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terça-feira, 5 de novembro de 2024

A história dos Jesuítas no Mundo

 1. - Introdução


A Ordem dos Jesuítas, oficialmente conhecida como Companhia de Jesus, foi fundada em 1534 por Inácio de Loyola, um ex-soldado espanhol que se tornou sacerdote. O contexto da época era marcado pela Reforma Protestante, que desafiava a hegemonia da Igreja Católica na Europa. 

Aprovação do Papa à ordem dos Jesuitas



A fundação da ordem foi motivada pelo desejo de Inácio de Loyola de fortalecer a fé católica e combater a disseminação do protestantismo, através de uma renovação espiritual e educacional dentro da Igreja. A Companhia de Jesus foi aprovada pelo Papa Paulo III em 1540.

2 - A Conversão de Inácio de Loyola



A conversão espiritual de Santo Inácio de Loyola é uma história profunda e inspiradora de transformação pessoal e dedicação religiosa. Inácio, nascido em 1491 no País Basco, Espanha, passou de um cavaleiro vaidoso e mundano a um dos maiores líderes espirituais da Igreja Católica.

Primeiros anos 

Inácio, inicialmente chamado Iñigo López de Loyola, nasceu em uma família nobre e foi educado para seguir uma carreira militar. Sua vida era marcada por aspirações de glória e honra típicas de um cavaleiro do século XVI. Ele se alistou no exército de Navarra, lutando ao lado das forças espanholas contra os franceses. Era conhecido por seu espírito destemido e desejo de reconhecimento.

Ferimento (1512) e Reflexão

Durante a defesa do castelo de Pamplona, Inácio foi gravemente ferido por um tiro de canhão que quebrou uma perna e feriu a outra. Este foi o ponto de virada em sua vida, forçando-o a um longo período de recuperação.

Recuperação Inácio Loyola

Durante sua convalescença, na casa da família em Loyola, ele requisitou livros de cavalaria para se entreter, mas havia apenas textos religiosos disponíveis, como a "Vida de Cristo" e "Vidas dos Santos".

A leitura dessas obras gerou em Inácio uma introspecção profunda. Ele começou a sentir uma insatisfação com sua vida anterior e ficou impressionado com as realizações dos santos, desejando superar suas façanhas espirituais.

Transformação Espiritual

Inácio começou a discernir entre as consolações e desolações espirituais, um conceito que se tornaria central em seus "Exercícios Espirituais". Ele percebeu que os pensamentos de servir a Deus lhe traziam paz duradoura, ao contrário dos pensamentos de glória mundana.

Decidiu abandonar a busca por glórias terrenas e se dedicar à vida espiritual, comprometendo-se a seguir o exemplo de Cristo e dos santos.


Em 1522, Inácio deixou Loyola e fez uma peregrinação ao Mosteiro de Montserrat, onde deixou suas armas militares em um gesto simbólico de renúncia à vida anterior. Depois, passou um tempo em Manresa, onde viveu em austeridade extrema e passou por experiências místicas intensas, aprofundando seu entendimento espiritual e compondo os rascunhos iniciais dos "Exercícios Espirituais".

Peregrinação à Jerusalem

Motivado por um desejo profundo de seguir os passos de Cristo de maneira literal, Inácio decidiu realizar uma peregrinação à Terra Santa. Ele saiu de Barcelona no início de 1523. Viajou primeiro para a Itália, onde embarcou num navio rumo ao Oriente Médio. A viagem de barco foi longa e perigosa, mas Inácio finalmente chegou à Terra Santa, desembarcando em Jafa e seguindo para Jerusalém.

A intenção de Inácio era permanecer em Jerusalém para converter infiéis e viver onde Cristo viveu. Ele desejava experimentar de forma tangível e espiritual os lugares sagrados associados à vida de Jesus. Devido a instabilidade política da região e aos perigos locais, Inácio foi aconselhado pelos Franciscanos de lá a retornar para a Europa, e portanto ficou apenas três semanas no local. 

Prisões em Alcalá (1526) e Salamanca (1527)

Após seu retorno da Terra Santa, Inácio começou a estudar e, simultaneamente, a pregar e conduzir exercícios espirituais. As autoridades suspeitaram de heresia, pois ele não tinha formação teológica formal, e o fato de ensinar sem ser sacerdote levantou suspeitas de que ele poderia estar disseminando ideias heréticas.

Em Alcalá, Inácio ficou preso por cerca de 42 dias. Após ser interrogado, foi libertado com a condição de não mais ensinar até completar seus estudos teológicos. Em Salamanca ele Ficou preso por cerca de 22 dias. Neste caso, também foi absolvido, mas as autoridades exigiram que ele parasse de pregar até obter a educação teológica formal.


3. Fundação da Companhia de Jesus


Inácio percebeu a necessidade de educação formal para servir melhor a Deus e iniciou seus estudos em Barcelona (gramática com aulas particulares). Em Alcalá e Salamanca ele começou os estudos de teologia mas teve alguns problemas, já relatados, com as autoridades eclesiásticas devido as suas pregações. Finalmente reconheceu que precisava uma formação mais completa em teologia e seria adequado ter um período sem suspeitas de heresia. Por isso decidiu ir para Paris, que era considerado o centro acadêmico da Europa na época, onde se formou em teologia.

Em Paris, reuniu um grupo de seguidores, incluindo Francisco Xavier e Pedro Fabro, com quem fundou a Companhia de Jesus (Jesuítas) em 1534 com o objetivo de defender e propagar a fé católica.

A Companhia de Jesus foi aprovada oficialmente pelo Papa Paulo III em 1540, e Inácio tornou-se seu primeiro Superior Geral.

Papa Paulo III, aprovando a Companhia de Jesus

Nos primeiros anos, a ordem se destacou pela sua disciplina militar e dedicação à educação e evangelização. Os jesuítas rapidamente se tornaram conhecidos por sua formação rigorosa e por estabelecerem escolas e universidades por toda a Europa, com o objetivo de educar tanto clérigos quanto leigos.

Obs: Na realidade o grupo de fundadores da Companhia de Jesus era constituído de sete pessoas, a saber: Inácio de Loyola, Francisco Xavier, Pedro Fabro, Diego Laínez, Alfonso Salmerón, Nicolau de Bobadilla, Simão Rodrigues.


