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sábado, 14 de novembro de 2020

Três romances franceses marcantes II

 I. Introdução 


Nessa segunda publicação sobre os romances franceses mais marcantes, vamos abordar agora  três deles que fazem parte do período do romantismo e sua transição para o realismo. São verdadeiras obras-primas da literatura mundial e estão sempre presentes nas listas dos melhores romances de todos os tempos. Os três romances escolhidos, os quais apreciamos  muito , são os seguintes: "Os Miseráveis" de Victor Hugo, "Ilusões Perdidas" de Honoré Balzac,  "O Vermelho e o Negro" de Stendhal.

foto de um livro aberto escrito em russo com um ramo de flores em cima das páginas
Literatura com natureza morta,  um livro de Balzac em russo, foto de dimakig em shutterstock.com


 II. Victor Hugo


Victor-Marie Hugo nasceu em Besançon, 26 de fevereiro de 1802 e faleceu em Paris, 22 de maio de 1885. Ele foi um romancista, poeta, dramaturgo, ensaísta, artista, estadista e ativista pelos direitos humanos e de grande atuação política no país. É autor de Les Misérables e de Notre-Dame de Paris, entre diversas outras obras clássicas de fama e renome mundial.

foto de Victor Hugo em preto e branco
Victor Hugo
A infância de Victor Hugo foi marcada por grandes acontecimentos. Napoleão Bonaparte foi proclamado imperador dois anos depois de seu nascimento, e a monarquia dos Bourbons foi restaurada antes de seu décimo oitavo aniversário. Os pontos de vista políticos e religiosos opostos dos pais de Victor Hugo refletiam as forças que lutavam pela supremacia na França ao longo de sua vida: seu pai era um oficial que havia atingido uma elevada posição no exército de Napoleão.

Cansada das constantes mudanças exigidas pela vida militar, e em litígio com o marido infiel, sua mãe Sophie separou-se temporariamente de Joseph Léopold em 1803 e se estabeleceu em Paris. A partir de então, ela dominou a educação e formação de Victor Hugo. 

Como resultado, os primeiros trabalhos de Hugo na poesia e ficção refletem uma devoção apaixonada tanto do rei como da fé. Foi somente mais tarde, durante os eventos que levaram à Revolução de 1848, que ele iria começar a se rebelar contra a sua educação católica e monarquista e em vez disso advogar o republicanismo e o livre pensamento.

Como muitos escritores de sua geração, Victor Hugo foi profundamente influenciado por François-René de Chateaubriand, famosa figura da escola romântica e figura proeminente da literatura francesa do começo do século XIX. Quando jovem, Hugo afirmou que seria “Chateaubriand ou nada”, e sua vida teria muitas semelhanças com a de seu predecessor.

A partir de 1849, Victor Hugo dedica um quarto da sua obra à política, um quarto à religião e outro à Filosofia humana e social.

Sempre um reformista, envolve-se em política por toda a sua vida. Mas se critica as misérias sociais, não adota o discurso socialista da luta de classes. Pelo contrário, ele próprio viveu uma vida financeiramente confortável, construída com seus próprios esforços. (fonte: wikipedia)


Os Miseráveis


Seu principal romance, os Miseráveis, narra a história de um homem que dá a "volta por cima", Jean Valjean, condenado por roubar um pão, ele é posto em liberdade condicional após dezenove anos de prisão. 

A história passa-se na França do século XIX entre duas grandes batalhas: a Batalha de Waterloo (1815) e os motins de junho de 1832. O livro é narrado, por cinco volumes, a vida de Jean Valjean, da sua libertação, até sua morte. 

Em torno dele giram algumas pessoas que vão dar seus nomes para os diferentes volumes do romance, testemunhando a miséria deste século, a pobreza miserável de: Fantine, Cosette, mas também o inspetor Javert e o jovem sonhador Marius. O livro retrata a sociedade francesa do sec. XIX , mostra o panorama socioeconomico da população mais pobre.

quadro com desenho de uma pequena mendinga
Cosette
Rejeitado pela sociedade por ser um ex-presidiário, Valjean pensa em enveredar pelo caminho dos roubos. Um encontro com o Bispo Myriel muda sua vida. Ele assume uma nova identidade para seguir uma vida honesta, tornando-se proprietário de uma fábrica e prefeito. Ele adota e cria a filha de Fantine, Cosette, salva Marius da barricada, e morre com uma idade avançada.  

