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quarta-feira, 8 de maio de 2024

Complexo Convento, Basílica e Museu de Santa Clara em Nápoles

1. - Histórico 


O Mosteiro de Santa Clara, ou Monastero di Santa Chiara, localizado em Nápoles, Itália, é um dos mais significativos e emblemáticos monumentos religiosos e históricos da cidade, destacando-se tanto por sua arquitetura quanto por sua rica história cultural.


Mosteiro com vista do telhado verde da Igreja e do claustro,
foto dreamstime, @Dudlajzov

Fundação e Motivação

O Mosteiro de Santa Clara foi fundado em 1310-1328 por Roberto de Anjou, também conhecido como Roberto o Sábio, Rei de Nápoles, e sua esposa Sancha de Maiorca. A fundação do mosteiro foi motivada por uma mistura de devoção religiosa e o desejo de criar um complexo monumental que servisse como panteão para a dinastia angevina (dinastia d'Anjou). O local escolhido tinha uma importância estratégica e simbólica, situado no coração de Nápoles.

Em 20 de janeiro de 1343, quando o Rei Roberto morreu, ele foi sucedido por sua sobrinha, Joana de Anjou, enquanto Sancha, por vontade expressa de seu marido, foi nomeada guardiã da nova rainha, que tinha dezesseis anos. Neste período de regência fundou o primeiro orfanato da Europa. 

Pouco depois, obrigada a deixar a corte, a rainha Sancha retirou-se para o mosteiro de Santa Maria della Croce, em Nápoles onde, em 1344, fez os votos e tomou o nome de irmã Clara da Santa Cruz.

Expansão e Importância

O mosteiro rapidamente se tornou um dos maiores e mais importantes de Nápoles, crescendo em tamanho e influência ao longo dos séculos. Sua expansão deve-se em parte à generosidade dos monarcas e nobres que o dotaram com ricas doações, e também à importância que o convento adquiriu como centro de vida religiosa e cultural na cidade. Ele serviu não apenas como um local de oração, mas também como um centro de educação para as filhas da nobreza napolitana.


2. - Igreja Basílica - Arquitetura Gótica


A igreja do mosteiro é um exemplar notável da arquitetura gótica em Nápoles. Construída junto com o mosteiro no início do século XIV, a igreja reflete o estilo gótico provençal, adaptado às tradições locais e às necessidades do local. Sua estrutura é marcada por linhas simples, mas majestosas, com um interior que originalmente possuía uma nave única, ampliada posteriormente para acomodar capelas laterais. A igreja foi severamente danificada durante a Segunda Guerra Mundial, mas foi meticulosamente restaurada, preservando muitos de seus elementos góticos originais.


Nave principal da Igreja de Santa Clara, foto Berthold Werner, Wikipedia.it


O interior é de nave única com dez capelas de cada lado. O presbitério é caracterizado pela presença de monumentos funerários da família real angevina. No centro fica o túmulo de Roberto de Anjou criado pelos irmãos Bertini, enquanto os dois túmulos do lado direito, destinados a abrigar os restos mortais de Carlos da Calábria e Maria de Valois, são do grande mestre Tino di Camaino. O túmulo do lado esquerdo, porém, é de Maria di Durazzo, criado por um escultor anônimo, chamado Maestro Durazzesco.

Altar-mor, fonte: https://www.monasterodisantachiara.it


Atrás do altar-mor encontra-se o antigo Coro das Clarissas, ambiente onde as religiosas participavam em funções religiosas. A capela, estruturada em forma de casa capitular cisterciense, é composta por três naves, duas das quais cobertas por abóbadas de cruz. O Coro, hoje Capela da Adoração, é um espaço reservado à oração,


A Virgem Costurando é a única parte do afresco que sobreviveu à destruição da Igreja. Ela representa a Virgem Maria costurando e o Menino sentado ao lado dela. A obra é atribuída à escola de pintura de Siena, mas o autor é desconhecido.

Afresco " A Virgem Costurando" 



A única capela da basílica que manteve a sua aparência do século XVIII alberga actualmente os restos mortais de vários príncipes da Casa de Bourbon Duas Sicílias e, em particular, à esquerda está o monumento funerário do Príncipe Filipe falecido em 1777, filho do Rei Carlos III, executado segundo projeto de Ferdinando Fuga de Giovanni Attigiati, enquanto os querubins são obra de Giuseppe Sammartino.

