I - Igreja e Convento franciscano de Santo Antônio em João Pessoa.
O conjunto arquitetônico da Igreja e Convento de Santo Antônio (Igreja e Convento de São Francisco) é formado pelo Adro, Igreja, Convento e Cruzeiro, sendo considerado o maior monumento em estilo barroco da América Latina (Rodriguez, 1992). Sua edificação foi de iniciativa dos frades da Ordem Franciscana que vieram à Paraíba para ajudar os jesuítas na catequização dos índios. O conjunto encontra-se tombado pelo Patrimônio Histórico desde 1952.
Fundada em 1585, com o nome de Nossa Senhora das Neves, João Pessoa é considerada a terceira capital de estado mais antiga do Brasil, e conta com um grande acervo histórico-cultural. Tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), o Centro Histórico de João Pessoa abrange 502 edificações e uma área de aproximadamente 370 mil m².
Observação: Apesar de o Santo que dá nome à Igreja ser, comprovadamente, Santo Antônio de Pádua, já que são cenas da vida e dos milagres do frade português que ilustram o teto do altar-mor, a população pessoense desde há muito denomina a Igreja como “de São Francisco”. Isso se dá talvez pelo fato da ordem fundadora do convento ser franciscana. Como recentemente ele foi reinaugurado como Centro Cultural São Francisco, nesse post chamaremos o conjunto de Convento de São Francisco.
Observação: Apesar de o Santo que dá nome à Igreja ser, comprovadamente, Santo Antônio de Pádua, já que são cenas da vida e dos milagres do frade português que ilustram o teto do altar-mor, a população pessoense desde há muito denomina a Igreja como “de São Francisco”. Isso se dá talvez pelo fato da ordem fundadora do convento ser franciscana. Como recentemente ele foi reinaugurado como Centro Cultural São Francisco, nesse post chamaremos o conjunto de Convento de São Francisco.
Fachada do Convento Santo Antônio / São Francisco João Pessoa, foto historiacomgosto |
Histórico
Em 1588, chega no município de Nossa Senhora das Neves, o Frei Melchior de Santa Catarina, incumbido de instalar uma missão franciscana. O convento foi fundado em 1589, quatro anos após a ocupação da região pelos portugueses, e foi concluído no ano de 1591, pelo Guardião Frei Antônio do Campo Maior.
A estrutura atual é fruto de várias reformas efetuadas nos séculos XVII e XVIII. Inicialmente o convento era uma pequena edificação de taipa, com 12 celas e um claustro, logo ampliada nos anos seguintes, já em alvenaria de pedra calcária.
Em 1634 foi ocupado pelos invasores holandeses e transformado em fortificação. Depois de recuperado pelos franciscanos, foi reformado, com as obras concluindo em 1661. Nos próximos dois séculos sofreria outras intervenções, até ter a fachada da igreja concluída em 1779, data gravada no frontispício.
Os interiores foram ricamente decorados, destacando-se o trabalho de azulejaria, talha dourada e pintura. O convento se tornou o maior centro franciscano ao norte de Pernambuco, tendo um papel decisivo na exploração e ocupação da região através do trabalho missionário e cultural dos frades. Sua decoração interna apresenta várias alegorias referentes a esse papel.
Os edifícios foram novamente modificados no século XIX, resultando na perda do altar-mor original da igreja. Entre 1885 e 1894 foi usado pelo governo, que instalou no convento uma escola de aprendizes marinheiros e um hospital militar. A posse retornou para a igreja por intervenção do 1º Bispo da Paraíba, Dom Adauto de Miranda Henriques, que transformou o conjunto em seminário. Nesta função permaneceu até 1964, mas depois o governo novamente o utilizou para instalar algumas instituições: o Museu do Estado da Paraíba, a Escola Estadual do Róger e a Escola de Teatro Piollin.
Em 1979 foi fechado para restauro e em 6 de março de 1990 foi reinaugurado como Centro Cultural São Francisco.
II - O Conjunto Arquitetônico
O conjunto arquitetônico é de estilo barroco-rococó, e é um bom exemplo da escola franciscana de arquitetura do nordeste brasileiro.
A Nave Principal
Nave principal da Igreja, foto historiacomgosto |
O teto
O teto da igreja é decorado com uma das mais importantes pinturas de arquitetura do Barroco brasileiro, mostrando a cena da Glorificação dos Santos Franciscanos. A tradição a atribui a José Joaquim da Rocha, fundador da escola baiana de pintura, mas ainda há muita polêmica a este respeito. Outros espaços também possuem importantes tetos pintados.
Glorificação dos SantosFranciscanos - Madeira policromada, décadas finais do século XVIII. |
Outra vista do teto, agora no sentido inverso |
O MEDALHÃO CENTRAL (Texto adaptado de Carla_Mary_Oliveira na revista Fenix Out 2009)
Consensualmente nomeada pelos estudiosos brasileiros como Glorificação dos Santos Franciscanos ou Glorificação de São Francisco, a cena do medalhão central do forro da Igreja de Santo Antônio é plena de significados alegóricos.