4.0 - Carisma Inicial e Aperfeiçoamento


O carisma do ensino e da evangelização é um elemento central da Companhia de Jesus desde a sua fundação, mas foi se desenvolvendo e ampliando ao longo do tempo.

Desde o início, Inácio de Loyola e seus companheiros fundadores tinham um forte compromisso com a evangelização. O objetivo inicial da ordem era defender e propagar a fé católica em resposta aos desafios da Reforma Protestante. A educação rapidamente se tornou um meio crucial para alcançar esse objetivo, pois os jesuítas reconheceram que a formação intelectual era essencial para a evangelização eficaz e para a reforma interna da Igreja.


Jesuitas no Brasil interagindo com os indígenas

Desenvolvimento do Ensino

Logo após a fundação, a Companhia de Jesus começou a se concentrar na educação formal. A primeira escola jesuíta foi estabelecida em Messina, na Sicília, em 1548. A partir daí, a rede de instituições educacionais cresceu rapidamente, com escolas e universidades surgindo em toda a Europa e, eventualmente, em outras partes do mundo. Os jesuítas se tornaram conhecidos por seu rigor acadêmico e por oferecerem uma educação abrangente que incluía não apenas disciplinas religiosas, mas também ciências, artes e humanidades.

Escola Jesuíta no Brasil

Expansão Missionária

O carisma missionário dos jesuítas também se expandiu ao longo do tempo. Missionários jesuítas foram enviados para diversas partes do mundo, incluindo a Ásia, África e Américas. Eles se destacaram por suas abordagens inovadoras de evangelização, muitas vezes aprendendo as línguas locais e respeitando as culturas indígenas, ao mesmo tempo que promoviam a fé católica.


Jesuíta Johann Adam Schall von Bell

Retrato  do  jesuíta alemão  Johann Adam Schall von Bell  (1592–1666),
missionário na China (dinastias Ming e Qing) de  1622 até sua morte em 1666.

Consolidação do Carisma


O carisma da evangelização e educação missionária dos jesuítas levou à criação de inúmeras missões em todo o mundo. Eles desempenharam um papel crucial na Contra-Reforma, ajudando a revitalizar a Igreja Católica em várias regiões. As  missões na Ásia, África e nas Américas,  foram fundamentais na educação e conversão de povos indígenas.

Igreja Jesuíta em Lucerna, Suíça

Obs: Na Suíça os jesuítas ajudaram a diminuir a influencia luterana. Um exemplo é Lucerna que permaneceu católica e tem uma linda Igreja em funcionamento. Na época da contrareforma, ao lado da Igreja funcionava o colégio Jesuíta, destacando o papel educacional da ordem.

Com o tempo, o carisma da educação e da evangelização se consolidou como uma marca distintiva dos jesuítas. A ordem continuou a adaptar suas abordagens educacionais e missionárias às necessidades dos tempos e dos lugares onde operava, mantendo sempre o compromisso com a formação integral e a justiça social.

Portanto, embora o ensino e a evangelização tenham sido parte do carisma jesuíta desde o início, eles foram desenvolvidos e enriquecidos ao longo dos séculos, tornando-se pilares fundamentais da identidade e missão da Companhia de Jesus.


Inácio e as Missões

Inácio de Loyola, o fundador da Companhia de Jesus, não participou diretamente de missões fora da Europa. Após sua conversão espiritual, ele se concentrou principalmente na fundação e organização da ordem em Roma, onde dedicou seus esforços à formação dos primeiros jesuítas e ao estabelecimento das bases administrativas e espirituais da Companhia de Jesus.


5. - Expansão Pós-Fundador


Após a morte de Inácio de Loyola em 1556, a ordem continuou a expandir-se sob a liderança de sucessores como Francisco Xavier e Pedro Canísio. Os jesuítas se tornaram influentes em cortes europeias e ganharam a confiança de muitos monarcas, o que facilitou a expansão de suas atividades educacionais e missionárias.

São Francisco Xavier, o evangelizador das Indias

São Francisco Xavier: Viveu apenas quarenta e seis anos, dos quais onze em missão. Por este motivo, São Francisco Xavier pode ser considerado um verdadeiro "gigante da evangelização". 

Em sua existência breve, mas admirável pela sua fecundidade missionária, este religioso espanhol conseguiu levar o Evangelho ao Extremo Oriente, adaptando-o, com sabedoria, ao caráter e à linguagem de populações muito diferentes entre si.  

Ao consagrar-se a Deus e ao apostolado, Francisco partiu, no dia 7 de abril de 1541, para as Índias, a pedido do Papa Paulo III, que queria a evangelização daquelas terras, na época, conquistadas pelos portugueses.

Chegando lá, desde então, o seu ministério foi dedicar-se precisamente à assistência dos últimos e excluídos da sociedade: os doentes, os prisioneiros, os escravos, os menores abandonados.

Para as crianças, de modo particular, Francisco inventou um novo método de ensino do Catecismo: pegava-as nas ruas tocando um sininho; depois, ao reuni-las na igreja, traduziu os princípios da Doutrina católica em versos e os cantava com as crianças, facilitando-lhes a aprendizagem.

6. - Construção da Igreja de Jesus (Chiesa del Gesú)


A Igreja de Jesus, amplamente conhecida apenas como Gesù, é a igreja mãe da Companhia de Jesus. Sua fachada é "a primeira fachada verdadeiramente barroca" e introduziu o estilo barroco na arquitetura. A igreja serviu de modelo para inúmeras igrejas jesuítas no mundo inteiro, especialmente nas Américas. É uma das igrejas regionais do Lácio em Roma.

Igreja de Jesus, Roma, foto wikipedia

Concebida inicialmente em 1551 por Santo Inácio de Loyola, fundador da ordem, ativo durante a Reforma Protestante e a na subsequente Contrarreforma, Gesù foi, e ainda continua sendo, a sede do superior-geral da Companhia de Jesus.  


