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terça-feira, 15 de janeiro de 2019

Impressionismo 7: Gustave Caillebotte - Pintor, Jardineiro, e Colecionador

I. - Gustave Caillebotte


Gustave Caillebotte (Paris, 19 de agosto de 1848 - Gennevilliers, 21 de fevereiro de 1894) foi um pintor francês, membro e patrono de um grupo de artistas conhecido como impressionistas, colecionador de selos e engenheiro de iates.


 quadro Subindo a Estrada de Caillebotte
Subindo a estrada, Caillebotte, 1881, coleção privada, propriedade desconhecida

Histórico

 quadro autorretrato de Caiellebotte
autorretrato, 1892,
Musée d' Órsay
Gustave Caillebotte nasceu em 19 de Agosto de 1848, filho de uma família parisiense de classe alta. Seu pai, Martial Caillebotte (1799-1874), era herdeiro da indústria têxtil de propriedade da família.

Caillebotte formou-se em advocacia em 1868 e obteve licença para praticar direito em 1870. Pouco tempo depois, ele foi convocado para lutar na Guerra Franco-Prussiana, e serviu à Guarde Nationale Mobile de la Seine. Após a guerra, Caillebotte começou a visitar o estúdio do pintor Léon Bonnat, onde ele iniciou seus estudos de arte. Em 1873, Caillebotte entrou na École des Beaux-Arts, mas aparentemente não a frequentou por muito tempo. 


Encontro com Impressionistas

Por volta dessa época, Caillebotte encontrou e se tornou amigo de vários artistas que não eram da academia francesa, incluindo Edgar Degas e Giuseppe De Nittis, e compareceu (mas não participou da) primeira exibição Impressionista de 1874.

A abastada pensão que Caillebotte recebia, somada à herança que ele recebeu após a morte de seu pai em 1874 e de sua mãe em 1878 permitiram a ele pintar sem a pressão de vender seus trabalhos. Isso também permitiu a ele ajudar a financiar exibições impressionistas e a dar suporte a companheiros artistas e amigos (incluindo Claude Monet, Auguste Renoir, e Camille Pissarro, dentre outros), ao comprar seus trabalhos e, pelo menos no caso de Monet, pagar o aluguel de seus estúdios. 

 quadro Boulevard dos Italianos
Boulevard dos Italianos, 1880, coleção particular

Hobbies

Além disso, Caillebotte usou sua fortuna para financiar vários hobbies pelos quais ele era apaixonado, incluindo colecionar selos (sua coleção encontra-se atualmente no Museu Britânico, cultivo de orquídeas, construção de iates, e até mesmo design de modelos.

II. - O estilo de Caillebotte


Realismo e Impressionismo

O estilo de Caillebotte pertence à escola do Realismo. Como fizeram seus predecessores Jean-Francois Millet e Gustave Courbet, assim como seu contemporâneo Degas, Caillebotte tinha como objetivo pintar a realidade como ela existia e como e a via, tentando reduzir ao máximo a teatricidade inerente à pintura. 

Ele também compartilhava do comprometimento com a verossimilhança ótica dos Impressionistas. Caillebotte pintou muitas cenas domésticas, familiares, interiores, e figuras na paisagem de Yerres, mas ele é mais conhecido por suas pinturas da cidade de Paris, como The Floor Scrapers, 1875, Le pont de l'Europe, 1876, e Paris Street, Rainy Day, 1877. 



 quadro Os Raspadores
Os Raspadores, 1875, Musée d'Orsay


Estas pinturas são um tanto controversas por mostrarem cenas banais e mundanas, e por sua perspectiva profunda. O piso inclinado comum a essas pinturas é bastante característico dos trabalhos de Caillebotte, o que pode ter sido fortemente influenciado por telas japonesas e a nova tecnologia da fotografia. 



 quadro O Balcão, Boulevard Haussman
Um Balcão, Boulevard Haussman, 1880, Coleção privada


Técnicas como cropping e zoom são facilmente encontradas nas obras de Caillebotte, o que pode ter sido o resultado de seu interesse por fotografia. Um considerável número dos trabalhos de Caillebotte também emprega um ponto de vista muito alto, incluindo muitos de suas pinturas de varandas, como Vue des toits, effet de neige, 1878, e Boulevard vu d'en haut, 1880.

