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quinta-feira, 15 de março de 2018

Quaresma, Fé e Arte: "O Semeador", Van Gogh

I. - O grão de trigo - João 12, 23-28



23 Jesus respondeu-lhes: “Chegou a hora em que o Filho do Homem vai ser glorificado. 24 Em verdade, em verdade vos digo: Se o grão de trigo que cai na terra não morre, ele continua só um grão de trigo; mas, se morre, então produz muito fruto. 25 Quem se apega à sua vida, perde-a; mas quem faz pouca conta de sua vida neste mundo, conservá-la-á para a vida eterna. 26 Se alguém me quer seguir, siga-me, e onde eu estou estará também o meu servo. Se alguém me serve, meu Pai o honrará. 27 Agora sinto-me angustiado. E que direi? ‘Pai, livra-me desta hora?’ Mas foi precisamente para esta hora que eu vim. 28 Pai, glorifica o teu nome!” Então, veio uma voz do céu: “Eu o glorifiquei e o glorificarei de novo!”

   

II. - O quadro "O semeador" de Van Gogh


quadro o semeador de Van Gogh mostra o Sol muito grande como uma bola imensa amarela,  um tronco de árvore, o rio azul e a figura do semeador de boné e com uma roupa verde escuro
The Sower, Vincent Van Gogh, 1888,


De acordo com Daniella Zsupan-Jerome, da Loyola University, "Durante sua vida, Vincent van Gogh pintou uma série de trabalhos com o semeador e com campos de trigo. Esta imagem particular é um dos semeadores com o sol se pondo, e, destaca-se pela árvore de estilo japonês que transpõe a imagem. O uso da cor também é notável: o sol amarelo, o céu verde, as nuvens cor de rosa, os campos roxos, a árvore azul-preta e a figura azul-verde nos proporcionam uma paleta de cores surreal. Nós sentimos que é o fim de um dia frio, apesar do grande sol. As cores surreais também sugerem uma realidade do outro mundo. A imagem é profundamente evocativa da morte e do abandono, embora o assunto de semear sementes também traga consigo os temas da esperança e da antecipação da nova vida. 


Três elementos formam as principais partes da imagem: o sol amarelo, o ramo da árvore escura e a figura azul-verde do semeador. Para Van Gogh, estes eram símbolos regulares; o sol evocou o divino e o semeador antecipou o futuro. Estes dois juntos nos dão uma sensação dos tempos finais com esperança para o Reino de Deus. Nessa linha, a árvore, especialmente na sua escuridão, enquanto atravessa a imagem, evoca a cruz. Não se pode experimentar a promessa de esperança e plenitude do futuro sem lidar com a realidade da cruz. 


Um gesto bonito oferecido pelo semeador é aquele de deixar ir. Lançar as sementes douradas no chão púrpura é mais do que apenas um ato superficial - está deixando ir, literal e figurativamente, para que essas sementes possam encontrar um bom solo e que a nova vida possa emergir. 

As palavras de Jesus do Evangelho ecoam ao longo da pintura: "A menos que um grão de trigo caia na terra e morra, ele permanece apenas um único grão; mas se morre, tem muito fruto. "A morte aqui pertence à semente, a Jesus pregando sua própria paixão e a cada um de nós enfrentando a finitude, tanto diariamente como no final de nossas vidas. 

No entanto, as sementes que o semeador deixa cair são douradas, refletindo o grande sol que domina a parte de trás da imagem e reflete a vida eterna do divino. No campo, o semeador continua, mesmo quando ele se aproxima da árvore, com determinação, resolução e esperança."

Comentario de Daniella Zsupan-Jerome, professora assistente de liturgia, catequese e evangelização na Loyola University em New Orleasn.  

fonte:https://www.loyolapress.com/our-catholic-faith/liturgical-year/lent/arts-and-faith-for-lent/cycle-b/arts-and-faith-week-5-of-lent-cycle-b

 

III. - Homilia Canção Nova - Joao (12, 20-33)


É hora de nos questionarmos até que ponto assumimos o compromisso de viver como cristãos; até que ponto estamos comprometidos com o plano divino de colocar o Espírito de Deus entre nós, pela realização do projeto do Reino.

Em que colocas o teu coração? Com quem estabeleces relações? Fazer aliança com Deus e viver de acordo com o projeto divino faz com que as nossas relações sejam firmes e douradoras. Pois se trata de uma aliança que se assina com a vida, com aquilo que representa a centralidade da vida: o coração amoroso de Deus Pai. Ser infiel a esta Aliança é o mesmo que rasgar a vida, que desperdiçar a vida, que perder a vida, como diz Jesus no Evangelho: “quem quiser ganhar a vida, vai perdê-la”. Quem quiser colocar no seu coração outro projeto que não seja o de Deus, perde o sentido de viver. É por isso que antes de iniciar a celebração, fazemos o ato penitencial.

