosofia: As experiências de Platão em Siracusa tiveram um impacto profundo em seu pensamento filosófico. Após suas visitas, ele desenvolveu ainda mais suas teorias sobre a natureza da liderança e da justiça, que foram expressas em diálogos posteriores, como as "Leis" e a "República". A realidade complexa e muitas vezes decepcionante da política em Siracusa pode ter ajudado a moldar sua visão sobre a natureza humana e a sociedade.

Livro "República" de Platão,
quadro de Rafael, Capela Sistina

3. Relacionamento com Dion: A relação de Platão com Dion foi crucial para suas visitas a Siracusa. Após a morte de Dionísio I e a ascensão de Dionísio II, Dion e Platão tentaram influenciar o jovem tirano, mas sem sucesso. A eventual expulsão de Dion e o subsequente conflito político em Siracusa destacaram os desafios de implementar reformas filosóficas em um ambiente político volátil.

4. Legado Filosófico e Político: As tentativas de Platão de aplicar suas ideias em Siracusa são um testemunho de seu compromisso com a ideia de que a filosofia poderia e deveria ter um papel direto na governança e na melhoria da sociedade. Essas experiências reforçam a importância da relação entre filosofia e prática política, um tema que continua relevante até hoje.

Em resumo, as visitas de Platão a Siracusa são um episódio fascinante na história da filosofia, demonstrando os desafios e as complexidades de tentar aplicar ideais filosóficos à prática política. Essas experiências não apenas influenciaram profundamente o pensamento de Platão, mas também oferecem lições valiosas sobre a interação entre filosofia, poder e sociedade.

2.1.2 - Presença e Importância de Arquimedes em Siracusa e Mundo


Arquimedes de Siracusa (287-212 a.C.) é uma das figuras mais notáveis de história da ciência. Nascido em Siracusa, Sicília, então uma cidade-estado grega, Arquimedes é frequentemente considerado o maior matemático da antiguidade e um dos maores matemáticos de todos os tempos. Sua vida e obra tiveram um impacto profundo não apenas em sua cidade natal, mas em todo o mundo antigo e na ciência subsequente.
 

Arquimedes, pintura de Giuseppe Nogari



Vida

Embora detalhes específicos sobre a vida de Arquimedes sejam escassos e muitas vezes baseados em relatos posteriores, sabe-se que ele nasceu em Siracusa e passou a maior parte de sua vida lá. Ele possivelmente estudou em Alexandria, no Egito, onde teve contato com a escola de matemática fundada por Euclides. Arquimedes pertencia a uma família da nobreza local; seu pai, Fídias, era um astrônomo.



2.1.3 - Parque Arqueológico de Siracusa ou "Neápolis"


"Neápolis" é uma palavra de origem grega que significa "cidade nova". Ela é composta por duas partes: "néa" (νέα), que significa "nova", e "pólis" (πόλις), que significa "cidade". Este termo foi usado na antiguidade para nomear ou designar partes mais novas ou recém-expandidas de cidades já existentes, ou mesmo para denominar novas colônias urbanas.

No contexto de várias cidades antigas, especialmente aquelas com longos períodos de ocupação e desenvolvimento, como Siracusa na Sicília, "Neápolis" referia-se à parte mais recentemente desenvolvida ou expandida da cidade em contraste com áreas mais antigas, como a "Acrópole" (a parte mais alta, muitas vezes fortificada, da cidade) ou outras regiões estabelecidas anteriormente.

Em Siracusa, a Neápolis é uma das cinco divisões arqueológicas que compõem a cidade antiga. Durante o período grego e romano, essa área era um vibrante centro urbano, repleto de monumentos públicos, teatros, e outras estruturas significativas. Hoje, o Parque Arqueológico da Neápolis em Siracusa é um dos sítios arqueológicos mais importantes, abrigando muitas das ruínas mais famosas da cidade, como o Teatro Grego, o Anfiteatro Romano, a Orelha de Dionísio e o Altar de Hierão II. Este local não apenas destaca a riqueza histórica e cultural de Siracusa, mas também serve como um testemunho da importância da cidade nos períodos grego e romano.













quarta-feira, 8 de maio de 2024

Complexo Convento, Basílica e Museu de Santa Clara em Nápoles

1. - Histórico 


O Mosteiro de Santa Clara, ou Monastero di Santa Chiara, localizado em Nápoles, Itália, é um dos mais significativos e emblemáticos monumentos religiosos e históricos da cidade, destacando-se tanto por sua arquitetura quanto por sua rica história cultural.


