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quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Poema de Cecília Meireles "A Marcha" e sua adaptação musical

I - Cecília Meireles


foto de Cecília Meirels

Cecília Benevides de Carvalho Meireles, nasceu no dia 7 de novembro de 1901, no bairro Rio Comprido, na cidade do Rio de Janeiro. Filha de Carlos Alberto de Carvalho Meireles, funcionário do Banco do Brasil, e de Mathilde Benevides Meireles, professora da rede pública de ensino primário. 

Antes de Cecília nascer, sua mãe havia perdido seus outros filhos: Carlos, Vítor, Carmem, e Carlos - esse último morreu três meses antes do nascimento de Cecília. Aos três anos de idade, sua mãe também morreu, e a menina se mudou para as imediações das ruas Zamenhoff, Estrela e São Carlos, passando a morar com sua avó materna, Jacinta Garcia Benevides, uma portuguesa nascida na Ilha de São Miguel, Açores, na época viúva e única sobrevivente da família. Ela criou a menina com ajuda de Pedrina, a babá da menina, que sempre lhe contava histórias à noite.

Cecília cursou o Ensino Fundamental I na Escola Municipal Estácio de Sá, onde, ao concluir o curso em 1910, recebeu das mãos de Olavo Bilac, inspetor da Escola, uma Medalha de Ouro Olavo Bilac, pelo esforço e excelente desempenho "com distinção e louvor". Nessa época, a garota já demonstrava paixão por livros, chegando a escrever seus primeiros versos, além do interesse pela música que a levou estudar canto, violão e violino, no Conservatório Nacional de Música, pois, sonhava em escrever uma ópera sobre o Apóstolo São Paulo. No entanto, posteriormente, acabou se dedicando à literatura, tendo em vista que não conseguiria se dedicar com perfeição às muitas atividades simultaneamente.

Ela possuía olhos azuis-esverdeados, era curiosa e sozinha, sobretudo por que sua avó não a deixava sair de casa para brincar, mesmo quando era chamada por outras crianças. Durante uma entrevista, Cecília disse que "em toda a vida, nunca me esforcei por ganhar e nem me espantei por perder". A infância solitária rendeu à futura escritora dois pontos que, para ela, foram positivos: "a solidão e o silêncio". (Texto da Wikipedia)


- Um pouco de sua Carreira Literária



Com dezoito anos de idade, em 1919, Cecília lança seu primeiro livro de poemas, Espectros, lançado pela Editora Leite Ribeiro (hoje Freitas Bastos), com dezessete sonetos, escritos do tempo em que cursava a Escola Normal.

O livro continha poemas sobre temas históricos,lendários, mitológicos e religiosos, tendo personagens como Cleópatra, Maria Antonieta, Judite, Sansão e Dalila, retratados em sonetos, sob influência simbologista, na musicalidade e melancolia, indo na contramão do que estava sendo publicado na época. Com diminuta tiragem, acredita-se que o livro tenha sido lançado às custas da autora. 

Casa-se, em 1922, com o pintor português Fernando Correia Dias, com quem tem três filhas: Maria Elvira, Maria Mathilde e Maria Fernanda, esta última artista teatral consagrada. Suas filhas lhe dão cinco netos.

A partir daí, Cecília começa a se aproximar de escritores como Tasso da Silveira, Andrade Muricy e, entre fevereiro e março de 1922, escreve novos poemas para compor um novo livro. Nessa época, acontece a Semana de Arte Moderna, em São Paulo, liderado por Oswald de Andrade, com a qual Cecília tem pouco contato. No ano seguinte, publica Nunca Mais... E Poema dos Poemas, pela editora Leite Ribeiro, contendo vinte e um poemas e seis sonetos de caráter simbolista e com ilustrações de seu marido, Correia Dias. Posteriormente, Cecília pediu que esse livro fosse removido de sua bibliografia. 

Publica em 1924 Criança, Meu Amor, seu primeiro livro infantil, com crônicas em prosa poética para o ensino fundamental, onde a escritora traz realidades que as crianças gostam, como "o imaginário, o bom conselho, o humor, a fantasia". Os poemas escritos entre fevereiro e março de 1922, foram publicados em Baladas para El-Rei lançado em 1925, pela Editora Brasileira Lux e também com ilustrações de Correia Dias, seguindo a mesma linha dos últimos dois álbuns já publicados, o que acaba fazendo com que estudioso caracterizem essa parte da vida de Cecília como um "simbolismo-tardio", encabeçado por Tasso da Silveira.

Cecília Meireles faleceu no Rio de Janeiro a 9 de novembro de 1964, sendo-lhe prestadas grandes homenagens públicas. Seu corpo é velado no Ministério da Educação e Cultura. Recebe, ainda em 1964, o Prêmio Jabuti de Poesia, pelo livro "Solombra", concedido pela Câmara Brasileira do Livro. 


