1. - Origens
Considerado o último grande pensador da escola jônica, Heráclito nasceu em Éfeso, em torno de 540 a.C., na cidade da Jônia (atual Turquia).
Por seu desprendimento em relação ao poder e pelo desprezo que dedicava aos bens materiais, Heráclito não era simpático aos efésios, que eram exatamente o seu oposto.
Heráclito floresceu como pensador após a destruição de Mileto e a submissão da Jônia ao domínio dos persas. Misantropo viveu na solidão do templo de Ártemis.
Retirado e isolado, desenvolveu um pensamento irônico, e crítico em relação aos outros filósofos. Seu estillo era baseado em frases de efeito de difícil compreensão. Isso fez com que os outros o vissem como um fazedor de enigmas e por isso ele ficou conhecido com "o obscuro".
Templo de Artemis
O Templo de Ártemis ou Templo de Diana foi uma das sete maravilhas do Mundo Antigo, localizado em Éfeso. Era o maior templo do mundo antigo, e durante muito tempo o mais significativo feito da civilização grega e do helenismo, construído para a deusa grega Ártemis, da caça e dos animais selvagens.
Foi construído no século VI a.C. no porto mais rico da Ásia Menor pelo arquiteto cretense Quersifrão e por seu filho, Metágenes.
2. - O pensamento de Heráclito
Os filósofos de Mileto (Tales, Anaximandro, Anaxímenes, entre outros) haviam percebido o dinamismo das mudanças que ocorrem na physis (natureza), como o nascimento, o crescimento e a morte, mas não chegaram a problematizar a questão.
Heráclito, inserido no contexto pré-socrático, parte do princípio de que tudo é movimento, e que nada pode permanecer parado - "tudo flui", "tudo se move", exceto o próprio movimento.
O devir
Mas este é apenas um pressuposto de uma doutrina que vai mais além. O devir, a mudança que acontece em todas as coisas é sempre uma alternância entre contrários: coisas quentes esfriam, coisas frias esquentam; coisas úmidas secam, coisas secas umedecem etc.
Corte da capa do Livro "O Devir" de Roberto Trajan |
A realidade acontece, então, não em uma das alternativas, posto que ambas são apenas parte de uma mesma realidade, mas sim na mudança ou, como ele chama, na guerra entre os opostos. Esta guerra é a realidade, aquilo que podemos dizer que é. "A doença faz da saúde algo agradável e bom"; ou seja, se não houvesse a doença, não haveria por que valorizar-se a saúde, por exemplo.
Ele ainda considera que, nessa harmonia, os opostos coincidem da mesma forma que o princípio e o fim, em um círculo; ou a descida e a subida, em um caminho, pois o mesmo caminho é de descida e de subida; o quente é o mesmo que o frio, pois o frio é o quente quando muda (ou, dito de outra forma, o quente é o frio depois de mudar, e o frio, o quente depois de mudar, como se ambos, quente e frio, fossem "versões" diferentes da mesma coisa).
Filósofo
Heráclito concebia as suas idéias como expressões de um lógos que provinha da natureza. Ele se movia pela intuição e considerando-se inspirado passou a se apresentar como filósofo (amigo da sabedoria) criando a palavra que mais tarde viria a designar toda a linha de pensamentos e estudos tanto sobre o comportamento da natureza como também dos comportamentos humanos.
A doutrina dos contrários
A doutrina da unidade dos contrários é talvez o aspecto mais original do pensamento filosófico de Heráclito. A lei secreta do mundo reside na relação de interdependência entre dois conceitos opostos, em luta permanente; mas, ao mesmo tempo, um não pode existir sem o outro. Nada existiria se não existisse, ao mesmo tempo, o seu oposto. Assim, por exemplo, uma subida pode ser pensada como uma descida por quem está na parte de cima. Entre os contrários se cria uma espécie de luta constitutiva do logos indiviso.
Nessa dualidade, que na superfície é uma guerra (polemos), mas no fundo é harmonia entre os contrários, Heráclito viu aquilo que definia como o logos, a lei universal da Natureza.
E é a própria doutrina dos contrários que faz de Heráclito o fundador de uma lógica "antidialética", fundada na lei estética do Devir da realidade.