Suas boas obras são interrompidas apenas quando um policial que o tinha preso na primeira vez, mesmo após a mudança de nome de Valjean e da sua fuga da prisão condicional, após anos de busca / perseguição infrutífera, finalmente o identifica. O policial é Javert um inspetor de polícia obsessivo que sempre persegue e perde Valjean.  


quadro de Delacroix A Liberdade Guinado o Povo - o quadro mostra uma mulher com a parte superior do vestido caido, mostrando os seios, segurando a bandeira da França à frente de um conjunto de pessoas armadas em um conflito
A Liberdade guiando o povo, Eugene Delacroix, 1830, Museu do Louvre

Os Miseráveis, portanto, traz claramente a filosofia política de Victor Hugo. É um mundo onde há cooperação - e não luta - entre as classes;  onde o trabalho é a via principal de aprimoramento pessoal e social; onde a presença do Estado e seus representantes traz complicações sem fim para a vida do povo oprimido.


Filmes


Inúmeras adaptações para o cinema, teatro e televisão foram feitas ao longo do tempo. Adaptações para o teatro já foram vistas por mais de 60 milhões de pessoas. No cinema mais de 10 adaptações foram feitas. Uma de grande sucesso foi a  versão de Jean-Paul Le Chanois, de 1958, com Jean Gabin como Jean Valjean. Entretanto, a de maior impacto foi a  adaptação   mais recente, 2012, dirigida pelo britânico Tom Hooper, de "O Discurso do Rei",  na forma de musical com Hugo Jackman, Russel Crowell e Anna Hathaway.


Os miseráveis - direção de Tom Hooper

 

Essa adapatação foi muito premiada. Indicada para 08 oscars, ganhou 03, com Anna Hathaway recebendo o prêmio de melhor atriz coadjuvante. Ganhou também o globo de ouro de melhor filme comédia / musical e mais dois prêmios, incluindo melhor ator (Hugo Jackman) e melhor atriz coadjuvante Anna Hathaway. Indicado para 10 premiações no Bafta, ganhou 04, entre outros novamente Anna Hathaway como melhor atriz coadjuvante. 


III. - Honoré de Balzac e as "Ilusões Perdidas"


Honoré de Balzac


foto de rosto do escritor Honoré de Balzac
Honoré de Balzac nasceu em Tours, França, em 20 de maio de 1799 e faleceu em  Paris, 18 de agosto de 1850. Ele foi um grande escritor francês   notável por suas agudas observações psicológicas e que por isso é  considerado o fundador do Realismo na literatura moderna.  Sua magnum opus (obra maior), "A Comédia Humana", consiste de 95 romances, novelas e contos que procuram retratar todos os níveis da sociedade francesa da época, em particular a florescente burguesia após a queda de Napoleão Bonaparte em 1815.

Entre seus romances mais famosos, destacam-se "A Mulher de Trinta Anos" (1831-32), "Eugènie Grandet" (1833), "O Pai Goriot" (1834), "O Lírio do Vale" (1835), "As Ilusões Perdidas" (1839), "A Prima Bette" (1846) e "O Primo Pons" (1847).


quadro com personagens do livro o Pai Goriot
personagens do Pai Goriot

Desde "Le Dernier Chouan" (1829), que depois se transformaria em "Les Chouans" (1829), Balzac denunciou ou abordou os problemas do dinheiro, da usura, da hipocrisia familiar, da constituição dos verdadeiros poderes na França liberal burguesa e, ainda que o meio operário não apareça diretamente em suas obras, discorreu sobre fenômenos sociais a partir da pint ura dos ambientes rurais, como em Os Camponeses, de 1844.   

Balzac tinha uma enorme capacidade de trabalho, usada sobretudo para cobrir as dívidas que acumulava. De certo modo, as suas despesas foram a razão pela qual, desde 1832 até sua morte, se dedicou incansavelmente à literatura. Sua extensa obra influenciou nomes como ProustZolaDickensDostoiévskiFlaubertHenry JamesMachado de AssisCastelo Branco e Ítalo Calvino, e é constantemente adaptada para o cinema. 