Apoteose de Santo Inácio, capela Sto Inácio,
Giovanne Batista Gauli, 1639-1708


7. - Expulsão e Supressão


Marquês de Pombal
No século XVIII, a ordem enfrentou resistência devido à sua influência política e econômica. Em 1759, os jesuítas foram expulsos do Brasil e de outras colônias portuguesas por ordem do Marquês de Pombal, que via a ordem como uma ameaça ao poder real. A pressão sobre a Companhia de Jesus aumentou e, em 1773, o Papa Clemente XIV suprimiu a ordem em todo o mundo, devido a pressões políticas de várias monarquias europeias.



8. - Sobrevivência e Restauração

Apesar da supressão, a ordem sobreviveu em algumas regiões, como a Rússia, onde a supressão papal não foi reconhecida. Em 1814, a ordem foi oficialmente restaurada pelo Papa Pio VII, que reconheceu a necessidade de sua contribuição educacional e espiritual.


9. - Próximas publicações 

A seguir vamos publicar uma postagem específica sobre os Jesuítas no Brasil


10. - Referências

Wikipedia - Jesuitas, Santo Inácio de Loyola, São Francisco Xavier

Site oficial: Jesuitas worldwide - www.jesuits.org

Site oficial: https://jesuitasbrasil.org.br/

ChatGpt - Pesquisas sobre Inácio de Loyola e Jesuítas

Livro: Exercícios Espirituais - Santo Inácio de Loyola

segunda-feira, 21 de outubro de 2024

Palácio do Catete / Museu da República - Um Tesouro Histórico de Beleza e Significado na História do Brasil

 1. - Introdução


O Palácio do Catete, localizado no Rio de Janeiro, é uma edificação histórica de grande importância para o Brasil. Sua construção foi iniciada em 1858 e concluída em 1867. O projeto foi idealizado pelo arquiteto alemão Carl Friedrich Gustav Waehneldt a pedido do barão de Nova Friburgo, o comerciante de café e banqueiro Antônio Clemente Pinto, que foi seu proprietário inicial. O palácio foi construído para ser a residência urbana do barão e sua família e como forma de demonstração de sua riqueza.


Museu da República - Palácio do Catete, Rio de Janeiro,
foto Halley Pacheco de Oliveira em Wikipedia

Antônio Clemente Pinto

Português de origem humilde, chegou ao Brasil em 1807 para trabalhar com seu tio no comércio. Atuou no tráfico de escravos, sendo responsável por trazer cerca de 3.000 pessoas escravizadas da África para o Brasil. Posteriormente, mudou para o ramo de mineração e plantio de café, sua principal fonte de riqueza. 

Foi agraciado com o título de Barão em 1854, e Barão com honras de grandeza em 1860. Para se afirmar na corte imperial, mandou construir o palácio mais rico da cidade do Rio de Janeiro no seu tempo, na beira da rua que era passagem obrigatória para quem vinha dos aristocráticos bairros da zona zul em direção ao centro da cidade.


2. - Histórico de ocupações do Palácio

Inicialmente, o Palácio do Catete serviu como uma luxuosa residência particular, refletindo a riqueza e o poder do barão de Nova Friburgo. Após a morte do barão, o palácio passou por várias mudanças de propriedade. Em 1889, com a Proclamação da República, o palácio foi adquirido pelo governo brasileiro em 1896 para ser a sede do Poder Executivo, função que desempenhou até 1960, quando a capital do Brasil foi transferida para Brasília.

O Barão e a Baronesa de Nova Friburgo, Laura Clementina da Silva, não viveram muito tempo na nova casa, pois ele morreu em 1869 e ela, no ano seguinte.

Barão e Baronesa Clemente Pinto,
quadro de Emil Bausch, 1867

O quadro do Barão e da Baronesa se encontra na sala de entrada do Museu.

Ocupações do Palácio


-  1867 a 1870       Barão Antônio Clemente        Residência particular                 

-  1870 a 1889       Antônio Clemente Pinto Filho  Residência particular

-  1889 a 1896       Venda para Companhia Grande Hotel Inernacional

                             Quebra da Companhia em 1889

                             Conselheiro Francisco Paula Marink assume o bem

                             Em 1895 o imóvel é hipotecado ao Banco do Brasil

                             Em 1896 o imóvel é vendido à Fazenda Federal

                             O Palácio é reformado para sede da Presidência

- 1897 a 1960        O imóvel passa a ser a sede da Presidência da

                             República sendo ocupado por 18 presidentes da

                             República  

- 1960 a 1966         Desocupação após a transferência do governo para

                             Brasília

- 1966 a  -----         Museu da república            - Museu História Política


Durante o período republicano, o Palácio do Catete foi o centro das decisões políticas do país, abrigando 18 presidentes da República. Cada sala do palácio tinha uma destinação específica, como salas de reuniões, gabinetes presidenciais e áreas de recepção. A Sala das Sessões, por exemplo, era utilizada para eventos oficiais e encontros diplomáticos.

Getúlio Vargas, um dos presidentes mais emblemáticos do Brasil, utilizou o Palácio do Catete como residência oficial e sede do governo durante seus mandatos. Foi no terceiro andar do palácio, em seu quarto, que Vargas cometeu suicídio em 24 de agosto de 1954. Acredita-se que a pressão política intensa e as crises enfrentadas durante seu governo, culminando com a perda de apoio militar e político, foram fatores que o levaram a essa trágica decisão.

Juscelino Kubitschek

Juscelino Kubitschek utilizou o Palácio do Catete como sede do governo durante os primeiros anos de seu mandato presidencial, de 1956 até a inauguração de Brasília em 21 de abril de 1960. Portanto, ele usou o palácio por cerca de quatro anos.

Presidente Juscelino Kubischek em cerimônia no Palácio do Catete,
foto Coleção Arquivo Nacional


Prováveis razões para a transferência de Governo Rio==> Brasília

  1. Integração Nacional: Uma das principais razões para a transferência da capital foi promover a integração do vasto território brasileiro. Localizada no Planalto Central, Brasília foi planejada para ajudar a desenvolver o interior do país, reduzindo a concentração populacional e econômica no litoral.

  2. Segurança Nacional: Havia também preocupações com a segurança nacional. Uma capital no interior seria menos vulnerável a ataques marítimos, uma preocupação estratégica durante a época.