III. - Principais Obras


III.1 " Rue de Paris, temps de pluie", de Gustave Caillebotte


Em Rue de Paris, temps de pluie (1877), Gustave Caillebotte representa a reconstrução de Paris a partir de 1851 com um monumental estudo de perspectiva. A pintura mostra uma cena banal e mundana, com perspectiva profunda. Os seus traços distorcem a dimensão dos edifícios uniformes e a distância entre eles, criando um amplo ângulo de visão para reflectir a modernidade da capital parisiense. Esta é uma pintura muito realista, graças aos reflexos da chuva no asfalto e no passeio.

quadro Rue de Paris
Rue de Paris, 1877, Instituto de Arte de Chicago

Gustave Caillebotte apresentou esta obra na Terceira Exposição Impressionista em 1877. Actualmente Rue de Paris, temps de pluie encontra-se no Instituto de Arte de Chicag
o.

III.2 - Efeito da Chuva

Gustave Caillebotte pintou "Os Yerres, Efeito da Chuva" na propriedade de sua família fora de Paris. A composição inclui um vislumbre de um barco - talvez o de Caillebotte - apenas visível na margem distante do rio Yerres.


 quadro Efeito da Chuva mostra os pingos da chuva deixando marca no rio
Efeito da Chuva, 1875, Indiana University Art Museum
 O artista era um ávido remador, e canoas, barcos e barcos a remo aparecem em muitas de suas obras. O formato vertical da pintura, as linhas diagonais e o padrão estilizado dos pingos de chuva também sugerem a influência das xilogravuras japonesas, que estavam disponíveis na França desde o início do século XIX, e foram coletadas por muitos artistas. Suas distintas qualidades estéticas tiveram uma forte influência no impressionismo.

III.3 - Remadores


 quadro velejadores remando em Yerres mostr duas pessoas remando
Velejadores remando em Yerres, 1877 a 1879, coleção privada
 quadro Skiff mostra uma pessoa em cada canoa praticando o skiff
Skiff, Caillebotte, 1877, Galeria Nacional de Arte de Washington


III.4 - Paisagens

quadro paisagem normanda
Paisagem Normanda, 1884, Coleção Privada
quadro vista do sena
Vista do Sena na direção de Ponte de Bezons, 1892,
coleção privada


III.5 - Pessoas 


Em um café


Caillebotte apresentou esta cena de café, típica da vida moderna, na quinta exposição impressionista.
Uma figura masculina em tamanho natural domina a tela. Caillebotte pintou este assunto várias vezes e o retrata parecendo um pouco desgrenhado em roupas folgadas, mãos nos bolsos e com o olhar vago de uma expressão desiludida no rosto. Ele parece isolado do seu entorno, de pé com seu chapéu de coco fora de moda ainda pensativamente empoleirado na parte de trás de sua cabeça.
No fundo, um espelho grande reflete a cena à sua frente: dois chapéus enganchados sobre uma prateleira - um deles uma cartola - e dois homens jogando cartas ou dominós, em um reino exclusivamente masculino.
A cena se passa em um estabelecimento chique nas grandes avenidas parisienses, por volta do meio-dia, como pode ser visto dos reflexos ensolarados das folhas e do toldo vermelho e branco no espelho. Na mesa ao lado do nosso homem há quatro discos de cerâmica e um copo de absinto, que também foi objeto de um desenho preparatório feito pelo artista. 
Em 17 de julho de 1880, uma lei foi aprovada, suspendendo as restrições aos estabelecimentos de bebidas - em um momento em que os estragos do absinto estavam no auge - e algumas pessoas viram In a Café como manifesto contra essa liberalização.
A pintura é também um manifesto impressionista: o seu tema, a sua vibração, a qualidade da luz do dia e a interação entre o material, a luz e os reflexos, trazem à mente as palavras de Caillebotte: “Desde que nos atemos à natureza, não diferenciamos as figuras. nós pintamos do fundo deles, sejam eles em um apartamento ou no fundo da rua ... '
fonte: Museu de Belas Artes de Rouen - https://mbarouen.fr/en/oeuvres/in-a-cafe
 quadro em um café mostra um homem em pé junto a um espelho
Em um café, 1880, Museu de Belas Artes de Rouen
quadro O Interior mostra um homem sentado lendo jornal e uma mulher de pé vista de costas junto ao balcão que dá para a avenida
Interior, 1880, coleção particular

