I - Domingo de Ramos
"Domingo de Ramos é um dia de grandes emoções, equilibrando-se no limiar entre a felicidade e o desgosto. A entrada de Jesus em Jerusalém a partir da pintura da Capela Scrovegni convida-nos para uma cena de celebração, e fiel à sua forma, Giotto nos atrai para além da formalidade do estilo bizantino, e apresenta uma verdadeira vida, cena vibrante.
É uma celebração, mas que não podemos nos entregar inteiramente; É uma cena de contradições. Indicações da celebração são definidas em uma cena com um céu azul ultramarino, oliveiras verde-prateado, e as paredes brancas brilhantes da cidade. Todas essas coisas fornecem o pano de fundo a uma cena de cavalgada em um burrico, de pessoas brilhantemente vestidas que se encontram no centro da cena.
Entrada de Jesus em Jerusalém, Giotto di Bondone, Capela Scrovegni |
Uma multidão translada-se de Jerusalém para encontrar-se com Cristo e seus discípulos. Algumas pessoas ondulam ramos de palmeiras, algumas escalam árvores para obter uma visão melhor, e alguns estão removendo suas roupas para colocar diante dos cascos do burro que leva Cristo. No entanto, há algum pressentimento nos rostos da multidão: expressões intensas e famintas fixadas em Cristo. Na periferia de nossa consciência paira a linha do Salmo: "Muitos cães me cercam, um bando de malfeitores se fecha sobre mim".
Cristo e os discípulos encontram a multidão que se aproxima. O asno grande e dócil conduz Jesus à multidão, avançando com humildade e boa vontade, aconteça o que acontecer. Cristo nas costas do jumento está determinado, abençoando a multidão enquanto ele avança, seu olhar descansando sobre o menino acenando a palma. Seu rosto é uma representação visual da linha de Isaías: "Eu fixei meu rosto como pederneira (pedra rígida), sabendo que não vou ser envergonhado." É um rosto que está resolvido, mas pacifica, com uma gratidão tranquila para a multidão que exclama "Hosana!" Para recebê-lo e uma profunda confiança no amor do Pai para vê-lo através do que ele está se aproximando.
A exclamação "Hosana!" É uma maneira de louvar a Deus, mas também carrega o significado literal "Deus nos salve." As crianças subindo e emaranhadas nas árvores, a palmeira levantada acima do burro como um flagelo, o burro como a humilde besta de carga, e as pessoas despojando suas roupas evocam todos os momentos da paixão e dica sobre o que está para vir depois deste Domingo de Ramos. Entre felicidade e angústia, esse dia nos chama a deixar ir e dar nossos medos, tristezas e encargos a Cristo enquanto ele se aproxima do Calvário."
Comentário é de Daniella Zsupan-Jerome, professora assistente de liturgia, catequese e evangelização na Universidade Loyola de Nova Orleans.
II - Giotto di Bondone
Giotto di Bondone nasceu nos arredores de Florença, Colle Vespignano, em 1267 e faleceu em Florença em 1337. Giotto ficou conhecido na história da arte pela introdução de perspectiva na pintura durante o Renascimento.
O historiador Giorgio Vasari conta que ele teria começado a desenhar com 12 anos, quando ainda era um pastor de ovelhas, fazendo desenhos em rochas. Certa vez, o artista Cimabue, um dos maiores pintores da Toscana, o teria visto a desenhar uma ovelha, ficando surpreso com a qualidade do desenho. Cimabue então solicitou ao pai de Giotto autorização para tomá-lo como seu aprendiz.
Em 1280, Giotto foi com Cimabue para Roma onde havia uma escola de pintores de afrescos. O primeiro trabalho importante de Giotto foi uma série de afrescos que contam a vida de São Francisco de Assis. Uma das característias do trabalho de Giotto foi a introdução da aparência realista nas figuras retratando-as e dotando-as com emoções humanas.
O realismo de Giotto causou controvérsia na época. Quadros com a cena da crucificação de Cristo pintado por Cimabue e outro por Giotto, deixam clara a diferença dos dois estilos.
Giotto trabalhou posteriormente na construção da Basílica de Florença sendo o seu diretor responsável.
III - Reflexão sobre o Domingo de Ramos - Papa Francisco (2017)
“Esta celebração tem, por assim dizer, duplo sabor: doce e amargo. É jubilosa e dolorosa, pois nela celebramos o Senhor que entra em Jerusalém, aclamado pelos seus discípulos como rei; ao mesmo tempo, porém, proclama-se solenemente a narração evangélica de sua Paixão. Por isso, o nosso coração experimenta o contraste pungente e prova, embora numa medida mínima, aquilo que deve ter sentido Jesus em seu coração naquele dia, quando rejubilou com os seus amigos e chorou sobre Jerusalém”, disse o Pontífice.