Capela São Francisco de Assis


Em 1340, a igreja, onde trabalharam grandes artistas da época como Tino di Camaino, os irmãos Bertini e, muito provavelmente, Giotto, foi aberta ao culto.

Na segunda guerra mundial a Igreja foi completamente destruída sendo reconstruída logo depois.

Imagem da destruição



3. Porcelanas no Jardim e Claustro


O Claustro das Clarissas, parte do complexo de Santa Clara, é famoso por seu majestoso jardim decorado com majólicas, típicas porcelanas pintadas, uma característica única que o distingue. Essas decorações foram adicionadas no século XVIII, sob a direção de Domenico Antonio Vaccaro, e representam cenas da vida cotidiana, bem como motivos florais e paisagísticos. As porcelanas refletem a influência da cerâmica de majólica na região de Nápoles e são um exemplo esplêndido da arte barroca aplicada a um espaço ao ar livre.

O que são as Majólicas


Majólicas referem-se a uma forma de cerâmica vidrada originária da Itália durante o Renascimento, conhecida por sua rica decoração em esmalte colorido. Este tipo de cerâmica recebeu seu nome da ilha de Maiorca, que era um centro de comércio para a cerâmica no século XV e servia como ponto de transbordo para a exportação de cerâmica árabe para a Itália. As majólicas são especialmente notáveis por suas técnicas de vidrado que permitem uma vasta gama de cores vibrantes e designs detalhados, muitas vezes com cenas mitológicas, históricas, florais ou da vida cotidiana.

colunas de porcelana majólica, foto historiacomgosto


Características Principais:

  • Técnica de Vidrado: A técnica de vidrado envolve a aplicação de uma camada de esmalte opaco branco, conhecido como "bianco di Spagna" ou esmalte estanífero, sobre a qual os desenhos coloridos são pintados. Após a pintura, as peças são novamente levadas ao forno para que o vidrado se funda à cerâmica, criando uma superfície lisa e brilhante.
claustro com colunas de porcelana, foto historiacomgosto

colunas de porcelana majólica, foto historiacomgosto

mosaicos , foto historiacomgosto


  • Decoração: A decoração das majólicas é variada, abrangendo desde desenhos geométricos simples até cenas complexas e detalhadas. Os temas podem incluir alegorias, cenas da Bíblia, mitologia, paisagens, flora, fauna e cenas do cotidiano.


4. - Afrescos do Claustro


visão geral do corredor com afrescos no mosteiro de Santa Clara, foto historiacomgosto


Os afrescos dos corredores do claustro são uma fusão de arte religiosa e cenas do cotidiano, representando uma mistura única de espiritualidade e vida mundana. Eles cobrem as paredes dos corredores que circundam o jardim central do claustro, criando um ambiente de contemplação e beleza.


  • Temática Religiosa: Muitos dos afrescos retratam cenas da vida de Santa Clara e São Francisco de Assis, fundadores da Ordem das Clarissas e dos Franciscanos, respectivamente. Essas cenas narram momentos significativos de suas vidas, como a renúncia à riqueza e a dedicação aos pobres e a Deus.
Santa Bárbara


São Francisco

  • Cenas do Cotidiano: Além das cenas religiosas, os afrescos incluem representações do cotidiano napolitano do século XVIII. Estas cenas mostram uma variedade de atividades sociais e domésticas, oferecendo uma visão da vida na época, desde festividades e celebrações até momentos mais íntimos e cotidianos.
  • Estilo e Técnica: Os afrescos são notáveis por seu uso vibrante de cores e detalhes minuciosos, característicos do período barroco. A técnica empregada nos afrescos permite uma rica expressão de texturas e profundidade, criando uma sensação de movimento e vida que captura a atenção do espectador.
  • Integração com a Arquitetura: Os afrescos não existem isoladamente; eles são integrados harmoniosamente com a arquitetura gótica e barroca do claustro. As colunas, arcos e janelas do claustro complementam e realçam a beleza dos afrescos, criando um espaço coeso que é tanto um lugar de devoção quanto de apreciação artística.


5. - Museu


Dentro do complexo de Santa Clara, há também um museu que abriga uma coleção de arte sacra, artefatos e relíquias que contam a história do mosteiro e de sua comunidade religiosa ao longo dos séculos. O museu oferece aos visitantes uma visão profunda da vida monástica, da arte e da cultura napolitana.

