1. -Provence x Toscana ?
A Toscana e a Provence costumam ser duas regiões que despertam sonhos nas pessoas que amam viajar. Colinas com muita vegetação e muitos ciprestes, casinhas de pedra ou tijolo com janelas verdes ou azuis, regiões vinícolas, campos de girassóis ou lavandas, maciços rochosos, ...,. Muitas vezes conhecemos várias partes isoladas de cada região mas o projeto de passar um tempo em cada uma delas, explorando seus segredos nas pequenas comunas ou vilarejos, desperta muito interesse.
O projeto pode ser passar uma temporada com um local base em cada região, ou, alugar um carro e dispender um tempo percorrendo os vários trechos escolhidos. Uma motivação inicial pode privilegiar, por exemplo, a região vinícola da Toscana e/ou os campos de lavanda na Provence.
Nós fizemos dois passeios, Toscana - 2019 e Provence - 2022, e amamos as duas regiões. Elas embora sejam diferentes são espetaculares. Não vale a pena compará-las, mas sim, nos dedicarmos a apreciá-las. Todas têm uma riqueza imensa e foi impossível explorar tudo em uma só viagem. Apesar disso, vamos procurar cobrir os vários aspectos, incluindo alguns que não visitamos, para dar aos leitores uma visão completa e possibilitar a escolha do que mais lhe agrada.
Dito isso, vamos começar nossos relatos sobre a Provence com uma publicação de caráter geral, e, a partir de então faremos algumas postagens mais dedicadas em cada região.
2. - Os vários aspectos da Provence
A Provence tem vários aspectos diferentes que podemos citar e explorar cada uma delas. Podemos começar por uma Provence romana, explorando as características da colonização em Arles, Nimes e Pont du Gard. Ainda em Arles podemos ver os campos de girassois lembrando as pinturas de Van Gogh e a luminosidade que tanto o atraiu. Temos a região cultural de Avignon com seu Castelo dos Papas e logo perto a região vinícola de mesmo nome "Chateneuf du Pape". A seguir pode-se embarcar pela região rochosa de Luberon com as comunas de Roussilon, Gordes e Apt, pequenas vilas encantadoras. Em seguida encontramos os campos de lavanda de Valensole e a região de gargantas e rios em Gorges du Verdon. Aix en Provence sintetiza um pouco essas regiões e encontramos o lugar que foi grande fonte de inspiração para Cézanne. Aí pode-se então ir para Marseille e ver um grande centro com influência de seu intercambio comercial e cultural a partir de seu porto e finalizamos com a região praiana e badalada de Nice, Cannes e Saint Tropez.
Então, o que vocês acham dessa grande variedade paisagística ? A partir daqui vamos introduzir cada uma dessas partes.
2.1 - Influência romana - Arles, Nimes e Pont du Gard
Os romanos ocuparam a Gália do Sul, durante muito tempo. Eles fundaram a primeira colônia em 122 aC., Aquae Sextiae Salluviorum (atual Aix en Provence), e logo depois Narbonne em 118 a.C., e Arles em 46 a.C.. Os romanos ocuparam essa área até o século IV, quando houve a queda do império romano. Arles, Narbonne e Nimes tem muitas marcas da ocupação romana.
Arena romana em Nimes, foto Gigi Peis em shutterstock.com |
Pont du Gard
A ponte do Gard (Pont du Gard) é uma porção de um aqueduto romano situada perto de Remoulins, Uzès e Nîmes. Trata-se de uma ponte construída em três níveis que assegura a continuidade do aqueduto, e que trazia água de Uzès até Nîmes na travessia do rio Gardon (também chamado rio Gard). Foi provavelmente construída no século I a.C.
A Pont du Gard foi construída, pouco antes da era cristã, para permitir que o aqueduto de Nîmes (que tem quase 50 km de comprimento) atravessasse o rio Gard. Os arquitetos e engenheiros hidráulicos romanos que a desenharam criaram uma obra-de-arte técnica e artística.
