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segunda-feira, 13 de março de 2017

Quaresma II - "A Transfiguração" de Rafael Sanzio

I. - Transfiguração


A Transfiguração é uma pintura, considerada a última e uma das mais importantes obras de Rafael Sanzio (1483-1520), baseada na Transfiguração de Jesus, descrita no Novo Testamento da Bíblia, no livro de Mateus, capítulo 17, versículos 1 a 13. Foi encomendada em 1517, pelo Cardeal Giulio de Medici, posteriormente Papa Clemente VII. A obra desvia de seu estilo sereno e apresenta uma nova sensibilidade de um mundo turbulento e dinâmico.



 quadro A Transfiguração de Rafael, exposto nos Museus Vaticano
Transfiguração, 1518~1520, Museus do Vaticano


II - Descrição do quadro


Primeira Parte


Na Transfiguração, Raphael conta uma história de revelação, fé e cura. Ele mostra como o momento da Revelação no Monte Tabor lança luz sobre a cena abaixo: a cura de um menino com um demônio. É a história do Evangelho imediatamente após a Transfiguração de Jesus. 

O céu derrama sua luz abaixo quando Cristo, envolto pela nuvem brilhante e ladeado por Moisés e Elias, está no ápice da cena. Logo abaixo vemos os apóstolos e ainda mais abaixo (segunda parte do quadro) vemos outros que se reuniram para ver um menino possuído e sua família. De cima para baixo, as cores mudam de um brilho frio, celestial para tons mais termais, terrenos.


parte do quadro Trasnfiguração com foco em Jesus subindo aos céus


Segunda parte


Rafael nos mostra os discípulos quando encontram a família desesperada. O rosto do menino se contorce com o sofrimento. Seu corpo está tensionado, um braço para cima e um braço para baixo, como se estivesse sendo puxado para o Céu e para o Inferno. 

Rafael retrata a família como um conjunto unido e focado. Sua intensidade e suas mãos ascendentes sinalizam seu ato unido de fé. Em frente a eles, os discípulos estão atormentados com o desafio - seus rostos e corpos apontando em todos os sentidos, mostram sua desordem.


parte de baixo do quadro que mostra os discípulos e uma família com um garoto com problemas
Entre os discípulos e a família, Rafael coloca uma figura feminina única. Cristo é a parte dominante da pintura, sim, mas esta mulher é a segunda em importância visual. Ela é central para a narrativa do garoto - ela faz parte da cena, mas ela não é um personagem. Sua coloração fresca e brilhante, mais como a ação divina acima, a separa na cena. Ela é um símbolo que nos convida para um entendimento de um significado mais profundo



Na obra de Rafael, os corpos nos falam profundamente. O corpo dessa mulher está virado, torcido em uma forma de serpentina que simultaneamente envolve os discípulos, a família e nós, o público. Em sua torção está a justaposição de uma direção encontrando outra; Na sua virada, está uma mudança de direção, um novo caminho


Ela é a fé, respondendo à revelação de Deus acima. Ela traz para os discípulos o ingrediente chave que falta no  trabalho deles. Ela faz a ligação entre as duas histórias.


Seu corpo virado e torcido também traz à nossa mente a conversão, a mudança (virada)  da mente e do coração. Ela ecoa as palavras divinas vindas do alto: "Este é o meu Filho amado; Ouça-o ". 

Com fé e graça divina, nossos corações também podem se converter.

Comentário é de Daniella Zsupan-Jerome, professora assistente de liturgia, catequese e evangelização na Universidade Loyola de Nova Orleans.


III - Rafael Sanzio (1483 ~1520)



 quadro com as feições de Rafael Sanzio
Rafael Sanzio (nasceu em Urbino, 6 de abril de 1483 — faleceu em Roma, 6 de abril de 1520), frequentemente referido apenas como Rafael, foi um mestre da pintura e da arquitetura da escola de Florença durante o Renascimento italiano, celebrado pela perfeição e suavidade de suas obras. Também é conhecido por Raffaello Sanzio, Raffaello Santi, Raffaello de Urbino ou Rafael Sanzio de Urbino. Junto com Michelangelo e Leonardo Da Vinci forma a tríade de grandes mestres do Alto Renascimento.