Busto da Rainha Sancha




6. - Importância Histórica e Cultural


No seu auge, o Mosteiro de Santa Clara era um dos centros religiosos e culturais mais importantes de Nápoles. Ele não apenas desempenhou um papel crucial na vida espiritual da cidade, mas também na promoção das artes, servindo como um importante patrono para artistas e artesãos. O mosteiro e sua igreja foram testemunhas de eventos significativos na história de Nápoles e permanecem até hoje como símbolos da rica herança cultural da cidade.

Em resumo, o Mosteiro de Santa Clara é um complexo monumental que encapsula a história, a arte e a espiritualidade de Nápoles. Sua fundação, expansão e as ricas decorações refletem a importância da fé, da cultura e da arte na história napolitana. O mosteiro não é apenas um lugar de beleza arquitetônica e artística, mas também um testemunho vivo da história vibrante e multifacetada de Nápoles.


7. - Referências


Mosteiro de Santa Clara - Livro Nápoles

Mosteiro de Santa Clara - Chat Gpt

Mosteiro de Santa Clara - Wikipedia

segunda-feira, 29 de abril de 2024

Museu Capodimonte, Nápoles - Uma jóia pouco explorada !

1. - O Museu Capodimonte


O Museu Capodimonte, localizado em Nápoles, é um dos principais museus da Itália, tendo sido criado por Carlos VII a partir de 1738, com o objetivo inicial de servir como uma residência de caça e, como uma galeria para acomodar a coleção de arte dos Farnese, herdada por ele através de sua mãe, Elisabetta Farnese.

Museu Capodimonte, Nápoles, foto HistoriacomGosto



Contexto da Época

No século XVIII, Nápoles era um dos centros culturais mais vibrantes da Europa, sob o governo dos Bourbons. A construção do Palácio de Capodimonte reflete o desejo da monarquia de estabelecer um símbolo de seu poder e sofisticação, bem como de promover as artes e a cultura na região.

Elisabetta Farnese

Elisabetta Farnese (1692-1766) foi uma figura influente na política europeia do século XVIII, conhecida por seu papel como Rainha da Espanha e por ser uma das mais poderosas e astutas rainhas consortes da história espanhola. Sua vida é marcada por alianças estratégicas, intrigas políticas e um legado duradouro nas artes e na política.
Origens e Casamento

Nascida em Parma, Itália, Elisabetta era filha de Odoardo Farnese, Duque de Parma, e Dorotea Sofia de Neuburg. Em 1714, ela casou-se por procuração com Filipe V da Espanha, tornando-se sua segunda esposa. Este casamento foi arranjado como parte de uma estratégia para fortalecer as alianças entre a Espanha e outros poderes europeus, e Elisabetta rapidamente se tornou uma influência significativa na corte espanhola.

Além de sua influência política, Elisabetta Farnese teve um impacto significativo nas artes. Ela foi uma grande patrona, enriquecendo as coleções reais com obras de arte e antiguidades. Sua paixão pelas artes ajudou a formar a base da coleção que eventualmente se tornaria parte do acervo do Museu Capodimonte em Nápoles. Através de sua influência, artistas e obras de arte de renome foram trazidos para a Espanha, contribuindo para o florescimento cultural do país.

Carlos VII / Carlos III da Espanha

Carlos VII, Rei de Nápoles (mais tarde conhecido como Carlos III da Espanha), foi uma figura central na história europeia do século XVIII, marcando significativamente a política, a cultura e a arte na Itália e na Espanha. Nascido em 1716, Carlos era filho de Filipe V da Espanha e de sua segunda esposa, Elisabetta Farnese, cujas ambições políticas desempenharam um papel crucial em sua ascensão ao poder.

Ascensão ao Trono de Nápoles


Carlos tornou-se Rei de Nápoles e da Sicília em 1734, durante a Guerra de Sucessão Polonesa, quando as forças espanholas derrotaram os austríacos, permitindo-lhe assumir os tronos como Carlos VII de Nápoles e Carlos V da Sicília. Sua ascensão foi parte da estratégia de sua mãe para recuperar territórios italianos para a coroa espanhola e garantir reinos para seus filhos.


Principais Coleções

O primeiro núcleo da coleção formou-se graças à iniciativa de Alessandro Farnese (1468-1549), papa com o nome de Paulo III (1534), interessado tanto nas antiguidades (agora preservadas no Museu Arqueológico Nacional de Nápoles) como no principais personalidades artísticas do período chamaram a retratá-lo (Rafael, Ticiano, Guglielmo della Porta) e a trabalhar nas sedes papais e na fábrica do Palazzo Farnese (Sebastiano del Piombo, Michelangelo, Antonio da Sangallo).

