I - Navigare necesse - Pompeu Magno
Essa frase “Navigare necesse, vivere non est necesse" (navegar é necessário, viver não é necessário) é atribuída ao General Cneu Pompeu Magno no primeiro século antes de Cristo, conforme descrito por Plutarco na sua obra "Vida de Pompeu".
a) Pompeu Magno
Pompeu (106–48 a.C.), foi um político da República Romana eleito cônsul por três vezes, em 70, 55 e 52 a.C., com Marco Licínio Crasso nas duas primeiras vezes e Quinto Cecílio Metelo Pio Cipião Násica na última, com um período de um mês no qual não teve parceiro e teve poderes extraordinários.
Em meados da década de 60 a.C., Pompeu se juntou a Marco Licínio Crasso e Júlio César na aliança político-militar extra-oficial conhecida como Primeiro Triunvirato, selado com o casamento de Pompeu com a filha de César, Júlia.
Depois das mortes de Júlia e Crasso, Pompeu se aliou ao partido dos optimates, a facção conservadora do Senado Romano. Pompeu e César lutaram então pela liderança do Estado Romano, o que levou à guerra civil entre os dois.
Quando Pompeu foi derrotado na Batalha de Farsalos (52 a.C.), ele tentou se refugiar no Egito, mas foi assassinado ao chegar. Sua carreira e sua derrocada final foram eventos importantes na transformação da República Romana no Principado, a fase inicial do Império Romano.
(foto: Pompeu Magno, wikimedia)
(foto: Pompeu Magno, wikimedia)
b) O contexto da frase
No século I com a expansão de Roma a necessidade de expandir e abastecer a cidade crescia. Nesse contexto o general Pompeu, por volta de 70 a.C., foi enviado à Sicilia com a missão de transportar o trigo das províncias para a cidade de Roma que passava fome devido a uma rebelião de escravos.
Como os riscos das navegações eram grandes, devido as fragilidades das embarcações, dos constantes ataques de piratas e a antevisão de uma tempestade que se formva, os tripulantes daquela viagem estavam em um dilema: Salvar a cidade de Roma da grave crise de abastecimento causada pela rebelião, ou fugir dos riscos da viagem mantendo-se confortáveis na cidade de Sicília.
Foi então que, de acordo com o historiador Plutarco, o general Pompeu proferiu essa lendária frase:
“Navigare necesse, vivere non est necesse" (navegar é necessário, viver não é necessário)
Ao chegar a Roma, Pompeu foi eleito cônsul com o apoio das camadas mais populares, que o viam como herói. Depois, comporia o primeiro triunvirato, governando Roma com Crasso e Júlio César
c) Plutarco
Esta frase ficou famosa pelo trabalho não de Pompeu, e sim de um estudioso e biógrafo de nome Plutarco, mesmo sendo escrita em grego sua forma eternizada é latina e tinha o seguinte formato: “Navigare necesse; vivere non est necesse” Assim está no brasão de Hamburgo, cidade portuária alemã, antiga sede da Liga Hanseática .
II - Liga Hanseática
A Liga Hanseática foi uma aliança de cidades mercantis - alemãs ou de influência alemã - que estabeleceu e manteve um monopólio comercial sobre quase todo norte da Europa e Báltico, em fins da Idade Média e começo da Idade Moderna (entre os séculos XII e XVII).
Abrangeu umas 100 cidades, com Lubeque como centro. De início com caráter essencialmente econômico, desdobrou-se posteriormente numa aliança política.
Do Norte da Europa era exportado peixe seco, trigo, madeira, ferro , cobre, sal, lã e peles. De volta era trazido tecidos, vinho, sal e especiarias.
A rede comercial da Hansa abrangia o eixo Novgorod-Reval-Lübeck-Hamburgo-Bruges-Londres, e estava ligada às esferas comerciais deVeneza e de Génova, no Sul da Europa.
Com os descobrimentos marítimos de Portugal e Espanha - sobretudo a descoberta da América e a descoberta do caminho marítimo para a Índia, nos séc. XV e XVI, o comércio mundial procurou outras rotas, tendo então a Hansa entrado em declínio, até desaparecer no séc. XVII.
