I. João Bosco
a) - Pelo próprio
"Amamentado pelo meu violão, moro na estrada. Sem saber quem sou e nem porque vim, eu vou. Da primeira vez que nasci, lá pelo ano de 1946, trouxe comigo uma grande alegria para o meu pai que até aquele momento contabilizava o feito de cinco moças e mais os olhares interrogativos e desconfiados da colônia árabe pontenovense. Como primeiro filho homem ajudei em sua redenção.
...
Cresci em meio aos matagais, trilhas, mata-burro, veredas e grutas; descalço, tive os pés regulados para andar por esses caminhos ao som de pios de uma fauna alegre e ingênua; matuto, vivia contando estrelas, ouvindo carrilhões e sonhava muito.
...
Passei pela terra de Aleijadinho e o meu coração que até então era vadio, ficou barroco. Subi e desci ladeiras. Descobri que na vida existem mais hipóteses que teoremas. Supor é melhor que demonstrar e na dúvida mora a vontade de continuar.
...
Quando nasci da segunda vez, o meu coração bateu aflito. Mas logo que vi o mar, serenei pois tudo que havia existido voltou subitamente e volta sempre quando estou caminhando no calçadão que vai do Leblon ao Arpoador. Aí, o que foi e o que poderia vir a a ser andam comigo, incluindo as sementes, o pão de queijo e a goiabada cascão.
...
Eu sei que esse deveria ser um retrato pintado ou desenhado, falado ou escrito do autor pelo próprio autor, mas quando se trata de revelar-me, prefiro assim, meio de lado (do jeito que a gente anda no samba), no lugar de frente ou verso. O silêncio, a liberdade e a terceira margem do rio foram inventados em Minas Gerais."
b) - pela Wikipedia
Alguns anos depois, iniciou na Escola de Minas em Ouro Preto cursando Engenharia Civil. Apesar de não deixar de lado os estudos, dedicava-se sobremaneira à carreira musical, influenciado principalmente por gêneros como jazz e bossa nova e pelo tropicalismo. Foi em Ouro Preto, em 1967, na casa do pintor Carlos Scliar, que conheceu Vinícius de Moraes, com o qual compôs as seguintes canções: rosa-dos-ventos, Samba do Pouso e O mergulhador - dentre outras.
Em 1970 conheceu aquele que viria a ser o mais frequente parceiro, com quem compôs mais de uma centena de canções: Aldir Blanc, O mestre sala dos mares, O bêbado e a equilibrista, Bala com bala, Kid cavaquinho, Caça à raposa, Falso brilhante, O rancho da goiabada, De frente pro crime, Fantasia, Bodas de prata, Latin Lover, O ronco da cuíca, Corsário, dentre muitas outras.
A primeira gravação saiu no disco de bolso do jornal O Pasquim: Agnus Sei (1972). No ano seguinte, selou contrato com a gravadora RCA, lançando o primeiro disco, que levava apenas seu nome.
Em 1972 conheceu Elis Regina, que gravou uma parceria sua com Blanc: Bala com Bala; a carreira deslanchou quando da interpretação da cantora para o bolero Dois pra lá, dois pra cá."
c) Por um iniciante de Minas
João Bosco marcou meu período de início profissional em Minas Gerais. Descobria uma nova vida na área de engenharia e computação, e uma nova cultura de vida morando longe de casa.
Foi com os meus amigos de república, alguns de Ponte Nova, que conheci João Bosco, Milton Nascimento e o Clube da Esquina. Com as músicas desses artistas sempre animando os festivais de inverno de Ouro Preto, os bares de BH, aprendi a falar "Trem" e "Sô". Boas lembranças.
A música de João Bosco para mim é uma música de boteco, de roda de amigos, e uma música de alegria.
II. - Três músicas de João Bosco
a) Corsário (Disco: Essa é sua vida -1981)
Uma rica letra com uma difícil composição, fala sobre a distância entre os enamorados e o que tudo faria para encontrá-la.