Ao longo do tempo, o Museu Capodimonte enriqueceu suas coleções através de diversas aquisições, doações e heranças. Atualmente as principais coleções incluem:
  • Coleção Farnese: Composta por obras de arte de valor inestimável, incluindo esculturas clássicas, pinturas renascentistas e barrocas de artistas como Ticiano, Parmigianino e Carracci.
  • Coleção Borgia: Reúne peças de arte antiga, incluindo artefatos egípcios, etruscos e romanos.
  • Coleção de Arte Napolitana: Destaca-se pela representação de obras de arte produzidas em Nápoles e região, desde a Idade Média até o século XVIII, com obras de artistas como Caravaggio e Luca Giordano.
  • Coleção de Porcelanas e Maiólicas: Uma das mais importantes coleções de porcelanas e cerâmicas, incluindo peças da famosa fábrica de porcelana de Capodimonte.

Transformação em Museu

Embora tenha abrigado a coleção de artes da família real desde 1738, a abertura oficial do palácio como uma galeria de arte pública, no sentido moderno, só ocorreu muito mais tarde, com a inauguração do Museu Capodimonte em 1957. Antes disso, o acesso às coleções era limitado e destinado principalmente à nobreza e a visitantes distinguidos, não estando aberto ao público geral como um museu até meados do século XX.

Salão de Baile do Palácio Capodimonte


Portanto, enquanto o palácio começou a funcionar como uma galeria de arte da família real logo após o início de sua construção no século XVIII, a sua função como um museu público só foi estabelecida no século XX.


2. - Principais Obras - Pinturas


a) Crucificação por Masácio, 1426

A Crucificação, que tem por medidas 83×63 cm e está presentemente no Museu de Capodimonte, era o painel de topo de um Políptico.

Sobre um fundo de ouro, o painel representa a Crucificação de Cristo, e visto de frente, Cristo parece ter a cabeça completamente embutida nos ombros, mas quando estava colocado na sua posição original e, visto de baixo para cima, o pescoço aparece escondido pelo tórax anormalmente protuberante, até mesmo o corpo, com as pernas desarticuladas pelos tormentos, parece compensado pela perspectiva. Em cada lado da cruz está a Virgem Maria e São João Evangelista e aos pés de Cristo está Madalena vista de trás. (Museu Capodimonte)



b) Madonna com o menino Jesus e duas crianças, Botticelli, 1470

A Virgem, vestida com suas tradicionais cores vermelho e azul, está sentada, virada três quartos para a esquerda, segurando o Menino nos braços; encosta-se a um parapeito de mármore, cujo canto se estende por uma coluna voltada para o céu, tendo, ao fundo, uma paisagem íngreme cobrindo um mausoléu, pontilhada de árvores, incluindo ciprestes. Com a mão esquerda ela segura levemente a Criança pelos pés. Esta última é carregada por dois anjos, e ele estende os braços na direção dela. 

A Virgem está finamente penteada, os cabelos presos por um fino véu; suas roupas são adornadas com festões e pérolas de ouro que também podem ser encontradas nos detalhes das auréolas típica de Botticelli que abandonou os exemplares de Verrocchio que usara em trabalhos anteriores. A cabeça da Virgem, com o queixo pontudo, que também pode ser encontrada em Nossa Senhora da Eucaristia , A Virgem da Loggia e a Alegoria da Força , todas datadas dos mesmos anos, bem como a representação volumétrica da Virgem , vêm das influências de Verrocchio.

Madonna com o menino Jesus, Botticelli, 1470


A atmosfera geral da obra, representando figuras sérias e pensativas, absortas em sua própria beleza, é melancólica e contemplativa acentuada pela delicadeza dos tons de claro-escuro nos tons da pele e nas roupas.


c) A Parábola dos cegos guiados por outro cego, Peter Brugel, 1578

A obra retrata a parábola contada por Jesus Cristo, na qual o cego guia outro cego. A passagem bíblica aparece em Mateus 15:14, quando Jesus dirige uma crítica aos fariseus: “Deixai-os. São cegos e guias de cegos. Ora, se um cego conduz a outro, tombarão ambos na mesma vala.” 

