I - O Grupo Corpo
O Grupo Corpo é uma companhia de dança contemporânea brasileira de renome internacional criada em 1975 em Belo Horizonte, Minas Gerais.
A companhia foi fundada por Paulo Pederneiras (diretor-geral), Rodrigo Pederneiras (inicialmente bailarino e depois coreógrafo), Isabel, Pedro Pederneiras, , Miriam Pederneiras, e Zoca. 106 bailarinos passaram pelo Corpo em 40 anos de história.
A inspiração para a montagem do grupo surgiu após Rodrigo Pederneiras ter participado de uma oficina realizada durante o Festival de Inverno da UFMG com o bailarino argentino Oscar Araiz. O primeiro espetáculo do grupo, Maria Maria, foi coreografado por Oscar Araiz, percorreu 14 países e permaneceu em atividade no Brasil de 1976 até 1982. Todos os irmãos de Pederneiras se envolveram com o Grupo Corpo em certo ponto: José Luiz abandonou a medicina para virar fotógrafo , Pedro tornou-se diretor técnico, e as irmãs Míriam e Mariza foram dançarinas.
Em 1978, juntou-se ao grupo Emilio Kalil, que assume a co-direção junto com Paulo Pederneiras. O Grupo Corpo foi companhia residente na Maison de La Danse em Lyon na França de 1995 a 1999
II - O Primeiro Espetáculo- Maria Maria
(Música de Milton Nascimento, Texto Fernando Brant)
Corpo negro de macios segredos, olhos vivos
farejando a noite, braços fortes trabalhando o dia.
Memória de longa desventura da raça,
intuição física da justiça.
Alegria, tristeza, solidariedade e solidão.
Mulher-pantera, fera, mulher-vida, vivida.
Uma pessoa que aprendeu vivendo
e nos deixou a verdadeira sabedoria:
a dos humildes, dos sofridos,
dos que têm o coração maior que o mundo."
(Trecho de Maria Maria, texto de Fernando Brant)
a) A aposta
O grupo desde o início quis começar com algo de grande qualidade e impacto para firmar a marca como algo inovador. Para isso decidiram convidar uma equipe de peso , liderada pelo coreógrafo
argentino Oscar Araiz, Milton Nascimento e Fernando
Brant.
Apesar de ser um empreendimento
dificílimo, cheio de desafios, os três acabaram
sendo extremamente receptivos com o projeto,
que se viabilizou por meio de empréstimos
bancários. O grupo era desconhecido e iniciante enquanto os três já eram artistas renomados. Eles entretanto não só aceitaram o desafio
como também mergulharam na montagem com
bastante generosidade.
Toda parte de criação de Maria Maria, do iluminador
ao figurinista, veio de Buenos Aires
da equipe do Oscar Araiz. Em Belo Horizonte, o Brant
se responsabilizou pelo roteiro e os textos e, a
partir deles, Milton, que abraçou o projeto com
generosidade incomum, compôs a música.
Maria Maria nasceu num leito qualquer de
madeira.
"Infância incomum pois nem bem ela andava,
falava e sentia e
já suas mãos ganhavam os primeiros calos do
trabalho precoce.
Infância de roupa rasgada e remendada, de
corpo limpo
e sorriso bem aberto.
Infância sem brinquedos
mas cheia de jogos aprendidos com as velhas
que lavavam roupa nas margens do Jequitinhonha.
Infância que acabou cedo, pois já aos quatorze
anos,
como é normal na região ela já estava casada.
Do casamento ela se lembra pouco,
ou não quer muito se lembrar.
Homem estranho aquele a lhe dar
balas e doces em troca de cada filho.
Casamento que em seis anos, seis filhos lhe
concedeu. Os filhos se amontoavam nos quatro
cantos da casa.
Enquanto ela estendia a
roupa na beira dos trilhos, os seis meninos
sentados brincavam na terra fofa.
Os seus olhinhos de espanto não entendiam de nada.
De repente, notícia vinda dos trilhos. Maria
Maria era viúva.
Pela primeira vez a morte entrava em sua vida
e vinha em forma de alívio.
E de retalho em
retalho
Maria se definiu: solidária, solitária, operária
e brincalhona. Ela pode ao mesmo tempo
ser Maria e ser exemplo de gente
que trabalhando em todas as horas do dia,
conserva em seu semblante
toda pura alegria, de gente que vai sofrendo
e quanto mais sofre, mais sabe." (trecho do texto Maria Maria)
A estréia
A estréia de Maria Maria, em 1976, foi com uma temporada no maior palco de
Minas, o Grande Teatro do Palácio das Artes,
algo impensável até então para uma companhia
local.
Na medida em
que Oscar Araiz ia coreografando, o grupo ia convidando
pessoas de confiança para ver trechos em
primeira mão. Saíam entusiasmadas. A estratégia
contribuiu para gerar comentários positivos por
toda a cidade e, quando finalmente chegou o
grande dia, foi impressionante. Os ingressos para
Grupo Corpo da temporada se esgotaram. Uma grande sorte
ter acontecido logo na primeira montagem.
Porém, de certa forma, o grupo tinha confiança no sucesso, porque no Brasil ainda não
havia nada semelhante.
III - A Profissionalização
De 1976 a 1982, enquanto o sucesso de Maria Maria ainda repercutia em apresentações pelo Brasil e diversos países da Europa e da América do Sul, o Grupo Corpo não se dava descanso. Colocou em cena nada menos que seis coreografias assinadas por Rodrigo Pederneiras, que assume o posto de coreógrafo-residente em 1981 e, juntamente com Paulo Pederneiras – diretor artístico da companhia e responsável pela iluminação e cenários dos espetáculos - acaba por moldar a personalidade e as feições definitivas do grupo.