Mosteiro com vista do telhado verde da Igreja e do claustro,
foto dreamstime, @Dudlajzov

Fundação e Motivação

O Mosteiro de Santa Clara foi fundado em 1310-1328 por Roberto de Anjou, também conhecido como Roberto o Sábio, Rei de Nápoles, e sua esposa Sancha de Maiorca. A fundação do mosteiro foi motivada por uma mistura de devoção religiosa e o desejo de criar um complexo monumental que servisse como panteão para a dinastia angevina (dinastia d'Anjou). O local escolhido tinha uma importância estratégica e simbólica, situado no coração de Nápoles.

Em 20 de janeiro de 1343, quando o Rei Roberto morreu, ele foi sucedido por sua sobrinha, Joana de Anjou, enquanto Sancha, por vontade expressa de seu marido, foi nomeada guardiã da nova rainha, que tinha dezesseis anos. Neste período de regência fundou o primeiro orfanato da Europa. 

Pouco depois, obrigada a deixar a corte, a rainha Sancha retirou-se para o mosteiro de Santa Maria della Croce, em Nápoles onde, em 1344, fez os votos e tomou o nome de irmã Clara da Santa Cruz.

Expansão e Importância

O mosteiro rapidamente se tornou um dos maiores e mais importantes de Nápoles, crescendo em tamanho e influência ao longo dos séculos. Sua expansão deve-se em parte à generosidade dos monarcas e nobres que o dotaram com ricas doações, e também à importância que o convento adquiriu como centro de vida religiosa e cultural na cidade. Ele serviu não apenas como um local de oração, mas também como um centro de educação para as filhas da nobreza napolitana.


2. - Igreja Basílica - Arquitetura Gótica


A igreja do mosteiro é um exemplar notável da arquitetura gótica em Nápoles. Construída junto com o mosteiro no início do século XIV, a igreja reflete o estilo gótico provençal, adaptado às tradições locais e às necessidades do local. Sua estrutura é marcada por linhas simples, mas majestosas, com um interior que originalmente possuía uma nave única, ampliada posteriormente para acomodar capelas laterais. A igreja foi severamente danificada durante a Segunda Guerra Mundial, mas foi meticulosamente restaurada, preservando muitos de seus elementos góticos originais.


Nave principal da Igreja de Santa Clara, foto Berthold Werner, Wikipedia.it


O interior é de nave única com dez capelas de cada lado. O presbitério é caracterizado pela presença de monumentos funerários da família real angevina. No centro fica o túmulo de Roberto de Anjou criado pelos irmãos Bertini, enquanto os dois túmulos do lado direito, destinados a abrigar os restos mortais de Carlos da Calábria e Maria de Valois, são do grande mestre Tino di Camaino. O túmulo do lado esquerdo, porém, é de Maria di Durazzo, criado por um escultor anônimo, chamado Maestro Durazzesco.

Altar-mor, fonte: https://www.monasterodisantachiara.it


Atrás do altar-mor encontra-se o antigo Coro das Clarissas, ambiente onde as religiosas participavam em funções religiosas. A capela, estruturada em forma de casa capitular cisterciense, é composta por três naves, duas das quais cobertas por abóbadas de cruz. O Coro, hoje Capela da Adoração, é um espaço reservado à oração,


A Virgem Costurando é a única parte do afresco que sobreviveu à destruição da Igreja. Ela representa a Virgem Maria costurando e o Menino sentado ao lado dela. A obra é atribuída à escola de pintura de Siena, mas o autor é desconhecido.

Afresco " A Virgem Costurando" 



A única capela da basílica que manteve a sua aparência do século XVIII alberga actualmente os restos mortais de vários príncipes da Casa de Bourbon Duas Sicílias e, em particular, à esquerda está o monumento funerário do Príncipe Filipe falecido em 1777, filho do Rei Carlos III, executado segundo projeto de Ferdinando Fuga de Giovanni Attigiati, enquanto os querubins são obra de Giuseppe Sammartino.

Capela São Francisco de Assis


Em 1340, a igreja, onde trabalharam grandes artistas da época como Tino di Camaino, os irmãos Bertini e, muito provavelmente, Giotto, foi aberta ao culto.

Na segunda guerra mundial a Igreja foi completamente destruída sendo reconstruída logo depois.

Imagem da destruição



3. Porcelanas no Jardim e Claustro


O Claustro das Clarissas, parte do complexo de Santa Clara, é famoso por seu majestoso jardim decorado com majólicas, típicas porcelanas pintadas, uma característica única que o distingue. Essas decorações foram adicionadas no século XVIII, sob a direção de Domenico Antonio Vaccaro, e representam cenas da vida cotidiana, bem como motivos florais e paisagísticos. As porcelanas refletem a influência da cerâmica de majólica na região de Nápoles e são um exemplo esplêndido da arte barroca aplicada a um espaço ao ar livre.

