I. Introdução
Uma noite no Japão, alguns anos atrás, após algumas garrafas de sakê quente acompanhado de cerveja gelada, o meu amigo brasileiro tentava explicar, com a minha ajuda, para um japonês e em Inglês a seguinte estrofe:
"Quem já passou por essa vida e não sofreu, foi espectro de homem, não viveu".
Depois de muitas tentativas, tenho sérias dúvidas se nos fizemos entender. Mas a frase, que eu não conhecia, ficou gravada na minha cabeça e eu supus erradamente que ela era de Vinicius de Moraes.
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Pesquisando agora recente, vi que na realidade a estrofe faz parte de um poema de Francisco Otaviano chamado "Ilusões da Vida" e que, de acordo com o livro Antologia Poética Brasileira de Elias Daher, influenciou Vinicius de Moraes quando fez o poema "Como dizia o Poeta". Vejam as diferenças.
II. - Francisco Otaviano
Francisco Otaviano de Almeida Rosa (Rio de Janeiro, 26 de junho de 1825 — Rio de Janeiro, 28 de junho de 1889) foi um advogado, jornalista, diplomata, político e poeta brasileiro.
Francisco Otaviano foi deputado geral e senador do Império do Brasil de 1867 a 1889. Ele é patrono da cadeira 13 da Academia Brasileira de Letras. Foi negociador do Tratado da Tríplice Aliança entre Brasil, Argentina e Uruguai.
Poeta desde menino, não se dedicou suficientemente à literatura. Ele mesmo exprimiu com frequência a tristeza de haver sido arrebatado à poesia pela política, por ele chamada de “Messalina impura”, num epíteto famoso. Apesar da carreira fácil, respeitável e brilhante, cultivou sempre a nostalgia das letras.
Sua obra poética representa uma espécie de inspiração do homem médio, mas não banal, o que lhe dá, do ponto de vista psicológico, uma comunicabilidade aumentada pela transparência do verso, leve e corredio. Em torno do eixo central de sua personalidade literária se organizam as tendências comuns do tempo, num verso quase sempre harmonioso e bem cuidado.
Nas suas traduções de Horácio, Catulo, Byron, Shakespeare, Shelley, Victor Hugo, Goethe, revela-se também poeta excelente. Ficou para sempre inscrito entre os nossos poetas da fase romântica, como autor de duas ou três peças antológicas, mesmo que não tenha exercido a literatura com paixão, e o patriota que foi dá-lhe lugar entre os grandes vultos brasileiros do século XIX.
III - O poema "Ilusões da Vida"
ILUSÕES DA VIDA
Quem passou pela vida em branca nuvem,
E em plácido repouso adormeceu;
Quem não sentiu o frio da desgraça,
Quem passou pela vida e não sofreu;
Foi espectro de homem, não foi homem,
Só passou pela vida, não viveu.
E em plácido repouso adormeceu;
Quem não sentiu o frio da desgraça,
Quem passou pela vida e não sofreu;
Foi espectro de homem, não foi homem,
Só passou pela vida, não viveu.
IV - Vinicius de Moraes
Marcus Vinicius de Moraes nasceu no Rio de Janeiro em 19 de outubro de 1913 e faleceu também no Rio de Janeiro em 9 de julho de 1980. Vinicius foi, ao longo de sua vida, diplomata, dramaturgo, jornalista, poeta, cantor e compositor.
Poeta essencialmente lírico, o que lhe renderia a alcunha "poetinha", que lhe teria atribuído Tom Jobim, notabilizou-se pelos seus sonetos. Conhecido como um boêmio inveterado, fumante e apreciador do uísque, era também conhecido por ser um grande conquistador.
Sua obra é vasta, passando pela literatura, teatro, cinema e música. Ainda assim, sempre considerou que a poesia foi sua primeira e maior vocação, e que toda sua atividade artística deriva do fato de ser poeta. No campo musical, o poetinha teve como principais parceiros Tom Jobim, Toquinho, Baden Powell, João Gilberto, Chico Buarque e Carlos Lyra. (Wikipedia)
Vinicius é especial. Posteriormente faremos uma série específica dedicada a ele.
Vinicius é especial. Posteriormente faremos uma série específica dedicada a ele.
V - O Poema "Como dizia o poeta", mais tarde musicado por Toquinho
COMO DIZIA O POETA
Quem já passou
Por esta vida e não viveu
Pode ser mais, mas sabe menos do que eu
Porque a vida só se dá
Pra quem se deu
Pra quem amou, pra quem chorou
Pra quem sofreu, ai
Quem nunca curtiu uma paixão
Nunca vai ter nada, não
Não há mal pior
Do que a descrença
Mesmo o amor que não compensa
É melhor que a solidão
Abre os teus braços, meu irmão, deixa cair
Pra que somar se a gente pode dividir?
Eu francamente já não quero nem saber
De quem não vai porque tem medo de sofrer
Por esta vida e não viveu
Pode ser mais, mas sabe menos do que eu
Porque a vida só se dá
Pra quem se deu
Pra quem amou, pra quem chorou
Pra quem sofreu, ai
Quem nunca curtiu uma paixão
Nunca vai ter nada, não
Não há mal pior
Do que a descrença
Mesmo o amor que não compensa
É melhor que a solidão
Abre os teus braços, meu irmão, deixa cair
Pra que somar se a gente pode dividir?
Eu francamente já não quero nem saber
De quem não vai porque tem medo de sofrer
Ai de quem não rasga o coração
Esse não vai ter perdão
Esse não vai ter perdão
VI - A Música "Como dizia o Poeta"
VII - Referências
Wikipedia : Francisco Otaviano / Vinicius de Moraes
Lembranças de uma noite de sakê: HistóriacomGosto