1. - Introdução
O Palácio do Catete, localizado no Rio de Janeiro, é uma edificação histórica de grande importância para o Brasil. Sua construção foi iniciada em 1858 e concluída em 1867. O projeto foi idealizado pelo arquiteto alemão Carl Friedrich Gustav Waehneldt a pedido do barão de Nova Friburgo, o comerciante de café e banqueiro Antônio Clemente Pinto, que foi seu proprietário inicial. O palácio foi construído para ser a residência urbana do barão e sua família e como forma de demonstração de sua riqueza.
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Museu da República - Palácio do Catete, Rio de Janeiro, foto Halley Pacheco de Oliveira em Wikipedia |
Antônio Clemente Pinto
Português de origem humilde, chegou ao Brasil em 1807 para trabalhar com seu tio no comércio. Atuou no tráfico de escravos, sendo responsável por trazer cerca de 3.000 pessoas escravizadas da África para o Brasil. Posteriormente, mudou para o ramo de mineração e plantio de café, sua principal fonte de riqueza.
Foi agraciado com o título de Barão em 1854, e Barão com honras de grandeza em 1860. Para se afirmar na corte imperial, mandou construir o palácio mais rico da cidade do Rio de Janeiro no seu tempo, na beira da rua que era passagem obrigatória para quem vinha dos aristocráticos bairros da zona zul em direção ao centro da cidade.
2. - Histórico de ocupações do Palácio
Inicialmente, o Palácio do Catete serviu como uma luxuosa residência particular, refletindo a riqueza e o poder do barão de Nova Friburgo. Após a morte do barão, o palácio passou por várias mudanças de propriedade. Em 1889, com a Proclamação da República, o palácio foi adquirido pelo governo brasileiro em 1896 para ser a sede do Poder Executivo, função que desempenhou até 1960, quando a capital do Brasil foi transferida para Brasília.
O Barão e a Baronesa de Nova Friburgo, Laura Clementina da Silva, não viveram muito tempo na nova casa, pois ele morreu em 1869 e ela, no ano seguinte.
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Barão e Baronesa Clemente Pinto, quadro de Emil Bausch, 1867 |
O quadro do Barão e da Baronesa se encontra na sala de entrada do Museu.
Ocupações do Palácio
- 1867 a 1870 Barão Antônio Clemente Residência particular
- 1870 a 1889 Antônio Clemente Pinto Filho Residência particular
- 1889 a 1896 Venda para Companhia Grande Hotel Inernacional
Quebra da Companhia em 1889
Conselheiro Francisco Paula Marink assume o bem
Em 1895 o imóvel é hipotecado ao Banco do Brasil
Em 1896 o imóvel é vendido à Fazenda Federal
O Palácio é reformado para sede da Presidência
- 1897 a 1960 O imóvel passa a ser a sede da Presidência da
República sendo ocupado por 18 presidentes da
República
- 1960 a 1966 Desocupação após a transferência do governo para
Brasília
- 1966 a ----- Museu da república - Museu História Política
Durante o período republicano, o Palácio do Catete foi o centro das decisões políticas do país, abrigando 18 presidentes da República. Cada sala do palácio tinha uma destinação específica, como salas de reuniões, gabinetes presidenciais e áreas de recepção. A Sala das Sessões, por exemplo, era utilizada para eventos oficiais e encontros diplomáticos.
Getúlio Vargas, um dos presidentes mais emblemáticos do Brasil, utilizou o Palácio do Catete como residência oficial e sede do governo durante seus mandatos. Foi no terceiro andar do palácio, em seu quarto, que Vargas cometeu suicídio em 24 de agosto de 1954. Acredita-se que a pressão política intensa e as crises enfrentadas durante seu governo, culminando com a perda de apoio militar e político, foram fatores que o levaram a essa trágica decisão.
Juscelino Kubitschek
Juscelino Kubitschek utilizou o Palácio do Catete como sede do governo durante os primeiros anos de seu mandato presidencial, de 1956 até a inauguração de Brasília em 21 de abril de 1960. Portanto, ele usou o palácio por cerca de quatro anos.