Antidialética porque tese e antítese (ser e não ser) são uma síntese contraditória e permanente na realidade, que só assim pode vir a ser, através dos seus dois aspectos existenciais ("no mesmo rio, entramos e não entramos"; "somos e não somos");
A physis
A physis, traduzida apenas como “natureza” ou “física”, tem, para os gregos antigos, significados amplos e poéticos. Corresponde ao “emergir” das coisas, pois deriva da palavra phyein, que designa tudo o que brota, nasce, cresce e perece. As coisas (os entes) emergem continuamente ao nosso redor. Surgem e nos surpreendem, sejam pessoas, paisagens ou situações.
Esses entes que surgem se modificam para depois desaparecerem e ressurgirem de outra forma. Todos nós nascemos, crescemos, nos modificamos e morremos, pois somos parte da physis. A natureza (physis), no entendimento dos gregos antigos, está em eterna fluidez circular.
(fonte:https://www.netmundi.org/filosofia/2014/heraclito-physis-logos-e-aletheia)
O Logos
A physis é governada pelo logos. A forma racional de se expressar, conforme aconteceu com os pré-socráticos, tem relação com esse logos. Foi através da observação da physis que os pré-socráticos abandonaram as explicações mitológicas, pois perceberam a ação de uma razão universal que governa a natureza.
Heráclito, nesse aspecto, foi claro ao afirmar: “tendo ouvido não a mim, mas ao logos, é certo afirmar que tudo é um“. Assim, o logos é razão, referindo-se ora à razão universal, ora à razão humana.
Heráclito comparou o dinamismo do logos ao fogo porque, de todos os elementos, o fogo seria o mais dinâmico.
(fonte: https://www.netmundi.org/filosofia/2014/heraclito-physis-logos-e-aletheia)
O eterno devir (fluir)
A filosofia de Heráclito afirma que a realidade é eterno devir, pois flui constantemente (Panta Rhei). Aquilo que foi revelado, logo se oculta e se modifica. As coisas que nos surpreendem logo mudam, mesmo quando reveladas, pois estão fluindo eternamente.
Essa é a origem da frase do filósofo de Éfeso: “O mesmo homem não se banha duas vezes no mesmo rio, pois outras serão as águas, e outro será o homem".
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A Cosmologia de Heráclito
Segundo Heráclito, o fogo é, pois, o elemento primordial de todas as coisas. Tudo se origina por rarefação e tudo flui como um rio. O cosmos é um só e nasce do fogo e, de novo, é pelo fogo consumido, em períodos determinados, em ciclos que se repetem pela eternidade.
Em seu livro - Do Céu, Aristóteles escreve: "Concordam todos em que o mundo foi gerado; mas, uma vez gerado, alguns afirmam que é eterno e outros que é perecível, como qualquer outra coisa que por natureza se forma. Outros, ainda, que, destruindo-se, alternadamente é ora assim, ora de outro modo, como Empédocles e Heráclito de Éfeso. (…) Também Heráclito assevera que o universo ora se incendeia, ora de novo se compõe do fogo, segundo determinados períodos de tempo, na passagem em que diz "acendendo-se em medidas e apagando-se em medidas."
Heráclito, por Rafael no quadro "A escola de Atenas" |
Para Heráclito, o fogo, quando condensado, se umidifica e, com mais consistência, torna-se água; e esta, solidificando-se, transforma-se em terra; e, a partir daí, nascem todas as coisas do mundo. Este é o caminho que Heráclito define como sendo "para baixo".
Derretendo-se a terra, obtém-se água. Água transforma-se em vapor, tal como vemos na evaporação do mar. E, rarefazendo-se, o vapor transforma-se novamente em fogo. E este é o caminho "para cima".
Alétheia
Physis e logos são conceitos necessários ao entendimento da alétheia, que corresponde à revelação do ser das coisas que surge com a investigação filosófica. O termo alétheia foi traduzido para o latim como veritas (verdade).
A busca dos filósofos pré-socráticos corresponde à busca pela verdade, pois alétheia significa, em grego, “revelar o que está oculto” ou “lembrar o que estava esquecido”.
Alétheia é o oposto da palavra grega léthes, que significa encobrimento. Assim, o ser que se revela também se oculta continuamente. É necessário usar a razão que repousa no logos para “levantar o véu da realidade”, pois, conforme afirmou Heráclito, “a essência das coisas ama ocultar-se”.
Ilustração do site domestika.org/pt |
3. - Referências
a) Pré-socráticos - Auterives Maciel Júnior
b) Heráclito - wikipédia
c) O pensamento de Heráclito -
www.netmundi.org/filosofia/2014/heraclito-physis-logos-e-aletheia