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quinta-feira, 27 de outubro de 2022

Por quem os sinos dobram ? John Donne

1. Quem foi John Donne

John Mayra Donne (1572 – 31 de março de 1631) foi um poeta jacobita inglês, pregador e o maior representante dos poetas metafísicos da época. Sua obra é notável por seu estilo sensual e realista, incluindo-se sonetos, poesia amorosa, poemas religiosos e sermões.

Infância


quadro de John Donne em uma idade madura
John Donne nasceu em Londres, Inglaterra, por volta do final do ano de 1571, durante o reinado de Isabel I, filha de Henrique VIII com Ana bolena. Ele era o terceiro de uma família de seis filhos. Seu pai, de ascendência galesa e também chamado John Donne, era administrador da Ironmongers Company na cidade de Londres e um respeitável católico, o qual evitava a atenção de governo indesejável, sem ter medo de ser perseguido por seu catolicismo.

O pai de John Donne morreu em 1576, deixando para sua esposa, Elizabeth Heywood, a responsabilidade de criar seus filhos. Elizabeth Heywood, também proveniente de uma célebre família católica, era a filha de John Heywood, o dramaturgo, e irmã de Jasper Heywood, o tradutor e jesuíta. Ela era sobrinha-neta do mártir católico Thomas More. Essa tradição de martírio continuaria entre os parentes mais próximos de John Donne, sendo muitos deles executados ou exilados por razões religiosas.

quadro de John Donne jovem
Apesar dos perigos óbvios, a família de Donne arranjou para que recebesse educação religiosa, a qual lhe conferiu um conhecimento profundo de sua religião, que o equipou para os conflitos ideológico-religiosos de sua época. 

Elizabeth Donne, nascida Heywood, casou-se, poucos meses depois da morte de seu marido, com o Dr. John Syminges, um viúvo rico com três filhos. No ano de 1577, Elizabeth, irmã de John Donne, morreu, assim como mais outras duas, Mary e Katherine, em 1581. Antes que o futuro poeta completasse dez anos de idade, experimentou a morte de quatro entes próximos.

Juventude


Donne foi um estudante na Hart Hall, agora conhecida como Hertford College, Oxford, a partir dos 11 anos. Três anos depois, foi admitido na Universidade de Cambridge, onde estudou por mais três anos. Ele não pôde receber o diploma em ambas as universidades, porque recusou-se a a fazer o Juramento de Supremacia exigido dos formandos. O juramento de supremacia exigia o reconhecimento do Rei como chefe supremo da igreja da Inglaterra.

Durante e depois de seus estudos, Donne gastou uma boa parte de sua considerável herança com mulheres, literatura, hobbies e viagens. Embora não haja qualquer registro informando precisamente para onde viajou, sabe-se que visitou o continente europeu

Casamento


Aos 25 anos, encontrava-se bem preparado para a carreira diplomática, a qual parecia almejar. Na época ele era secretário de Thomas Egerton, Visconde de Brackley. Donne apaixonou-se pela sobrinha de Egerton, Anne More, uma menina de 17 anos (alguns dizem que tinha 16 ou 14 anos), casando-se secretamente em 1601 contra o desejo tanto de Egerton quanto de seu pai, George More, Tenente da Torre. Este passo arruinou sua carreira, custando-lhe um pequeno período na Prisão Fleet.

Após sua soltura, Donne teve de aceitar uma vida calma e interiorana em Pyrford, Surrey. Nos anos seguintes, viveu com dificuldades exercendo o ofício de advogado, dependendo do primo de sua esposa, Sir Francis Wolly, que albergava a ele, sua esposa e filhos. Como Anne Donne tinha um filho praticamente a cada ano, foi um gesto generoso da parte de seu primo. Ela teve doze filhos em um casamento de dezesseis anos.

Carreira e terceira idade


Durante o período em que esteve casado, John trabalhou como advogado e começou a publicar poesias de amor e com fundo muito sensual. Imagina-se que ele apreciava muito a sua esposa e fazia esses poemas para ela.

 quadro do rei Jaime VI da Escócia
Historiadores não estão certos a respeito das razões pelas quais Donne deixou a Igreja Católica; Ele, certamente, comunicava-se com o rei Jaime VI da Escócia e I de Inglaterra e, em 1610 e 1611, ele escreveu dois artigos polêmicos contra a Igreja Católica: Pseudo-Martyr e Ignatius his Conclave

Embora James estivesse satisfeito com o trabalho de Donne, ele recusou a se reintegrar na corte e, ao invés disso, apressou-se em ordenar-se pastor

Embora Donne, logo de início, relutasse, ele finalmente concordou com o desejo do rei e foi ordenado pastor pela Igreja Anglicana em 1615.

Donne tornou-se capelão no final de 1615, professor de teologia na Lincoln's Inn em 1616, e recebeu o título de Doutor em teologia pela Universidade de Cambridge em 1618.

Em 1621, Donne foi nomeado Decano da St Paul Cathedral, uma posição de liderança (e bem remunerada) na Igreja da Inglaterra, onde permaneceu até sua morte em 1631.

 foto da Catedral de São Paulo
Catedral de São Paulo, obra de Cristophe Wren, foto de Bernard Gagnon 




2. - Em que contexto / livro ele escreveu o texto Por quem os sinos dobram ?

Durante o período em que ele foi Decano da Igreja de São Paulo, sua filha Lucy morreu aos dezoito anos de idade. Foi no final de novembro e início de dezembro de 1623 que ela começou a sofrer por causa de uma doença fatal, podendo ser tifo ou uma combinação de gripe, seguida por uma febre incessante durante sete dias. 

