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sexta-feira, 5 de maio de 2017

Mont Saint-Michel e sua Abadia, França

I. - O Monte Saint Michel


Vários séculos atrás, havia somente uma rocha de granito com uma espessa floresta  que periodicamente era engolida pelo mar. A diferença de altura entre as marés baixa e alta é em torno de 10 metros. A praia em si é completamente plana e a maré precisa de poucas horas até atingir o seu nível mais alto. Ela é tão rápida que parece um cavalo a galope e pode ser muito perigosa para as pessoas que estão pescando ou passeando na praia. Três rios saem da região: O Sée, o Selune e o Couesnon, sendo que o último define o limite entre a bretanha e a normandia.

Foi nesse cenário de terra, sol e mar que construiu-se a abadia de Sant Michel, um edifício religioso que chega a quase 150 metros de altura  no ponto mais alto do campanário. A parte da Abadia que foi acrescentada  à Igreja que já existia é também conhecida na França como "La Merveille" (A Maravilha).



Visão geral do Monte e da Abadia São Michel, foto de  Pixeljoy em shutterstock.com


II. - O Início da ocupação do Monte e a construção da primeira Igreja


Quando começou o declínio do império romano, a religião cristã passou a ser propagada na Europa. Os seguidores da nova religião, que acreditavam em Deus e no seu filho Jesus, começaram a percorrer toda a Europa. Para fugir daqueles que se entregavam aos prazeres, os homens santos, chamados de eremitas, viviam em grande pobreza em florestas, altas montanhas ou ilhas desertas. O Monte Saint Michel sem dúvida era um lugar ideal para a instalação de um  grupo de eremitas. 

O Arcanjo Miguel


A medida que o cristianismo ia se propagando na Europa, ao lado de Jesus Cristo, os arcanjos Miguel, Rafael e Gabriel também começaram a ser cultuados. De acordo com a Bíblia, quando o anjo caído quis se comparar com Deus, Miguel levantou-se e perguntou "Quem é como Deus ?". Ele foi designado então para liderar o exército divino na batalha contra o mal.

São Miguel Arcanjo,
Guido Reni, 1636
Em hebraico, Miguel significa "aquele que é similar a Deus" (mi-"quem", ka-"como", El-"deus"), o que é tradicionalmente interpretado como a pergunta retórica: "Quem como Deus?" (em latim: Quis ut Deus?), para a qual se espera uma resposta negativa e que implica que "ninguém" é como Deus. Assim, Miguel é reinterpretado como um símbolo de humildade perante Deus.

Na Bíblia Hebraica, Miguel é mencionado três vezes no Livro de Daniel, uma delas como um "grande príncipe que defende as crianças do seu povo". A idéia de Miguel como um advogado de defesa dos judeus se tornou tão prevalente que, a despeito da proibição rabínica contra se apelar aos anjos como intermediários entre Deus e seu povo, Miguel acabou tomando um lugar importante na liturgia judaica.

Em Apocalipse 12:7-9, Miguel lidera os exércitos de Deus contra as forças de Satã e seus anjos e os derrota durante a guerra no céu.

Na Epístola de Judas, Miguel é citado especificamente como "arcanjo". Os santuários cristãos em honra a Miguel começaram a aparecer no século IV, quando ele era percebido como um anjo de cura, e, com o tempo, como protetor e líder do exército de Deus contra as forças do mal. Já no século VI, a devoção a São Miguel já havia se espalhado tanto no oriente quanto no ocidente. Com o passar dos anos, as doutrinas sobre ele começaram a se diferenciar.

A Construção da Igreja e a dedicação ao Anjo Miguel


Google Maps, localização de Avranches e
Mont Saint Michel
A cidade de Avranches, que é muito próxima do Monte Saint Michel, no ano de 708 era dirigida pelo Bispo Aubert. Uma noite ele viu São Miguel em um sonho. O Arcanjo ordenou-lhe fazer do monte de pedra, que acabava de ser tomado pelo mar,  um lugar de oração em sua dedicação. Como o Bispo Albert não começava a construção, pois achava que era um sonho, o Arcanjo abriu um buraco em sua cabeça para fazer-lhe acreditar. Vários outros milagres foram ainda realizados, como um touro roubado que apareceu no topo da ilha, ...,.