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Presidente Juscelino Kubischek em cerimônia no Palácio do Catete, foto Coleção Arquivo Nacional |
Prováveis razões para a transferência de Governo Rio==> Brasília
Integração Nacional: Uma das principais razões para a transferência da capital foi promover a integração do vasto território brasileiro. Localizada no Planalto Central, Brasília foi planejada para ajudar a desenvolver o interior do país, reduzindo a concentração populacional e econômica no litoral.
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Segurança Nacional: Havia também preocupações com a segurança nacional. Uma capital no interior seria menos vulnerável a ataques marítimos, uma preocupação estratégica durante a época.
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Desenvolvimento Econômico: A construção de Brasília fazia parte do Plano de Metas de Juscelino, que visava modernizar e industrializar o Brasil. A nova capital simbolizava o progresso e a capacidade do Brasil de realizar grandes obras de infraestrutura.
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Visão Futurista: Juscelino tinha uma visão de modernidade e inovação, e Brasília representava essa visão de um Brasil moderno e avançado.
3. - Os Ambientes do Palácio
a) Primeiro Andar
A entrada do Palácio se faz por um portão de ferro, fundido em Jlsenburg am Harz, em 1864. O Hall chama a atenção pela imponência da sequência de seis colunas de mármore que levam à escada principal. Construída em módulos pré-fabricados de ferro fundido, foi uma das primeiras a serem utilizadas no Brasil. Para seu assentamento foi contratado o serviço do arquiteto alemão Otto Henkel, em outubro de 1864.
Portas de Ferro (fotos HistoriacomGosto)
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Hall entrada, foto HistoriacomGosto |
Salão Ministerial
Na época do Barão de Friburgo, esse salão era usado para pequenas recepções informais, que podiam se estender rumo ao jardim graças à varanda que se abre para o pátio interno. No teto, uma composição retrata os personagens da mitologia grega Dionísio, deus do vinho e Ariadne.
Com a instalação da Presidência, o salão recebeu novos móveis e passou a ser chamado de Salão de Despachos e Conferências (posteriormente, Salão Ministerial) pois recebia as reuniões do presidente com ministros, políticos e representantes da sociedade civil. Nesse salão, o visitante pode ver a mesa de mogno usada nessas reuniões, com as pastas usadas pelo Presidente e pelos titulares dos Ministérios que existiam até 1960. (fonte:Museu da Republica)
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Salão Ministerial, foto de Halley Pacheco de Oliveira em wikipedia.com |
Jardins
Iniciada a construção do Palácio, o Barão de Nova Friburgo adquiriu novas terras, incorporando a área ao fundo do terreno e a aléia central do parque, onde já então havia as palmeiras existentes até hoje. Segundo alguns historiadores, tanto o jardim do Palácio quanto o do Palácio São Clemente, em Nova Friburgo, também de propriedade do Barão, teriam sido feitos pelo paisagista francês Auguste Marie Françoise Glaziou.
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Jardins aos fundos do Palácio, foto HistoriacomGosto |
b) Segundo Andar
Nesse andar, no chamado “piso nobre”, destinado a recepções e cerimônias (tanto na época do Barão quanto da Presidência da Republica), nota-se o luxo e a diversidade temática dos salões, cada um deles retratando, ainda, seu uso específico no período imperial. A riqueza e os esquemas decorativos dos salões mostram como a rica burguesia da época procurava demonstrar um poder social que se consolidava.
A escada principal já é um primor de beleza.
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Término da escada que leva ao 2 andar. foto HistoriacomGosto |
b.1) A Capela
A Capela era o local de recolhimento e oração dos moradores do Palácio. Ela apresenta o teto decorado por painéis reproduzindo a figura de apóstolos e duas telas, cópias das obras A Transfiguração, do italiano renascentista Raphael Sanzio, e Imaculada Conceição, do espanhol barroco Bartolomé Murillo. Para a instalação da Presidência da República, a decoração foi conservada, mas a sala teve sua utilização modificada. No período republicano, só foi usada como capela no casamento da filha do presidente Rodrigues Alves e no velório do presidente Afonso Pena.
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Capela privada, foto HistoriacomGosto |
b.2) Salão Francês
O Salão Francês, também chamado de Salão Azul, localizado entre a Capela e o Salão Nobre, servia de refúgio e apoio às recepções oferecidas no Palácio. Ele tem estilo Luiz XVI, como se vê nos ornatos do teto, nas molduras dos espelhos e nas sanefas. Mais tarde, as paredes receberam nova pintura com toques art-nouveau, adaptada à coloração pastel da sala.
