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domingo, 3 de maio de 2020

O Caminhante sobre o mar de névoa - Caspar David Friedrich e o romantismo alemão

1. - O Caminhante sobre um mar de névoa



Caminhante sobre o mar de névoa (em alemão: Der Wanderer über dem Nebelmeer, é uma pintura a óleo de 1818 do artista alemão Caspar David Friedrich. A obra está no acervo da Kunsthalle de Hamburgo desde 1970.


quadro O Caminhante sobre o mar de névoa onde mostra um viajante de costas(lembra o pequeno príncipe) no topo de uma montanha, olhando para a paisagem a sua frente e vendo as outras montanhas mais baixas cobertas por um mar de névoa
Caminhante sobre o mar de névoa, Caspar David, 1818


A pintura encarna a essência dos princípios da estética romântica de paisagem, mostrando uma figura solitária contemplando uma imponente paisagem alpina de cima de um pico rochoso. Nos arredores da paisagem os cumes próximos assomam no mar de névoa que se dissolve, além de uma montanha distante que se eleva sobre a cena, contra um céu luminoso. 
O autor usa um nevoeiro denso para obscurecer o que está entre as montanhas e, dessa maneira, criar um ar de mistério. Ao se observar a natureza imensa, dá se a sensação de perda no infinito.
Em contemplação e autorreflexão, a personagem representada por Friedrich, apresenta-se em posição ereta, mostrando sua dominância perante ao todo, em contraste com a imponência da paisagem que parece absorver seus pensamentos, e convidando o espectador para apreciar o próprio horizonte ao qual está contemplativo.

2. - "Somos todos peregrinos", Uma análise de Suzana Oliveira, 2015, para a revista Obviousmag.

"A todo o momento estamos lidando com a brevidade da vida. A todo o momento vemos a morte bater a porta de quem menos a esperava, ou mesmo, de quem já aguardava a sua chegada. E independentemente da crença, concluímos: sim, realmente estamos aqui só de passagem.
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Em sua mais conhecida obra “O peregrino sobre o mar de névoa”, de 1818, atualmente exposta no Kunsthalle Museum em Hamburgo, na Alemanha, ele consegue retratar, já em sua época, a atual condição do homem, que na prepotência e insistência em afirmar seu domínio sobre a natureza e sobre tudo o que cria, vê-se agora isolado, destituído de qualquer controle, vê-se impedido de enxergar com nitidez aquilo que ele pensava conhecer tão bem. Ele está só e o mundo lhe parece estranho.
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Este quadro, além de tantas outras impressões e interpretações possíveis, pode ser lido como uma alegoria da vida humana, principalmente nos tempos trabalhosos em que vivemos.

A imagem embaçada e repleta de mistério nos fala do desconhecido da vida, da imensidão do universo, do isolamento do homem, perplexo diante daquilo que não controla, nem alcança.

Claridade e neblina, cores frias e ácidas se misturam diante de um anônimo, um viajante que observa. Alguém, que pelo anonimato, pode ser cada um de nós. No entanto, não vemos o seu rosto, não sabemos sua expressão, nem pensamentos diante de tudo o que vê. Talvez esteja angustiado, aflito, melancólico. Talvez falte esperança, faltem forças para caminhar.
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Assim como o anônimo da pintura, ficamos, por vezes, perplexos diante das novas de cada dia, nos sentimos deslocados em meio a tanto sofrimento e desamor.

Cada um de nós tem um peregrino dentro de si, um viajante que sabe que não estará aqui para sempre. E sendo assim, qual deve ser nossa posição diante da vida? Cada um responda para si. Tendo em mente que somos aqueles que fazem o uso responsável de tudo, porque breve partiremos e outros virão após sairmos.

Se somos peregrinos, enquanto aqui estivermos sejamos pacificadores, em meio as guerras travadas diariamente, fazendo conhecidos e dando voz ao anônimo e ao esquecido. Dando voz a outros peregrinos, que tiveram suas vozes abafadas pelos gritos dos poderosos.
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Por fim, não esqueçamos: a vida é breve, é brevíssima, é bonita, merece reflexão e registro. Somos viajantes, precisamos parar um pouco, contemplar, e seguir o caminho, buscando dar sempre os melhores passos. Vivendo a arte e a humanidade que ela nos traz.

Fonte: magazine eletrônico "Obviousmag"
https://obviousmag.org/palavra_a_paquelavra/2015/somos-todos-peregrinos.html (site aparentemente fora do ar)


Análise de SUZANA OLIVEIRA (link quebrado por retirada do ar)

"Uma peregrina na terra, que ama as palavras, a história, a interpretação de texto e a transformação de vidas."