2.2 - Sol, luz e girassóis em Arles - A arte de Van Gogh
Van Gogh saiu de Paris para Arles em busca da luz ofuscante da Provence que traz à tona as cores puras da natureza, estudadas anteriormente em sua coleção de estampas japonesas. Em Arles Van Gogh pinta a maior partes de seus quadros sobre girassóis e outras de suas pinturas famosas como o Café de la nuit.
Campo de girassois próximo a Arles, foto de wjarek em shuterstock.com |
Café de la nuit / van gogh, frequentado por Van Gogh, Arles, foto ladderadder em shutterstock.com |
2.3 - Avignon - Terra dos Papas e vinhedos
À medida que um poder real centralizado foi se fortalecendo na França, surgiram conflitos com a Igreja. Durante o reinado de Filipe IV de França, o Belo (1285-1314), registou-se um choque entre esse soberano e o então Papa Bonifácio VIII. O Papa não permitia que o rei cobrasse tributos da igreja francesa.
O rei Filipe IV de França conseguiu que fosse eleito sucessor de Bonifácio VIII um papa francês em 1305, que adotou o nome de Clemente V e, em 1309, persuadiu-o a deslocar a sede papal de Roma para Avignon, às margens do rio Ródano. Esse período durou de 1309 a 1377, quando o papado voltou para Roma.
Os vinhos de Chateneuf-du-Pape
A região do ródano já era conhecida por fazer vinhos de boa qualidade mas o reconhecimento do potencial da região veio em 1305, quando o papa Clemente V mudou a sede da Igreja Católica temporariamente de Roma para Avignon.
Embora a preferência papal fosse pelos vinhos da Borgonha, a maioria do vinho consumido por sua corte vinha de vinhedos locais. Sem intenção, o papa João XXII deu nome ao vinho mais famoso do Rhône (ródano), Châteauneuf-du-Pape, quando construiu sua residência de verão (château neuf, ou castelo novo) numa área plana e pedregosa perto de Avignon.
Existem 14 variedades de uvas que têm permissão para serem usadas em Châteauneuf-du-Pape que são a Grenache, Syrah, Mourvèdre, Cinsault, Muscardin, Counoise, Vaccarèse, Terret Noir, Grenache Blanc, Clairette, Bourboulenc, Roussanne, Picpoul e Picardan. Entretanto, atualmente, a Grenache é a referência, geralmente, mesclada com Syrah e Mourvèdre.
2.4 - Região rochosa do Luberon - Gordes, Roussilon
Quando falamos do Lubéron, falamos de um modo geral sobre a área montanhosa que compreende o Maciço de Luberon (sua formação rochosa central), o parque nacional de Luberon, compreendendo a vegetação mantida ao redor, e também do espaço geográfico de potencial turístico que as vezes é chamado de triângulo dourado do Luberon, composto pelas cidadezinhas de Gordes, Roussilon e Bonnieux.
As comunas
A cidade Gordes tem um castelo em sua entrada, Roussilon tem todas as suas casas pintadas em terracota, combinando com o tom avermelhado do seu rochedo. Ainda no coração desse espaço temos a comuna de Apt que também é famosa pela arquitetura e produtos. Em 2010, Roussilon contava com 1.334 habitantes e Gordes com 1.706. As duas fazem parte do conjunto "As mais belas aldeias da França".
2.5 - Campos de Lavanda em Valensole
Na estrada de Aix-en-Provence para Valensole, e em toda região em torno dessa cidade, encontraremos entre final de Junho e metade de Julho os famosos campos de lavanda com seu azul lilás. Não existe apenas um local específico, o legal é ir passeando de carro e descobrindo os vários campos. Devemos reservar um bom tempo para ir parando e tirando fotos, parar novamente, tirar mais fotos e assim por diante.
2.6 - Aix en Provence - Ruas e Feiras
Aix-en-provence é a capital histórica da Provence. Fundada em 122 a.C. sob o nome de Aquae Sextiae pela guarnição romana de Caio Sextius Calvinus , Aix se torna logo em seguida a capital do condado da Provence. Com uma população estimada de 145.000 habitantes em 2019, e um importante patrimônio cultural, Aix é a base perfeita para se estabelecer em um processo de exploração da Provence.