O que são as Majólicas


Majólicas referem-se a uma forma de cerâmica vidrada originária da Itália durante o Renascimento, conhecida por sua rica decoração em esmalte colorido. Este tipo de cerâmica recebeu seu nome da ilha de Maiorca, que era um centro de comércio para a cerâmica no século XV e servia como ponto de transbordo para a exportação de cerâmica árabe para a Itália. As majólicas são especialmente notáveis por suas técnicas de vidrado que permitem uma vasta gama de cores vibrantes e designs detalhados, muitas vezes com cenas mitológicas, históricas, florais ou da vida cotidiana.

colunas de porcelana majólica, foto historiacomgosto


Características Principais:

  • Técnica de Vidrado: A técnica de vidrado envolve a aplicação de uma camada de esmalte opaco branco, conhecido como "bianco di Spagna" ou esmalte estanífero, sobre a qual os desenhos coloridos são pintados. Após a pintura, as peças são novamente levadas ao forno para que o vidrado se funda à cerâmica, criando uma superfície lisa e brilhante.
claustro com colunas de porcelana, foto historiacomgosto

colunas de porcelana majólica, foto historiacomgosto

mosaicos , foto historiacomgosto


  • Decoração: A decoração das majólicas é variada, abrangendo desde desenhos geométricos simples até cenas complexas e detalhadas. Os temas podem incluir alegorias, cenas da Bíblia, mitologia, paisagens, flora, fauna e cenas do cotidiano.


4. - Afrescos do Claustro


visão geral do corredor com afrescos no mosteiro de Santa Clara, foto historiacomgosto


Os afrescos dos corredores do claustro são uma fusão de arte religiosa e cenas do cotidiano, representando uma mistura única de espiritualidade e vida mundana. Eles cobrem as paredes dos corredores que circundam o jardim central do claustro, criando um ambiente de contemplação e beleza.


  • Temática Religiosa: Muitos dos afrescos retratam cenas da vida de Santa Clara e São Francisco de Assis, fundadores da Ordem das Clarissas e dos Franciscanos, respectivamente. Essas cenas narram momentos significativos de suas vidas, como a renúncia à riqueza e a dedicação aos pobres e a Deus.
Santa Bárbara


São Francisco

  • Cenas do Cotidiano: Além das cenas religiosas, os afrescos incluem representações do cotidiano napolitano do século XVIII. Estas cenas mostram uma variedade de atividades sociais e domésticas, oferecendo uma visão da vida na época, desde festividades e celebrações até momentos mais íntimos e cotidianos.
  • Estilo e Técnica: Os afrescos são notáveis por seu uso vibrante de cores e detalhes minuciosos, característicos do período barroco. A técnica empregada nos afrescos permite uma rica expressão de texturas e profundidade, criando uma sensação de movimento e vida que captura a atenção do espectador.
  • Integração com a Arquitetura: Os afrescos não existem isoladamente; eles são integrados harmoniosamente com a arquitetura gótica e barroca do claustro. As colunas, arcos e janelas do claustro complementam e realçam a beleza dos afrescos, criando um espaço coeso que é tanto um lugar de devoção quanto de apreciação artística.


5. - Museu


Dentro do complexo de Santa Clara, há também um museu que abriga uma coleção de arte sacra, artefatos e relíquias que contam a história do mosteiro e de sua comunidade religiosa ao longo dos séculos. O museu oferece aos visitantes uma visão profunda da vida monástica, da arte e da cultura napolitana.

Busto da Rainha Sancha




6. - Importância Histórica e Cultural


No seu auge, o Mosteiro de Santa Clara era um dos centros religiosos e culturais mais importantes de Nápoles. Ele não apenas desempenhou um papel crucial na vida espiritual da cidade, mas também na promoção das artes, servindo como um importante patrono para artistas e artesãos. O mosteiro e sua igreja foram testemunhas de eventos significativos na história de Nápoles e permanecem até hoje como símbolos da rica herança cultural da cidade.

Em resumo, o Mosteiro de Santa Clara é um complexo monumental que encapsula a história, a arte e a espiritualidade de Nápoles. Sua fundação, expansão e as ricas decorações refletem a importância da fé, da cultura e da arte na história napolitana. O mosteiro não é apenas um lugar de beleza arquitetônica e artística, mas também um testemunho vivo da história vibrante e multifacetada de Nápoles.


7. - Referências


Mosteiro de Santa Clara - Livro Nápoles

Mosteiro de Santa Clara - Chat Gpt

Mosteiro de Santa Clara - Wikipedia