Participante da vida mundana parisiense, teve vários relacionamentos, entre eles um célebre caso amoroso, desde 1832, com a polaca Ewelina Hańska, com quem veio a se casar pouco antes de morrer.

quadro de Ewelina Hanska
Ewelina Hanska


As Ilusões Perdidas

Illusions perdues (em português, Ilusões Perdidas), considerado por Balzac como o principal livro constituinte de sua  Comédia Humana, é um de seus romances mais extensos e mais famosos. Para muitos, como Marcel Proust, este livro é também o melhor de Balzac

Ele foi publicado em três partes entre 1836 e 1843: Les Deux poètes (Os dois poetas), Un grand homme de province à Paris (Um grande homem da província em Paris) e Ève et David (Eva e David, que na versão final aparece como Les souffrances de l'inventeur).

quadro com desenho de um homem ajoelhado com orosto nos joelhos de uma dama. O homem parece estar chorando.
Temática: Neste livro, Balzac narra o fracasso de Lucien de Rubempré, jovem provinciando de Angoulême, ao buscar conquistar a glória em Paris. O percurso triste e alimentado por imperdoáveis fraquezas do grande homem da província, alternativamente herói e anti-herói, é agravado sem cessar pelo contraponto de dois círculos virtuosos: a família de Luciano e o Cenáculo de homens magnânimos. 

As ilusões perdidas são as de Luciano face ao mundo literário e ao seu próprio futuro, mas também as de sua família e amigos em relação às capacidades e qualidades humanas de Luciano.

No livro o  estilo de vida das províncias é justaposto ao das metrópoles; Balzac contrasta o ritmo de Angoulême e Paris, os diferentes padrões (como o de preço) das duas cidades.

Balzac explora a natureza da vida artística de Paris em 1821-1822. Lucien, que ainda não era um autor com obras publicadas no início do romance, falha na publicação de sua obra em Paris e, durante o tempo que passa na capital, nada escreve em consequência disso. 

Minisérie para Televisão - 4 horas (2 dvds) - "Balzac" (1999).


Observação: Está previsto para ser lançado em 2020 o filme "Comedie Humaine" que é uma adaptação do livro "Ilusões Perdidas". O filme é dirigido por Xavier Gianolli, com participação do onipresente Gerard Depardieu e Cecile de France.

IV. - Stendhal e  "O Vermelho e o Negro"


Stendhal

foto de Stendhal
Stendhal
Henri-Marie Beyle, mais conhecido como Stendhal, foi um escritor francês nascido em Grenoble, em 23 de janeiro de 1783 e falecido em Paris, em 23 de março de 1842. Stendhal é admirado pela fineza na análise dos sentimentos de seus personagens e por seu estilo deliberadamente seco.

Órfão de mãe aos seis anos, criou-se entre seu pai e sua tia. Rejeitou as virtudes monárquicas e religiosas que lhe inculcaram e expressou cedo a vontade de fugir de sua cidade natal. Abertamente republicano, acolheu com entusiasmo a execução do rei e celebrou inclusive a breve detenção de seu pai. A partir de 1796 foi aluno da Escola central de Grenoble e em 1799 conseguiu o primeiro prêmio de matemática.

Viajou a Paris para ingressar na Escola Politécnica, mas adoeceu e não pôde se apresentar à prova de acesso. Graças a Pierre Daru, um parente longínquo que se converteria em seu protetor, começou a trabalhar no ministério de Guerra.

Admirador incondicional de Napoleão, exerceu diversos cargos oficiais e participou nas campanhas imperiais. Em 1814, após queda do corso, se exilou na Itália, fixou sua residência em Milão e efetuou várias viagens pela península italiana. 

Publicou seus primeiros livros de crítica de arte sob o pseudônimo de L. A. C. Bombet, e em 1817 apareceu Roma, Nápoles e Florença, um ensaio mais original, onde mistura a crítica com recordações pessoais, no que utilizou por primeira vez o pseudônimo de Stendhal.

quadro Napoleão cruzando os Alpes, mostra Napoleão de uiforme empinando o cavalo
Napoleão cruzando os Alpes,
Jean Louis David, 1801-1805


"Dandy" afamado, frequentava os salões de maneira assídua, enquanto sobrevivia com os rendimentos obtidos com as suas colaborações em algumas revistas literárias inglesas. Em 1822 publicou Sobre o amor, ensaio baseado em boa parte nas suas próprias experiências e no qual exprimia ideias bastante avançadas; destaca a sua teoria da cristalização, processo pelo que o espírito, adaptando a realidade aos seus desejos, cobre de perfeições o objeto do desejo.