Isso de colocar Deus no coração, no centro da existência pessoal, não é tarefa fácil para ninguém de nós.

Em nossos dias as coisas parecem mais confusa que ontem. Somos como aqueles que estavam com Jesus e ouviram a voz divina, mas não souberam identifica-la, achando que fosse voz de anjos, trovões ou coisas assim. Existem tantas vozes que falam, que nos confunde em vez de nos ajudar a identificar o projeto divino. Por isso é preciso considerar a resposta que Jesus dá aos gregos que queriam ver Jesus para entender bem o sentido de colocar Deus como centro da vida interior. Colocar Deus no coração.

Se aqueles gregos queriam ver um “Jesus famoso”, ou um “Jesus milagreiro”, ou um “Jesus pregador”… tiveram uma bela decepção. Jesus fala que o compromisso com o plano divino é exigente, a ponto de ter que morrer para viver de outro modo, exige desapego da própria vida e, principalmente, seu seguimento, assumindo a mentalidade do Evangelho.

Quer dizer: viver de acordo com o Evangelho é um compromisso exigente só realizável por quem tem o Espírito de Deus dentro de si e o Espírito divino toma conta do coração quando se cultiva com a vida interior saudavelmente cristã e evangelizada.

 

IV. - Comentários adicionais sobre Van Gogh,  Millet  e "O semeador ao por do sol"


Quando Van Gogh começou a aprender as técnicas da pintura, em agosto de 1880 ele já pedia a seu irmão Theo para lhe mandar algumas gravuras dos trabalhos no campo desenhados por Millet. Através dessas imagens, Vincent aprendeu a desenhar as figuras humanas em lápis. Ele apreciava em Millet o rigor e, especialmente, a ideologia do homem que ganha o pão com o suor do seu rosto. Em Millet, ele encontra os valores cristãos queridos ao seu coração, humildade e compaixão.

Na figura do semeador de Millet, Van Gogh via uma referência a parábola de Cristo nos evangelhos de Marcos, Mateus e Lucas. Aquele que semeia vários tipos de solo.

Vincent, que passou vários anos de sua vida como estudante de teologia e evngelizador, considerava sua arte como uma forma de ministério. Para Vincent, o motivo do semeador também era uma espécie de autorretrato. O artista o semeador e nós o solo.

Van Gogh, reproduziu vários quadros de Millet, inclusive O Semeador, na forma original que Millet os representava. Entretanto nesse quadro de "O semeador com o por do sol" ele modifica radicalmente a interpretação.


  
 quadro de Millet mostrando o semeador ao pôr do Sol
Millet 1850

    
        

 quadro com um cópia mias preto e branca de Van Gogh do semeador de Millet
Van Gogh 1881

   
        

 quadro com outra cópia de Van Gogh do semeador de Millet dessa vez  com camisa azul e céu esverdeado e campo azulado
Van Gogh 1889
           
 


O semeador com o  por do sol

Nessa pintura, item 2, Vincent parece se dirigir para o espectador e através do espectador. O semeador parece está descendo junto com suas sementes para dentro da terra. Ele é uma figura solitária que lembra a finitude e a morte. Ao mesmo tempo, a presença da árvore em primeiro plano lembra a ressurreição. Essa árvore que cresce ao lado do rio preenche o espaço com as evidencias de vida e crescimento.


Normalmente  os quadros de semeadores de Van Gogh são associados aos de Millet e às parábolas referentes aos vários tipos de solo. Esse diferentemente parece falar do Evangelho de João 12, "A menos que um grão de trigo caia na terra e morra, ele permanece apenas um único grão; mas se morre, tem muito fruto."

Parágrafos retirados do artigo do Dr. James Romaine que é Historiador de Arte pela New York City e é Associate Professor of Art History at Nyack College. Ele tem Mestrado e Doutorado em História da Arte. O seu artigo completo está na referência abaixo.

 

V. - Referências

 

Relação Quadro x Evangelho: https://www.loyolapress.com/our-catholic-faith/liturgical-year/lent/arts-and-faith-for-lent/cycle-b/arts-and-faith-week-5-of-lent-cycle-b  

https://historiacomgosto.blogspot.com.br/2016/06/van-gogh-e-suas-releituras-de-jean.html 

Semeando as sementes da fé, James Romaine: 
https://www.artway.eu/content.php?id=762&lang=en&action=show