  3. Desenvolvimento Econômico: A construção de Brasília fazia parte do Plano de Metas de Juscelino, que visava modernizar e industrializar o Brasil. A nova capital simbolizava o progresso e a capacidade do Brasil de realizar grandes obras de infraestrutura.

  4. Visão Futurista: Juscelino tinha uma visão de modernidade e inovação, e Brasília representava essa visão de um Brasil moderno e avançado.


3. - Os Ambientes do Palácio


a) Primeiro Andar



A entrada do Palácio se faz por um portão de ferro, fundido em Jlsenburg am Harz, em 1864. O Hall chama a atenção pela imponência da sequência de seis colunas de mármore que levam à escada principal. Construída em módulos pré-fabricados de ferro fundido, foi uma das primeiras a serem utilizadas no Brasil. Para seu assentamento foi contratado o serviço do arquiteto alemão Otto Henkel, em outubro de 1864.

Portas de Ferro (fotos HistoriacomGosto)


Hall entrada, foto HistoriacomGosto

               
Salão Ministerial                                

Na época do Barão de Friburgo, esse salão era usado para pequenas recepções informais, que podiam se estender rumo ao jardim graças à varanda que se abre para o pátio interno. No teto, uma composição retrata os personagens da mitologia grega Dionísio, deus do vinho e Ariadne.

Com a instalação da Presidência, o salão recebeu novos móveis e passou a ser chamado de Salão de Despachos e Conferências (posteriormente, Salão Ministerial) pois recebia as reuniões do presidente com ministros, políticos e representantes da sociedade civil. Nesse salão, o visitante pode ver a mesa de mogno usada nessas reuniões, com as pastas usadas pelo Presidente e pelos titulares dos Ministérios que existiam até 1960. (fonte:Museu da Republica)
Salão Ministerial, foto de Halley Pacheco de Oliveira em wikipedia.com

Jardins

Iniciada a construção do Palácio, o Barão de Nova Friburgo adquiriu novas terras, incorporando a área ao fundo do terreno e a aléia central do parque, onde já então havia as palmeiras existentes até hoje. Segundo alguns historiadores, tanto o jardim do Palácio quanto o do Palácio São Clemente, em Nova Friburgo, também de propriedade do Barão, teriam sido feitos pelo paisagista francês Auguste Marie Françoise Glaziou.


Jardins aos fundos do Palácio, foto HistoriacomGosto


b) Segundo Andar


Nesse andar, no chamado “piso nobre”, destinado a recepções e cerimônias (tanto na época do Barão quanto da Presidência da Republica), nota-se o luxo e a diversidade temática dos salões, cada um deles retratando, ainda, seu uso específico no período imperial. A riqueza e os esquemas decorativos dos salões mostram como a rica burguesia da época procurava demonstrar um poder social que se consolidava.

A escada principal já é um primor de beleza.

Término da escada que leva ao 2 andar. foto HistoriacomGosto




b.1) A Capela


A Capela era o local de recolhimento e oração dos moradores do Palácio. Ela apresenta o teto decorado por painéis reproduzindo a figura de apóstolos e duas telas, cópias das obras A Transfiguração, do italiano renascentista Raphael Sanzio, e Imaculada Conceição, do espanhol barroco Bartolomé Murillo. Para a instalação da Presidência da República, a decoração foi conservada, mas a sala teve sua utilização modificada. No período republicano, só foi usada como capela no casamento da filha do presidente Rodrigues Alves e no velório do presidente Afonso Pena.


Capela privada, foto HistoriacomGosto



b.2) Salão Francês


O Salão Francês, também chamado de Salão Azul, localizado entre a Capela e o Salão Nobre, servia de refúgio e apoio às recepções oferecidas no Palácio. Ele tem estilo Luiz XVI, como se vê nos ornatos do teto, nas molduras dos espelhos e nas sanefas. Mais tarde, as paredes receberam nova pintura com toques art-nouveau, adaptada à coloração pastel da sala.


Salão Francês, foto HistoriacomGosto




b.3) Salão Nobre


O Salão Nobre ou Salão de Baile relembra a vida social e o luxo da corte. Nele eram realizadas as principais recepções do Palácio. As pinturas verticais representam cenas mitológicas associadas à música e às artes, e, na parte superior das paredes, pinturas em semicírculo referem-se à vida de Apolo, deus da música e da poesia. A presença da música é notada, ainda, nas liras que aparecem no parquet do piso. O mobiliário e os espelhos biseautés foram adquiridos pelo Barão de Nova Friburgo na França. 


Salão Nobre, foto HistoriacomGosto


Na época da Presidência, esse salão continuou sendo o espaço mais nobre, tendo recebido sobre as portas as Armas da República. Era da varanda deste salão que o Presidente se dirigia à multidão reunida do lado de fora do Palácio, em ocasiões especiais como a cerimônia de posse. Em 1938, o painel do teto foi refeito pelo pintor acadêmico brasileiro Armando Vianna

b.4) Salão Pompeano

Seguindo um tema da moda em meados do século XIX, as paredes do Salão Pompeano foram pintadas com figuras e alegorias inspiradas nos vestígios encontrados nas ruínas da cidade romana de Pompeia; o vermelho intenso evoca o vulcão Vesúvio que a soterrou. O mobiliário também foi adquirido pelo Barão de Nova Friburgo na França.


Salão Pompeano, foto HistoriacomGosto




b.5) Salão Veneziano


O Salão Veneziano (também chamado de Salão Amarelo) era usado como sala de visitas. Seu nome decorre do estilo do mobiliário, com móveis pesados e ricamente decorados. Nele há um lustre central em bronze e cristal, candelabros e grandes espelhos.

Na República, o salão foi usado como sala de música e para a realização de saraus.

Salão Veneziano, foto Historiacomgosto


Magnífico teto do salão veneziano,
foto HistoriacomGosto




b.6) Salão Mourisco

O Salão Mourisco é assim chamado pela decoração de cunho orientalista, em estilo mudéjar, característico da presença árabe na Península Ibérica e no norte da África. Era um espaço destinado ao lazer dos homens, para jogar e fumar.


