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sábado, 4 de julho de 2020

Literatura portuguesa - De Camões a Fernando Pessoa, uma homenagem!

1. - Literatura Portuguesa 



"Podemos dizer que literatura portuguesa se inicia na era medieval, desenvolvendo-se primeiramente na Galiza e no Norte de Portugal. Entretanto, acompanhando o desenvolvimento do próprio reino, a idade de ouro situa-se no Renascimento, século XVI, momento em que aparecem escritores como Gil Vicente, Bernardim Ribeiro, Sá de Miranda e sobretudo o grande poeta épico Luís de Camões, autor de Os Lusíadas". A era anterior se chamava de Medieval e incluía o trovadorismo e o humanismo. A era de Camões já pertenceu ao período clássico inicial também chamado de classicismo.


Navio à vela, navegando em um mar tranquilo de final de tarde,foto de Nils Prause, um tom acinzentado
Navio à vela, foto de Nils Prause em shutterstock.com



O século XVII ficou marcado pela introdução do Barroco em Portugal e é geralmente considerado como um século de decadência literária, não obstante a existência de escritores como o Padre Antônio Vieira, o Padre Manuel Bernardes e Francisco Rodrigues Lobo. 

Os escritores do século XVIII, para contrariarem uma certa decadência da fase barroca, fizeram um esforço no sentido de recuperar o nível da idade dourada – o neoclassicismo, através da criação de Academias e Arcádias literárias. 

Com o século XIX, foram abandonados os ideais neoclássicos, Almeida Garrett introduziu o Romantismo, seguido por Alexandre Herculano e Rebelo da Silva. No campo do Romance, na segunda metade do século XIX, desenvolveu-se o Realismo, de feição naturalista, cujos máximos representantes foram Eça de Queiroz, Ramalho Ortigão e Camilo Castelo Branco. 

As tendências literárias do século XX, também chamadas de modernistas, estão representadas, principalmente, por Fernando Pessoa, considerado como o grande poeta nacional a par de Camões, e já nos seus últimos anos pelo desenvolvimento da prosa de ficção, graças a autores como António Lobo Antunes e José Saramago, Prémio Nobel de Literatura."  (texto: wikipedia - historia da literatura portuguesa).

2. - Resumo de alguns dos principais autores


2.1 - Luiz de Camões


Luís Vaz de Camões (Lisboa, 1524 — Lisboa, 10 de junho de  1580) foi um poeta nacional de Portugal, considerado uma das maiores figuras da literatura lusófona e um dos grandes poetas do Ocidente

Pouco se sabe com certeza sobre a sua vida. Aparentemente nasceu em Lisboa, de uma família da pequena nobreza. Sobre a sua infância tudo é conjetura mas, ainda jovem, terá recebido uma sólida educação nos moldes clássicos, dominando o latim e conhecendo a literatura e a história antigas e modernas. Pode ter estudado na Universidade de Coimbra, mas a sua passagem pela escola não é documentada. 

quadro de Camões mostrando sua face e seu olho problemático  Frequentou a corte de D. João III, iniciou a sua carreira como poeta lírico e envolveu-se, como narra a tradição, em amores com damas da nobreza e possivelmente plebeias, além de levar uma vida boémia e turbulenta. Diz-se que, por conta de um amor frustrado, autoexilou-se na África, alistado como militar, onde perdeu um olho em batalha. Voltando a Portugal, feriu um servo do Paço e foi preso. Perdoado, partiu para o Oriente. 


Passando lá vários anos, enfrentou uma série de adversidades, foi preso várias vezes, combateu ao lado das forças portuguesas e escreveu a sua obra mais conhecida, a epopeia nacionalista Os Lusíadas. De volta à pátria, publicou Os Lusíadas e recebeu uma pequena pensão do rei D. Sebastião pelos serviços prestados à Coroa, mas nos seus anos finais parece ter enfrentado dificuldades para se manter.

Abaixo colocamos um soneto como exemplo da obra de Camões. Esse soneto foi usado pela Legião Urbana na sua música Monte Castelo.


a) - Soneto - "O Amor é um Fogo que Arde sem se Ver".



Amor é um fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói, e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se e contente;
É um cuidar que ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor? 