No alto da imagem, a Santíssima Trindade – incluindo o Deus Pai personificado – e a Virgem Maria – que traz numa das mãos uma bandeira com o brasão da ordem seráfica e na outra um ramalhete de lírios brancos, alegoria de sua pureza – rodeados por uma profusão de querubins, abençoam São Francisco de Assis, que por sua vez derrama raios
luminosos de seu peito aos quatro cantos do
mundo onde atuavam os franciscanos.
À volta do santo da Úmbria estão quatro pares de personagens: santos mártires franciscanos ladeando mulheres ajoelhadas, vestidas com trajes alusivos à Europa, à África, à América e à Ásia, todos flutuando em nuvens que pairam suspensas sobre um terreno pontilhado com alguns arbustos que se perde na bruma do horizonte.
Tal cena seria banal – e chega mesmo a ser tema comum nas pinturas franciscanas de algumas igrejas coloniais do Nordeste brasileiro – não houvesse claramente uma diferença de atitude entre os frades ali representados: Santo Antônio e o mártir asiático olham diretamente para a Santíssima Trindade e a Virgem, pouco se importando com o que fazem as mulheres ajoelhadas a seus pés.
Europa e Ásia podem ser vistas, assim, como continentes em que a Fé cristã não necessitava de tanta vigilância, afinal.
À volta do santo da Úmbria estão quatro pares de personagens: santos mártires franciscanos ladeando mulheres ajoelhadas, vestidas com trajes alusivos à Europa, à África, à América e à Ásia, todos flutuando em nuvens que pairam suspensas sobre um terreno pontilhado com alguns arbustos que se perde na bruma do horizonte.
Tal cena seria banal – e chega mesmo a ser tema comum nas pinturas franciscanas de algumas igrejas coloniais do Nordeste brasileiro – não houvesse claramente uma diferença de atitude entre os frades ali representados: Santo Antônio e o mártir asiático olham diretamente para a Santíssima Trindade e a Virgem, pouco se importando com o que fazem as mulheres ajoelhadas a seus pés.
Europa e Ásia podem ser vistas, assim, como continentes em que a Fé cristã não necessitava de tanta vigilância, afinal.
A capela da Ordem Terceira
A Capela dos Terceiros foi iniciada em 1704 e, entre 1718 e 1734, uma nova campanha construiu e decorou o coro alto e abriu as duas portas laterais da fachada.
Em meados do século, os terceiros fizeram construir a grande casa de oração adjacente à sua capela, e pela mesma altura foi construída a sacristia. A Capela dos Terceiros procurou seguir o modelo da sua congénere do Recife mas, com menos recursos, ficou incompleta.
A talha da capela é bem característica do estilo nacional português.
A talha da capela é bem característica do estilo nacional português.
Detalhe do Altar da Capela da Ordem Terceira
Detalhe da capela dourada, foto historiacomgosto |
Casa de Oração da Ordem Terceira adjacente à Capela
O Claustro
Teto da Sacristia - wikimedia commons
O Pátio
O claustro é atualmente a parte mais antiga do convento. Ele foi terminado em torno de 1730. Revela influência mourisca e é constituído por um pátio quadrado cercado de uma galeria coberta, para onde se abrem as celas. Seus azulejos das paredes laterais são decorados com motivos vegetais.
Claustro, foto historiacomgosto |
A Sacristia
Móveis da Sacristia, foto historiacomgosto
Teto da Sacristia - wikimedia commons
O Pátio
Toda a construção é considerada uma obra de arte. Carla Oliveira ressaltou que já foram usados os adjetivos de "harmonia, formosura, graciosidade, grandiosidade" para louvá-la. E para ela, "é certo que até hoje ela emociona quem chega aos pés do cruzeiro monumental, à entrada do adro".
O pátio exterior é murado por eles também e mostra nichos com cenas da Paixão ainda em azulejos magnificamente desenhados e que assim, emoldurados pelos nichos e distantes uns dos outros, a gente pode isolar, contemplar e gozar bem.
Adro
Iniciado no século XVI, o Adro da Igreja é cercado de duas grandes muralhas antigas e azulejadas, com seis painéis representando as estações da Paixão de Cristo. Esses azulejos são de grande importância histórica e artística. Já a parte superior das muralhas é trabalhada em pedra. Por sua vez, o piso do adro é todo em lajes muito antigas.
No interior da igreja e no grande adro também há vários painéis azulejados. No primeiro retratam a história de José do Egito, e no segundo, cenas da Paixão de Cristo. A fachada, em triângulo escalonado, é ornamentada com motivos vegetais, predominando o caju, uma árvore comum no nordeste.
Cruzeiro
O cruzeiro é formado por cruz monolítica, com pedestal apresentando figuras de pelicanos ou a ave mitológica Fenix, "representando Cristo alimentando os filhos com sua própria refeição e a ressureição". Esse cruzeiro é o único restante em João Pessoa.
Referências
- Texto de Carla_Mary_Oliveira na revista Fenix Out/Nov/Dez 2009
https://www.revistafenix.pro.br/PDF21/ARTIGO_03_Carla_Mary_S._Oliveira.pdf
- Texto de Ronei - https://www.de.ufpb.br/~ronei/JoaoPessoa/sfrancisco.htm
- Wikipedia - Centro Cultural São Francisco
Fotografias:
Historiacomgosto, exceto o teto da sacristia.