A liga tinha como lema justamente a frase "Navigare necesse, vivere non est necesse"
Temos referências que dizem que a frase também era lema da famosa Escola de Sagres.
III - Escola de Sagres -
Temos referências que dizem que a frase também era lema da famosa Escola de Sagres.
IV - Petrarca - Navegar é Preciso
No decorrer do século XIV e o poeta italiano Petrarca transformou a expressão para “Navegar é preciso, viver não é preciso.”
V - Fernando Pessoa - Poema - Navegar é Preciso
Fernando António Nogueira Pessoa (Lisboa, 13 de junho de 1888 — Lisboa, 30 de novembro de 1935), foi um poeta, escritor, astrólogo, crítico e tradutor português. Enquanto poeta, escreveu sobre diversas personalidades – heterónimos, como Ricardo Reis, Álvaro de Campos e Alberto Caeiro –, sendo estes últimos objeto da maior parte dos estudos sobre a sua vida e obra.
Fernando Pessoa e Luiz Vaz de Camões são considerados os maiores escritores da língua portuguesa.
Com relação a frase "Navegar é preciso, ...", Fernando Pessoa no seu tempo escreveu “Quero para mim o espírito dessa frase”, confinando o seu sentido de vida à criação. Ele atribui a autoria a algum autor desconhecido de um passado remoto quando diz "Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa". Vejam o poema abaixo.
Navegar é preciso (Poema de Fernando Pessoa)
Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa:
"Navegar é preciso; viver não é preciso."
Quero para mim o espírito desta frase, transformada
A forma para a casar com o que eu sou: Viver não
É necessário; o que é necessário é criar.
Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso.
Só quero torná-la grande, ainda que para isso
Tenha de ser o meu corpo e a minha alma a lenha desse fogo.
Só quero torná-la de toda a humanidade; ainda que para isso
Tenha de a perder como minha.
Cada vez mais assim penso. Cada vez mais ponho
Na essência anímica do meu sangue o propósito
Impessoal de engrandecer a pátria e contribuir
Para a evolução da humanidade.
É a forma que em mim tomou o misticismo da nossa Raça.
VI - Os Argonautas - Caetano Veloso
Em 1969 no seu album branco, cantando a coragem navegante, em jeito de fado brasileiro, Caetano Veloso escreveu Os Argonautas utilizando como mote principal a estrofe “Navegar é preciso, viver não é preciso” .
Abaixo mostramos um vídeo de Marisa Monte com Carminho em um show ao vivo cantando essa belíssima música de Caetano.
Os Argonautas (Caetano Veloso)
O Barco!
Meu coração não aguenta
Tanta tormenta, alegria
Meu coração não contenta
O dia, o marco, meu coração
O porto, não!...
Meu coração não aguenta
Tanta tormenta, alegria
Meu coração não contenta
O dia, o marco, meu coração
O porto, não!...
Navegar é preciso
Viver não é preciso...(2x)
Viver não é preciso...(2x)
O Barco!
Noite no teu, tão bonito
Sorriso solto perdido
Horizonte, madrugada
O riso, o arco da madrugada
O porto, nada!...
Noite no teu, tão bonito
Sorriso solto perdido
Horizonte, madrugada
O riso, o arco da madrugada
O porto, nada!...
Navegar é preciso
Viver não é preciso (2x)
Viver não é preciso (2x)
O Barco!
O automóvel brilhante
O trilho solto, o barulho
Do meu dente em tua veia
O sangue, o charco, barulho lento
O porto, silêncio!...
O automóvel brilhante
O trilho solto, o barulho
Do meu dente em tua veia
O sangue, o charco, barulho lento
O porto, silêncio!...
Navegar é preciso
Viver não é preciso...
Viver não é preciso...
VII - Ulisses Guimarães
Em 1973, ainda na época da ditadura, Ulysses Guimarães lançou sua candidatura a Presidente da República em uma eleição indireta que era feita no congresso nacional totalmente submetido ao governo militar.