Luís Vaz de Camões, in "Sonetos"




2.2 - Padre Antônio Vieira

Padre Antônio Vieira (Lisboa, 6 de fevereiro de 1608 — Salvador, 18 de julho de 1697), foi um religioso, filósofo, escritor e orador português da Companhia de Jesus.
quadro com a figura do padare Antonio Vieira  Uma das mais influentes personagens do século XVII em termos de política e oratória, destacou-se como missionário em terras brasileiras. Nesta qualidade, defendeu incansavelmente os direitos dos povos indígenas combatendo a sua exploração e escravização e fazendo a sua evangelização. Era por eles chamado "Paiaçu" (Grande Padre/Pai, em tupi).

António Vieira defendeu os judeus, a abolição da distinção entre cristãos-novos (judeus convertidos, perseguidos à época pela Inquisição) e cristãos-velhos (aqueles cujas as famílias eram católicas a gerações), e a abolição da escravatura. Criticou ainda severamente os sacerdotes da sua época e a própria Inquisição.
Na literatura, seus sermões possuem considerável importância no barroco brasileiro e português.

Sermão aos Peixes - 

Pregado em S. Luís do Maranhão, três dias antes de se embarcar ocultamente para o Reino.
Vos estis sal terrae. S. Mateus, V, l3.
I
Vós, diz Cristo, Senhor nosso, falando com os pregadores, sois o sal da terra: e chama-lhes sal da terra, porque quer que façam na terra o que faz o sal. O efeito do sal é impedir a corrupção; mas quando a terra se vê tão corrupta como está a nossa, havendo tantos nela que têm ofício de sal, qual será, ou qual pode ser a causa desta corrupção? Ou é porque o sal não salga, ou porque a terra se não deixa salgar. Ou é porque o sal não salga, e os pregadores não pregam a verdadeira doutrina; ou porque a terra se não deixa salgar e os ouvintes, sendo verdadeira a doutrina que lhes dão, a não querem receber. 
...
"Pregava Santo António em Itália na cidade de Arimino, contra os hereges, que nela eram muitos; e como erros de entendimento são dificultosos de arrancar, não só não fazia fruto o santo, mas chegou o povo a se levantar contra ele e faltou pouco para que lhe não tirassem a vida. Que faria neste caso o ânimo generoso do grande António? Sacudiria o pó dos sapatos, como Cristo aconselha em outro lugar? Mas António com os pés descalços não podia fazer esta protestação; e uns pés a que se não pegou nada da terra não tinham que sacudir. Que faria logo? Retirar-se-ia? Calar-se-ia? Dissimularia? Daria tempo ao tempo? Isso ensinaria porventura a prudência ou a covardia humana; mas o zelo da glória divina, que ardia naquele peito, não se rendeu a semelhantes partidos. Pois que fez? Mudou somente o púlpito e o auditório, mas não desistiu da doutrina. Deixa as praças, vai-se às praias; deixa a terra, vai-se ao mar, e começa a dizer a altas vozes: Já que me não querem ouvir os homens, ouçam-me os peixes. Oh maravilhas do Altíssimo! Oh poderes do que criou o mar e a terra! Começam a ferver as ondas, começam a concorrer os peixes, os grandes, os maiores, os pequenos, e postos todos por sua ordem com as cabeças de fora da água, António pregava e eles ouviam.
.....
Isto suposto, quero hoje, à imitação de Santo António, voltar-me da terra ao mar, e já que os homens se não aproveitam, pregar aos peixes. O mar está tão perto que bem me ouvirão. Os demais podem deixar o sermão, pois não é para eles. Maria, quer dizer, Domina maris: «Senhora do mar»; e posto que o assunto seja tão desusado, espero que me não falte com a costumada graça. Ave Maria.
II
Enfim, que havemos de pregar hoje aos peixes? Nunca pior auditório. Ao menos têm os peixes duas boas qualidades de ouvintes: ouvem e não falam. Uma só cousa pudera desconsolar ao pregador, que é serem gente os peixes que se não há-de converter. Mas esta dor é tão ordinária, que já pelo costume quase se não sente. Por esta causa não falarei hoje em Céu nem Inferno; e assim será menos triste este sermão, do que os meus parecem aos homens, pelos encaminhar sempre à lembrança destes dois fins.
....
Muito louvor mereceis, peixes, por este respeito e devoção que tivestes aos pregadores da palavra de Deus, e tanto mais quanto não foi só esta a vez em que assim o fizestes. Ia Jonas, pregador do mesmo Deus, embarcado em um navio, quando se levantou aquela grande tempestade; e como o trataram os homens, como o trataram os peixes? Os homens lançaram-no ao mar a ser comido dos peixes, e o peixe que o comeu, levou-o às praias de Nínive, para que lá pregasse e salvasse aqueles homens. É possível que os peixes ajudam à salvação dos homens, e os homens lançam ao mar os ministros da salvação?! Vede, peixes, e não vos venha vanglória, quanto melhores sois que os homens. Os homens tiveram entranhas para deitar Jonas ao mar, e o peixe recolheu nas entranhas a Jonas, para o levar vivo à terra.