2.7 - Gorges du Verdon
Os Gorges du Verdon, são um conjunto de desfiladeiros na Provence, localizados entre os Alpes-de-Haute-Provence e o Var. Esculpidos pelo rio Verdon no meio de seu curso, eles separam o Préalpes de Castellane ao sul, do Préalpes de Digne ao norte, formando um vale estreito de 25 quilômetros de extensão e atingindo até 700 metros de profundidade.
Os desfiladeiros são o local para a prática de trilhas, caminhadas, escaladas e outros esportes, como canoagem, parapente, rafting, bungee jumping, base jumping.
lago em Gorges du Verdon, garganta entre penhascos, foto historiacomgosto |
2.8 - Marseille
Marselha (Marseille), é a segunda mais populosa cidade de França e a mais antiga cidade francesa. Localizada na antiga província da Provença e na costa do Mediterrâneo, é o maior porto comercial do país. Ela foi fundada pelos gregos de Phocaea, no século VI a.C. Sua população girava em torno de 870.000 habitantes em 2019.
Porto de Marselha, Castelo de São João, foto de S-F em shutterstock.com |
Desde as suas origens, a abertura de Marselha ao Mar Mediterrâneo tornou-a uma cidade cosmopolita marcada por intercâmbios culturais e económicos com o Sul da Europa, Médio Oriente, Norte de África e Ásia. Na Europa, a cidade tem a terceira maior comunidade judaica depois de Londres e Paris. Além do seu porto, Marselha tem o maior número de museus na França depois de Paris. A grande Basílica de Notre-Dame-de-la-Garde ou "Bonne-mère" para o povo de Marselha, é uma igreja romano-bizantino e símbolo da cidade
2.9 Cannes (Cote d'azur)
Nas suas origens Cannes era uma pequena aldeia de agricultores e pescadores. No início da década de 1830, a aristocracia francesa e estrangeira construiu residências de férias na região, transformando gradualmente a cidade em uma cidade turística.
Praia principal de Cannes, foto historiacomgosto |
A principal atividade de Cannes é o turismo. Existem diversos hotéis e lojas de luxo na cidade. Na beira do mar, a sua célebre avenida da Croisette é um dos principais pontos turísticos.
Cannes é conhecida mundialmente por sediar o Festival de Cinema de Cannes, o maior e mais célebre festival da categoria do mundo.
2.10 Nice / Saint - Tropez (Cóte d'azur)
Fundada pelos gregos de Marselha em torno de 350 a.C., Nice mudou de mão várias vezes através dos tempos. Sua localização estratégica e seu porto contribuíram significativamente para a sua força marítima.
Durante séculos foi um domínio do Ducado de Saboia e foi, em seguida, parte da França (entre 1792 e 1815), quando foi então devolvida ao Reino da Sardenha até a sua reanexação pela França em 1860.
A beleza natural da região e seu clima ameno chamou a atenção das classes abastadas da Inglaterra na segunda metade do século XVIII, quando um número crescente de famílias aristocráticas viajava ao local para passar o inverno.
Visão geral de Nice, Cóte d'azur, foto de Kiev.Victor em shutterstock.com |
3.0 - Eventos históricos principais
a) Início da Colonização Grega na região da Provence - Século VI a.C.
A Phocaea (focéa) era uma antiga cidade grega na Jônia na costa do Mar Egeu , no Golfo de Esmirna (agora Izmir, na Turquia ). Em seu lugar agora temos a cidade turca de Foça. Ela foi fundada entre os séculos X e VIII aC. por gregos da Grécia continental.