Mesmo sem esperanças de vitória, Ulysses chama a atenção para a necessidade de não se calar, lutar democraticamente e manter a esperança. Abaixo colocamos o primeiro e o último parágrafo de seu discurso:
Mesmo sem esperanças de vitória, Ulysses chama a atenção para a necessidade de não se calar, lutar democraticamente e manter a esperança. Abaixo colocamos o primeiro e o último parágrafo de seu discurso:
O discurso abaixo, de 22 de setembro de 1973, foi pronunciado por Ulysses na convenção do MDB, que o indicou anticandidato a presidente, tendo como companheiro de chapa o presidente da Associação Brasileira de Imprensa, Barbosa Lima Sobrinho.
“O paradoxo é o signo da presente sucessão presidencial brasileira. Na situação, o anunciado como candidato, em verdade, é o Presidente, não aguarda a eleição e sim a posse. Na Oposição, também não há candidato, pois não pode haver candidato a lugar de antemão provido. A 15 de janeiro próximo, com o apelido de "eleição", o Congresso Nacional será palco de cerimônia de diplomação, na qual Senadores, Deputados Federais e Estaduais da agremiação majoritária certificarão investidura outorgada com anterioridade. O Movimento Democrático Brasileiro não alimenta ilusões quanto à homologação cega e inevitável, imperativo da identificação do voto ostensivo e da fatalidade da perda do mandato parlamentar, obra farisaica de pretenso Colégio Eleitoral, em que a independência foi desalojada pela fidelidade partidária. A inviabilidade da candidatura oposicionista testemunhará perante a Nação e perante o mundo que o sistema não é democrático, de vez que tanto quanto dure este, a atual situação sempre será governo, perenidade impossível quando o poder é consentido pelo escrutínio direto, universal e secreto, em que a alternatividade de partidos é a regra, consoante ocorre nos países civilizados.
....
Senhores Convencionais:
A caravela vai partir. As velas estão paridas de sonho, aladas de esperanças. O ideal está ao leme e o desconhecido se desata à frente.
No cais alvoroçado, nossos opositores, como o
velho do Restelo de todas as epopéias, com sua voz de Cassandra e seu olhar
derrotista, sussurram as excelências do imobilismo e a invencibilidade do
establishmentt. Conjuram que é hora de ficar e não de aventurar.
Mas no episódio, nossa carta de marear não é de Camões e sim de Fernando Pessoa ao recordar o brado:
Mas no episódio, nossa carta de marear não é de Camões e sim de Fernando Pessoa ao recordar o brado:
Posto hoje no alto da gávea, espero em Deus que em
breve possa gritar ao povo brasileiro: Alvíssaras, meu Capitão. Terra à vista!
Sem sombra, medo e pesadelo, à vista a terra limpa
e abençoada da liberdade.
VIII - Outras Interpretações
Alguns autores e críticos fazem a interpretação da frase "Navegar é preciso, viver não é preciso", dando o sentido de exatidão para o termo "preciso". Nessa interpretação o sentido da frase seria que navegar é uma coisa exata pois sendo baseada em instrumentos como bússolas e outros aparelhos sabe-se perfeitamente de onde se parte e para onde se dirige. Já viver é uma atividade imprecisa sem qualquer garantia que aquilo que se planeja vá realmente acontecer.
Pelo sentido dado por Pompeu na conclamação aos marujos e no poema de Fernando Pessoa, está claro para mim a idéia de necessidade para o navegar e não de exatidão. É o sentido que prevalece na maioria das interpretações.
IX - Referências
https://www.mackenzie.br/fileadmin/Pos_Graduacao/Doutorado/Letras/Cadernos/Volume_4/010.pdf
Navegar é preciso - https://textosparareflexao.blogspot.com/2010/05/navegar-e-preciso.html
Navegar é preciso - https://brasilescola.uol.com.br/curiosidades/navegar-preciso-viver-nao-preciso.html
Navegar é preciso - https://brasilescola.uol.com.br/curiosidades/navegar-preciso-viver-nao-preciso.html
letra dos argonautas -
https://www.letras.mus.br/caetano-veloso/44761/ biografia Fernando Pessoa -
https://www.revistaliteraria.com.br/biopessoa.htm
Os Argonautas de Caetano Veloso por Marisa Monte e Carminho - www.youtube.com
Os Argonautas de Caetano Veloso por Marisa Monte e Carminho - www.youtube.com