Salão Mourisco, foto HistoriacomGosto
                                                           




b.7) Salão de Banquetes


O Salão de Banquetes tem sua função original definida pela própria decoração. No teto do salão veem-se estuques com frutos e pinturas de naturezas mortas nos arcos. O painel central é uma cópia adaptada da obra "Diana, a caçadora", do italiano Domenichino, cujo original está na Galeria Borghese. Durante o último mandato de Getúlio Vargas no Catete, foi usado também como espaço para reuniões ministeriais.


Salão de Banquetes, foto HistoriacomGosto


c) Terceiro Andar


O último andar era destinado aos aposentos privados da família do barão de Nova Friburgo e, mais tarde, das famílias dos presidentes quando estes decidiam habitar o Palácio. Para a instalação da Presidência, novos móveis e objetos funcionais e decorativos foram encomendados. Com o passar do tempo, o mobiliário e a decoração foram sendo alterados de acordo com as necessidades e gostos de cada morador. A galeria circunda todo o centro do prédio e possibilita uma visão mais aproximada da claraboia composta por 266 peças e decorada por um vitral.

Quarto Getúlio, foto HistoriacomGosto



Ficava neste andar o quarto onde se suicidou Getúlio Vargas, em 24 de agosto de 1954. Logo após a morte do ex-presidente, a mobília foi transferida do Palácio do Catete para uma sala do Museu Histórico Nacional, na qual se buscou recriar o cenário onde ocorreu o episódio. Com a inauguração do Museu da República, o quarto foi novamente montado no Palácio do Catete. Nele são expostos o pijama usado p
or Getúlio naquela madrugada, bem como o revólver e a bala utilizados na ocasião.


Pijama e arma de Getúlio quando cometeu suícidio,
foto HistoriacomGosto


4) Referências


a) Wikipedia - Palácio do Catete e Museu da República

b) Museu da República - site oficial




quarta-feira, 16 de outubro de 2024

Siracusa, berço da civilização grega na Itália II - períodos romano ao atual

1. Introdução


Como foi explicado na primeira postagem, Siracusa, é uma cidade muito rica em história e cultura, que se localiza na costa sudeste da Sicília. Ela é um  testemunho das civilizações que se sucederam no Mediterrâneo. Fundada por colonos gregos em 734 a.C., tornou-se uma das cidades-estado mais influentes da Grécia Antiga. Siracusa floresceu durante o período da Grécia Clássica. Posteriormente, ao longo dos séculos, Siracusa foi palco de inúmeros eventos históricos, sob o domínio de romanos, bizantinos, árabes e normandos, cada um deixando sua marca indelével na cidade.

Vista da área do Porto de Siracusa, foto de © Alexsalcedo | Dreamstime.com


No post anterior exploramos apenas o período grego que foi o mais rico da história de Siracusa. Nessa postagem enfatizaremos os períodos seguintes desde o  romano até o período atual. 

2.0 - Períodos Históricos - Romano, Bizantino, Árabe e Normando


2.1 - Era Romana (212 a.C. - 476 d.C.)


Após o cerco de Siracusa durante a Segunda Guerra Púnica, a cidade foi conquistada pelos romanos em 212 a.C. Sob o domínio romano, Siracusa manteve sua importância, embora tenha perdido parte de sua antiga glória. A cidade foi enriquecida com novas construções, incluindo anfiteatros e aquedutos.

Os personagens de maior destaque no período anterior e na batalha com os romanos foram Arquimedes (cientista e matemático) e Marco Cláudio Marcelo (general romano que conquistou a cidade).

Marcus Claudius Marcelo

Nesse período destaca-se o Cerco de Siracusa (213-212 a.C.) onde a cidade resistiu ao cerco romano por quase dois anos, destacando-se pela genialidade de Arquimedes em defesa da cidade. Na conquista de Siracusa pelos romanos aconteceu também a morte de Arquimedes.

Detalhes da conquista romana e suas consequências

Após uma longa resistência, as legiões romanas conseguiram entrar na cidade e a capitulação ocorreu pelo cônsul Marco Cláudio Marcelo . Durante o calor da conquista, um soldado romano matou Arquimedes. Todas as riquezas de Siracusa, acumuladas ao longo de séculos de hegemonia e prosperidade, foram saqueadas e transportadas para Roma. Foi um importante ponto de viragem na cultura mediterrânica. 

Arquimedes desenha seus círculos enquanto o soldado romano se prepara para perfurá-lo, 
obra de Thomas Degeorge , século XIX


Apesar de ter perdido a sua autonomia, Siracusa permaneceu o principal centro da ilha durante toda a época romana . A província de Siracusa foi estabelecida e a cidade foi designada capital da Sicília Romana . Cícero , chegando lá no século I a.C. , descreveu-a como " a mais bela e maior cidade grega " e o imperador Augusto , no mesmo período, enviou uma colônia de cidadãos romanos para contribuir para o seu repovoamento.

Anfiteatro romano em Siracusa

Situa-se na zona arqueológica, que inclui o Teatro Grego e o altar de Hieron II. Está em grande parte escavado na rocha e para a construção da parte nordeste foi aproveitada a encosta da falésia rochosas. Restam apenas as fundações e as primeiras filas de pilares do arco de Siracusa.

É o maior monumento que restou da Siracusa romana, e pelas citações entre os escritores romanos, infere-se que o Anfiteatro de Siracusa foi construído durante o império de Augusto (27 a.C. a 14 d.C.)

Anfiteatro romano, foto de © Smoxx78 | Dreamstime.com

Os anfiteatros romanos eram usados para lutas entre gladiadores e também com participação de animais ferozes.

No período romano Siracusa tornou-se uma província romana de grande importancia comercial no Mediterrâneo facilitando o comércio de trigo, azeite e vinho. 

Reaproveitamento do Reatro Grego

No período o majestoso teatro construído pelos gregos foi reformado e muito utilizado pelos romanos para suas apresentações e festas.


Teatro grego, foto Historiacom


Início do Cristianismo em Siracusa

A introdução do Cristianismo em Siracusa ocorreu ainda no primeiro século d.C., possivelmente através de comerciantes e viajantes. A cidade, devido à sua localização estratégica, foi um ponto de contato crucial entre o Oriente e o Ocidente, facilitando a propagação da nova fé.