A narrativa é comumente interpretada como uma metáfora para descrever uma situação em que uma pessoa sem conhecimento é aconselhada por outra pessoa que também não tem conhecimento algum sobre determinado assunto. (fonte:wikipedia)


Parábola dos cegos, Peter Brugel "O Velho", 1578



d) Madonna do Amor Divino, Rafael Sanzio e ajudantes, 1516

Atualmente depois do trabalho de restauração onde se teve a oportuniade de ver as diversas fases de concepção e execução da pintura, a Madonna del Divino Amore, vem definitivamente creditada a Raffaello e do seu ateliê.

A Madonna do Amor Divino foi lembrada por Giorgio Vasari em sua "Vida de Rafael (1550)" como uma das mais belas obras do período romano do grande pintor.

Madonna do Amor Divino, Rafael e auxiliares, 1516


e) Maria Madalena - Ticiano, 1550

As informações históricas sobre a pintura são confusas devido à existência de algumas cópias e variantes, por se tratar de um tema particularmente caro a Ticiano , que, tal como as Dânae, aparece diversas vezes no seu repertório.

Na Madalena de Nápoles, a penitência é, portanto, representada com elementos iconográficos mais pertinentes ao tema, ausentes na primeira versão: ao contrário da versão florentina de 1533, a Madalena napolitana já não aparece nua, mas vestida, com a ampola de unguentos inserida no fundo à esquerda, acima da qual está a assinatura do pintor «TITIANVS P.» , enquanto os outros elementos típicos da iconografia introduzidos são o do livro aberto e a caveira como memento mori . A postura e os gestos são quase os mesmos em todas as versões do tema que Ticiano pintou ao longo de sua longa carreira, portanto com a santa olhando para o céu, buscando a redenção dos pecados que cometeu. Contra o fundo rochoso, porém, abre-se uma paisagem típica de Ticiano, que se na versão de Florença parece mais escura e tempestuosa, na versão de Nápoles parece calma e iluminada com um claro embelezamento cromático, que será ainda mais acentuado no Versão de São Petersburgo .

Madalena, Ticiano, 1550


f) Flagelação de Cristo, Caravaggio, 1607 ~1608


Esta é uma das duas versões do episódio bíblico da Flagelação de Jesus que Caravaggio pintou no final de 1606 e início de 1607, após a sua chegada a Nápoles, estando a outra versão da Flagelação de Cristo, também conhecida com o título de Cristo na Coluna, no Museu de Belas Artes de Rouen.

Tal como acontece com muitas outras obras de encomenda pública realizadas neste período, Caravaggio opta por uma solução mais convencional e menos chocante para os cânones da pintura religiosa, aproximando-se da pintura Flagelação de Cristo, sobre o mesmo tema de Sebastiano del Piombo.

Flagelação, Caravaggio, 1607 ~ 1608


É uma representação não convencional da realidade humana e natural, uma maneira nova de fazer pintura, através de contrastes vincados e dilacerantes de luz e sombras, de fragmentos, ou melhor, de pedaços, de corpos em movimento captados no momento de maior e chocante tensão, não só física como especialmente psíquica, emocional, sentimental. Os corpos saem da sombra e os traços físicos são definidos pela luz quase ofuscante sublinhando com grande dramatismo o acontecimento que a pintura representa



g) São José e um devoto, Correggio, 1529

São duas telas, talvez originalmente colocadas em duas portas de um armário ou de um pequeno órgão, e são pintadas com pinceladas largas  que acentuam o movimento das figuras, que, por não estarem definidas por um desenho excessivamente óbvio, tomam posse do espaço. 

A presença de São José levou os críticos a identificarem o outro personagem com o conde Guido da Correggio, devoto do santo falecido em 1528. A obra vem da coleção Farnese. Ferdinando Bologna, em 1957, reconheceu as duas telas como uma obra-prima de Correggio na sua fase madura, datando-as, portanto, entre finais da terceira e início da quarta década do século XVI.



São José e um devoto, Correggio, 1529


h) São Jerônimo e o anjo do Juízo final - Jusepe de Ribera, 1626


Pintada para uma capela lateral do altar da igreja napolitana da Trindade das Freiras, para a qual Ribera também executou o grande retábulo da Trindade, a pintura, assinada e datada de 1626, permaneceu na igreja até 1813, quando, seguindo a supressão dos mosteiros, foi transferido para as coleções do Museu Bourbon.