A condução do Paulo na direção artística, de Rodrigo na coreografia e a participação de pessoas que estão no grupo desde longa data como Pedro, Macau, Mirinha, Fernando e a Cri foram fundamentais para que a companhia desse certo. Também foi importante o processo de gerenciamento que foi implantado desde o princípio. Não se realizava reuniões, não existia patrulhamento, o espírito de liberdade sempre existiu.
IV - Alguns trabalhos
a) Prelúdios (1985)
Em 1985, chegava aos palcos o segundo grande marco na carreira do grupo: Prelúdios, leitura cênica da interpretação do pianista Nelson Freire para os 24 prelúdios de Chopin. O espetáculo, que faz sua estreia no I Festival Internacional de Dança do Rio de Janeiro, é aclamado pelo público e pela crítica, e termina de firmar o nome do grupo no cenário da dança brasileira.
b) Vinte e Um (1992)
Em 1992 emerge o divisor de águas do Grupo Corpo: 21, o balé que firmaria a imparidade da sintaxe coreográfica de Rodrigo Pederneiras e a inconfundível persona cênica da companhia. A partir da sonoridade singular da oficina instrumental mineira Uakti e dez temas compostos por Marco Antônio Guimarães, o coreógrafo deixa de lado a preocupação com a forma e começa a investir na dinâmica do movimento, buscando, através do desmembramento de frases musicais e rítmicas, a escritura de uma partitura de movimentos menos pautada na construção melódica, e mais interessada no que subjaz a ela.
O resgate da ideia de trabalhar com trilhas especialmente compostas, que havia marcado os três primeiros espetáculos do grupo nos idos dos anos 70, permite também que ele avance na investigação de um vocabulário identificado com suas raízes brasileiras.
c) Parabelo (1997)
Publicado em 2 de abr de 2015
coreografia: Rodrigo Pederneiras música: Tom Zé e Zé Miguel Wisnik
cenografia: Fernando Velloso e Paulo Pederneiras - figurino: Freusa Zechmeister
iluminação: Paulo Pederneiras
No interior do Brasil, os ritmos são os personagens de uma cultura que nunca para de se transformar. A música de Tom Zé/José Miguel Wisnik parte desta característica e faz dela sua fonte. A coreografia materializa o traço que mais tem distinguido a obra de Rodrigo Pederneiras: o trânsito entre a arte popular e a arte erudita. Aqui, estas fronteiras estão dissolvidas.
Parabelo irradia aquilo que vem da terra. E apresenta um Brasil polvilhado de nuances regionais.
Essa coreografia foi apresentada na cerimônia de encerramento das Olimpíadas, Rio 2016.
Entre 1996 a 1999, o grupo atua como companhia residente da Maison de la Danse, de Lyon, França, fazendo neste período a estreia europeia de suas criaçõe Bach, Parabelo e Benguelê.
d) Dança Sinfônica (2015)
“Dança Sinfônica”, coreografado por Rodrigo Pederneiras e com trilha do músico e compositor Marco Antônio Guimarães, faz uma espécie de homenagem as pessoas que fizeram o Corpo nestes 40 anos
V - As raízes de Minas
A casa do Grupo Corpo sempre foi Belo Horizonte,
e o grupo não pensa em morar no exterior,
no Rio ou São Paulo. De acordo com Rodrigo "O nosso lugar é aqui
e não precisamos sair de Minas para ter mais
repercussão. Há vários anos temos uma agenda
externa que nos leva, regularmente a cada ano,
a realizar pelo menos duas turnês americanas e
européias. Atualmente nos apresentamos em
vários dos principais teatros do mundo, e são
tantos os convites que recusamos alguns por
falta de espaço na agenda."
A família Pederneiras
A Rodrigo coube dar a marca ao Corpo, criar uma escritura coreográfica única e original. José Luiz abandonou a medicina, encantou-se pelas imagens e, mesmo vivendo no Rio de Janeiro, mantém o elo com os irmãos, assinando todo o material fotográfico do grupo. Pedro tornou-se diretor técnico; Míriam, ao abandonar as sapatilhas, criou a ONG Corpo Cidadão; e Mariza, depois de dançar por muitos anos, vive hoje na Alemanha.
VI - Os músicos que trabalharam com o Grupo
O minimalismo de Philip Glass (Sete ou Oito Peças para um Ballet, 1994), o vigor pop e urbano de Arnaldo Antunes (O Corpo, 2000), o experimentalismo primigênio de Tom Zé (Santagustin, de 2002 e, em parceria com Wisnik, Parabelo, de 1997), a africanidade de João Bosco (Benguelê, 1998), versos metafísicos de Luís de Camões e Gregório de Mattos à luz de Caetano Veloso e José Miguel Wisnik (Onqotô, 2005), a modernidade enraizada de Lenine (Breu, 2007), a diversidade sonora de Moreno, Domenico e Kassin (Ímã, 2009), as canções medievais de Martín Codax na releitura de Carlos Nuñez e José Miguel Wisnik (Sem Mim, 2011) dão origem a espetáculos de têmperas essencialmente diversas – cerebral, cosmopolita, interiorano, primordial, existencialista, brutal, moderno, lírico – sem que se percam de vista os traços distintivos do Grupo Corpo.
VII - Referências
Rodrigo Pederneiras
e o Grupo Corpo
Dança Universal
https://aplauso.imprensaoficial.com.br/ - História de Rodrigo Pederneiras coreógrafo e fundador do grupo Corpo - Publicaçao de Sérgio Rodrigo Reis
Historia do grupo O Corpo - site oficial:
Historia do grupo O Corpo - site oficial:
Maria Maria, video completo: https://www.youtube.com/watch?v=LjIJj9ajKhQ