IV - Teologia da Transfiguração - Editora Cleofas


O rosto e as vestes de Jesus tornam-se fulgurantes de luz, Moisés e Elias aparecem, e é importante notar que o evangelista destaca sobre o que eles falavam: “de sua partida que iria se consumar em Jerusalém” (Lc 9,31). Uma nuvem os cobre e uma voz do céu diz: “Este é o meu Filho, o Eleito; ouvi-o” (Lc 9,35). A nuvem e a luz são dois símbolos inseparáveis nas manifestações do Espírito Santo. Desde as manifestações de Deus (teofanias) do Antigo Testamento, a Nuvem, ora escura, ora luminosa, revela o Deus vivo e salvador, escondendo a transcendência de sua Glória: com Moisés sobre a montanha do Sinai, na Tenda de Reunião e durante a caminhada no deserto; com Salomão por ocasião da dedicação do Templo.

Na Transfiguração a Trindade inteira se manifesta: o Pai, na voz; o Filho, no homem; o Espírito, na nuvem clara. E Jesus mostra sua glória divina, confirmando, assim, a confissão de Pedro. Mostra também que, para “entrar em sua glória” (Lc 24,26), deve passar pela Cruz em Jerusalém. Moisés e Elias haviam visto a glória de Deus sobre a Montanha; a Lei e os profetas tinham anunciado os sofrimentos do Messias. Fica claro que a Paixão de Jesus é sem dúvida a vontade do Pai: o Filho age como servo de Deus.

A rica liturgia bizantina assim reza na festa da Transfiguração: “Vós vos transfigurastes na montanha e, porquanto eram capazes, vossos discípulos contemplaram vossa Glória, Cristo Deus, para que, quando vos vissem crucificado, compreendessem que vossa Paixão era voluntária e anunciassem ao mundo que vós sois verdadeiramente a irradiação do Pai.”

No limiar da vida pública de Jesus temos o seu Batismo; no limiar da Páscoa, temos a sua Transfiguração. Pelo Batismo de Jesus foi manifestado o mistério da primeira regeneração: o nosso Batismo; já a Transfiguração mostra a nossa própria ressurreição. Desde já participamos da Ressurreição do Senhor pelo Espírito Santo que age nos sacramentos da Igreja. A Transfiguração dá-nos um antegozo da vinda gloriosa do Cristo, como disse S. Paulo, ” Ele vai transfigurar nosso corpo humilhado, conformando-o ao seu corpo glorioso” (Fl 3,21). Mas ela nos lembra também que com Jesus “é preciso passarmos por muitas tribulações para entrarmos no Reino de Deus” (At 14,22). Por isso, como Cristo, o cristão não deve temer o sofrimento.

Unidos a Cristo pelo Batismo, já participamos realmente na vida celeste de Cristo ressuscitado, mas esta vida permanece “escondida com Cristo em Deus” (Cl 3,3). “Com ele nos ressuscitou e fez-nos sentar nos céus, em Cristo Jesus” (Ef 2,6). Nutridos com seu Corpo na Eucaristia, já pertencemos ao Corpo de Cristo. Quando ressuscitarmos, no último dia, nós também seremos “manifestados com Ele cheios de glória” (Cl 3,3).


Texto do Professor Felipe Aquino, Editora Cleofas


V. - Altar da Transfiguração - Basílica de São Pedro


No interior da Basílica de São Pedro há uma cópia em mosaico, chamado "Altar da Trnasfiguração", da arte original em retábulo de Rafael, que pode ser encontrada na pinacoteca Vaticana.

 No interior da Basílica de São Pedro há uma cópia do quadro de Rafael em mosaicos. è chamdo o altar da trasnfiguração
Altar da Transfiguração, Basílica de São Pedro, Vaticano

VI - Referências


- Wikipedia - Transfiguração / Rafael Sanzio

- Editora Loyola - Site

https://www.loyolapress.com/our-catholic-faith/liturgical-year/lent/arts-and-faith-for-lent/cycle-a/arts-and-faith-week-2-of-lent-cycle-a

- Editora Cleofas, Prof. Felipe Aquino


VII - Série "Quaresma"


Quaresma I - Fé e Arte

Quaresma II - A Transfiguração de Rafael Sanzio
https://historiacomgosto.blogspot.com/2017/03/quaresma-ii-transfiguracao-de-rafael.html

Quaresma III - A Samaritana

Quaresma IV - Cristo cura o cego de nascença (El Greco)

Quaresma V - Ressurreição de Lázaro por Janos Vaszary

Quaresma VI - Domingo de Ramos, pintura de Giotto di Bondone

Quaresma VII - Cerimônia do Lava Pés (pintura de Bernhard Strigel)

Quaresma VIII - Cristo e o bom ladrão

Quaresma IX - Sábado santo, "Da descida da Cruz ao Triunfo"

Quaresma X - Domingo de Páscoa, "A Ressurreição de Jesus Cristo", Piero della Francesca