I - Candido Portinari
Candido Torquato Portinari nasceu em Brodowski (interior de São Paulo) em 29 de dezembro de 1903 e faleceu no Rio de Janeiro, 6 de fevereiro de 1962. Portinari é considerado um dos artistas mais prestigiados do Brasil e foi o pintor brasileiro a alcançar maior projeção internacional.
Portinari pintou quase cinco mil obras desde pequenos esboços e pinturas de proporções padrão, como "O Lavrador de Café", até gigantescos murais, como os painéis "Guerra e Paz", presenteados à sede da ONU em Nova Iorque em 1956.
II - Histórico - Período Inicial, década de 20
Com a vocação artística identificada logo na infância, Portinari teve pouco estudo não completando sequer o ensino primário. Aos 14 anos de idade Portinari foi contratado como ajudante de uma trupe de artistas italianos que atuavam em restauração de igrejas. Seria o primeiro grande indício do talento do pintor brasileiro.
Aos 15 anos, já decidido a aprimorar seus dons, Portinari deixa São Paulo e parte para o Rio de Janeiro para estudar na Escola Nacional de Belas Artes. Durante seus estudos na ENBA, aos 20 anos já participa de diversas exposições, ganhando elogios em artigos de vários jornais. Apesar da badalação, o artista começa a demonstrar o interesse por um movimento artístico até então considerado marginal: o modernismo.
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Baile na roça, Portinari, 1923 e 1924, coleção particular |
Um dos principais prêmios almejados por Portinari era a medalha de ouro do Salão da ENBA que tinha como prêmio uma viagem à Europa. -Em 1924 participa do Salão Nacional de Belas Artes com o quadro Baile na Roça obra com temática brasileira, mas é recusado pelo júri. - Nos anos de 1926 e 1927, o pintor conseguiu destaque, mas não venceu.
Em 1928 com o retrato do poeta Olegário Mariano, ganha o prêmio de Viagem ao Estrangeiro.
Em 1929 antes de viajar faz sua primeira exposição individual, com 25 retratos, por iniciativa da Associação dos Artistas Brasileiros. Parte para a Europa. Viaja pela Itália, Inglaterra, Espanha e se fixa em Paris.
II - A década de 30
No ano de 1930 em Paris, vai diariamente aos museus, descobre a pintura moderna da Escola de Paris, discute sobre arte nos cafés e não tem quase nenhum tempo para pintar. Conhece Maria Martinelli, jovem uruguaia de 19 anos, radicada com a família em Paris e se casa com ela.
O Lavrador de Café (1934)
Em 1931, Portinari voltou ao Brasil renovado. Muda completamente a estética de sua obra, valorizando mais cores e a ideia das pinturas. Ele quebra o compromisso volumétrico e abandona a tridimensionalidade de suas obras. Aos poucos o artista deixa de lado as telas pintadas a óleo e começa a se dedicar a murais e afrescos.
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O Lavrador de Café, Portinari, 1934 |
Ganhando nova notoriedade entre a imprensa, Portinari expõe três telas no Pavilhão Brasil da Feira Mundial em Nova Iorque de 1939 (“Jangadas do Nordeste”; “Cena Gaúcha” e “Festa de São João”). Os quadros chamam a atenção de Alfred Barr, diretor geral do Museu de Arte Moderna de Nova Iorque (MoMA).
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Jangadas do Nordeste, Candido Portinari |
Jangadas do Nordeste
Composição nos tons azuis, verdes, cinzas, terras e pardo. Linhas de contorno, áreas de cor e suporte aparente integrando-se na composição. Representação de jangada com três pescadores, ocupando quase toda a área do suporte; duas menores nos cantos superiores, vendo-se sobre cada uma delas uma mulher. Em primeiro plano, jangada formada por sete troncos roliços vendo-se ao centro uma vela enfunada. À esquerda, homem em pé, de perfil para a direita, com o braço direito esticado para frente segurando um objeto comprido e pernas afastadas, estando a direita mais avançada que a esquerda.
Café (1935)
Em julho de 1935 Portinari é contratado para lecionar pintura mural e de cavalete na Universidade do Distrito Federal, no Rio de Janeiro. Ao participar da Exposição Internacional do Instituto Carnegie, nos Estados Unidos, junto com pintores de 21 países, recebe a Segunda Menção Honrosa, com a tela “Café”. Essa obra é adquirida, antes mesmo da premiação, pelo ministro da Educação Gustavo Capanema, para o Museu de Belas Artes.
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Café, Portinari, 1935 |
Observa-se nessa obra de Portinari que na representação das figuras humanas os pés e as mãos são bastante volumosos revelando a força necessária para o trabalho diário nas plantações de café. O corpo humano representado dessa forma transmite a sensação de que as pessoas se relacionam intimamente com a terra, sempre representada em tons vermelhos.
O diretor geral do Instituto Candido Portinari, João Cândido Portinari, 70 anos, filho do artista e professor universitário já disse que "O café sempre foi recorrente na pintura e nas suas obras literárias. É uma lembrança da origem da família, imigrantes italianos que aqui chegaram no fim do século XIX para justamente trabalhar na colheita do café no interior de São Paulo". Ele cita vários versos escritos pelo pai, onde o chamado "ouro verde" é lembrado. "Saí das águas do mar e num pé de café nasci", registrou.