Com o advento do cristianismo, nasceram na cidade imponentes catacumbas . A mensagem apostólica logo chegou aqui, já que o porto de Siracusa estava no centro das rotas marítimas do Império Romano ; rotas que foram percorridas pelos primeiros missionários​​​​A tradição afirma que o protobispo de Siracusa foi Marciano de Antioquia , enviado pelo apóstolo Pedro .

Os Atos dos Apóstolos testificam que no ano 61 , o apóstolo Paulo de Tarso permaneceu três dias na cidadeDurante o império de Diocleciano, em 13 de dezembro de 304 , ocorreu o martírio de Lúcia de Siracusa (Santa Luzia para nós brasileiros)

Santa Lúcia (Santa Luzia) santa da igreja

Santa Lúcia é uma das santas mais veneradas de Siracusa. Sua vida e martírio são emblemáticos do fervor cristão nos primeiros séculos:

Lúcia nasceu em Siracusa por volta de 283 d.C. em uma família rica e cristã. Ela fez um voto de virgindade e dedicou sua vida a ajudar os pobres.

Quadro de Santa Lúcia - Igreja de São Jeremias e Santa Lúcia - Veneza

Quadro de Santa Lucia, 1620, Jacopo Palma il Giovane
                                    

Durante as perseguições de Diocleciano, Lúcia foi denunciada por ser cristã. Ela foi martirizada em 304 d.C., resistindo bravamente à tortura e mantendo sua fé até o fim. Diz-se que teve seus olhos arrancados na sua tortura.

Santa Lúcia é a padroeira dos cegos e é celebrada em 13 de dezembro. Sua devoção se espalhou amplamente, e ela é uma figura central no cristianismo siciliano.

Basílica de Santa Lúcia al Sepolcro 

Localizada em Siracusa, a Basílica foi construída no local tradicional de seu martírio e sepultamento. A construção original data do século IV, mas a estrutura atual foi ampliada e modificada ao longo dos séculos, especialmente durante o período normando e após o terremoto de 1693.

Basilica e Sepulcro de Santa Lucia, arredores de Ortigia/Siracusa, foto www.basilicasantalucia.com

Chiesa di Santa Lúcia alla Badía

No centro da cidade, na Piazza do Duomo, também temos a Chiesa de Santa Lucia, que atualmente abriga a obra de Caravaggio sobre o  sepultamento de Santa Lucia. 

Chiesa de Santa Lucia, Siracusa, foto HistoriacomGosto

Detalhe da Obra de Caravaggio, Sepultamento de Santa Lucia,
Chiesa de Santa Lúcia


Catacumbas de São João

As catacumbas de Siracusa são cemitérios subterrâneos que datam do início da era imperial e do final do império. São considerados segundos em importância e extensão apenas aos de Roma . De acordo com Moses Finley , “as maiores catacumbas de Siracusa superam as de Roma”. 


Catacumbas de São João, foto de © Adwo | Dreamstime.com


A área de sepultamento da Vigna Cassia em Siracusa, acessível mediante solicitação à Pontifícia Comissão de Arqueologia Sacra, consiste em um cemitério comunitário e cinco hipogeus de propriedade privada, que datam dos séculos III, IV e V.

Catacumbas, foto wikipedia

A catacumba se desenvolve de forma topográfica de acordo com modelos romanos e é dividida em três regiões, S. Maria di Gesù Maggiore, Marcia e outras duas, que surgiram durante o século III, enquanto a última foi inaugurada no século IV. O plano da área pode comprovar o que foi dito: o cemitério de S. Maria di Gesù, à direita, foi criado pela ampliação de um aqueduto anterior, em cujas paredes foram esculpidos loculi (espaços retangulares com o lado mais longo visível). Esta solução barata e rápida é apropriada para a era pré-Constantino. (fonte: italia.com)


2.2 -  Era Bizantina (535 - 878)


Com a divisão do Império Romano, Siracusa passou a fazer parte do Império Bizantino. Durante este período, 476 d.C. a 878 d.C., a cidade serviu como um importante centro administrativo e militar, enfrentando várias invasões, mas mantendo sua relevância na região.

Os principais personagens dessa época foram Belisário (general bizantino que reconquistou Siracusa dos ostrogodos).

Nesse período Siracusa manteve relações comerciais com o Oriente e outras regiões do Império Bizantino, destacando-se pela produção de seda.

  • Construções principais do período: 

  • a) Catedral de Siracusa

    A Catedral de Siracusa, originalmente um templo grego, foi convertida em igreja cristã, refletindo a arquitetura bizantina com elementos cristãos.

    O seu nome formal é Cattedrale metropolitana della Natività di Maria Santissima (Catedral Metropolitana da Santíssima Natividade de Maria). Sua estrutura é originalmente um templo dórico grego e, por esse motivo, está incluída em um Patrimônio Mundial da UNESCO designado em 2005.

    Catedral de Siracusa, © Cezary Wojtkowski | Dreamstime.com


    História detalhada

    A fachada, quase em movimento, foi reconstruída em estilo rococó após o terremoto de 1693. Esta reparação foi efectuada por Andrea Palma , o mesmo arquitecto que a construiu, pois quando o terremoto devastou a Sicília a fachada ainda não estava terminada.

    A fachada é essencialmente construída em mármore e granito, bem como calcário nas molduras e gravuras e ardósia nas coberturas.

    Origens 

    As origens de um templo neste local datam da pré-história. O grande Templo Grego de Atena foi construído no século VI a.C. [590-580 a.C.] . O templo era um edifício dórico com seis colunas nos lados curtos e 14 nos lados longos. Platão e Ateneu mencionam o templo, e o saque de seus ornamentos é mencionado por Cícero , em 70 a.C., como um dos crimes do governador Verres.

    Colunas incorporadas à parede, foto wikipedia


    A catedral atual foi construída pelo Santo Bispo Zósimo de Siracusa no século VII. As colunas dóricas danificadas do templo original foram incorporadas às paredes da igreja atual. Elas podem ser vistas por dentro e por fora. O edifício foi convertido em mesquita em 878, e depois reconvertido quando o normando Roger I da Sicília retomou a cidade em 1085. O teto da nave é de origem normanda, assim como os mosaicos nas absides.