O Interior

Uma senhora vira as costas para nós, de pé em uma janela, e um cavalheiro, sentado em uma poltrona, visto de perfil, lê o jornal ao seu lado - isso é tudo; - mas o que é realmente bonito é a franqueza, é a vida dessa cena! A mulher que assiste, ociosa, a rua, palpita, se move; vemos seus ombros se moverem sob o maravilhoso veludo azul escuro que os cobre; vamos tocá-la com o dedo, ela vai bocejar, se virar, trocar uma conversa inútil com o marido, que dificilmente se distrai com a leitura de uma notícia. 

Esta suprema qualidade de arte, vida, emerge desta tela com uma intensidade verdadeiramente incrível; então falei da luz no começo deste artigo; é aqui que se deve vê-lo, a luz de Paris, num apartamento situado na rua, a luz abafada pelas cortinas das janelas, peneirada pela musselina das pequenas cortinas. Na parte de trás do palco, na encruzilhada da qual o dia se estende, o olho vê a casa em frente, as grandes letras douradas que a indústria está rastejando nos balaústres das varandas, na janelas de apoio, neste breakaway na cidade. O ar circula, parece que o rolo pesado de carros vai subir no barulho dos transeuntes batendo na calçada. 

É um canto da existência contemporânea, fixado como é. O casal fica entediado, como acontece na vida, muitas vezes; um cheiro doméstico em uma situação de dinheiro fácil, escapa deste interior. O Sr. Caillebotte é o pintor da burguesia à vontade, comércio e finanças, que atende em grande parte às suas necessidades, sem ser muito rico, morando perto da Rua Lafayette ou nas proximidades do Boulevard Haussmann.

Quanto à execução desta pintura, é simples, sóbria, diria quase clássica. Sem manchas, sem fogos de artifício, sem intenções indicadas, sem indigestão. A pintura está terminada, atestando a um homem que conhece seu ofício na ponta do dedo e que tenta não desfilar, escondê-lo quase. "

Huysmans, Arte Moderna, 1883, Exposição dos Independentes em 1880.
fonte: https://www.lankaart.org

IV. - A Coleção de Caillebotte


Em seu testamento, Caillebotte doou uma grande coleção ao governo francês. Esta coleção incluía sessenta e oito pinturas de vários artistas: Camille Pissarro (dezenove), Claude Monet (quatorze), Pierre-Auguste Renoir (dez), Alfred Sisley (nove), Edgar Degas (sete), Paul Cézanne (cinco), e Édouard Manet (quatro).

Na época da morte de Caillebotte, os impressionistas ainda estavam muito subestimados pelo comércio da arte na França, o qual era dominado pela arte acadêmica, especificamente pela Académie des beaux-arts. Por conta disso, Caillebotte percebeu que eventualmente os tesouros culturais de sua coleção desapareceriam em pequenas galerias e museus provinciais. Levando isso em conta, ele estipulou que eles deveriam ser expostos no Palácio de Luxemburgo (que só expõe trabalhos de artistas vivos), e então no Louvre.

Infelizmente, o governo francês não concordou com estes termos. Em Fevereiro de 1896, eles finalmente negociaram os termos com Renoir, que era o procurador do testamento, sob o qual eles levaram trinta e oito das pinturas para o Luxemburgo

As 29 pinturas restantes (uma ficou com Renoir em pagamento por seus serviços como procurador) foram oferecidas para o governo francês em mais outras duas oportunidades, em 1904 e em 1908, e em ambas vezes foram recusadas. Quando o governo finalmente tentou reclamá-las em 1928, o pedido foi negado pela viúva do filho de Caillebotte. A maior parte dos seus trabalhos restantes foi comprada por Albert C. Barnes, e agora são exibidos pela Barnes Foundation of Philadelphia.

Quarenta dos trabalhos de Caillebotte estão sendo atualmente exibidos pelo Musée d'Orsay. O seu L'Homme au balcon, boulevard Haussmann, pintado em 1880, foi vendido por $14.3 milhões em 2000.

V. - Referência

Wikipédia - Gustave Caillebotte