Localização de Focéa
Mapa de Phocaea, Jônia, Litoral do Mar Egeu, google maps |
Phocaea tornou-se a "metrópole" (cidade-mãe) da colonização grega no Mediterrâneo ocidental. Os Phoceans fundaram sucessivamente Massalia (atual Marselha) em 600 a.C , perto da foz do Rhône, depois veio Avenio (atual Avignon), Agathè Tychè (Agde ), Antipolis (Antibes ) e ainda Nikaïa (Nice) e Alalia (atual Aléria ).
Fundaram também uma feitoria na costa leste da Córsega, voltada para a Etrúria por volta de 545 a.C. , e Élée, além de poderosas colônias na Espanha , como Emporion ( Empuries ), na Catalunha.
Quando os gregos chegaram na região encontraram povos e tribos da Ligúria que habitavam o norte da Itália, sul da França e Alpes ocidentais
b) Celtas - Século IV AC,
A partir do século IV a.C., as populações celtas chegaram à Provença. Algumas vezes, eles deixaram as tribos dos antigos ocupantes sobreviverem. Os dos vales alpinos e da parte oriental da costa, Oxybiens (tribo ligure) e Décéates (tribo ligure), foram muito pouco afetados. Na baixa Provença, por outro lado, os celtas se misturaram aos antigos habitantes e acabaram formando uma população celto-liguriana. Eles reagruparam as tribos em uma confederação, a dos Salyens , cuja capital foi Entremont .
guerreiro lígure |
guerreiros celtas nobres |
Pouco depois de sua fundação, Marselha teve que se defender contra os ataques das populações da Ligúria.
c) Entrada dos Romanos - Fundação de Aquae Sextiae Salluviorum (atual Aix en Provence) - Século II aC.
Desde a sua fundação, os Marselheses desenvolveram uma política amistosa com os romanos. Com a ajuda dos romanos, o Marselheses quebraram a coalizão Etrusco-cartaginesa e, quando Roma foi capturada pelos gauleses em 390 aC. ou 387 aC., eles lhes ajudaram financeiramente com o pagamento do tributo exigido pelos vencedores.
Um tratado garantia igualdade perfeita entre as duas cidades de Roma e Marselha e a obrigação mútua de ajuda em caso de guerra. Durante a Segunda Guerra Púnica, Marselha prestou importantes serviços a Roma: participou na vitória naval do Ebro em 217 aC. e, contra Aníbal, proporcionou aos romanos uma escala no seu porto.
Portanto Marseille apela para Roma, quando, no II século aC., os Oxybiens e Déciates ameaçam suas colônias de Nice, e Antibes . Os romanos intervêm duas vezes, em 181 aC. e 154 aC., sem pedir nada em troca.
Em 125 aC., uma coalizão de Ligures, Salyens, Voconces e Allobroges ameaça Marselha. Os Marselheses novamente apelam aos romanos. Ele atendem, mas desta vez eles estão determinados a agir em seu próprio nome.
Exército romano, pinterest, autor desconhecido |
Os romanos tinham acabado de concluir a pacificação da Espanha e queriam garantir a ligação por terra entre os Alpes e os Pireneus. A guerra dura de 125 aC., a 121 aC.. Os romanos derrotam os Ligurians, os Salyens, os Voconces, os Allobroges e os Arvernes.
Entretanto, em 122 aC., Sextius Calvinus fundou, ao pé de Entremont, Aquae Sextiae Salluviorum (atual Aix en Provence) e estabeleceu uma guarnição lá.
Termas romanas em Aix en Provence |
A Provence era então chamada de Terra dos Saliens, e fazia parte do antigo Reino da Ligúria, os romanos tendo-a submetido à sua dominação, não apenas aboliram seus costumes, mas também mudaram seu nome, e deram-lhe um nome simples que sintetizava a sua nova relação que era PROVÍNCIA de Roma. E foi assim que essa região passou a ser conhecida (Provence = Província).
A Provence foi a primeira conquista romana feita no teritório dos gauleses.
d) Gália Transalpina
Essa parte da Gália onde se situava a Provence era nessa época mais povoada pelos Ligures e Gregos do que por gauleses. Em algum tempo entre os séculos I aC. e V dC. essa população grega e liguria, agora com a influência romana, adotaram a cultura latina e o latim popular como língua.