Ah peixes, quantas invejas vos tenho a essa natural irregularidade! Quanto melhor me fora não tomar a Deus nas mãos, que tomá-lo indignamente! Em tudo o que vos excedo, peixes, vos reconheço muitas vantagens. A vossa bruteza é melhor que a minha razão e o vosso instinto melhor que o meu alvedrio. Eu falo, mas vós não ofendeis a Deus com as palavras; eu lembro-me, mas vós não ofendeis a Deus com a memória; eu discorro, mas vós não ofendeis a Deus com o entendimento; eu quero, mas vós não ofendeis a Deus com a vontade. Vós fostes criados por Deus, para servir ao homem, e conseguis o fim para que fostes criados; a mim criou-me para o servir a ele, e eu não consigo o fim para que me criou. Vós não haveis de ver a Deus, e podereis aparecer diante dele muito confiadamente, porque o não ofendestes; 
...

2.3. Fernando Pessoa

foto em preto branco 3 x 4 de fernando Pessoa de paletó, óculos e chapéu  Fernando António Nogueira Pessoa (Lisboa, 13 de junho de 1888 — Lisboa, 30 de novembro de 1935), foi um poeta, escritor, astrólogo, crítico e tradutor português. Enquanto poeta, escreveu sobre diversas personalidades – heterónimos, como Ricardo Reis, Álvaro de Campos e Alberto Caeiro –, sendo estes últimos objeto da maior parte dos estudos sobre a sua vida e obra.



Fernando Pessoa é o mais universal poeta português. Por ter sido educado na África do Sul, numa escola católica irlandesa, chegou a ter maior familiaridade com o idioma inglês do que com o português ao escrever os seus primeiros poemas nesse idioma. O crítico literário Harold Bloom considerou Pessoa como "Whitman renascido", e o incluiu no seu cânone entre os 26 melhores escritores da civilização ocidental, não apenas da literatura portuguesa mas também da inglesa.


Fernando Pessoa e Luiz Vaz de Camões são considerados os maiores escritores da língua portuguesa. 

Como exemplo de seu trabalho colocamos um dos poemas conhecidos  "Navegar é preciso". Fernando Pessoa no seu tempo escreveu “Quero para mim o espírito dessa frase”, confinando o seu sentido de vida à criação. Ele atribui a autoria a algum autor desconhecido de um passado remoto quando diz "Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa". Vejam o poema abaixo.


Navegar é preciso  (Poema de Fernando Pessoa)


Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa: 
"Navegar é preciso; viver não é preciso."

Quero para mim o espírito desta frase, transformada 
A forma para a casar com o que eu sou: Viver não 
É necessário; o que é necessário é criar. 

Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso. 
Só quero torná-la grande, ainda que para isso 
Tenha de ser o meu corpo e a minha alma a lenha desse fogo. 

Só quero torná-la de toda a humanidade; ainda que para isso 
Tenha de a perder como minha. 

Cada vez mais assim penso. Cada vez mais ponho 
Na essência anímica do meu sangue o propósito 
Impessoal de engrandecer a pátria e contribuir 
Para a evolução da humanidade. 

É a forma que em mim tomou o misticismo da nossa Raça.

Abaixo um publicação com o heterônimo de àlvaro Campos - Tabacaria

TABACARIA


Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a pôr humidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.

Álvaro Campos

3. - Referências


Wikipédia - Camões / Padre Antônio Vieira / Fernando Pessoa

HistóriacomGosto:

Sermão de Santo Antônio aos Peixes -