(Comentários do blog artefontedoconhecimento.blogspot.com)
IV - Algumas Obras de Portinari década de 40
A década de 1940 começa muito bem para Portinari. Alfred Barr compra a tela "Morro do Rio" e imediatamente a expõe no MoMA, ao lado de artistas consagrados mundialmente. O interesse geral pelo trabalho do artista brasileiro faz Barr preparar uma exposição individual para Portinari em plena Nova Iorque.
Nessa época, Portinari faz dois murais para a Biblioteca do Congresso em Washington. Ao visitar o MoMA, Portinari se impressiona com uma obra que mudaria seu estilo novamente: "Guernica" de Pablo Picasso.
a) Mural Biblioteca do Congresso - 1941 (A descoberta da Terra)
Em 1941 Portinari passou vários meses nos Estados Unidos, pintando quatro afrescos para a Fundação Hispânica da Biblioteca do Congresso, em Washington D. C., com temas sobre a história latino-americana.
Antes de retornar ao Brasil, vê o quadro “Guernica”, de Pablo Picasso, que o impressiona profundamente. O estilo de Picasso exercerá influència na sua obra principalmente na séries "Bíblicas" e "Retirantes"
Nesse ano ele também Ilustrou o livro infantil “Maria Rosa”, da autora norte-americana Vera Kelsey.
Descoberta da Terra
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Descoberta da Terra, Portinari |
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Descoberta da Terra, Portinari |
b) Série "Os Músicos" 1943 - Quadro Quarteto
A pedido de Assis Chateaubriand, pinta uma série de murais para a Rádio Tupi do Rio, inspirados na música popular brasileira. Realiza nova exposição individual no Museu Nacional de Belas Artes. Ilustra “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis.
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Os Músicos, Portinari, 1943 |
Sobre a série “Os Músicos”, Assis Chateaubriand comenta “Grandezas e misérias do Brasil, sua sensibilidade, suas tragédias secretas, a contra-revolta obscura das suas classes desafortunadas, o frenesi dos sambas, dos batuques, o desengonço do frevo, a melancolia, sem azedume, dos negros e dos mulatos, (…) o tocador de flauta e o malandro dos morros, em toda essa comédia humana a paleta de Portinari deita cores imortais (…)”. (fonte: museucasadeportinari.org.br)
c) Série Bíblica - 1944 (Jó)
Em 1944, eele pinta três painéis para a capela Mayrink, Rio de Janeiro. Acaba de executar um ciclo bíblico, que Assis Chateaubriand compra e leva para a Rádio Tupi de São Paulo, onde a influência da “Guernica” de Picasso é visível. Trabalha com dois painéis da série “Retirante”. Pinta um mural e azulejos sobre a vida de São Francisco de Assis para a capela da Pampulha, em Belo Horizonte (MG). (fonte: museucasadeportinari.org.br)
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Jó, Portinari, 1943 |
"Uma característica em comum de ambas as séries, é o alto grau de expressividade encontrado nos personagens de Portinari. Sejam eles bíblicos ou marginais, os grandes olhos em dor, com torrentes de lágrimas caindo, são comuns a Jó e ao patriarca cadavérico que retira com sua família. Uma expressividade que transcende as barreiras de estilo estético."
https://faapemexibicao.wordpress.com/2013/05/23/candido-portinari-series-biblica-e-retirantes/
d) Os Retirantes - (1944)
Em 1946, Portinari expõe na Galeria Charpentier, de Paris, seus quadros e desenhos das séries “Retirantes” e “Meninos de Brodósqui”. Recebe a “Legião de Honra” do governo francês. A série Retirantes é composta de vários quadros, podemos destacar "Família de Retirantes", "Menino Morto" e "Enterro na Rede", todos pintados em 1944 e em exibição no MASP.
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Os Retirantes, Portinari, 1944 |
"O termo expressionismo, empregado pela primeira vez em 1911, tem como metodologia o caráter de crítica social da arte, ou seja, valoriza aspectos como: figuras deformadas, cores contrastantes e pinceladas vigorosas. Para os artistas expressionistas, arte liga-se à ação, muitas vezes violenta, através da qual a imagem é criada, com o auxílio de cores fortes que rejeitam a hipótese da verdade, e com formas distorcidas. Essa poética encontra sua tradução em motivos retirados do cotidiano, nos quais se observam o acento dramático e algumas obsessões temáticas, por exemplo, o sexo e a morte.
Candido Portinari conseguiu retratar em suas obras o dia a dia do brasileiro comum, procurando denunciar os problemas sociais do nosso país. No quadro "Os Retirantes", produzido em 1944, Portinari expõe o sofrimento dos migrantes, representados por pessoas magérrimas e com expressões que transmitem sentimentos de fome e miséria.
Os retirantes fugiram dos problemas provocados pela seca, pela desnutrição e pelos altos índices de mortalidade infantil no Nordeste. Contribuíram para essa migração a desigualdade social, no Nordeste."