No século I a.C., com a disputa de poder entre César e Pompeu, Marselha ficou do lado de Pompeu, mas foi César o vencedor. Júlio César diminuiu o status de Marselha e fundou as colônias de Arles e Narbonne com soldados das 10a e 6a legiões.
Mapa da região da Gália mostrando a área da Provincia Romana |
Em 22 aC., Augusto organiza definitivamente a Gália Transalpina, que mais tarde se torna a Provincia narbonensis, a Narbonne. A Provincia Narbonensis é governada por um procônsul, nomeado pelo Senado Romano e residente em Narbonne . É desta Provincia narbonensis que Plínio, o Velho , disse "Italia uerius quam prouincia", parece-se mais com a Itália do que com uma simples província.
e) Antiguidade tardia - século I a século IV dC
O Narbonnaise foi poupado das invasões que assolaram a Gália no século III. O século IV é marcado pela conquista do poder por Constantino. Em 309 dC. ou 310 dC., esse sitiou Marselha , onde se havia refugiado o usurpador Maximiliano.
O final do século III e o século IV foram marcados por profundas reformas administrativas. A primeira reforma foi iniciada por Diocleciano e completada por Constantino.
f) Cristianização
Em meados do século III, um bispado estava estabelecido em Arles. A lista de Igrejas representadas no Concílio de Arles em 314 dC. atesta a existência de comunidades em Narbonne , Marselha , Nice , Apt, Orange e Vaison . Estas comunidades não sofreram as grandes perseguições do século III e início do século IV. Algumas eram ricas e importantes, como a de Arles.
Constantino e o édito de Milão
Reunidos em Milão, em 313 dC., Constantino e Licínio assinam o Édito de Milão. Em resumo, o documento declarava que o Império Romano seria neutro em relação ao credo religioso, acabando oficialmente com toda perseguição sancionada oficialmente, especialmente ao Cristianismo.
Teodósio e o édito de Tessalônica
Novos bispados apareceram por volta dos anos 400 dC. e durante o século V em Aix, Avignon , Antibes , Carpentras , Cavaillon e Riez.
Concílio de Arles (314)
O primeiro concílio de Arles condenou formalmente a heresia do Donatismo. Ele começou como um apelo dos donatistas ao imperador Constantino, o Grande contra a decisão do Concílio de Roma, em 313 dC., no Latrão, sob o Papa Milcíades.
Esta foi a primeira vez que um apelo de uma facção cristã foi feita a um poder secular. E ele acabou de maneira desfavorável para os donatistas que acabaram se tornando inimigos de Roma. O Concílio de Arles foi o primeiro convocado por Constantino, tinha um caráter mais regional e por isso mesmo as vezes é chamado de Sínodo. Ele foi o precursor do Primeiro Concílio de Niceia ao qual Santo Agostinho chamou-o de concílio ecumênico, o que é adotado pelos historiadores.
g) Idade Média - (Queda do império romano a 1345)
g.1) século V a século IX - Impérios germânicos flutuantes
Com a queda e dissolução do imperio romano, a região foi ocupada sucessivamente por diferentes tribos germânicas como os ostrogodos, os borgonheses e os francos. Ainda houve ocupação pelos árabes durante a presença árabe sarracena.
Do século V ao IX, a região integrou vários reinos gemânicos flutuantes, mas as regiões em si foram muito pouco germanizadas.
Guerreiros ostrogodos |
Guerreiros francos |
g.2) Século IX - (855 a 933) - Criação do reino da Provence
I Reino da Provence (855 a 863)
Quando faleceu Luis, o piedoso, filho de Carlos Magno, seus três filhos estabeleceram o tratado de Verdun onde dividiram o império Carolingeo em três: O reino da França Ocidental, pertencendo a Carlos III, O reino da França mediana, pertencendo a Lotário I, e o reino da França Oriental pertencendo a Luís da Germânia.