O Evangelho, proclamado antes da procissão, apresenta Jesus que desce do Monte das Oliveiras montado num jumentinho, sobre o qual ainda ninguém se sentara; evidencia o entusiasmo dos discípulos, que acompanham o Mestre com aclamações festivas; Provavelmente os jovens da cidade também se entusiamaram;
“Ele tinha dito claramente aos seus discípulos: «Se alguém quer vir comigo, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga». Nunca prometeu honras nem sucessos. Os Evangelhos são claros. Sempre avisou os seus amigos de que a sua estrada era aquela: a vitória final passaria através da paixão e da cruz. E, para nós, vale o mesmo. Para seguir fielmente a Jesus, peçamos a graça de o fazer não por palavras mas com as obras, e ter a paciência de suportar a nossa cruz: não a recusar nem jogar fora, mas, com os olhos fixos n’Ele, aceitá-la e carregá-la a cada dia.”
“Este Jesus, que aceita ser aclamado, mesmo sabendo que O espera o «crucifica-o!», não nos pede para O contemplarmos apenas nos quadros, nas fotografias, ou nos vídeos que circulam na rede. Não. Está presente em muitos dos nossos irmãos e irmãs que hoje, sim hoje, padecem tribulações como Ele: sofrem com o trabalho de escravos, sofrem com os dramas familiares, as doenças...
Homens e mulheres enganados, violados na sua dignidade, descartados.... Jesus está neles, em cada um deles, e com aquele rosto desfigurado, com aquela voz rouca, pede para ser enxergado, reconhecido, amado.”
“Não há outro Jesus: é o mesmo que entrou em Jerusalém por entre o acenar de ramos de palmeira e oliveira. É o mesmo que foi pregado na cruz e morreu entre dois ladrões. Não temos outro Senhor para além d’Ele: Jesus, humilde Rei de justiça, misericórdia e paz.”
IV - Referências
Para ver mais sobre a Capela Scrovegni clique em
https://br.radiovaticana.va/news/2017/04/09/domingo_de_ramos_papa,_jesus_est%C3%A1_presente_nos_que_padecem_/1304534
Reflexão Loyola Press
https://www.loyolapress.com/our-catholic-faith/liturgical-year/lent/arts-and-faith-for-lent/cycle-a/arts-and-faith-palm-sunday-cycle-a
Giotto - Wikipedia
V - Série "Quaresma"
CICLO A
Quaresma I - Fé e Arte
Quaresma II - A Transfiguração de Rafael Sanzio
Quaresma III - A Samaritana
Quaresma IV - Cristo cura o cego de nascença (El Greco)
Quaresma V - Ressurreição de Lázaro por Janos Vaszary
Quaresma VI - Domingo de Ramos, pintura de Giotto di Bondone
Quaresma VII - Cerimônia do Lava Pés (pintura de Bernhard Strigel)
Quaresma VIII - Cristo e o bom ladrão
Quaresma IX - Sábado santo, "Da descida da Cruz ao Triunfo"
Quaresma X - Domingo de Páscoa, "A Ressurreição de Jesus Cristo", Piero della Francesca
https://historiacomgosto.blogspot.com.br/2017/04/quaresma-x-domingo-de-pascoa.html
CICLO B
Quaresma V - O Semeador de Van Gogh
https://historiacomgosto.blogspot.com.br/2018/03/quaresma-fe-arte-o-semeador-van-gogh.html
Quaresma IV - Entrevista com Nicodemos
https://historiacomgosto.blogspot.com.br/2018/03/quaresma-fe-e-arte-ciclo-b-semana-4.html
Quaresma III - Expulsão dos Vendilhões do Templo
https://historiacomgosto.blogspot.com.br/2018/03/fe-e-arte-quaresma-iii-ciclo-b-expulsao.html
Quaresma II - Transfiguração por Francesco Zucarelli
https://historiacomgosto.blogspot.com.br/2018/02/quaresma-ii-ciclo-b-transfiguracao-por.html
CICLO B
Quaresma V - O Semeador de Van Gogh
https://historiacomgosto.blogspot.com.br/2018/03/quaresma-fe-arte-o-semeador-van-gogh.html
Quaresma IV - Entrevista com Nicodemos
https://historiacomgosto.blogspot.com.br/2018/03/quaresma-fe-e-arte-ciclo-b-semana-4.html
Quaresma III - Expulsão dos Vendilhões do Templo
https://historiacomgosto.blogspot.com.br/2018/03/fe-e-arte-quaresma-iii-ciclo-b-expulsao.html
Quaresma II - Transfiguração por Francesco Zucarelli
https://historiacomgosto.blogspot.com.br/2018/02/quaresma-ii-ciclo-b-transfiguracao-por.html