I. Ticiano
Ticiano Vecellio, nasceu em Pieve di Cadore, 1488/1490, e faleceu em Veneza, 27 de agosto de 1576. Ele foi um dos principais representantes da escola veneziana no Renascimento antecipando diversas características do Barroco e até do Modernismo. Ele também é conhecido pelo seu nome italiano de Tiziano ou em inglês Titian.
Autoretrato, Museu do Prado, 1562 |
Se tivesse morrido cedo, teria sido conhecido como um dos mais influentes artistas do seu tempo, mas como viveu quase um século, mudando tão drasticamente seu modo de pintar, vários críticos demoram a acreditar se tratar do mesmo artista.
O que une as duas partes de sua obra é seu profundo interesse pela cor, sua modulação policromática é sem precedentes na arte ocidental. (fonte: Wikipedia)
O que une as duas partes de sua obra é seu profundo interesse pela cor, sua modulação policromática é sem precedentes na arte ocidental. (fonte: Wikipedia)
2. - Resumo Biográfico
a) Início da carreira
Ticiano era um dos quatro filhos de Gregório Vecelli, destacado soldado e funcionário do estado, e de sua esposa Lúcia. Perto dos dez anos de idade foi levado por seu irmão, o também pintor Francesco Vecellio, para Veneza, onde entrou como aprendiz de Sebastian Zuccato, celebre por seus mosaicos. Após quatro ou cinco anos passou ao estúdio de Giovanni Bellini, naquele tempo o mais notável artista da cidade. Ali entrou para um grupo de jovens que incluia Palma de Serinalta, Lorenzo Lotto, Sebastiano Luciani e Giorgione.
b) Primeiros Trabalhos
Ticiano formou uma parceria com Giorgione e é difícil distinguir seus trabalhos iniciais. O primeiro totalmente de Ticiano, reconhecidamente, é um pequeno Ecce Homo da escola de São Roque. Os dois jovens mestres foram logo reconhecidos como líderes de sua nova escola moderna, que tornou suas pinturas mais flexiveis, livres da simetria e das convenções hierárquicas que ainda estavam presentes nas obras de Giovanni Bellini
c) Crescimento (1516 a 1530)
Anunciação, 1522 |
Giorgione morreu em 1510 e Giovanni Bellini, ja ancião, faleceu em 1516. Ticiano, já com algumas obras de vulto em seu currículo, reinou sem rival na escola veneziana. Por sessenta anos, ele foi o líder absoluto e indisputado, o mestre oficial e o pintor laureado da Sereníssima República de Veneza.
Durante este período (1516 - 1530), que podemos chamar de crescimento até a maturidade, o artista libertou-se das tradições de sua juventude, procurando personagens mais complexos e, pela primeira vez tentando um estilo monumental.
Durante o próximo período (1530 - 1550), como já se esboçava no seu "Martírio de São Pedro", Ticiano se devotou mais e mais a um estilo dramático. Desta época é a representação da cena histórica da Batalha de Cadore, infelizmente desfigurada ou mutilada em sua maior parte, mas que mostra o esforço do artista de se superar. Como "A Guerra de Pisa", "A Batalha de Anghiari" e "A Batalha de Constantinopla" foram consumidas pelo fogo que ardeu no Palácio Ducal. Existe apenas uma cópia pobre e incompleta no Uffizi e uma medíocre gravura por Fontana.
La Bella |
Ticiano tinha ainda, desde o início de sua carreira mostrado ser um mestre em retratos, em trabalhos como "La Bella" (Eleanora Gonzaga, Duquesa de Urbino), hoje no Palácio Pitti. Ele pintou inúmeros príncipes, doges, cardeais, monges e artistas, teve muito sucesso em extrair de cada fisionomia os traços que a caracterizavam.
Como retratista, Ticiano é comparavél a Rembrandt e Velásquez. Suas qualidades são manifestas em obras como "Paulo III", no Kunsthistorisches Museum ou a cena do mesmo papa com seus sobrinhos, Pedro Aretino, no palácio Pitti, e Eleanora de Portugal, em Madri. Ainda temos no mesmo local a série de Carlos V, o "Carlos V com Cão de Caça" (1533) e "Carlos V em Muhlberg" (1548), uma pintura equestre com uma sinfonia de vermelhos.
Carlos V honrou Ticiano nomeando-o conde palatino e cavaleiro do galão dourado. Seus filhos foram feitos nobres do Sacro Império Romano-Germânico, o que para um pintor daquela época era uma honra extraordinária.
3. - Alguns Trabalhos de Ticiano
a) Madona com o Coelho,1530 (Museu Louvre, Paris)
"Este seu quadro referencia a pureza da fertilidade e da concepção imaculada de Maria, representada pela alvura, símbolo de pureza, do coelho enquanto espécie associada à fertilidade. Nesta pintura renascentista, Maria recebe de Catarina de Alexandria o menino Jesus. Este contempla um coelho branco bem seguro pela mão esquerda de sua mãe imaculada. As mãos de Maria fazem a interligação entre o menino Jesus e a pureza representada pelo coelho branco.