Durante a sua convalescença, Donne escreveu uma série de reflexões e orações sobre saúde, dor e doença, as quais foram publicadas em formato de livro em 1624 com o título Devotions upon Emergent Occasions, Meditation XVII. Mais tarde, Meditation XVII se tornaria conhecida por sua frase "for whom the bell tolls" (por quem os sinos dobram) e pela declaração "no man is an island" (nenhum homem é uma ilha).

3. - Meditação XVII-John Donne


"Talvez aquele para quem estes sinos dobram esteja tão mal que ele sequer sabe que dobram por ele. E talvez eu possa me achar muito melhor do que sou, como fazem aqueles que me rodeiam, e ao ver o meu estado podem tê-lo feito dobrar por mim, e eu nem saiba disso. A Igreja é católica, universal, e assim são todas as suas ações; tudo o que ela faz pertence a todos. Quando batiza uma criança, esta ação diz respeito a mim, pois esta criança é ligada a essa cabeça que também é a minha, enxertada neste corpo do qual sou um membro. E quando a Igreja enterra um homem, esta ação também me diz respeito; toda a humanidade provém de um autor, e forma um único livro; quando um homem morre, um capítulo não é arrancado do livro mas traduzido para uma linguagem melhor, e cada capítulo deve ser assim traduzido; Deus emprega inúmeros tradutores; algumas peças são traduzidas pela idade, algumas pela doença, algumas pela guerra, algumas pela justiça, mas a mão de Deus está em cada tradução, e sua mão reunirá outra vez todas as nossas folhas espalhadas formando a biblioteca onde cada livro deverá permanecer aberto aos outros, da mesma maneira que, quando o sino toca chamando para o sermão, não exorta apenas o pregador mas também toda a congregação; nos chama a todos, e ainda mais a mim, que sou trazido para perto da porta por esta doença.

Houve uma disputa e mesmo um processo (onde se misturaram piedade e dignidade, religião e opinião) sobre qual ordem religiosa deveria tocar primeiro chamando para as orações no início da manhã, e foi determinado que tocaria primeiro aquela que acordou mais cedo. Se entendermos bem a dignidade deste sino, dessas badaladas para a nossa oração da noite, ficaríamos felizes tornando-as nossas, madrugando, nessa aplicação, que poderia ser nossa e também sua, como de fato é. O sino toca por ele, e pelas coisas que fez; e embora intermitente, ainda nesse minuto, como no momento em que tocou sobre ele, ele já está unido a Deus. Quem não levanta seu olhar para o sol quando ele nasce? Mas quem tira o olho de um cometa quando irrompe no céu? Que não inclina seu ouvido a qualquer sino, que toca em qualquer ocasião? Mas quem pode removê-lo desse sino no momento em que um pedaço de si próprio está passando para fora deste mundo?
Nenhum homem é uma ilha, completa em si mesma; todo homem é um pedaço do continente, uma parte da terra firme. Se um torrão de terra for levado pelo mar, a Europa fica menor, como se tivesse perdido um promontório, ou perdido o solar de um amigo teu, ou o teu próprio. A morte de qualquer homem diminui a mim, porque na humanidade me encontro envolvido; por isso, nunca mandes perguntar por quem os sinos dobram; eles dobram por ti.
Nem podemos chamar isso de mendicância de miséria, ou empréstimo de miséria, como se não fossemos nós mesmos suficientemente miseráveis, mas precisássemos buscar mais na casa ao lado e tomar para nós a miséria dos nossos vizinhos. Na verdade esta seria uma cobiça desculpável, se o fizéssemos, pois a desgraça é um tesouro do qual poucos homens têm o suficiente. Nenhum homem tem desgraças o suficiente, eles não são amadurecidos e aprimorados por elas, e apelam a Deus por essa aflição. Se um homem levar um tesouro em ouro maciço ou em barras, mas não tiver algum cunhado em moeda atual, seu tesouro não vai custeá-lo durante sua viagem. A atribulação é tesouro em sua natureza, mas não é moeda corrente em seu uso, exceto se ficarmos mais próximos e mais próximos de nossa moradia, o céu, por meio dela. Uma outra pessoa pode estar doente também, à beira da morte, e esta aflição pode estar em suas entranhas, como o ouro numa mina, e não ser de uso para ela; mas este sino que me conta sobre a sua aflição, desenterra este ouro e aplica-o em mim: se por esta consideração sobre o perigo que outro corre, tomo o meu próprio em contemplação, me asseguro a mim mesmo e faço o meu recurso a meu Deus, que é a nossa única segurança."

4. - Por quem os sinos dobram ? Ernest Hemingway


Por Quem os Sinos Dobram (em inglês: For Whom the Bell Tolls) é também um romance de 1940 do escritor norte-americano Ernest Hemingway, considerado pela crítica uma das suas melhores obras.

O livro narra a história de Robert Jordan, um jovem norte-americano das Brigadas Internacionais. Professor de espanhol que se tornou conhecedor do uso de explosivos, Jordan recebe a missão de explodir uma ponte por ocasião de um ataque simultâneo à cidade de Segóvia
.
Acima de tudo o livro trata, no entanto, da condição humana. O título é referência a um poema do pastor e escritor inglês John Donne que se encontra na obra "Poems on Several Occasions" que em português chama-se "Meditações", e invoca o absurdo da guerra, mormente a guerra civil, travada entre irmãos. "Quando morre um homem, morremos todos, pois somos parte da humanidade". 

foto da propaganda do livro de Hemingway - por quem os sinos dobram ?


Em várias passagens do texto do livro de Hemingway os personagens estranham e se estranham desempenhando os papéis bizarros que se viram forçados a assumir durante a guerra, e fraquejam ao ver nos inimigos seres humanos que poderiam estar de qualquer um dos lados da guerra.

5. - Referências


Wikipedia - John Donne
Wikipedia - Por quem os sinos dobram - Hemingway