São Jerônimo e o anjo do juízo final, Ribera, 1626


O santo, grande estudioso e doutor da Igreja, traduziu a Bíblia do grego para o latim, única versão oficialmente reconhecida pela Igreja, durante os longos anos que passou como eremita no deserto. Seus símbolos são a caveira, os livros e o leão: segundo a lenda, de fato, Jerônimo domesticou este último após retirar um espinho de sua pata. 

Na tela, o santo, retratado diversas vezes pelo pintor, é surpreendido, durante a meditação, por um anjo à maneira de Caravaggio que surge de repente nas nuvens, tocando uma buzina talvez para lembrá-lo de seu fim iminente. O leão está na sombra, canto inferior esquerdo. A figura destaca-se contra um fundo escuro e uma mancha de céu muito claro se abre à esquerda, iluminando toda a cena. Peças da mais alta qualidade, como a caveira, os pergaminhos enrolados, o tinteiro, são reproduzidos com vigoroso naturalismo, mas comparados ao tenebrismo das primeiras obras napolitanas, notamos passagens de claro-escuro mais delicadas, cromatismos mais preciosos e drapeados mais ricos, típicos das obras do mestre a partir da terceira década do século. (fonte: Museu Capodimonete))

3. Principais Obras - Esculturas


a) Ad Muraenas - Luigi de Luca 

O tema do imponente alto relevo é retirado de um escrito intitulado "Pompeia" de Luigi Conforti (Torino 1854 - Nápoles 1907), poeta e crítico literário, fundador da revista "Napoli Nobilissima" e filho do jurista Raffaele.

“Jovem e bonita, ela foi jogada na prisão por bandidos. Deitadas no chão nu, a maré sobe e as moreias agarram-se àquele corpo divino, causando um tormento hediondo. Alimentadas pela carne jovem da vítima, e por isso ficando mais saborosas, aquelas moreias passarão então a deliciar, entre risos, as mesas dos glutões glutões. É claro que outra infeliz teve que morrer ali a mesma morte horrível: o crânio restante, a última relíquia do martírio, assim o diz" (retirado da revista "L'illustration Italiana" de 4 de outubro de 1891). 




Perturbadora e sensual, a figura de Cestilia de Ad Murenas, em linha com a literatura erótica da época e as teorias decadentes sobre a dor, enquadra-se plenamente na “escultura dos sentidos”. Provocando admiração e perturbação, ela é a verdadeira heroína simbolista que melhor encarna aquela ideia de uma mulher jovem e bela dilacerada pela dor e com o corpo intacto. O gesso premiado em Nápoles e depois em Palermo foi fundido em bronze na fundição Ciampaglia de Nápoles e entrou nas Coleções Capodimonte em 1949, graças a uma compra do Ministério da Educação.


b) "Camillus" - Guglielmo della Porta

"O nome Camillus era comum na Roma Antiga e significa “sacerdote nos sacrifícios”, por essa razão, um dos significados deste nome é “sacerdote” ou “clérigo”. Além disso, o cognome Camillus era comum aos jovens que realizavam serviços religiosos. (fonte? Charlies-names.com)

Camillus, Guglielmo della Porta 


c) Madonna com il Bambino - Autor desconhecido


Madonna com o Menino Jesus


d) Bustos

Cabeça de Afrodite, século III a.C.


Jovens Pastores, terracota,
Rafaelle Belliazzi, 1873


As Quatro estações, "Inverno", Mármore,
autor desconhecido,fim do século VIII



4. - Comentários


O Museu Capodimonte representa um pilar da cultura italiana e napolitana, refletindo a riqueza histórica, a diversidade artística e a profundidade cultural da Itália. Ele não apenas preserva tesouros artísticos de valor incalculável, mas também promove a compreensão e a apreciação da arte e da história italianas em um contexto global.

Essa postagem tem a finalidade de divulgação cultural do Museu e de suas obras e também a de ser uma fonte de consulta para aqueles que já tiveram a oportunidade de conhecer. 


5. - Referências

Wikipedia - Museu Capodimonte

ChatGpt - Elisabetta Farnese e Carlos VII

https://charlies-names.com/pt/camillus/ - Significado de Camillus

terça-feira, 9 de abril de 2024

Pompeia, uma cidade interrompida!

 1. Origens até a colonização romana


Pompeia foi originalmente um assentamento osco no século 8 a.C., antes de passar sob o controle dos samnitas, e eventualmente se tornar parte do Império Romano no século 1 a.C. Com sua localização estratégica e o desenvolvimento de infraestruturas como o porto e as estradas, Pompeia floresceu, atraindo comerciantes e visitantes de todo o Mediterrâneo.

