I. - História da Grécia III - Idade das trevas (1200 a.C. a 800 a.C.)
A Idade das Trevas na Grécia ( 1200–800 a.C.) refere-se ao período da pré-história grega iniciada pelo colapso da Civilização Micênica, provavelmente devido às invasões dóricas, e terminando com a ascensão das primeiras cidades-estados gregas no século IX a.C., com os poemas épicos de Homero e com as primeiras instâncias da escrita alfabética grega no século VIII a.C.
Cuidado com os presentes de Grego, Henri Paul Noblat |
O colapso dos micênicos coincidiu com a queda de vários outros grandes impérios no Oriente Próximo, especialmente o império hitita e o egípcio. O motivo pode ser atribuído a uma invasão da população que dominava os mares de posse de armas de ferro. Quando os dórios apareceram na Grécia, vindos do interior da Grécia, também eles estavam equipados com armas de ferro de qualidade superior, facilmente dando cabo dos já fracos micênicos.
Na Grécia, os principais centros regionais caíram em desuso ou por destruição ou por abandono. O número de assentamentos diminuiu bastante e os habitantes da região iniciaram um movimento de deslocamento em busca de locais seguros durante todo o período.
O abandono da escrita micênica, Linear B, a inexistência de palácios e reis, diminuição das atividades de artesanato, tudo isso fez com que poucos registros do período tenham sido encontrados. Isso reforça a denominação de Idade das Trevas Grega.
II. - Os dórios
Os relatos tradicionais situam a origem geográfica no norte e nordeste da Grécia, na Macedônia e Epiro, mas circunstâncias posteriores os levaram a deslocar-se ao sul e estabelecer-se na Ática e no Peloponeso, em certas ilhas do mar Egeu e na costa da Anatólia. Em 1150 a.C., os dóricos começaram a invadir o Peloponeso, Creta e outros locais no mar Mediterrâneo, levando ao fim da Civilização Micenica da Idade do Bronze. Entre as cidades do Peloponeso invadidas pelos dórios contam-se Corinto, Olímpia, as aglomerações onde viria ser Esparta e Micenas.
Muitos arqueólogos atribuem a destruição de Micenas, cidade fundamental no estado micenico, às invasões dóricas. Os dóricos também invadiram Creta.
A invasão dórica foi em parte responsável pela Idade Grega das Trevas que se seguiu. Não existem registros escritos; a migração dórica está documentada apenas pelo mudo registro arqueológico: o incêndio e destruição generalizado de sítios da Idade do Bronze quer em Creta, quer no continente grego, muitos dos quais foram reduzidos a aldeias ou abandonados, e a introdução do trabalho do ferro, puseram fim à Idade do Bronze no Egeu.
Com a derrota dos micênicos, os reis foram substituídos por uma aristocracia. Mais tarde, em algumas áreas, essa aristocracia foi substituída por um setor aristocrático dentro dela mesmo - a elite da elite.
Reis e Aristocracia
III. - Esparta
Após conquistar Micenas, os dórios fundaram a cidade de Esparta. O sistema de governo espartano era um regime oligárquico onde as decisões eram tomadas por um pequeno grupo chamado de Esparciatas. A preocupação máxima da sociedade espartana era fazer de cada membro da elite dominante, um militar permanente.
Esparta |
A sociedade espartana
A sociedade espartana era fortemente estratificada, sem qualquer possibilidade de mobilidade entre os três grupos existentes: os Esparciatas, os Periecos e os Hilotas.
Esparciatas: Pertenciam, a este grupo, todos os que fossem filhos de pai e mãe espartanos, sendo os únicos que possuíam direitos políticos, constituindo o corpo dos cidadãos. Deviam dedicar sua vida ao estado espartano, permanecendo à disposição do exército ou dos negócios públicos. Além disso, para se pertencer a este grupo, era obrigatório ter recebido a educação espartana e estar inscrito numa sissítia, onde tomavam a refeição em comum.
Periecos: Eram os habitantes das cidades da periferia (que descendiam dos povos conquistados pelos esparciatas) que estavam integrados no estado espartano e ao qual pagavam impostos. Apesar de serem livres, não tinham direitos políticos e dependiam dos Espartanos em matéria de política externa.
Hilotas: Eram os servos que, pertencendo ao estado espartano, trabalhavam nos kleros (lotes de terra), entregando metade das colheitas ao estado espartano. Eram duramente explorados. Deviam cultivar essa terra a vida inteira e não podiam ser expulsos de seu lugar.