Música: João Bosco Letra: Aldir Blanc
Meu coração tropical está coberto de neve, mas Ferve em seu cofre gelado E a voz vibra e a mão escreve mar Bendita lâmina grave que fere a parede e traz As febres loucas e breves Que mancham o silêncio e o cais Roseirais, Nova Granada de Espanha Por você, eu, teu corsário preso Vou partir a geleira azul da solidão |
E buscar a mão do mar Me arrastar até o mar, procurar o mar Mesmo que eu mande em garrafas Mensagens por todo o mar Meu coração tropical partirá esse gelo e irá Com as garrafas de náufragos E as rosas partindo o ar Nova Granada de Espanha E as rosas partindo o ar |
b) O Bêbado e o Equilibrista (Disco: Linha de Passe - 1979)
Caía a tarde feito um viaduto E um bêbado trajando luto me lembrou Carlitos A lua, tal qual a dona de um bordel Pedia a cada estrela fria um brilho de aluguel E nuvens, lá no mata-borrão do céu Chupavam manchas torturadas, que sufoco Louco, o bêbado com chapéu-côco Fazia irreverências mil pra noite do Brasil, meu Brasil Que sonha com a volta do irmão do Henfil Com tanta gente que partiu num rabo-de-foguete |
Chora a nossa pátria, mãe gentil Choram Marias e Clarices no solo do Brasil Mas sei, que uma dor assim pungente Não há de ser inutilmente, a esperança Dança na corda bamba de sombrinha E em cada passo dessa linha pode se machucar Azar, a esperança equilibrista Sabe que o show de todo artista tem que continuar |
Análise de Sergio Soeiro, parte inicial, no site https://analisedeletras.com/elis-regina/o-bebado-e-a-equilibrista/
"Gravada em 1979, esta música de João Bosco (melodia) e Aldir Blanc (letra), retrata uma época marcante da história do Brasil e tornou-se um hino à anistia no período final da ditadura militar iniciada no golpe militar de 1964.
Ao fim da década de 1970 a ditadura brasileira sofria grandes reveses. A pressão pela abertura democrática vinha de todos os lados, mas o regime se mantinha duro e firme. As incertezas eram imensas e quem ousava levantar a voz contra o regime corria o risco de pagar, até com a própria vida, pelo ato.
Assim, este texto é um discurso de denúncia e esperança: O “Bêbado” é a classe artística, representada pelo seu símbolo-maior, Carlitos, personagem de Charles Chaplin, com toda sua aura de liberdade e utopia."
c) Papel Machê (Disco: Gagabirô - 1984)
Inspiração
Em princípio de 2003, João Bosco recebeu Capinam em sua casa. Quando este adentrou em sua sala, ficou impressionado com uma série de brinquedos de papel machê feitos por sua esposa. Retornando para a Bahia Capinam escreveu uma carta mencionando a visita e com versos que eram a letra dessa música.
É uma música leve e jovial.
Letra: Capinam, Música: João Bosco
Cores do mar, festa do sol
Todo o sonho brilharVida é fazer Ser feliz |
Não vai desbotar
Lilás cor do mar
Seda cor de batomArco-íris crepom Nada vai desbotar
Brinquedo de Papel Machê...
|
No teu colo dormir
E depois acordar
Sendo o seu colorido
Brinquedo de Papel Machê...(2x)
|
Ai Ai Ai Ai Ai Ai!!
Lê Lê Lê Lê Lê Lê Lê
Lon Lon Lon Lon Ah!
Lê Lê Lê Lê Lê Lê Lê
Lon Lon Lon Lon Ah!... |
Dormir no teu colo
É tornar a nascer
Violeta e azul
Outro ser
Luz do querer...
|
III. - Referências
João Bosco -site oficial
João Bosco - Wikipédia
Youtube - Corsário / O bêbado e o equilibrista / Papel Machê