O Bispo Albert decidiu atender os desejos do anjo e despachou para a Itália, Monte Gargano, mensageiros que de lá trouxeram algumas relíquias sagradas relativas a outras aparições do anjo. Quando eles retornaram Albert começou a construir um santuário na ilha, enquanto milagres para tornar possível a construção iam acontecendo como movimentos de pedras enormes, aparecimento de fonte de água potável, ...,.

Com o passar do tempo, o monte começou a ser conhecido como "Mont Saint Michel" e o Bispo Albert enviou alguns homens para lá viverem e permanecerem em oração à Deus e ao Arcanjo Miguel.


III. - Resumo Histórico


Consagração

A consagração da Igreja construída pelo Bispo Aubert se deu no dia 16 de outubro de 709.

Construção da Abadia

Mesmo com a construção da Igreja, todos os anos, os normandos e outros povos iam à regiçao e  saqueavam o povoado, a igreja em todos os seus pertences. Quando os normandos decidiram se estabelecer na região, um dos seus chefes, o Rolf le Marcheur, foi reconhecido pelo rei franco como o Duque da Normandia. Em troca  ele converteu-se ao Cristianismo junto com todos os seus soldados. Dali em diante passaram a proteger os monges que estavam a serviço de Deus.

Em 966, o Duque da Normandia não estando satisfeito com o comportamento dos padres do local,  expulsou-lhes de lá e trouxe  um grupo de monges beneditinos originários da região de Flandres. A igreja pré-românica foi construída antes do ano mil
Construção das áreas do Mosteiro

No século XI, a igreja da abadia românica foi fundada sobre um conjunto de criptas onde a rocha atinge o seu ápice, e os primeiros edifícios do mosteiro foram construídos contra a sua parede norte.

Fachada Clássica da Abadia, foto de Claireo em shutterstock.com


No século XII, os edifícios do mosteiro românico foram estendidos para o oeste e para o sul.


Expansão do Mosteiro e Construção em estilo gótico


No século XIII, uma doação pelo rei da França, Philip Augustus, após a sua conquista da Normandia, permitiu o início da construção gótica da "Merveille": dois edifícios de três andares  coroados pelo claustro e pelo refeitório.

No século XIV, a Guerra dos Cem Anos tornou necessário proteger a abadia por trás de um conjunto de construções militares, permitindo-lhe resistir a um cerco de 30 anos.

No século XV, a capela românica da igreja da abadia, danificada em 1421, foi substituída pela capela gótica Flamboyant.



 foto de: Gerard Koudenburg em shutterstock.com
Como Roma e São Tiago de Compostella, a abadia do Mont Saint-Michel foi um dos mais importantes lugares de peregrinação para o Ocidente Medieval. Por quase mil anos, homens, mulheres e crianças, andavam por estradas chamadas "caminhos para o paraíso", esperando a garantia da eternidade dada pelo Arcanjo do Juízo, aliviando todas as almas .


Período negro da Revolução Francesa

A Abadia foi transformada em prisão durante os dias da Revolução Francesa e os seus monges foram todos expulsos. Apesar do protesto de pessoas ilustres como Chateaubrient e Victor Hugo, a abadia permaneceu como prisão por 73 anos, até Outubro de 1863, quando ela retornou à sua finalidade sagrada. Já no final do seculo XIX ela precisou ser restaurada. 

A volta às origens

Com a celebração do milésimo aniversário do mosteiro, no ano de 1966 uma comunidade religiosa voltou ao que costumava ser as habitações da abadia, perpetuando oração e acolhimento como a vocação original deste lugar. Monges e freiras de "Les Fraternités Monastiques de Jérusalem" têm vindo a assegurar uma presença espiritual desde o ano de 2001.