A formação espartana
Desde o nascimento até a morte, o espartano pertencia ao Estado. Os recém-nascidos eram examinados por um conselho de anciãos que ordenava eliminar os que fossem portadores de deficiência física ou mental ou não fossem suficientemente robustos (uma forma de eugenia). As crianças Espartanas eram espancadas pelos pais: se não fossem fortes o suficiente, morriam.
A partir dos sete anos de idade, os pais (cidadãos) não mais comandavam a educação dos filhos. As crianças eram entregues à orientação do Estado, que tinha professores especializados para esse fim. Os jovens viviam em pequenos grupos, levando vidas muito austeras, realizando exercícios de treino com armas e aprendendo a tática de formação.
Técnicas militares
As técnicas militares de guerra tiveram seu foco mudado da cavalaria para a infantaria, e devido ao barato custo de produção e de sua disponibilização local, o ferro substituiu o bronze como metal, sendo usado na manufatura de ferramentas e armas. Lentamente a igualidade cresceu entre os diferentes estratos sociais, resultando na usurpação de vários reis e na ascensão do geno(γένος, genos), ou seja, família.
falange hoplita |
IV. - Idade das Trevas ??
A arqueologia mostra que a civilização do mundo grego sofreu um colapso nesse período. Os grandes palácios e cidades dos micênicos foram destruídos ou abandonados. A língua grega deixou de ser escrita. A arte cerâmica da Grécia durante a idade das trevas mostra desenhos geométricos simplistas, desprovida da rica decoração figurativa dos produtos micênicos.
Os gregos do período da idade das trevas viviam em habitações menores e mais esparsas, o que sugere a fome, escassez de alimentos e uma queda populacional. Não foram encontrados em sítios arqueológicos nenhum artigo importado, mostrando que o comércio internacional era mínimo.
Além do massacre e destruição das cidades micênicas, a idade das trevas em parte também é chamada assim por causa dos poucos registros existentes desse período. Entretanto nem tudo ficou parado na idade das trevas, ela foi um período de alta movimentação de pessoas. A população das cidades massacradas e suas vizinhas acabavam por migrar para outras regiões como o litoral da atual turquia, o litoral da sicília, entre outras. Por esse prisma a idade das trevas foi um período dinâmico, onde as pessoas estabelecidas nessas novar regiões estabeleciam rotas de comércio com as regiões da Grécia.
V. - Escrita
Durante esse período, a escrita grega (Linear B) foi perdida, entretanto pelo final do período a escrita dos fenício havia sendo adaptada pelos gregos e originando o alfabeto atual.
VI. - História e Mitos
As famílias, chamadas genos (γένοι; genoi), começaram a reconstruir seu passado, na tentativa de traçar suas linhagens a heróis da Guerra de Troia, e ainda mais além - principalmente a Hércules.
Enquanto a maior parte daquelas histórias eram apenas lendas, algumas foram separadas por poetas da escola de Hesíodo. Alguns desses "contadores de histórias", como eram chamados, incluíam Hecateude Mileto e Acusilau de Argos, mas a maioria desses poemas foram perdidos.
Hércules |
Acredita-se que os poemas épicos de Homero contêm um certo montante de tradição preservada oralmente durante o período da Idade das Trevas. A validade histórica dos escritos de Homero têm sido disputada vigorosamente (cf. a "questão homérica").
VII. - A Odisséia de Homero
"O poema relata o regresso de Odisseu, (ou Ulisses, como era chamado no mito romano), herói da Guerra de Troia e protagonista que dá nome à obra. Como se diz na proposição, é a história do “herói de mil estratagemas que tanto vagueou, depois de ter destruído a cidadela sagrada de Troia, que viu cidades e conheceu costumes de muitos homens e que no mar padeceu mil tormentos, quando lutava pela vida e pelo regresso dos seus companheiros”.
John William Waterhouse - Ulysses (Odisseu) e as Sereias (1891) |
"Odisseu leva dez anos para chegar à sua terra natal, Ítaca, depois da Guerra de Troia, que também havia durado dez anos."