Divisão do Império Carolingeo entre os três filhos de Luís I |
Em 1855 Lotário I ficou doente e renunciou ao trono e dividiu o seu reino pelos seus três filhos da seguinte forma: Luís II, o Jovem e rei (titular) da Itália, o segundo, Lotário II da Lotaríngia, ficou com o resto da Lotaríngia e o mais novo, Carlos de Provença ficou com a Alta e Baixa Borgonha (Arles e Provença).
II Reino da Provence (879 a 933)
Com a morte de Carlos em 863, o reino foi dividido entre seus irmãos sobreviventes, e finalmente chegou em seu primo Louis le Bègue que veio a falecer em 879. A região nessa época sofreu muitos ataques ao norte dos normandos e no sul dos árabes sarracenos.
Após a morte de Louis le Bégue, uma assembléia de notáveis e prelados reunidos em Mantaille em 879, elegeu como rei o cunhado de Carlos II o Calvo e genro de Luís II da Itália, Boson, que era Conde de Autun, Chalon-sur-Saône, Mâcon, Lyon e Bourges, exercendo ainda funções ducais no Lyonnais e no Viena , na Provença e na Itália. Ele não assumiu nenhuma liderança ou posse sobre outras áreas da Borgonha e seu reino ficou conhecido como Reino de Arles / Provence.
Os demais descendentes da casa real de Carlos Magno sempre consideraram Boson como usurpador e mantiveram seu reino sob constantes ataques. Boson faleceu e seu filho Luís III, o Cego o sucedeu até 928 e que tornou o futuro do reino incerto.
O reino de Boson, girou muito em função da Provence.
g.3) Século X (933 a 1378) - Criação do reino das duas Borgonhas (Provence + Borgonha)
Por volta de 933 , sob o reinado de Rodolphe II , rei de Transjurane Borgonha , o reino de Haute-Bourgogne e o reino de Provence se uniram. O reino assim formado tomou o nome de " Reino das Duas Borgonhas ", e ficou sob a suserania do Sacro Império Romano a partir de 1032. Nessa configuração a Provence tinha a caracterização de Condado de Provence a partir de 947.
O condado da Provence passou para a casa d'Anjou em 1382.
g.4) Século XIII - 28/08/1248 - Sétima Cruzada
No ano de 1245, quando o papa Inocẽncio IV abriu o Primeiro Concílio de Lyon, o rei da França Luís IX, posteriormente canonizado como São Luís, expressou o desejo de ajudar os cristãos do Levante.
Luís IX levou três anos para embarcar, mas o fez com um respeitável exército de 35 000 homens. O monarca francês aproveitou as perturbações causadas pelos mongóis no Oriente e partiu, de Aigues-Mortes, para o Egito em 1248. Escalou em Chipre em setembro de 1248, atacando depois o Egito.
Luís IX caiu em cativeiro em Almançora, Egito, e somente foi liberado após pagar um alto regate. Livre do cativeiro ele seguiu para a Palestina em companhia de seu irmão Carlos D'Anjou. Permaneceu quatro anos na Terra Santa. Só abandonaria a Palestina em 1254, depois de conseguir recuperar todos os demais prisioneiros cristãos.
g.5) Século XV - União com a França (1481).
O último conde da Provence Carlos V d'Anjou, não tinha herdeiros e legou o seu estado para Luís XI e seus sucessores. Carlos V faleceu em dezembro de 1481, e como previsto, as suas posses foram passadas para o rei da França. Em 15 de janeiro de 1482, os Estados da Provença aprovaram um documento em 53 artigos, muitas vezes incorretamente chamado de "Constituição provençal", que fez de Luís XI o conde da Provença e proclamou a união da França e da Provença "como principal para outro principal.
Louis XI recebendo o ato de doação da Provence para a França das mãos de Palamède de Forbin, Pierre Revoil, 1840 (Aix-en-Provence, musée Granet) |
Carlos VIII sucedeu a Luís XI em 1483 e, em 1486, os Estados da Provença lhe pediram a união perpétua, concedida pelo Rei da França por cartas patentes lavradas em outubro de 1486 e comunicadas aos Estados em abril de 1487.