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Salão Francês, foto HistoriacomGosto |
b.3) Salão Nobre
O Salão Nobre ou Salão de Baile relembra a vida social e o luxo da corte. Nele eram realizadas as principais recepções do Palácio. As pinturas verticais representam cenas mitológicas associadas à música e às artes, e, na parte superior das paredes, pinturas em semicírculo referem-se à vida de Apolo, deus da música e da poesia. A presença da música é notada, ainda, nas liras que aparecem no parquet do piso. O mobiliário e os espelhos biseautés foram adquiridos pelo Barão de Nova Friburgo na França.
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Salão Nobre, foto HistoriacomGosto |
Na época da Presidência, esse salão continuou sendo o espaço mais nobre, tendo recebido sobre as portas as Armas da República. Era da varanda deste salão que o Presidente se dirigia à multidão reunida do lado de fora do Palácio, em ocasiões especiais como a cerimônia de posse. Em 1938, o painel do teto foi refeito pelo pintor acadêmico brasileiro Armando Vianna
b.4) Salão Pompeano
Seguindo um tema da moda em meados do século XIX, as paredes do Salão Pompeano foram pintadas com figuras e alegorias inspiradas nos vestígios encontrados nas ruínas da cidade romana de Pompeia; o vermelho intenso evoca o vulcão Vesúvio que a soterrou. O mobiliário também foi adquirido pelo Barão de Nova Friburgo na França.
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Salão Pompeano, foto HistoriacomGosto |
b.5) Salão Veneziano
O Salão Veneziano (também chamado de Salão Amarelo) era usado como sala de visitas. Seu nome decorre do estilo do mobiliário, com móveis pesados e ricamente decorados. Nele há um lustre central em bronze e cristal, candelabros e grandes espelhos.
Na República, o salão foi usado como sala de música e para a realização de saraus.
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Salão Veneziano, foto Historiacomgosto |
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Magnífico teto do salão veneziano, foto HistoriacomGosto |
b.6) Salão Mourisco
O Salão Mourisco é assim chamado pela decoração de cunho orientalista, em estilo mudéjar, característico da presença árabe na Península Ibérica e no norte da África. Era um espaço destinado ao lazer dos homens, para jogar e fumar.
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Salão Mourisco, foto HistoriacomGosto |
b.7) Salão de Banquetes
O Salão de Banquetes tem sua função original definida pela própria decoração. No teto do salão veem-se estuques com frutos e pinturas de naturezas mortas nos arcos. O painel central é uma cópia adaptada da obra "Diana, a caçadora", do italiano Domenichino, cujo original está na Galeria Borghese. Durante o último mandato de Getúlio Vargas no Catete, foi usado também como espaço para reuniões ministeriais.
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Salão de Banquetes, foto HistoriacomGosto |
c) Terceiro Andar
O último andar era destinado aos aposentos privados da família do barão de Nova Friburgo e, mais tarde, das famílias dos presidentes quando estes decidiam habitar o Palácio. Para a instalação da Presidência, novos móveis e objetos funcionais e decorativos foram encomendados. Com o passar do tempo, o mobiliário e a decoração foram sendo alterados de acordo com as necessidades e gostos de cada morador. A galeria circunda todo o centro do prédio e possibilita uma visão mais aproximada da claraboia composta por 266 peças e decorada por um vitral.
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Quarto Getúlio, foto HistoriacomGosto |
Ficava neste andar o quarto onde se suicidou Getúlio Vargas, em 24 de agosto de 1954. Logo após a morte do ex-presidente, a mobília foi transferida do Palácio do Catete para uma sala do Museu Histórico Nacional, na qual se buscou recriar o cenário onde ocorreu o episódio. Com a inauguração do Museu da República, o quarto foi novamente montado no Palácio do Catete. Nele são expostos o pijama usado por Getúlio naquela madrugada, bem como o revólver e a bala utilizados na ocasião.
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Pijama e arma de Getúlio quando cometeu suícidio, foto HistoriacomGosto |
4) Referências
a) Wikipedia - Palácio do Catete e Museu da República
b) Museu da República - site oficial