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terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

Eliseu Visconti, introduzindo o impressionismo no Brasil

1. Eliseu Visconti


Eliseu d’Angelo Visconti nasceu em 30 de julho de 1866 na comuna de Giffoni Valle Piana, província de Salerno, Itália. Em 1873, imigrou com sua irmã Marianella para o Brasil, indo diretamente para a fazenda de propriedade de Luiz de Souza Breves, o barão de Guararema, em Além Paraíba. Como a Baronesa gostava muito do pequeno Eliseu, colocou-o ainda jovem para estudar no Rio de Janeiro. Depois de tentar sem sucesso a música, ingressou em 1882 no Liceu de Artes e Ofícios. Três anos depois, sem abandonar o Liceu, matriculou-se na Academia Imperial de Belas Artes, tendo como professores Zeferino da Costa , Rodolfo Amoedo, Henrique Bernardelli, Victor Meirelles e José Maria de Medeiros.

quadro autorretrato de Eliseu Visconti
Autorretrato, 1902, coleção privada
Em 1890, Visconti acompanha o grupo dos “modernos”, formado por professores e alunos que se rebelam contra as normas de ensino e abandonam a Academia de Belas Artes para fundar o “Ateliê Livre”. Com as reformas aprovadas  pelo governo republicano, a Academia transformou-se na Escola Nacional de Belas Artes. Visconti então volta a freqüentá-la e, após concurso, recebe em 1892 o primeiro prêmio de viagem ao exterior concedido pela República.
Em Paris, começou seus estudos na École Nationale et Spéciale des Beaux-Arts e cursa arte decorativa na École Guérin, com Eugène Grasset, um dos expoentes do art nouveau.

Viajou a Madri para cumprimento de suas tarefas de bolsista, realizando cópias de Diego Velázquez, absorvendo soluções para os efeitos de reflexão da luz natural, mais tarde utilizadas em alguns de seus trabalhos. Na capital francesa, expõe consecutivamente nos salões de arte e, após receber Medalha de Prata na Exposição Universal de Paris de 1900 por suas obras Oréadas e Gioventú, Visconti regressa ao Brasil. Naquele momento, não foi possível trazer consigo a jovem francesa Louise Palombe, companheira desde 1898 e com quem Visconti ficaria casado pelo resto de sua vida. Louise se tornaria figura marcante e inspiradora da obra de Visconti.


2. - A Formação de Eliseu Conti na Europa


Submetendo-se às provas para admissão na École des Beaux-Arts, Visconti, dentre 321 candidatos que se apresentaram ao concurso, obtém ao final excelente resultado, com a sétima colocação dentre os 84 concorrentes que lograram ultrapassar a fase eliminatória dos exames. Mas antes disso, ingressa na Académie Julian, ateliê de Bouguereau e Ferrier, sendo que o primeiro lhe servirá de referência ao se candidatar para o ensino oficial da École. 

No entanto, Visconti não ficaria muito tempo como aluno da École.  Para cumprir as tarefas exigidas pela sua condição de pensionista, preferiu Visconti frequentar apenas a Académie Julian, que lhe dava todas as condições para executar com liberdade as pinturas e desenhos de modelo vivo, obrigatórios nos dois primeiros anos de seus estudos e que deveriam ser enviados à Escola Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro.

Tendo a necessidade de prosseguir com os trabalhos obrigatórios durante o terceiro ano de sua permanência em Paris, Eliseu Visconti empreendeu inúmeras viagens a Madri, onde, em agosto de 1895, iniciou uma cópia em tamanho natural da obra Rendição de Breda, de Velásquez. Rodolpho Bernardelli, então diretor da Academia Nacional de Belas Artes, incentivou Visconti a executar esse exaustivo e grandioso trabalho, argumentando que essa cópia do mestre espanhol seria a única a fazer parte do acervo do museu da Academia. 