Patrimônio Mundial

A UNESCO classificou o Mont Saint-Michel como uma herança mundial em 1979 e este ícone do turismo recebe mais de 2,5 milhões de visitantes por ano.


IV. - A Abadia

a) Porta do Rei (King's Gate)



foto de Jean Paul Gisserot
na Ed. Ouest France
Uma das maiores preocupações dos homens da idade média era fortificar a entrada das vilas e cidades para protegê-las do ataque de invasores. Três pesadas portas de acesso foram construídas no Mont Saint Michel, sendo a última delas a Porta do Rei (King's Gate), no lado sul ao lado da Torre do Rei. Os três  brasãos de armas, da Abadia, da Cidade e do Rei, foram adicionados ao portão. 

Os habitantes da cidade tinham que dar volta para poder ver a porta do Rei. 



b) Escada Interna

foto de Jean Paul Gisserot
na Ed. Ouest France
Na idade média, a entrada dentro de uma cidade ou abadia envolvia grandes cerimônias para os visitantes poderosos / famosos. Era um ato sagrado preservado pelas tradições. No caso do Mont Saint-Michel, o rei era recebido nas portas da cidade, o arcebispo de Rouen no topo da cidade e o bispo de Avrancher na entrada da abadia. A cerimônia de entrada era um reflexo da hierarquia. A arquitetura do monte e da abadia tinha que possibilitar uma maneira dos cortejos fazerem a subida ao topo com pequeno esforço.

A escadaria também tinha uma função defensiva. Para chegar à Igreja os invasores tinham que passar pela escadaria que ficava estrangulada entre duas paredes onde os Monjes e/ou soldados podiam se defender.

c) Claustro e Vista da Igreja


Esse era o lugar para a conversação e meditação. Fica no último piso da construção e era reservado apenas para os Monjes. O jardim, que fica entre o céu e o mar, é ladeado pelos corredores. O Claustro fica no mesmo nível do refeitório e da Igreja.


Claustro e Igreja, foto de: Jose Ignacio Soto em shutterstock.com

Igreja - Nave Romana e Nave Gótica


foto de Hervé Champollion,
Ed. Ouest France

Construída a partir do século X, a abadia beneditina abunda em maravilhas arquitetônicas construídas nos estilos carolíngio, românico e gótico. O Mont Saint-Michel pode, nesse sentido, ser considerado como uma mega-estrutura uma vez que tudo se sobrepõe em diferentes edifícios atribuídos às atividades de um mosteiro beneditino em um pequeno espaço. A altura do primeiro estágio na entrada da Abadia é de 50,30 m acima do nível médio do mar. O piso da igreja, claustro e o refeitório fica a uma altura de 78,60 m .

A nova igreja no estilo romano foi iniciada em 1060 no cume da rocha. Mal consolidadas, três travessas da nave romana caíram em 1103 e foram reconstruídas entre 1115 e 1125. Em 1421 foi a vez do côro romanico entrar em colapso. Ele foi reconstruído em estilo gótico entre 1466 e 1533 (com uma pausa entre 1450 e 1499).

Nave gótica - Construída a partir do século XV.


Nave gótica, foto de  Jose Ignacio Soto em shutterstock.com


Capela Nossa Senhora das Trinta Velas e Cripta Saint Martin

Mostramos aqui a Capela de Nossa Senhora das Trinta Velas e a Cripta de Saint Martin.

Capela de Nossa Senhora, foto de milosk50 / Shutterstock.com
Cripta de São Martins, foto de Jordiferrer em wikimedia commons



V. - Edifícios Monásticos


Desenho original de M. Éd. Corroyer 
A abadia do Mont Saint-Michel é dividida em duas partes: A Igreja  e "La Merveille" (A Maravilha). A Maravilha era onde os monges viviam. Ela fica na face norte, com vista para o mar. É também a parte gótica. Ela foi construída durante vinte e cinco anos.

