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quarta-feira, 27 de março de 2024

Arte e Fé - Quinta feira da Semana Santa, Ciclo B - Quadro de Tintoreto, "Jesus lavando os pés dos discípulos".

I. - Quinta feira Santa



A  Quinta-feira Santa relembra a última ceia que Jesus tomou com seus Apóstolos, em preparação à Páscoa. Durante a Ceia, Jesus surpreendeu a todos ao se levantar e lavar os pés de cada um dos Apóstolos, mostrando que a autoridade só pode ser entendida como serviço aos outros.

Depois da purificação, Jesus instituiu a Eucaristia, repartindo o pão e o vinho, transformados em seu Corpo e Sangue. Depois da Ceia, Jesus saiu com seus discípulos e foi para o outro lado do riacho do Cedron, onde havia um jardim. Judas Iscariotes também conhecia este lugar e levou uma tropa e alguns guardas dos chefes dos sacerdotes que prenderam Jesus e o levaram para Anás, começando, assim, o seu calvário. (fonte: Portal PUC Campinas)

Evangelho (Mc 14, 12-16.22-26)

No primeiro dia dos Ázimos, em que se imolava o cordeiro pascal, os discípulos perguntaram a Jesus:

«Onde queres que façamos os preparativos para comer a Páscoa?».

Jesus enviou dois discípulos e disse-lhes:

«Ide à cidade. Virá ao vosso encontro um homem com uma bilha de água. Segui-o e, onde ele entrar, dizei ao dono da casa: "O Mestre pergunta: Onde está a sala, em que hei de comer a Páscoa com os meus discípulos?". Ele vos mostrará uma grande sala no andar superior, alcatifada e pronta. Preparai-nos lá o que é preciso».

Os discípulos partiram e foram à cidade. Encontraram tudo como Jesus lhes tinha dito e prepararam a Páscoa.

Enquanto comiam, Jesus tomou o pão, recitou a bênção e partiu-o, deu-o aos discípulos e disse:

«Tomai: isto é o Meu corpo».

Depois tomou um cálice, deu graças e entregou-lho. E todos beberam dele. Disse Jesus:

«Este é o Meu sangue, o sangue da nova aliança, derramado pela multidão dos homens. Em verdade vos digo: Não voltarei a beber do fruto da videira, até ao dia em que beberei do vinho novo no reino de Deus».

Cantaram os salmos e saíram para o monte das Oliveiras.


II  - O quadro de Tintoretto - Museu do Prado, 1548 a 1549, 

"Jesus lavando os pés dos Apóstolos"


       Tintoretto, “Christ Washing the Disciples’ Feet,” 1548–1549, Museu do Prado


III. - Reflexão baseada no Quadro - Daniela Zsupan - Loyola University


A interpretação dramática de Tintoretto de Cristo lavando os pés dos discípulos nos convida a entrar em um grande salão, com arquitetura suntuosa e vistas esplêndidas. Tintoretto nos tira do contexto histórico da Jerusalém do primeiro século para mostrar a atemporalidade do acontecimento. Jogando ainda mais com o tempo, sua grande cena coloca lado a lado o passado, o presente e o futuro. A atenção cuidadosa a essas cenas justapostas nos convoca a navegar pela narrativa visual em forma de U, da direita para a esquerda.

No canto superior direito, obscurecido pela penumbra, está o passado recente: a cena da refeição da Última Ceia. Em primeiro plano está o presente – o momento do lava-pés. Tintoretto reproduz a mesa de jantar para sublinhar uma ligação com a refeição, cujos vestígios ainda perduram como se vê no pão e na jarra. O artista também reduz o tempo entre o lava-pés de Pedro, canto inferior direito, com o efeito que isso deve ter produzido no resto dos discípulos. Eles são convidados a participar do ritual também e, nesta cena, isso ocorre de uma só vez.

Os discípulos e suas variadas respostas ao lava-pés são o foco visual da cena. Os dois ajudando a despir os pés um do outro demonstram urgência. A figura na parte inferior esquerda desfazendo firmemente as tiras das sandálias mostra obediência constante, assim como o discípulo atrás de Jesus removendo a meia. A figura sentada em oração contra uma coluna nas costas é um exemplo de discernimento. Os que ainda estão sentados à mesa significam observação e diálogo e, por fim, a figura mais distante e mais escondida nas sombras mostra suspeita e resistência. Ele provavelmente é Judas.