quadro rendição de Breda de Velaszquez
Rendição de Breda, Original de Velasquez
cópia do quadro rendição de Breda por Visconti -
Rendição de Breda, Cópia de Eliseu Visconti



3. A Influência do Impressionismo em sua Obra


Aproveitando-se do ambiente que o cercava, Visconti amplia e ilumina sua paleta, absorvendo nítidas influências do movimento impressionista, como na tela Primavera, de 1895, e, principalmente, Patinhos no Lago, de 1897. Eram decorridos 23 anos da primeira exposição do movimento, realizada em 1874, embora sua aceitação na Europa somente fosse ocorrer nas décadas de 1880 e 1890. Como bem observa Paulo Herkenhoff, esse mesmo lapso de tempo (23 anos) separa os primeiros trabalhos expressionistas de Munch (mostra em Berlim, 1892), das obras expressionistas de Anita Malfatti, executadas a partir de 1915.

quadro Primavera
Primavera, 1895
quadro patinhos no lago
Patinhos no Lago, 1897

Teria sido tardia a filiação de Eliseu Visconti aos postulados impressionistas? Uma análise simplesmente cronológica diria que sim, pois convencionalmente surgido em 1874, o impressionismo na França já cedia espaços ao expressionismo, ao fauvismo e ao cubismo, quando Visconti utiliza aquela técnica na transição do século XIX para o século XX. No entanto, uma regressão à época, na qual o conservadorismo e a morosidade das comunicações imprimiam um movimento lento à propagação da evolução artística, mostrará que a capital francesa é uma exceção, para onde artistas de todo o mundo são atraídos pelos novos experimentos.
Mesmo na França, a aceitação do impressionismo por parte do público começa a ocorrer em 1880, a partir da última exposição dos impressionistas. O governo francês só reconheceria oficialmente a nova pintura em 1892, ao adquirir um quadro de Renoir.

4. - Algumas Obras de Eliseu - Estilo Impressionista


4.1 - Crianças Brincando, 1917


As galinhas são os animais de presença mais constante nas pinturas de Visconti. Elas fazem parte do repertório de representação de um ambiente característico das paisagens viscontianas – os quintais familiares. O bosque ao fundo sugere o quintal da casa da mãe de Louise, em Saint Hubert, nos arredores de Paris. Para Ana Maria T. Cavalcanti, na comparação desta obra com Maternidade, “… percebemos a evolução de sua pintura no sentido de uma simplificação das formas e de uma intensificação da atmosfera vaporosa”.


quadro crianças brincando
Crianças brincando, 1917

4.2 - Carrinho de Criança, 1917


Uma das telas mais luminosas e fascinantes de Visconti. O carrinho de bebê, que aparece em tantas pinturas suas, e foi estudado em desenho, aqui ganha destaque, com seu filho caçula, Afonso, de chapéu branco, dentro dele. Sentada a sua frente, com um chapéu vermelho e livro sobre o colo, a mulher que o embala é sua mãe Louise, segundo a própria, em rascunho de carta a Benjamim de Mendonça, datado de 10 de fevereiro de 1954, conservado no acervo do Projeto Eliseu Visconti. Ao fundo da composição, uma cortina de flores multicoloridas. A fatura é toda pastosa, sendo as superfícies construídas com pinceladas aparentes, largas, principalmente, nos tecidos. O vestido branco da jovem, por exemplo, é manchado de rosa, azul e lilás, sendo suas sombras conseguidas também com essas cores. O chapéu vermelho é o mesmo usado por sua filha Yvonne em algumas pinturas 