4.0 Gastronomia na Provence
Devido às características de seu solo, à colonização grega e romana, e à influência da vizinha italiana, a culinária da provence é muito baseada nos produtos da terra. Com uma grande cultura de azeitonas / olivas, a região é uma grande produtora de azeites. Aliado a isso temos a tradição do cultivo de ervas aromáticas, beringelas, tomates de várias espécies, tomilho, louro, sálvia e muito alho.
Os pratos provençais são uma festa para os sentidos. Muito coloridos e aromáticos.
São muito usadas as carnes de carneiro, e na área do litoral, peixes frescos. Os pães, queijos de várias espécies e embutidos também são muito apreciados.
É um assunto para quem conhece falar, e para nós, degustarmos. A seguir colocamos algumas fotos tiradas na feira ao ar livre de Aix-en-Provence e algumas receitas tiradas da wikipedia francesa "Cuisine Provençale". (https://fr.wikipedia.org/wiki/Cuisine_proven%C3%A7ale).
a) Tomates, Berinjelas, Pimentões, ...
b) Pães, Queijos e Embutidos
feira em Aix-en-Provence - foto HistoriacomGosto |
Em 1655, o açougueiro de Arles Godart introduziu uma receita de salsicha para Arles de Bolonha , e criou a salsicha de Arles , ou sosisol , que ele comercializou até Paris . Atualmente, dois açougueiros continuam a tradição: Alazard e Roux, em Tarascon e os filhos de Édouard Giraud, em Montfrin .
É uma mistura de carne magra de burro , porco e vaca , gordura de porco, sal e especiarias diferentes . Cilíndrica, de formato rosa-acinzentado, pesando aproximadamente 300 g , tem 15 a 20 cm de comprimento e diâmetro variando entre 4 e 5 cm.
c) Exemplos de Pratos típicos
c.1 - Daube Provençal
Daube provençale é uma especialidade de origem provençal, cozinhada com carne de carneiro, vaca ou touro, marinada em vinho branco ou tinto. A carne em cubos é marinada no dia anterior em vinho, geralmente acompanhada de cenoura , alho , azeitonas pretas , ervas provençais e às vezes casca de laranja.
c.2 - Ratatouile
É um guisado de vários vegetais, que requer tomate, cebola, abobrinha, berinjela, pimentão e alho, todos salteados em azeite, sal e pimenta. Quanto mais tempo cozinha, mais saboroso fica o prato. Pode ser consumido tanto frio como quente, como entrada ou como acompanhamento de um prato de carne ou peixe.
c.3 - Salada Niçoise
A Salada Niçoise é uma famosa especialidade culinária do condado de Nice e Provence, confeccionada com vegetais crus : cebolinhas , tomates , favas , aipo , alcachofras roxas pequenas , pimentões verdes e vermelhos, folhas de manjericão , ovos cozidos , filetes de anchovas , azeite e azeitonas de Nice. O atum é frequentemente adicionado a ele , mas qualquer tempero vinagrete é excluído. Esta salada é uma das principais entradas oferecidas na Provença, mas pode ser uma refeição por si só.
salada Niçoise, fonte wiki fr |
d) Calissons - Os biscoistos de Aix en Provence
Calisson é uma confeitaria feita a partir de uma pasta fina de melão cristalizado e amêndoas esmagadas, e coberta com glacê real e colocada em um fundo de pão ázimo. Tem sido uma especialidade de Aix-en-Provence desde o século XV.
e) Vinhos Rosé da Provence
Os vinhos rosé são elaborados a partir de uvas tintas, que, porém, ficam pouco tempo em contato com suas cascas.
Antes da fermentação, as uvas são prensadas e, neste processo, este curtíssimo espaço de tempo é suficiente para que alguns dos componentes presentes nas cascas, inclusive parte das antocianinas, passem para o sumo. Daí a coloração leve e delicada de muitos rosés da Provence.