A construção da Merveille (maravilha), inclue o claustro, o refeitório, sala de trabalho e capelas, constituindo-se um exemplo perfeito de integração funcional. O conjunto apoia-se na encosta da rocha e consiste de dois corpos de edifício de três andares.



Refeitório, foto de Kirakkuru em wikimedia commons
Sala de Leitura / Trabalho, foto de: Gerard Koudenburg em shutterstock.com

Paredes externas



Entrada externa, foto de Jean Paul Gisserot na Ed. Ouest France
Rampa de carga, foto de Pir6mon
em wikimedia commons


Cúpula com São Miguel Arcanjo


A abadia é dedicada ao Arcanjo Saint Michel e a estátua do Arcanjo, que coroa a flecha do telhado, foi recentemente restaurada. Ela pesa 520 quilos e foi recoberta de dourado com uma espessa folha de ouro. Sua cor durará provavelmente 50 anos. Um exemplar desta estátua se encontra no Museu d’Orsay, em Paris.



São Miguel Arcanjo, foto de Jean Paul Gisserot na Ed. Ouest France

Capela externa - Saint Aubert


Como sugerido pelo seu estilo românico elementar, a capela externa foi construída em torno do século XII, provavelmente por Robert de Torigni (abade entre 1154-1186), em homenagem a Saint Aubert.

Capela externa, foto de :Stefano_Valeri / Shutterstock.com


V. A Vila ao redor da Abadia e dentro das muralhas



Ao mesmo tempo que a abadia foi se desenvolvendo, uma vila cresceu ao redor desde a Idade Média. Ela floresceu no lado sudeste da rocha cercada por paredes que já existiam na guerra dos Cem Anos. Sempre houve atividades de negócios ​​acontecendo na aldeia. Hoje em dia temos hotéis, restaurantes, lojas de roupa, lembrancinhas, ...,. 

As ruas e construções no estilo medieval e com as características da Normandia  são uma atração à parte.

ruas da vila, foto de Rolf E. Staerk / shutterstock.com
ruas da vila, foto de Sergii Zinko / Shutterstock.com



Rua principal, foto de  Rolf E. Staerk em shutterstock.com


Comércio e vielas


foto de: Takashi Images / Shutterstock.com
rua estreita, foto de: saranya33 em shutterstock.com


VI. - Visão da parte externa e acesso ao Monte Michel


Visão da Praia com maré baixa
foto de: dvoevnore / Shutterstock.com
visão áerea, foto de Uwe Küchler em wikimedia.commons


VII. - Abadia à noite



 Abadia à noite, foto de Boris Stroujko em shuttersstock.com


VIII - Dicas de viagem


Como ir:

A maior parte das pessoas que visitam o Mont Saint Michel fazem um bate-volta no mesmo dia a partir de Paris. Eu fiz dessa maneira e pior,  por conta própria. A viagem é longa - são 3h45 de percurso (2h20 de TGV até Rennes, mais 1h20 de ônibus). Isso sem contar o tempo de conexão. O resultado é que cheguei em torno de 15:00h e já estava quase na hora de voltar. O vilarejo em torno da Abadia é muito charmoso, e poder ver o monte iluminado à noite e visitar o mosteiro calmamente é o mais aconselhável. Entretanto, se você não tiver esse dia adicional disponível, faça o bate-volta, mas nesse caso contrate um pacote pois as empresas já combinam os horários de trem com um ônibus especial.


IX - Referências 


Lucien Bély - Wonderful - Mont Saint Michel

Wikipedia francesa - Abadia do Monte Saint Michel
https://fr.wikipedia.org/wiki/Abbaye_du_Mont-Saint-Michel

Melhores Destinos://guia.melhoresdestinos.com.br/mont-saint-michel-178-2070-p.html