quadro carrinho de criança
Carrinho de Criança, 1917


4.3 - Ronda de Crianças, 1918


Esplêndida festa de cor e movimento, essa pintura de grandes dimensões é toda dedicada a um tema sempre abordado por Visconti, com diversos graus de sutileza  porém aqui com maior destaque. A roda de crianças, representada em primeiríssimo plano, repete-se na estrutura da composição: Começando com os meninos em cima do muro, ligados ao grupo principal através da escada, seguindo em curva nessa direção, passa-se pelas vacas e por outros três grupos de crianças, cada vez mais distantes, até aquele em proporções mínimas diante da primeira casa. Seguindo a perspectiva do alinhamento das casas, a massa escura das árvores no horizonte faz a união com o final do muro, que traz o olhar de volta aos meninos e à roda das meninas em primeiro plano. Tobias pode ser reconhecido mais uma vez pelo chapéu branco [P405, P101; P496], sentado sobre o muro. As crianças, as vacas, as casas são habilmente representadas em poucas pinceladas aparentes. Visconti estudou a paisagem para esta composição em pelo menos duas outras pinturas a óleo.


quadro Ronda de Crianças
Ronda de Crianças, 1918



4.4 - Moça no Trigal, 1916


Neste quarto período de sua carreira, Visconti quase nunca datou suas obras. Porém, é mais provável que o pintor tenha se dedicado às suas composições de maior fôlego de retorno à França, após ter viajado para o Rio de Janeiro, a fim de entregar e instalar suas decorações no Theatro Municipal. Tendo chegado a Paris em 24 de abril de 1916, desincumbido da grande tarefa, Visconti tinha agora bastante tempo para criar livremente. Ele fez uma série de estudos  da paisagem de um campo de trigo, preparando-se para esta composição, que se tornou uma das mais apreciadas de suas criações. Sua filha Yvonne, então com cerca de 15 anos, provavelmente serviu de modelo para a jovem que colhe as flores.

quadro Moça no trigal
Moça no Trigal, 1916

4.5 Tobias e Afonso no Parque, 1918


Os filhos, os jardins floridos, as casas e caminhos da vizinhança são tema constante, e quase únicos, nesse período em que a recessão causada pela guerra não permitia encomendas, grandes projetos ou viagens para buscar novas paisagens. Se bem que, mesmo em tempos de prosperidade, o que inspirava Visconti sempre foi a gente e o ambiente doméstico, estivesse ele na França ou no Brasil. Aqui seus dois filhos brincam em um jardim florido com diversas espécies e colorido diferentes. Tobias usa o pequeno chapéu que o distingue em outras pinturas . A pintura foi identificada através da pequena fotografia do álbum do Projeto Eliseu Visconti, na qual aparece a etiqueta manuscrita correspondente à numeração do catálogo da Retrospectiva de 1949.


quadro Tobias e Afonso no Parque
Tobias e Afonso no Parque, 1918

5. Outros Pintores Brasileiros


No nosso blog iremos destacar os seguintes pintores brasileiros que deixaram uma grande contribuição na nossa arte:



Victor Meirelles   --      1832      a       1903


Pedro Américo    --          1843     a           1905 

Almeida Junior    --            1850   a  1889

Benedito Calixto --              1853    a             1927

Eliseu Visconti                                1866      a         1944




Postagens de História com Gosto


Victor Meireles: O primeiro grande pintor brasileiro
https://historiacomgosto.blogspot.com/2020/02/victor-meirelles-o-primeiro-grande.html

Pedro Américo: Em desenvolvimento

Almeida Júnior: A pintura brasileira e sua cultura regional
https://historiacomgosto.blogspot.com/2019/02/pintura-brasileira-almeida-junior-e.html

Benedito Calixto: O Pintor e sua Obra
https://historiacomgosto.blogspot.com/2018/01/benedicto-calixto-de-jesus-o-pintor-e.html

Eliseu Visconti: Introduzindo o impressionismo no Brasil
https://historiacomgosto.blogspot.com/2020/02/eliseu-visconti-introduzindo-o.html


6. - Referências

Observação: Todo o texto e fotos desse "post" foram retirados do site oficial do artista, "Projeto Eliseu Visconti", com a finalidade de divulgação cultural.

Projeto Eliseu Visconti - https://eliseuvisconti.com.br/

Wikipedia - Eliseu Visconti