Como veremos mais à frente, há razões para uma intencionalidade para este simbolismo do coelho com a pureza e com a concepção sem pecado. Neste contexto, pode dizer-se que a obra faz uma alusão ao mistério da encarnação e da imaculada concepção de Maria, numa interpretação de Ticiano do culto mariano e dos novos evangelhos bíblicos. Mas note-se também na presença de um cesto semiaberto com fruta, uma maçã, numa alusão ao pecado original relatado nos Velhos testamentos."
fonte: trecho retirado da análise de António Piedade
Ciência na Imprensa Regional – Ciência Viva
https://dererummundi.blogspot.com/2011/12/virgem-e-o-coelho.html
Madona com Coelho, 1530 |
Inicialmente o quadro foi comprado por Carlos I de Inglaterra, contudo depois da sua decapitação, os seus bens foram leiloados, e o quadro foi comprado por Luís XIV de França.
b) O enterro de Cristo (entombment), 1523, Museu Prado
"A obra em destaque foi encomendada por Filipe II, rei da Espanha. A cena apresenta a deposição do corpo exangue de Cristo num túmulo de mármore, de estilo clássico, decorado com baixos-relevos. Um dos lados traz a representação de “Caim e Abel”, e o outro mostra o “Sacrifício de Isaque”. Segundo a fé cristã, tais temas prediziam a morte de Cristo. Parte da mortalha branca de Jesus escorrega-se para o lado, quase tocando o chão.
A Virgem Maria, envolta por um manto azul, segura um dos braços inertes do Filho, enquanto o outro resvala para baixo. Nicodemos, a figura forte e barbuda, sustenta o corpo pelos ombros e José de Arimateia segura-o pelas pernas. Maria Madalena, vestida de branco, abre os braços em profundo desespero. São João Evangelista encontra-se entre ela e a Virgem, na parte central. As personagens são distribuídas em forma de leque, e repassam um sentimento de extremo sofrimento."
fonte: https://virusdaarte.net/ticiano-o-sepultamento-de-cristo/
O Sepultamento de Cristo |
e) O Dinheiro do Tributo, 1516, Gemäldegalerie Alte Meister , Dresden
O dinheiro do tributo é uma pintura do painel em óleos de 1516 pelo italiano falecido artista renascentista Ticiano, agora na Gemäldegalerie Alte Meister em Dresden , Alemanha. Ela descreve a Cristo e um fariseu, conforme o Evangelho, quando a Cristo é mostrado uma moeda e perguntado se é lícito pagar o tributo a César. Ele então responde: " Dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus ". É assinado "Ticianus F. [ECIT]", pintado na guarnição do lado esquerdo da gola do fariseu.
É possivelmente a representação mais antiga da arte dessa cena, que teve um significado pessoal para Afonso I d'Este , que a encomendou.
O Dinheiro do Tributo, 1516 |
A pintura, que tem sido descrito como "muito elegante, o trabalho inicial mais polido de Ticiano", tornou-se famoso. Giorgio Vasari classificou a cabeça de Cristo como "estupenda e milagrosa" e comentou que todos os artistas da época acreditavam que fosse a pintura mais perfeita de Ticiano.
e) Isabel de Portugal, 1548, Museu do Prado
Quando da morte da sua esposa Isabel, em 1539, o imperador Carlos I de Espanha e V do Império Germânico não dispunha de nenhum retrato que considerasse digno dela, pelo que solicitou a um dos seus pintores favoritos, Ticiano, que lhe fizesse um. Ticiano, que nunca tinha visto a retratada, baseou-se num retrato anterior, hoje desaparecido, pois ardeu no incêndio do Palácio do Pardo de 1604, em que se representava a imperatriz com um traje negro.
Isabel de Portugal, 1530 |
O retrato segue um esquema clássico já utilizado por Rafael ou Leonardo da Vinci, em que a modelo se apresenta sentada junto a uma janela em que se divisa uma paisagem. A paisagem dota a composição de profundidade, além de servir como contraste cromático com a figura da emperatriz, pois nela predominam tons verdosos e azulados, enquanto que a cena interior está dominada por tons cálidos. A figura de Isabel mostra alguma rigidez, relacionada talvez com o conceito de majestade tão utilizado na iconografia imperial.
h) A Mãe dolorosa (com mãos unidas / separadas), 1550 e 1554, Museu do Prado
Sabemos, por carta de 30 de junho de 1553 do embaixador espanhol em Veneza, que Ticiano aguardava instruções do imperador para pintar um painel de Nossa Senhora da mesma forma que o Ecce Homo de Vossa Majestade. Esta pintura foi concluída em 1554 e pode ser identificada com A Virgem Dolorosa com as mãos unidas .
Em outra carta de 1554, há uma referência a outra Virgem Dolorosa que Carlos V pediu especificamente para ser pintada em pedra, permitindo-nos identificá-la com A Virgem Dolorosa com as mãos separadas. Até março de 1555, Ticiano não encontrou o apoio necessário e, em 31 de maio do mesmo ano, Carlos V anunciou de Bruxelas que enviaria o Patrono da Imagem de Nossa Senhora.
Essa correspondência revela o interesse de Carlos V nesses assuntos, a ponto de especificar o suporte e enviar um modelo para o segundo. Esse modelo provavelmente era uma pintura flamenga, talvez de sua própria coleção. Tanto as virgens quanto o Ecce Homo compartilham uma sensibilidade religiosa mais próxima do tipo norte (que por sua vez influenciou a arte espanhola) do que da italiana.
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Particularmente notáveis aqui são as lágrimas, ausentes em obras anteriores de Ticiano e provavelmente presente no modelo enviado pelo imperador. Estas são as lágrimas da mãe pelo sofrimento do filho, mas também lágrimas de súplica e intercessão em favor do devoto espectador, neste caso, Charles V.
O caráter devocional das pinturas e a identidade de seus clientes explicam seu notável valor material, pois A Virgem Dolorosa com as mãos separadas é pintada em mármore, enquanto A Virgem Dolorosa com as mãos unidas usa lapislazuli no manto.
4. Referências
Wikipédia: Ticiano / Lista de trabalhos de Ticiano