I. - Giovanni Boccaccio
Giovanni Boccaccio, nasceu, não se sabe ao certo se em Florença ou Certaldo, em 16 de junho de 1313 e faleceu em Certaldo, 21 de dezembro de 1375. Ele foi um poeta e crítico literário italiano, especializado na obra de Dante Alighieri.
Filho de um mercador, Boccaccio não se dedicou ao comércio como era o desejo de seu pai, preferindo cultivar o talento literário que se manifestou desde muito cedo. Foi um importante humanista, autor de um número notável de obras, incluindo Decameron, o poema alegórico Visão Amorosa (Amorosa visione) e De claris mulieribus, uma série de biografias de mulheres ilustres.
O "Decameron" fez de Boccaccio o primeiro grande realista da literatura universal.
Ao ler "A Comédia", de Dante Alighieri, Boccaccio ficou tão fascinado que a renomeou de "A Divina Comédia", título com que a obra seria imortalizada.
Considerado pelos seus contemporâneos florentinos uma autoridade sobre Dante, o governo da cidade convidou-o, em 1373, a fazer uma leitura pública da Divina Comédia. Apesar de ter feito várias palestras foi acometido de uma doença que o impedia de terminar o projeto, mas o texto com os seus comentários ficou para a posteridade. Encontra-se sepultado na Igreja de São Jacó e Filipe, em Certaldo, na Toscana, Itália. (fonte: Wikipedia)
Boccaccio, Dante e Petrarca são conhecidos como "As três coroas de Florença" e são os protagonistas da literatura italiana.
II. - O Decameron
Decameron é uma coleção de cem novelas escritas por Giovanni Boccaccio entre 1348 e 1353.
O livro é estruturado como uma história que contêm 100 contos relatados por um grupo de sete moças e três rapazes que se abrigam em uma vila isolada de Florença para fugir da peste negra que afligia a cidade. Boccaccio provavelmente iniciou Decameron após a epidemia de 1348 e o concluiu em 1353. Os vários contos de Decameron vão do trágico ao erótico; contos de sagacidade, piadas e lições de vida. Além do seu valor literário e ampla influência, ele fornece um documento da vida na época. Escrito no vernáculo da língua florentina, é considerado uma obra-prima da prosa clássica italiana precoce.
A obra é considerada um marco literário na ruptura entre a moral medieval, em que se valorizava o amor espiritual, e o início do realismo, iniciando o registro dos valores terrenos, que veio redundar no humanismo; Foi escrito em dialeto toscano.
III. - O Conto "Chichibio Cuoco"
"Chichibio Cuoco" : Um conto de Giovanni Boccaccio em Decameron
Currado Gianfiliazzi, como cada um de vocês deve ter visto e ouvido, na nossa cidade tem sido sempre um notável cidadão, liberal e magnífico, leva uma vida cavalheiresca mantendo continuamente em cachorros e pássaros a sua diversão, não recordando agora seus feitos mais importantes.
Um deles aconteceu quando com seu falcão caçou um ganso perto de Peretola, e encontrando-o gordo e jovem, o enviou a um de seus bons cozinheiros que se chamava Chichibio e era veneziano. E lhe mandou dizendo que lhe assasse e cozinhasse bem para o jantar.
Chichibio que, parecia ser um fanfarrão, preparou o ganso, dedicou-lhe sua atenção e, com presteza, começou a cozinhá-lo. Acontece que quando o cozido já exalava uma cheiro grande e forte, uma moça da região chamada Brunetta, da qual Chichibio estava fortemente apaixonado, adentrou na cozinha, e sentindo o odor do ganso e vendo-o implorou fortemente a Chichibio que lhe desse uma coxa.
Chichibio lhe respondeu cantando e disse: “Você não me entende Dona Brunetta”, você não me entende”. Brunetta se sentindo chateada lhe respondeu: “Pela fé em Deus, se você não me der, tu não terás nunca de mim nada que te agrade”, e logo se seguiu muitas palavras. Ao final Chichibio, para não angustiar a bela moça retirou uma das coxas do ganso e lhe deu.
Estando então diante de Currado e alguns hóspedes serviu-lhes o ganso sem uma coxa, e Currado espantando-se chamou a Chichibio, e perguntou-lhe o que tinha acontecido com a outra coxa do ganso Então, o veneziano fanfarrão prontamente respondeu: “Meu Senhor, o ganso não tinha se não uma coxa e uma perna”.
Currado então chateado disse: “Como pode que não tenha senão uma coxa e uma perna ?” Eu não já vi muitos gansos além deste ?”
Chichibio continuou: “Ele é, Senhor, como eu vos digo; e quando lhe aprouver eu lhe mostrarei ao vivo”. Currado, por atenção aos seus hóspedes não quis continuar o assunto, mas disse: Então você mostrará ao vivo, coisa que eu nunca vi e nem ouvi, quero vê-lo amanhã de manhã e estarei satisfeito; Mas eu te juro sobre o corpo de Cristo que, se outra coisa acontecer, eu te farei queimar, que tu com tua mentira nunca se esquecerá, enquanto viveres, do meu nome.
Terminando então as palavras por aquela noite, na manhã seguinte, quando o dia amanheceu, Currado, a quem a raiva não o deixara dormir, e ainda aborrecido, levantou e ordenou que os cavalos fossem preparados. Ordenou que Chichibio montasse um cavalo sem raça e partisse em direção a um riacho, na borda do qual ele sempre costumava ver alguns gansos, e disse: “Logo vamos ver quem mentiu ontem à noite, ou tu ou eu.”
Chichibio, vendo que ainda durava a ira de Currado e que lhe era necessário manter a sua mentira, não sabendo como fazer isso, na frente de Currado, morrendo de medo, de bom grado teria fugido se pudesse. Não podendo, ele se preocupava e o que via, ele pensava que eram gansos que estavam em seus dois pés.
Mas já perto do riacho, ele chegou a ver antes de todos cerca de doze gansos, as quais se apoiavam todas em um pé, como elas fazem quando dormem; Para o que ele, prestamente mostrando para Currado disse: “Muito bem você pode ver, mestre, que o que eu te disse ontem à noite é verdade, as gansos não tem senão uma coxa e um pé, se você olhar para aquelas que estão acolá“.
foto por Avi Drori |
Chichibio quase atordoado, não sabendo direito o que fazer, respondeu: “Mestre, sim, mas vós não gritastes “Ho, ho” àquele de ontem à noite”; “Porque se vós tivesses gritado ele teria baixado a outra coxa e o outro pé como esses fizeram”.
Currado gostou tanto da resposta, que toda a sua ira se converteu em riso e alegria, e disse: “Chichibio, tu tens razão: Eu deveria ter feito isso”.
Então, com sua pronta e agradável resposta, Chichibio acabou com sua má sorte e fez as pazes com seu senhor.
IV. - Referências
Wikipedia - Boccaccio / Decameron
Chichibio Cuoco - Conto do Decameron - IV Novela da VI jornada.