Para ver esse texto e maiores detalhes com uma excelente explicação da obra consultem:
(https://estudosavancadosinterdisciplinares.blogspot.com.br/2012/09/os-retirantes-candido-portinari.html)
V - A Obra de Portinari na década de 50
Na década de 50 Portinari dedica-se a pintar muitos painéis. Ele pinta em 1952 para o Banco da Bahia, em Salvador, o Mural “A Chegada da Família Real Portuguesa à Bahia”.
A partir de 1953 começa a desenvolver problemas de saúde devido à intoxicação por chumbo proveniente das tintas que usava.
Em 1953 inicia o trabalho dos enormes painéis "Guerra e Paz" pintados para a sede da ONU em Nova York.
Painel Guerra e Paz
Guerra e Paz são dois painéis de, aproximadamente, 14 x 10 m cada um produzidos pelo pintor brasileiro Candido Portinari,entre 1952 e 1956. Os painéis foram encomendados pelo governo brasileiro para presentear a sede da Organização das Nações Unidas (ONU) em Nova York, mas antes de partirem, em 1956, foram expostos numa cerimônia no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, que contou com a presença do então Presidente Juscelino Kubitschek.
Os primeiros estudos para a obra surgiram em 1952, quando Portinari realizava uma outra encomenda, feita pelo Banco da Bahia, com a temática de retratar a chegada da família real portuguesa à Bahia. Com o auxílio de Enrico Bianco e de Maria Luiza Leão, os painéis Guerra e Paz foram pintados a óleo sobre madeira compensada naval.
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Painéis Guerra e Paz, Portinari, 1952 a 1956, foto Fundação Schmidt |
Enquanto um é uma representação da guerra, o outro representa a paz. Por seu trabalho com os painéis, Portinari foi agraciado em 1956 com o prêmio concedido pela Solomon Guggenheim Foundation de Nova York. Naquela ocasião, o crítico de arte Mario Barata publicou a seguinte nota no Diário de Notícias:
“ | Nunca, na arte moderna do mundo inteiro, um pintor viu as suas obras substituírem-se aos acorde de Wagner e Verdi, à fantasia dos ballets de Chopin, à majestade das orquestras sinfônicas. Pela primeira vez no século XX, o maior teatro de uma cidade transforma-se em templo da pintura |
VI - Últimos anos
Em 1961 faz a última viagem à Europa. Encontra-se com seu filho João Candido, em Paris, revê amigos e lugares que muito lhe emocionavam. Sua saúde mostra-se mais uma vez abalada devido à doença que o atacara.
Em 1962 envolvido no trabalho de preparação para uma exposição em Milão, descuida-se de vez de sua saúde. Morre, no dia 6 de fevereiro, na Casa de Saúde de São José, no Rio de Janeiro. Seu corpo é velado no Ministério da Educação, de onde sai o enterro, com grande acompanhamento.
VII - Esclarecimentos
Esse blog destina-se exclusivamente a divulgação cultural, nessa postagem queremos destacar a obra do grande pintor brasileiro Candido Portinari. Essa apresentação foi feita coletando-se trechos e imagens de vários artigos, blogs e publicações na Internet como Wikipedia, google projects, e principalmente da Fundação Portinari (Portinari.org.br).
Sempre procuramos colocar os créditos / referências dos textos e imagens. Quaisquer reclamações sobre uso indevido será imediatamente corrigido quando reportado nos comentários desse post ou qualquer outro meio de contato.
VIII - Referências
a) Histórico e Resumo bibliográfico:
- Acervo Portinari - https://www.portinari.org.br/
- Wikipedia - Candido Portinari
- Linha do Tempo - https://museucasadeportinari.org.br/candido-portinari/linha-do-tempo
b) As principais obras de Portinari -
https://obviousmag.org/pintores-brasileiros/candido_portinari/as-principais-obras-de-candido-portinari.html
c) Quadro O Café:
https://artefontedeconhecimento.blogspot.com.br/2010/07/cafe-1934-de-candido-portinari.html
d) Murais Fundação Hispânica:
https://www.poiesis.uff.br/PDF/poiesis14/Poiesis_14_MarioCandido.pdf
e) Quadro "Os Retirantes":
https://estudosavancadosinterdisciplinares.blogspot.com.br/2012/09/os-retirantes-candido-portinari.html
https://www.doispensamentos.com.br/site/?p=61
Monografia "Possibilidades de Leitura na obra Retirantes de Cândido Portinari" Manuel Alves da Rocha Neto
f) Análise da Série Retirantes:
Análise da “Série Retirantes” de Cândido Portinari à luz dos estudos tillichianos sobre as artes plásticas Antonio Almeida Rodrigues da Silva
(https://www.metodista.br/revistas/revistas-metodista/index.php/COR/article/.../2139)
g) Série "Bíblicas"
- Série Bíblicas:
"https://faapemexibicao.wordpress.com/2013/05/23/candido-portinari-series-biblica-e-retirantes/
h) Painéis Guerra e Paz
https://fundacaoschmidt.org.br/os-paineis-guerra-e-pazde-candido-portinari-vao-voltar-temporariamente-para-a-familia-do-pintor/