Pompeia atual, foto Campania Hotel


Obs: Os Oscanos, ou Óscos, eram um dos vários povos itálicos que habitavam a península Itálica antes e durante o início da expansão romana. Eles falavam o osco, uma língua do grupo itálico que também incluía o latim, entre outras línguas. Os samnitas eram outra tribo que também falava o oscano mas era mais organizada e mais guerreira


Conquista Romana e Aliança


Pompeia, originalmente um assentamento osco, entrou pela primeira vez na esfera de influência romana no século IV a.C. Durante as Samnitas Wars, particularmente a Segunda Guerra Samnita (326-304 a.C.), Pompeia e outras cidades da Campânia encontraram-se no meio do conflito entre Roma e os Samnitas, um poderoso povo itálico que controlava uma grande área da Itália central e meridional. Após a derrota dos Samnitas, Pompeia e suas cidades vizinhas foram forçadas a reconhecer a supremacia de Roma, tornando-se aliadas (socii) de Roma.


Estatuto de "Socii"

Como socii, Pompeia manteve um grau de autonomia, incluindo o direito de governar-se e de gerir os seus próprios assuntos internos, mas estava obrigada a fornecer apoio militar a Roma quando solicitado. Esta relação permitiu a Pompeia prosperar sob a paz romana (Pax Romana), beneficiando-se do comércio e da estabilidade proporcionados pelo império em expansão.
Rebelião e Revolta

A relação entre Pompeia e Roma não foi, no entanto, sem tensões. No contexto da Guerra Social (ou Guerra dos Aliados) de 91-88 a.C., Pompeia juntou-se a outros povos itálicos numa revolta contra Roma, buscando o pleno direito de cidadania romana e uma maior igualdade dentro do sistema romano. A guerra foi marcada por conflitos brutais e extensos, mas terminou com a concessão da cidadania romana aos povos itálicos, incluindo os habitantes de Pompeia.
Colonização e Romanização

Após a Guerra Social, Pompeia foi transformada numa colônia romana, a Colônia Cornelia Veneria Pompeianorum, em 80 a.C., sob o general romano Sula. Este evento marcou o início de uma intensa romanização de Pompeia. A cidade foi reestruturada segundo o modelo romano, com a construção de novos edifícios públicos, um fórum, templos e um teatro, refletindo a arquitetura e os valores romanos. A população local foi aumentada com a chegada de veteranos romanos, que se estabeleceram na cidade como colonos, trazendo consigo as práticas, a língua e a cultura romanas.

2. - Organização e vida de Pompeia entre 60 e 79 d.C.


O Terremoto de 62

Na época da erupção, a cidade tinha aproximadamente 20 000 habitantes, estando localizada na região onde os romanos mantinham suas vilas de férias. Os moradores já haviam se habituado a tremores de terra de pequena intensidade, mas, em 5 de fevereiro de 62, um grave sismo provocou danos consideráveis na baía e particularmente em Pompeia. 

Acredita-se que o terremoto tenha atingido uma intensidade de 5 ou 6 na escala de Richter, provocando caos na cidade, então em festividades. Templos, casas e pontes foram destruídos, e as cidades vizinhas de Herculano e Nuceria foram também afetadas. Não se sabe quantas pessoas deixaram Pompeia, mas um número expressivo mudou-se para outros territórios do Império Romano, enquanto as remanescentes deram início à árdua tarefa de superar os saques, fome e destruição, enquanto tentavam reconstruir a cidade.


Economia e Comércio

Pompeia beneficiava-se de sua localização estratégica próxima ao Mar Tirreno, servindo como um importante centro comercial que facilitava o comércio entre Roma e as províncias do sul da Itália. A economia da cidade era diversificada, com um forte enfoque na agricultura, especialmente na produção de vinho e azeite, que eram exportados por todo o império. Além disso, a cidade abrigava uma variedade de ofícios e comércios, incluindo padarias, lavanderias, oficinas de tecelagem e cerâmica, evidenciando uma comunidade urbana vibrante e economicamente ativa.

Vida Urbana e Social

A estrutura urbana de Pompeia refletia o planejamento típico de uma cidade romana, com ruas reticulares, um fórum central que funcionava como coração político e social, termas públicas, teatros e anfiteatros. Estas estruturas não apenas atendiam às necessidades diárias dos cidadãos, mas também serviam como locais para eventos sociais, políticos e religiosos que fortaleciam a coesão da comunidade.