II - Poema "Marcha "


O poema “Marcha” faz parte da obra Viagem (1939), escrita entre 1929 e 1937. Esta é responsável por marcar a autora no cenário literário brasileiro, garantindo à Cecília Meireles o prêmio da Academia Brasileira de Letras por tal produção literária. (fonte: Lorena Santos Araújo)

"As ordens da madrugada
Romperam por sobre os montes:
Nosso caminho se alarga
Sem campos verdes nem fontes.
Apenas o sol redondo
E alguma esmola de vento
Quebram as formas do sono
Com a ideia do movimento.

Vamos a passo e de longe;
Entre nós dois anda o mundo,
Com  alguns vivos pela tona
Com alguns mortos pelo fundo.
As aves trazem mentiras
De países sem sofrimento.
Por mais que alargue as pupilas,
Mais minha dúvida aumento.

Também não pretendo nada
Senão ir andando à toa,
Como um número que se arma
E em seguida se esboroa,
- E cair no mesmo poço
De inércia e de esquecimento,
Onde o fim do tempo soma
Pedras, águas, pensamento.

Gosto da minha palavra
Pelo sabor que lhe deste:
Mesmo quando é linda, amarga
Como qualquer fruto agreste.
Mesmo assim amarga, é tudo
que tenho, entre o sol e o vento:
meu vestido, minha música,
meu sonho e meu alimento.

Quando penso no teu rosto,
fecho os olhos de saudade;
tenho visto muita coisa,
menos a felicidade.
Soltam-se os meus dedos ristes,
dos sonhos claros que invento.
Nem aquilo que imagino
já me dá contentamento.

Como tudo sempre acaba,
oxalá seja bem cedo!
A esperança que falava
tem lábios brancos de medo.
O horizonte corta a vida
isento de tudo, isento…
Não há lágrima nem grito:
apenas consentimento."


III - Música Canteiros - Fagner


Fágner nasceu em 13 de Outubro de 1949 na cidade de Orós, Ceará. Começou cantar aos seis anos participando de concurso na rádio local. Na adolescência, formou grupos musicais, vocais e instrumentais e começou a compor suas próprias músicas. Tornou-se popular no estado em 1969, após comparecer em programas televisivos de auditório na TV Ceará, e juntou-se a outros compositores cearenses como Belchior, Jorge Mello, Rodger Rogério, Ednardo e Ricardo Bezerra, o grupo ficou conhecido como "o pessoal do Ceará".

Texto sobre Fagner e vídeo carregado por Granuhha no youtube.

Em 1973 no seu disco de estréia Fagner gravou a música "Canteiros" com trechos do poema de Cecília Meireles adaptados.




IV - Polêmica

A polêmica começou porque na divulgação do disco a música foi creditada como sendo de autoria de Fagner sem nenhuma referência ao poema de Cecília Meireles. 


Como o disco não fez muito sucesso ele foi retirado das prateleiras. Posteriormente a música "Revelação" acabou tornando-se conhecida e o disco foi revisitado e a música Canteiros logo se tornou um sucesso. Entretanto, em 1977, o cantor já havia registrado Cecília Meireles como coautora da letra.

Em audiência e em entrevistas Fagner sempre afirmou que tinha usado o poema de Cecília Meireles em sua música nos dois primeiros versos e atribuiu a falta do crédito a um problema da gravadora que deveria ter incluído um encarte que continha a citação ao poema de Cecília  e nao o fez.


Mesmo assim, as herdeiras de Cecília Meireles moveram uma ação contra a gravadora.

Em novembro de 1979, Fagner admitiu, em juízo, que havia feito a adaptação do poema nos dois primeiros versos da música. Em 1983 a ação foi concluída com ganho de causa das herdeiras de Cecília, cabendo ao cantor, às Edições Saturno e às gravadoras Polygram, Polystar, Polifar o pagamento de uma indenização de 101 mil cruzeiros, por violação de direitos autorais. A Polygram, entretanto, continuou resistindo e apelou ao Supremo Tribunal Federal.

A polêmica iniciada em torno de 1977 somente foi concluída em 1999 quando a gravadora Sony Music fez um acordo com as herdeiras para a regravação da música. O fato aconteceu em Fortaleza no ano de 2000 com o lançamento do disco "Raimundo Fagner ao vivo" , incluindo a música Canteiros.  

Ainda bem que as partes fizeram o acordo que nos permite apreciar o poema e a música que são ambos belíssimos.


V - Referências


-Cecília Meireles - Wikipedia

- Polêmica sobre a música Canteiros: site itarget.com.br
https://www.itarget.com.br/clients/raimundofagner.com.br/cecilia_meireles.htm

- Youtube - Música Canteiros de Raimundo Fagner - carregado por Granuhha

- Foto Cecília Meireles - Acervo Última Hora

- Lorena Santos de Araújo - Dissertação de Mestrado, Programa de pós graduação em letras - UFES - Vitória, ES, 2018
https://repositorio.ufes.br/bitstream/10/9228/1/LorenaSantosdeAra%C3%BAjo-2018-trabalho.pdf