No canto superior esquerdo da cena, vemos uma vista sobre um pátio com piscina ladeado por arquitetura clássica, que conduz a perspectiva muito além através de um arco. Passando do primeiro plano para o fundo da vista, as imagens nos dão uma visão abreviada dos eventos que acontecerão após a Última Ceia. A urgência dos discípulos prenuncia a sua pressa no jardim quando Jesus é preso. Judas, permanecendo nas sombras, convida-nos para as horas mais sombrias da Paixão de Jesus que se seguirão. A piscina com o barco é a morte, uma reminiscência da antiga mitologia da vida após a morte, especificamente da travessia do rio Estige da morte para a eternidade. A quietude evoca mais o Sábado Santo do que a Sexta-feira Santa. O arco e o obelisco são ambos sinais de conquista e triunfo na arquitetura clássica, e aqui nos dão uma promessa de esperança eterna e da vitória que virá no Domingo de Páscoa. Esta pintura é, portanto, um excelente convite a todo o Tríduo Pascal.

 

Commentary is by Daniella Zsupan-Jerome, director of ministerial formation at Saint John's University School of Theology and Seminary.


IV. - Quem foi Tintoretto

Tintoretto, nome artístico de Jacopo Robusti (Veneza, ca. 1518 — 31 de maio de 1594), foi um dos pintores mais radicais do maneirismo. Por sua energia fenomenal em pintar, foi chamado Il Furioso, e sua dramática utilização da perspectiva e dos efeitos da luz fez dele um dos precursores do Barroco. Seu pai, Battista Comin, era tintore (tingia seda), o que lhe valeu o apelido.

Tintoretto, autoretrato,



Tintoretto saiu pouco de Veneza, ele amava todas as artes, tocava vários instrumentos musicais, alguns de sua invenção, desenhou roupas e adereços para o teatro, era versado em mecânica e era uma companhia agradável. Dificilmente admitia algum amigo no local de trabalho e mantinha suas ideias e modelos escondidos dos olhares, mesmo de seus assistentes. Usava, por insistência da esposa, a roupa de um cidadão de Veneza.

A obra de Tintoretto era desigual, às vezes pintava muito rápido, com uma capacidade impressionante de trabalho. Seus contemporâneos diziam que Tintoretto em algumas obras era igual a Ticiano, em outras era pior que Tintoretto.

A comparação da Última Ceia de Tintoretto com a de Leonardo dá uma demonstração instrutiva sobre como o estilo artístico moveu-se durante o Renascimento. Leonardo é todo clássico response. A disciplina se irradia de Cristo em simetria matemática. Nas mãos de Tintoretto, o mesmo evento é dramaticamente distorcido, enquanto as figuras humanas são elevadas pela erupção do espírito humano. Pelo dinamismo de sua composição, seu uso dramático da luz e seus efeitos de perspetiva, parece um artista barroco antes da hora. (fonte Wikipedia)

V. Mensagem do Papa sobre o Lava Pés -  2023

“O rito do lava-pés não é folclore, mas nos diz como devemos ser”. "Todos podem escorregar, Jesus nos ama como somos". É a mensagem que o Papa Francisco deixa aos jovens na sua breve homilia durante a missa em Coena Domini (Missa do lava-pés), no Instituto Penitenciário para Menores de Casal del Marmo.

Bergoglio, em sua homilia pronunciada sem texto, recorda Jesus lavando os pés dos Apóstolos: "Os discípulos ficaram espantados quando viram Jesus fazendo trabalho de escravo. Se nós ouvíssemos isto de Jesus, iríamos imediatamente nos ajudar uns aos outros, mas em vez disso nos fazemos de espertos, aproveitando-se um do outro. É bonito ajudar, isso nasce de um "coração nobre"". Cada um de vocês pode dizer: "mas, se o Papa soubesse o que eu tenho dentro. Mas Jesus nos ama como somos, Ele não tem medo de nossas fraquezas. Ele quer nos acompanhar, nos levar pela mão. Farei o mesmo gesto de lavar os pés, mas não é folclore, é um gesto que anuncia como devemos ser".


''Na sociedade - a reflexão - há muitas injustiças: pessoas sem trabalho, pessoas que trabalham e são pagas pela metade, famílias desfeitas. Cada um de nós pode escorregar e isso nos dá a dignidade de ser pecadores. É por isso que Jesus quis lavar os pés para ajudar uns aos outros. Assim, a vida é mais bonita". E Francisco conclui: "Eu espero conseguir porque não consigo andar bem, mas vocês pensem: Jesus lavou os meus pés''.


VI. - Referências


Wikipedia - Tintoretto
Arte e Fé - Loyola Press