    Nave principal da Catedral, foto HistoriacomGosto

    Colunas antigas conservadas,
    foto HistoriacomGosto



    Inscrições antigas, foto HistoriacomGosto

    A inscrição "ET PRIMA POST ANTIOCHENAM" significa a primeira depois de Antioquia. Tradicionalmente Antioquia é considerada uma das primeiras comunidades cristãs, e talvez essa inscrição queira ressaltar a antiguidade da igreja de Siracusa.


    Capela de Santa Luzia

    No interior da Igreja temos uma linda capela em memória de Santa Luzia, padroeira da cidade. Desde 2015, a catedral guarda uma série de relíquias da santa: Vários fragmentos de ossos, um manto, um véu e um par de sapatos. Duas vezes por ano, no primeiro domingo de maio e em 13 de dezembro, seu dia de festa , uma estátua de Santa Luzia do escultor Pietro Rizzo (1599) é trazida para fora da catedral e desfilada pelas ruas. A arca de prata incorpora três fragmentos de suas costelas dentro de seu peito.

    Capela de Santa Lúcia, foto HistoriacomGosto


    2.3 -  Domínio Árabe  (878 a 1086)


    Os árabes conquistaram Siracusa em 878, introduzindo novas técnicas agrícolas, sistemas de irrigação e influências culturais. As construções do período praticamente se perderam todas. Não restaram elementos caracgerizadores da sua passagem na região.


    2.4 - Domínio Normando - (1086 a 1194)


    Siracusa foi conquistada pelos normandos em 1085. Essa conquista faz parte da campanha mais ampla de conquista normanda da Sicília, que foi iniciada por Roger de Hauteville (Roger I da Sicília) e seu irmão Robert Guiscard. A conquista normanda da Sicília começou em 1061 e foi concluída em 1091, com a captura de Palermo em 1072 sendo um dos eventos mais significativos desse processo. A tomada de Siracusa em 1085 consolidou o controle normando sobre a ilha, marcando o fim do domínio árabe na Sicília e o início de uma nova era na história da região.

    Os principais personagens dessa época foram, Roger II da Sicília (primeiro rei normando da Sicília).

    Chiesa di San Nicoló Cordari

    Foi construído na era normanda , imediatamente após o período de dominação árabe na cidade de Aretusia . Anteriormente, no local onde hoje se encontra a pequena igreja existia outro edifício religioso do início da era cristã com estrutura de basílica.No período bizantino a igreja tornou-se clandestina . Abaixo dela está a chamada Piscina Romana ; isto é, grandes tanques de água obtidos através do corte da pedra da Latomie . Estas condutas naturais de água foram utilizadas pelos siracusanos nos tempos da Roma Antiga para encher de água o anfiteatro romano de Siracusa e iniciar jogos náuticos e lutas aquáticas.


    Chiesa di San Nicoló ai Cordari, foto Wikipedia


    Em 1093, o funeral do conde de Siracusa, Giordano d'Altavilla , filho do grande conde Rogério I da Sicília , foi celebrado na igreja de San Nicolò ai Cordari . Os normandos queriam dedicá-lo a São Nicolau de Mira , o santo a quem o povo nórdico recorreu em busca de ajuda para expulsar os árabes da cidade de Siracusa. Alguns séculos depois a igreja foi desconsagrada e abandonada porque a população siracusa durante a época medieval (período angevino, período espanhol, período austríaco, período Bourbon) foi significativamente reduzida em número, tornando-se tão pequena que ocupou apenas a ilha de Ortigia , cercada por espessas fortificações que encorajavam o povo a orientar a sua existência apenas dentro da ilha fortificada. Assim, tudo o que havia do lado de fora, como a igrejinha de San Nicola, foi abandonado.  

    Em 1577 a igreja foi cedida aos cordari (fabricantes artesanais de cordas) que trabalhavam com suas cordas na Latomie de Neápolis, localizada além da igreja. É por isso que hoje é chamada de igreja de San Nicolò ai Cordari ou igreja de San Nicolò dei Cordari, por ser frequentada pelas famílias siracusanas de fabricantes de cordas . A igreja mais tarde tornou-se um armazém de grãos. Durante os anos da peste, por volta de 1600 , as suas caves foram utilizadas como "vala comum".

    3.0  - Demais períodos históricos


    Os períodos a seguir foram comuns para toda a Sicília mas sem nada especial com relação à Siracusa.

    Dinastias:
    • Hohenstaufen- Sacro Império Romano Germânico(1194-1266)
    • Angevinos (1266-1282)
    • Coroa de Aragão (1282-1479)
    • Coroa de Espanha (1479-1713)
    • Casa de Savoia (1713-1720)
    • Habsburgos da Áustria (1720-1734)
    • Bourbons de Nápoles (1734-1860)
    • Unificação no Reino da Itália (1860-até o presente)


    3.1 - Principais Monumentos, Praças e Prédios Públicos


    a) Castelo Maniace: Período Sacro romano-germânico

    Panorama do Castelo Maniace, foto © Isabela66 | Dreamstime.com


    Durante o período em que o Castelo Maniace foi construído, entre 1232 e 1240, Siracusa estava sob o domínio do Sacro Império Romano-Germânico. O imperador Frederico II, que ordenou a construção do castelo, era o governante da Sicília naquela época. Frederico II foi um dos monarcas mais poderosos e influentes da Europa medieval, conhecido por sua habilidade administrativa e por promover a cultura e a ciência em seus territórios. Ele fez da Sicília um centro de poder e cultura, integrando influências normandas, germânicas e árabes na administração do reino.

    Parte interna do Castelo, foto de © Filippophotographer | Dreamstime.com


    Escultura de Mitoraj

    Quando visitamos a área do Castelo havia escultura de Mitoraj en exposição


    Ìcaro de Mitoraj, área Castelo, foto HistoriacomGosto


    b) Museu Palazzo Bellomo


    O palácio Bellomo é um edifício dos séculos XIII a XIV com fundações que remontam ao período da dinastia Hohenstaufen da Sicília. O edifício apresenta duas fases construtivas distintas: a da época sueva , identificável na estrutura abaluartada do rés-do-chão e no portal gótico , e a do século XV, identificável em todo o piso superior.