Estabeleceu o seu renome de escritor graças à Vida de Rossini e às duas partes de seu Racine e Shakespeare, autêntico manifesto do romantismo. Depois de uma relação sentimental com a atriz Clémentine Curial, que durou até 1826, empreendeu novas viagens ao Reino Unido e Itália e redigiu a sua primeira novela, Armance.

Em 1830 aparece sua primeira obra-prima: O Vermelho e o Negro, uma crónica analítica da sociedade francesa na época da Restauração, na qual Stendhal representou as ambições da sua época e as contradições da emergente sociedade de classes, destacando sobretudo a análise psicológica das personagens e o estilo direto e objetivo da narração.

Stendhal viveu no período das conquistas e queda de Napoleão, da restauração da monarquia Bourbon e o último reinado de Luís Felipe I.

O Vermelho e o Negro

Le Rouge et le Noir (O Vermelho e o Negro, em francês), com o subtítulo Chronique du XIX siécle ("Crónica do século XIX"), é um romance histórico psicológico em dois volumes, publicado em 1830. Costuma ser citado como o primeiro romance realista.

A ação transcorre na França no tempo da Restauração antes da Revolução de 1830, supostamente entre 1826 e 1830, e trata das tentativas de um jovem de subir na vida, apesar do seu nascimento plebeu, através de uma combinação de talento, trabalho duro, engano e hipocrisia, apenas para encontrar-se traído por suas próprias paixões. Em ensaio de 1954, Somerset Maugham incluiu-o entre os dez maiores romances de todos os tempos.

quadro com ilustração de um rapaz conversando com duas moças debaixo de uma árvore, ilustração do livro Vermelho e o Negro
O Vermelho e o Negro, Ilustração de Henri Dubouchet


Enredo

O Vermelho e o Negro é a história de Julien Sorel, o ambicioso filho de um carpinteiro, na aldeia fictícia de Verrières, no Franco-Condado.

O romance é composto por duas partes: a primeira transcorre na província com Julien Sorel como tutor dos filhos dos Rênal e depois no seminário em Besançon.

O primeiro livro apresenta Julien Sorel, preferindo gastar seu tempo lendo ou sonhando com a glória do exército de Napoleão a trabalhar como carpinteiro no quintal do pai ao lado de seus irmãos. Julien Sorel acaba se tornando um acólito do cura Chélan, que mais tarde lhe assegura um lugar de tutor para os filhos do prefeito de Verrières, Sr. de Rênal, onde ele se apaixona pela Sra. Renal.


quadro com ilustração de um rapaz conversando com duas moças debaixo de uma árvore, ilustração do livro Vermelho e o Negro


A segunda parte transcorre em Paris como secretário do Marquês de La Mole. Apesar de se movimentar na alta sociedade e de seus talentos intelectuais, a família e seus amigos menosprezam Sorel devido à sua origem plebeia. Apesar de tudo Sorel tem um romance com a filha de La Mole e então surgem todos os conflitos.

O nome Vermelho e Negro

O nome da obra é motivo para controvérsias. Discute-se muito a que Stendhal se referia com o "vermelho" e o "negro". Muitos atribuem o negro a cor da batina do herói e o vermelho ao sangue lavado, mas há outras interpretações que também podem ser citadas como a razão para o nome. 

Adaptações para o cinema - "Le Rouge et Noir", 1997 

Movie: "Le Rouge et Le Noir" (1997) diregido por Jean-Daniel Verhaeghe e  com Carole Bouquet, Kim Rossi Stuart, Judith Godrèche, Claude Rich, Olivier Sitruk.


V. Referências


Wikipedia - Victor Hugo e Os Miseráveis, Honoré de Balzac e Ilusões Perdidas, Stendhal e O Vermelho e o Nefro.