A vida social em Pompeia era rica e diversificada, com uma agenda cheia de festivais religiosos, competições atléticas, espetáculos teatrais e lutas de gladiadores. Estes eventos eram momentos cruciais para a expressão da identidade comunitária e para o entretenimento da população.

Práticas Religiosas

A religião desempenhava um papel central na vida dos pompeianos, com um panteão que incluía deidades romanas, locais e importadas. Templos dedicados a Júpiter, Apolo, Vênus e outros deuses romanos pontuavam a paisagem urbana, enquanto santuários menores e larários (altares domésticos) atestavam a prática de cultos domésticos e a veneração dos antepassados. A inclusão de deidades egípcias, como Ísis, reflete a natureza cosmopolita da cidade.

Vida Doméstica

As casas em Pompeia, desde modestas residências até luxuosas villas, eram centros de vida familiar e social. Muitas casas eram ricamente decoradas com afrescos que retratavam cenas mitológicas, paisagens e atividades cotidianas, oferecendo um vislumbre da estética e dos valores da época. Os pompeianos valorizavam a hospitalidade, e muitas casas eram projetadas com átrios e peristilos que facilitavam a realização de banquetes e reuniões sociais.


3. - A Erupção do Vesúvio


Quando o Vesúvio finalmente entrou em erupção, a magnitude e a violência do evento foram surpreendentes. A erupção começou no dia 24 de agosto de 79 d.C., lançando uma coluna de cinzas e rocha a uma altura de cerca de 30 quilômetros no céu. Isso foi seguido pela precipitação de pomes e outros materiais vulcânicos sobre Pompeia, enterrando a cidade. Nas horas seguintes, fluxos piroclásticos e surges (ondas de gases quentes e cinzas) atingiram Pompeia e as áreas circundantes, causando destruição adicional e a morte daqueles que não haviam fugido.

Percepção e Reação

Apesar dos sinais precursores, a maioria dos habitantes de Pompeia e Herculano não reconheceu a gravidade do perigo iminente até que fosse tarde demais. A falta de conhecimento sobre vulcanologia e a inexistência de sistemas de alerta precoce contribuíram para a tragédia. Alguns habitantes conseguiram fugir a tempo, mas muitos outros foram pegos de surpresa pela rapidez e intensidade da erupção.

Um estudo vulcanológico multidisciplinar e bio-antropológico das consequências e vítimas da erupção, aliado à simulações e experimentos numéricos, indicam que no Vesúvio e nas cidades circunvizinhas, o calor foi a principal causa de morte, no que anteriormente se supunha ser devido às cinzas e sufocação. Os resultados do estudo demonstram que a exposição ao calor de pelo menos 250 °C a uma distância de 10 quilômetros da erupção foi suficiente para causar morte instantânea, mesmo daqueles abrigados em construções. 

A população e construções de Pompeia foram cobertos por doze diferentes camadas de piroclasto, que caiu durante seis horas e totalizou 25 metros de profundidade. Plínio, o Jovem, forneceu um relato de primeira-mão da erupção do Vesúvio de sua posição em Miseno, do outro lado do golfo de Nápoles, numa versão escrita 25 anos após o evento.


4. - Pompeia atual


4.1 - O Fórum Romano


O Fórum de Pompeia foi construído por volta do século IV a.C., próximo a um ponto de comunicação crucial que ligava Neápolis, Nola e Stabiae. Construído com tufo vulcânico e lava solidificada, havia muitas lojas na área que acabaram sendo conquistadas e expandidas pelos romanos por volta do século II a.C.

A renovação completa feita pelos romanos incluiu o surgimento de vários edifícios culturais e políticos. Sob o comando do imperador romano Augusto, foram realizadas obras de restauração durante o século I a.C., que incluíram novas estruturas, como o edifício de Eumachia, o santuário de Augusto e o Macellum.




Após os efeitos devastadores do terremoto em 62 d.C., os esforços de reavivamento começaram em toda a cidade de Pompeia, incluindo o Fórum de Pompeia. Os resultados e os vestígios desse reavivamento são o que vemos hoje no Fórum de Pompeia e em seus arredores.

4.2 - O Anfiteatro




4.3 - A Casa dos Vetii









4.4 - O Lupanare




4.5 - As Termas



4.6 - Villa dei Misteri


5. - Referências