3. A Pintura Romântica


Chama-se pintura do Romantismo uma mistura de estilos encontrados na pintura ocidental num período de mais de cem anos entre o fim do século XVIII e o fim do século XIX, como uma reação ao equilíbrio, impessoalidade, racionalidade e sobriedade do classicismo, e cuja ênfase estava na expressão de visões pessoais fortemente coloridas pela emoção dramática e irracional. 
Uma cronologia unificada é impossível de estabelecer; varia conforme a região e os autores também discordam sobre sua amplitude, alguns reduzindo o período para entre o início do século XIX e apenas poucas décadas seguintes


A pintura romântica

A definição do Romantismo na pintura é difícil. Não foi um estilo unificado em termos de técnica ou temática, já que a diversidade de contextos nos vários países onde essa corrente floresceu deu margem à formação de escolas regionais bastante características e por vezes centradas em temas ou abordagens específicos. Já disse Baudelaire:
O romantismo não se encontra nem na escolha dos temas nem em sua verdade objetiva, mas no modo de sentir. Para mim, o romantismo é a expressão mais recente e atual da beleza. E quem fala de romantismo fala de arte moderna, quer dizer, intimidade, espiritualidade, cor e tendência ao infinito, expressos por todos os meios de que as artes dispõem"..


Outros pintores românticos


Theodore Gericault (A balsa da Medusa), Eugene Delacroix (A liberdade guiando o povo), Jean-François Millet (As colhedoras de espigas), Ilya Repin (Jó recebe seus amigos)

4. - Caspar David Friedrich 


Caspar David Friedrich (Greifswald5 de setembro de 1774 - 7 de maio de 1840) foi um pintorgravuristadesenhista e escultor romântico alemão, grande paisagista. Friedrich é o mais puro representante da pintura romântica alemã. Suas paisagens primam pelo simbolismo e idealismo que transmitem.
quadro com o rosto de Caspar David

Bibliografia resumida


Nascido na Alemanha, em Greifswald, que na época fazia parte da Suécia, foi educado dentro dos rigorosos preceitos luteranos de seu pai, Adolf Gottlieb, um comerciante bem sucedido. 

Perdeu a mãe aos sete anos de idade e logo depois mais quatro irmãos, um deles, Johann Christoffer, tragicamente e diante de seus olhos, caindo dentro de um buraco na superfície congelada de um lago. Alguns relatos sugerem que o irmão estava na verdade tentando salvar o próprio Caspar David que também estaria em perigo. Tais fatos marcaram sua vida e, somados à sua rígida educação religiosa, são uma das causas aventadas para a atmosfera melancólica de tantos de seus quadros, e contribuíram para que ele se tornasse conhecido como "mais um dos homens taciturnos do norte"

Em 1790 teve as primeiras aulas de desenho com o mestre Johann Gottfried Quistorp na Universidade de Greifswald, e literatura e estética com o professor sueco Thomas Thorild, que lhe ensinou a diferença entre a apreciação das coisas com o olho espiritual e com o olho material.

quadro A Cruz na Montanha
A cruz na montanha, 1808
Em 1808, depois de fazer um curso de pintura a óleo, foi incumbido pelos condes de Thun e Honestein de uma de suas obras mais importantes, A Cruz na Montanha, que recebeu críticas não muito alentadoras, especialmente de Basilius von Ramdohr, pela ousadia do artista em relacionar a paisagem com o sentimento religioso, embora tenha sido sua primeira obra a ter grande repercussão.

Uma das características mais originais de sua obra é o uso da paisagem para evocação de sentimentos religiosos, e daí sua fama de místico. Buscava não apenas apreender, de uma forma pretensamente “objetiva” a natureza, como faziam os neoclássicos, mas construir uma narrativa pictórica que “poetizava” a natureza, fazendo da sua inspiração uma ponte para uma reunião sublime entre o observador solitário e o ambiente externo.

Embora fosse um pintor renomado durante sua vida, Friedrich não foi uma unanimidade de crítica, e sua originalidade e temas não eram sempre compreendidos.
Na década de 1920 suas criações encontraram receptividade entre os simbolistas e expressionistas, e anos mais tarde entre os surrealistas e existencialistas. Na década de 1970 exposições em Hamburgo e Londres o alçaram a um reconhecimento geral. Hoje ele é tido como um dos ícones de Romantismo alemão, com uma obra de importância internacional, e um dos melhores paisagistas de todos os tempos.

(fonte: wikipedia)

Outras obras:

a) Mulher diante da Aurora, 1818, Museu Folkwang


quadro mulher diante da aurora onde mostra uma mulher de costas de vestido longo vendo o nascer do sol
Mulher diante da Aurora, 1818, Caspar David


b) Nascer da lua sobre o mar, 1822, Nationalgalerie


o quadro mostra três jovens, duas mulheres e um rapaz sentados sobre uma pedra vendo o nascer da lua sobre o mar. o quadro tem um tom azulado
Nascer da Lua sobre o Mar, 1822, Caspar David

c) Manhã sobre a montanha, 1810


o quadro mostra uma manhão sobre a montanha vista do alto com ums cruz de madeira no topo,
Manhã sobre a Montanha, 1810, Caspar David


5. - Referências


Wikipédia - Caminhante sobre um mar de névoas / pintura romântica / Caspar David Friedrich

Uma análise de Suzana Oliveira em Obvious - Somos todos peregrinos
-https://obviousmag.org/palavra_a_paquelavra/2015/somos-todos-peregrinos.html  (link fora do ar)

Observação: A excelente análise de Suzana Oliveira para a revista Obvious sobre o quadro Caminhante sobre o mar de névoa, não está mais disponível no link que obtivemos na época. Achamos que não justifica retirar o trabalho e a citação pois é muito bom como explicação educativa. (09/03/2022)