    Em 1365 o palácio passou para a propriedade da família Bellomo , uma nobre família romana que veio para a Sicília após Frederico III de Aragão . Neste período foi realizada a elevação do palácio, que tem claras influências da arte catalã do século XV .

    Interior do Palazzo Bellomo, foto Hotel Posta, Siracusa



    Em 1722, as freiras do mosteiro adjacente de San Benedetto adquiriram-no e utilizaram-no como armazém e dormitório; mas com as leis de expropriação de 1866 , foi arrancado do seu antigo uso até que, em 1901 , foi entregue à Administração de Belas Artes , que realizou os primeiros restauros.


    Em 1948 foi utilizado como museu na sequência da separação da coleção medieval e moderna do complexo pré-histórico e clássico do Museu Arqueológico Regional Paolo Orsi


    c) Palazzo Beneventano del Bosco

    Este é um grande palácio urbano, localizado na praça Duomo, em frente à atual prefeitura e na diagonal à Catedral de SiracusaConstruído no século XV a XVIII foi adquirida pelo Barão Guglielmo Beneventano que o restaurou em estilo barroco.


    Palazzo Beneventano, foto HistoriacomGosto


    d) Piazza Archimedi 

    A Piazza Archimede, localizada na ilha de Ortígia em Siracusa, foi criada em 1878. Apesar de já ser um local de cruzamento de vias, esta praça foi projetada durante um período de revitalização urbana no século XIX, quando muitas cidades italianas estavam modernizando suas infraestruturas e espaços públicos. A praça é nomeada em homenagem a Arquimedes, o famoso matemático e inventor grego que viveu em Siracusa.

    Fonte de Diana, foto de @Petr  Jilek / Dreamstime.com


    O destaque central da Piazza Archimede é a Fonte de Diana, que foi inaugurada em 1907. Esta fonte neoclássica, projetada por Giulio Moschetti, celebra a deusa grega da caça, Diana, e é cercada por esculturas que representam figuras mitológicas, adicionando um elemento artístico significativo à praça.


    Basilica Santuario Madonna delle Lacrime (fonte: Wikiepdia.it)


    Para a construção do Santuário foi organizado um concurso internacional no qual participaram 100 arquitectos de 17 nacionalidades. Os vencedores do concurso foram dois arquitetos franceses: Michel Andrualt e Pierre Parat. O templo, iniciado em 1988, foi inaugurado em 6 de novembro de 1994 por São João Paulo II, a convite de Dom Giuseppe Costanzo, hoje Arcebispo Emérito de Siracusa.

    O Santuário tem aproximadamente 103 metros de altura; 94,30 metros a partir da superfície de caminhada. Excluindo as capelas tem um diâmetro de 71,40 metros. Tem capacidade para 6.000 lugares em pé e aproximadamente 4.000 lugares sentados.

    O enorme “salão” cerimonial é revestido de mármore que reflete a estrela: a Virgem Maria da manhã, que antecede o nascer do sol – Jesus.

    Nave circular da Igreja, foto HistoriacomGosto 

    A forma do Santuário é objeto de diversas interpretações. Os arquitetos pretenderam concretizar estruturalmente o conceito e sentido de elevação da humanidade a Deus. Outros significados atribuídos à sua forma são os de: farol, identificável com Maria que conduz ao porto que é Jesus; tenda dentro da qual a Mãe acolhe os filhos para conduzi-los ao Pai; lágrima caindo do céu.


    O altar da Basílica


    O altar é obra do escultor Giancarlo Marchese; Tem formato quadrado e é composto por duas partes: a) A base de bronze é composta por quatro painéis que reproduzem algumas cenas do livro do Apocalipse: o trono; a nova Jerusalém; o cordeiro; a árvore da vida; a coluna; o pergaminho. b) A grande mesa é feita de pedra Modica. Na borda da mesa está gravada uma frase em grego: “Cristo amou a Igreja e se entregou por ela” (Ef 5,25).

    A obra de Marchese intitula-se: “Novos céus e uma nova terra” porque pretende expressar a conclusão da história e o regresso de Jesus.

    As Capelas

    No Santuário existem 16 capelas. Olhando para o altar, à esquerda está a capela do Santíssimo Sacramento onde se celebra todas as manhãs a Santa Missa; ao lado, uma capela é dedicada ao Santo Sudário. À esquerda está a capela dedicada a San Giuseppe, com uma estátua de madeira e seguida pela Capela de San Pio da Pietralcina, da qual guardamos um dos seus lenços doados à senhora Antonina Iannuso e cópias das pequenas imagens da Madonna delle Lacrime com orações escritas por São Pio.

    Capela com celebração de Missa, foto HistoriacomGosto

    Capela Padre Pio, foto HistoriacomGosto



    Porta de entrada, foto historiacomgosto


    A imagem milagrosa

    A circularidade do único e imenso ambiente encontra unidade, para o olhar do peregrino, no mármore branco sobre o qual está colocado o Altar, atrás do qual emerge a parede que abriga o relicário dentro do qual está guardada a Imagem da Madonna delle Lacrime.

    Topo do Santuário

    No topo do Santuário pode-se observar, alojada nos raios, uma estátua de Nossa Senhora, em bronze dourado, que reproduz integralmente a imagem do Pequeno Quadro que chorava. A estátua tem aproximadamente 3 metros de altura e pesa 600 kg. O desenho é de Francesco Caldarella. Maria é representada com os braços estendidos em direção à entrada principal, como se quisesse acolher os filhos na casa do Pai.

    Vista áerea da Chiesa Madona della lacrima,
    foto Simone Tinella em Wikipedia.com

    4.0 - Conclusão


    Siracusa é um mosaico de culturas e histórias, um lugar onde cada pedra e cada ruína contam a história de civilizações que moldaram não apenas a Sicília, mas também o mundo mediterrâneo. Este blog busca explorar a riqueza histórica e cultural de Siracusa, complementando os eventos e construções do período grego com os períodos restantes de sua história.


    5.0 Referências

    - Wikipedia Siracusa - Texto e fotos adicionais
    - Chat Gpt - Siracusa
    - HistoriacomGosto -- Notas e fotos
    - Dreamstime.com - fotos adicionais