"A trama da narrativa, surpreendentemente moderna na sua não-linearidade, apresenta a originalidade de só conservar elementos concretos, diretos, que se encadeiam no poema sem análises nem comentários. A análise psicológica, a análise do mundo interior, não era ainda praticada. As personagens agem ou falam; ou então, falam e agem. E falam no discurso direto, diante de nós, para nós – preparando, de alguma forma, o teatro. Os eventos narrados dependem tanto das escolhas feitas por mulheres, criados e escravos quanto dos guerreiros.
A influência homérica é clara em obras como a Eneida, de Virgílio, Os Lusíadas, de Camões, ou Ulysses, de James Joyce, mas não se limita aos clássicos. As aventuras de Ulisses, a superação desesperada dos perigos, nas ameaças que lhe surgem na luta pela sobrevivência, são a matriz de grande parte das narrativas modernas, desde a literatura ao cinema". fonte: Wikipedia
VIII. - A Arte nos tempos escuros
O período protogeométrico ou época protogeométrica, ocorreu aproximadamente entre 1100 a.C. e 800 a.C. na Grécia. O estilo marcou a transição entre as decorações lineares muito simples da idade do bronze e o uso de semicírculos e círculos concêntricos desenhados com compasso do período geométrico. Esta cerâmica, que assenta na tradição micénica revela o uso generalizado de compasso e pincel de pontas múltiplas para reproduzir motivos concêntricos.
O aspecto das peças cerâmicas é muito austero, com algumas formas de base: linha vertical ou horizontal, círculos ou semicírculos, triângulos, quadrados e losangos.
Durante os períodos Protogeométrico e Geométrico a cerâmica grega foi decorada com projetos abstratos. Exemplos de obras deste período podem ser encontradas no sítio arqueológico de Lefcandi e no cemitério de Dípilo, em Atenas. Em períodos posteriores, com a mudança estética os temas mudaram, passando a ser figuras humanas. A batalha e cenas de caçada também eram populares.
IX. - As colonizações e o fim da era das trevas
Ao fim desse período de estagnação a civilização grega foi tomada por um período de renascença que se espalhou pelo mundo grego chegando até o mar Negro e a Península Ibérica. A escrita foi reintroduzida pelos fenícios, retomada e modificada pelos gregos e, depois, pelos romanos e pelos gauleses.
As migrações jônicas para a Ásia Central ocorreram como uma espécie de reação em cadeia à presença dórica na Grécia.
Com a escassez de terra boa, a superpopulação e a agitação social resultante, muitos aristocratas consideraram a emigração uma solução. Assim começou os esforços de colonização. É importante notar, no entanto, que a colonização grega foi radicalmente diferente da versão européia moderna. Quando os cidadãos emigraram, eles não estabeleceram comunidades subordinadas à polis doméstica. Embora os laços culturais continuassem, a cidade "mãe" não devia fidelidade ou impostos. A nova cidade representou uma polis independente.
O período de colonização, no entanto, voltou a enfatizar a linguagem como base para determinar quem eram os gregos. A Hellas era simplesmente onde os helenos, aqueles que falavam grego, viviam - e, no final do período de colonização, os helenos viveriam da costa do Mar Negro até a Espanha.
Com o início do período de colonização ocorreram desenvolvimentos culturais significativos, destacando o surgimento da Grécia da Idade das Trevas. Dois desenvolvimentos específicos merecem uma nota especial:
1) A data tradicional para o início dos Jogos Pan-Helénicos em Olímpia é 776. Embora estes originalmente atraíssem participantes em grande parte do Peloponeso, o seu papel em reunir gregos de várias cidades é indiscutível. (O período não foi inteiramente pacífico, no entanto. A Guerra Lelantina em Eubeoa, por exemplo, viu muitas cidades alinhadas em cada lado.)
2) Os poemas épicos de Homero são geralmente presumidos de terem sido escritos, baseados na longa tradição oral, durante o século VIII. Essas obras forneceriam uma herança cultural comum, baseada novamente na linguagem, que proporcionava aos gregos uma visão comum de si mesmos e de seus deuses. Nós vemos nesta tradição uma visão do caráter humano que persiste até hoje no mundo grego.
X. Referências
Wikipédia - Idade das Trevas grega / Esparta / Odisséia /
XI. - Outras Publicações
História da Grécia I - Civilização Minoica
História da Grécia II - Civilização Micênica
História da Grécia III - Idade das Trevas -
História da Grécia IV. Grécia Antiga - a criação das "poleis" (período arcaico 800 a 500 a.C.)