Em geral, as uvas são colhidas antes de completar sua maturação fenólica, o que traz mais frescor e acidez aos vinhos. Na hora da prensagem, isso geralmente é feito com cachos inteiros, também trazendo características aromáticas que se encaixam muito bem na proposta de vinhos rosé.
Terroir
Os solos são geralmente pobres, bem drenados e rasos, sem excesso de umidade. Quanto ao clima, o vento Mistral traz um ar refrescante a uma das regiões mais quentes da França, com poucas chuvas, mas intensas.
Vinho rosé da Provence, foto de foto-pixel.web.de em depositphotos.com |
Produtores consagrados - Alguns exemplos citados pela revista Adega
Château d’Esclans, Domaine de la Croix, Château du Galoupet, Château Minuty, Château Roubine, Château Miraval, Château de Ste. Martin, Domaine du Tempier, Domaine Richeaume, Domaine Ott, Château de Vignelaure, Château Sainte Marguerite, entre outros.
5.0 - Artes
Como exemplo das artes desenvolvidas na região escolhemos duas obras de dois pintores famosos, Cézanne e Van Gogh, realizadas na região.
Cézanne - Mont Sainte Victoire
A Montagne Sainte-Victoire é uma montanha no sul da França que pode ser vista a partir de Aix-en-Provence. Tornou-se tema de várias pinturas de Cézanne, totalizando cerca de trinta pinturas e aquarelas.
Mont Sainte-Victoire tornou-se um dos temas mais repetidos e variados de Cézanne, com Cézanne mudando algo sobre a cena a cada vez, de seu ângulo à iluminação, às especificidades da composição e ao clima que ele tentava evocar. Cézanne usou três pontos de vista primários para essas pinturas: perto da propriedade de seu irmão em Bellevue, perto da pedreira Bibemus e em Les Lauves.
Van Gogh - Terraço do café à noite
Terraço do café à noite, também conhecido como Café Terrace na Place du Forum, é uma pintura do artista holandês Vincent van Gogh feita em Arles entre os dias 9 e 16 de setembro de 1888.
6.0 Abadias e Catedrais na Provence
Desde a sua colonização pelos romanos, a região da Provence tornou-se predominantemente católica romana. Com isso a região teve muitas igrejas e bispados muito cedo. Os muitos mosteiros criados na Borgonha, primeiramente em Cluny e depois com a ordem cisterciense, foram também espalhados na Provence.
Abadia de Senanque, Provence, França, 1148
A abadia de Sénanque (Abbaye Notre-Dame de Sénanque ) é uma abadia cisterciense perto da vila de Gordes, no departamento de Vaucluse em Provence, França.
Foi fundada em 1148, sob o patrocínio de Alfant, bispo de Cavaillon, e Ramon Berenguer II, conde de Barcelona, conde de Provence, por monges cistercienses que vieram da abadia de Mazan, na Ardèche. Cabanas temporárias abrigavam a primeira comunidade de monges empobrecidos. Em 1152, a comunidade já tinha tantos membros que Sénanque pôde fundar a Abadia de Chambons, na diocese de Viviers.
Abadia de Senanque, Gordes, foto HistoriacomGosto |
Basílica de Notre Dame de La garde - Marseille
Construída sobre as fundações de um forte do século XVI construído por François I em 1536 para resistir ao cerco de Carlos V , a basílica tem duas partes: uma igreja baixa, ou cripta, esculpida na rocha e em estilo românico, e acima dela está uma alta igreja romano-bizantina decorada com mosaicos. No topo de um campanário quadrado de 41 metros de altura, encimado por uma espécie de torre de 12,5 metros que serve de pedestal, ergue-se uma monumental estátua da Virgem com o Menino de 11,2 metros, feita de cobre folheado a ouro.
Basilica de Notre dame de la garde, Marseille, foto wikimedia commons |
7.0 - Referências
Le Figaro - hors-série - Provence éternelle
https://www.freitasparaomundo.com.br/2014/08/17/gastronomia-provencal/