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segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

Quaresma II, Ciclo B, Transfiguração por Francesco Zucarelli

I. - Transfiguração


A Transfiguração de Jesus é um episódio do Novo Testamento no qual Jesus é transfigurado (ou "metamorfoseado") e se torna "radiante" no alto de uma montanha.

Os evangelhos sinóticos (Mateus 17:1-9, Marcos 9:2-8 e Lucas 9:28-36) e uma epístola (II Pedro 1:16-18) fazem referência ao evento. Nestes relatos, Jesus e três de seus apóstolos vão para uma montanha (conhecida como Monte da Transfiguração). Lá, Jesus começa a brilhar e os profetas Moisés e Elias aparecem ao seu lado, conversando com ele. Jesus é então chamado de "Filho" por uma voz no céu - presumivelmente Deus Pai - como já ocorrera antes no seu batismo. 

A Transfiguração é um dos milagres de Jesus nos evangelhos, diferente dos demais pois, neste caso, o objeto do milagre é o próprio Jesus.  Tomás de Aquino considerava a Transfiguração como o "maior dos milagres", uma vez que ele complementou o batismo e mostrou a perfeição da vida no céu. A Transfiguração é também um dos cinco grandes marcos da vida de Jesus na narrativa dos evangelhos (os outros são o batismo, a crucificação, a ressurreição e a ascensão). Na doutrina cristã, o fato de a Transfiguração ter ocorrido no alto de uma montanha representa o ponto onde a natureza humana se encontra com Deus: o encontro do temporal com o eterno, com o próprio Jesus fazendo o papel de ponte entre o céu e a terra. (fonte: Wikipedia)

  

II. -O Quadro - Transfiguração de Jesus por Francesco Zuccarelli


 quadro A Transfiguração por Francesco Zucarelli
Transfiguração por Zucarelli, 1788


Francesco Zuccarelli convida-nos a apreciar a Transfiguração de Cristo no seu quadro. Estão presentes na cena os personagens chave como descrito no Evangelho. Pedro, o pescador mais velho, cujas chaves simbólicas estão na grama em frente dele. João, o mais novo dos apóstolos, está no meio deles, e Tiago se apresenta com os braços levantados para o ceú. Jesus, está resplandescente, na nuvem ladeado por Moisés e Elias que simbolizam a lei e os profetas. 

 As figuras contam a história através de seus gestos. Pedro está quase prostrado em adoração, os braços de Tiago estão levantados em oração e João permanece em um silêncio respeitoso. Zuccarelli oferece aqui quais as três respostas naturais que uma pessoa pode apresentar perante essa experiência divina. O gesto de Jesus é de abertura e acolhimento. Ele se se oferece ao Pai com uma expressão serena e luminosa. Moisés e Elias são as figuras de ligação levando a transcedência para a realidade.

 Como para enfatizar o encontro entre o Céu e a Terra, Zuccarelli dá muita atenção à paisagem natural onde as pessoas estão situadas. A representação das árvores e plantas, e a construção da cena no campo, comunica ao observador a importância do mundo natural no contexto da manifestação do divino. Ao lado dos personagens é criado uma atmosfera de sacralidade comunicando a presença de Deus.

 O elemento mais importante na sacralidade é a nuvem. Aqui ela se apresenta com bordas escuras e iluminada em direção ao centro, como se esse fosse um portal que nos convida a percorrer esse caminho. Nuvens normalmente refletem a luz, mas essa parece gerar a própria luz a qual nos diz, "Esse é meu filho muito amado. Ouçam-no". 

 Unindo o Céu e a Terra, a transfiguração é uma experiência na qual a voz de Deus se dirige ao coração humano através de todos os seus sentidos.


Comentário por:  Daniella Zsupan-Jerome, professora assistente de catequese e evangelização na Loyola University New Orleans.
Loyola Press- https://www.loyolapress.com/our-catholic-faith/liturgical-year/lent/arts-and-faith-for-lent/cycle-b/arts-and-faith-week-2-of-lent-cycle-b

III. - Zucarelli


Giacomo Francesco Zuccarelli, 15 Agosto 1702 – 30 Dezembro 1788, foi um artista italiano do barroco tardio ou rococó. Ele é considerado o mais importante pintor de paisagens que surgiu de sua cidade adotada de Veneza no período da metade do século XVIII. Ele viveu um período na Inglaterra onde em 1768 tornou-se membro fundador da Academia Real de Artes. Quando ele retornou a Veneza foi eleito presidente da academia veneziana de artes. Além de paisagens, Zuccarelli pintou peças religiosase ocasionalmente alguns retratos.

  

IV. - Teologia da Transfiguração

 

O rosto e as vestes de Jesus tornam-se fulgurantes de luz, Moisés e Elias aparecem, e é importante notar que o evangelista destaca sobre o que eles falavam: “de sua partida que iria se consumar em Jerusalém” (Lc 9,31). Uma nuvem os cobre e uma voz do céu diz: “Este é o meu Filho, o Eleito; ouvi-o” (Lc 9,35). A nuvem e a luz são dois símbolos inseparáveis nas manifestações do Espírito Santo. Desde as manifestações de Deus (teofanias) do Antigo Testamento, a Nuvem, ora escura, ora luminosa, revela o Deus vivo e salvador, escondendo a transcendência de sua Glória: com Moisés sobre a montanha do Sinai, na Tenda de Reunião e durante a caminhada no deserto; com Salomão por ocasião da dedicação do Templo.



Na Transfiguração a Trindade inteira se manifesta: o Pai, na voz; o Filho, no homem; o Espírito, na nuvem clara. E Jesus mostra sua glória divina, confirmando, assim, a confissão de Pedro. Mostra também que, para “entrar em sua glória” (Lc 24,26), deve passar pela Cruz em Jerusalém. Moisés e Elias haviam visto a glória de Deus sobre a Montanha; a Lei e os profetas tinham anunciado os sofrimentos do Messias. Fica claro que a Paixão de Jesus é sem dúvida a vontade do Pai: o Filho age como servo de Deus.

A rica liturgia bizantina assim reza na festa da Transfiguração: “Vós vos transfigurastes na montanha e, porquanto eram capazes, vossos discípulos contemplaram vossa Glória, Cristo Deus, para que, quando vos vissem crucificado, compreendessem que vossa Paixão era voluntária e anunciassem ao mundo que vós sois verdadeiramente a irradiação do Pai.”

No limiar da vida pública de Jesus temos o seu Batismo; no limiar da Páscoa, temos a sua Transfiguração. Pelo Batismo de Jesus foi manifestado o mistério da primeira regeneração: o nosso Batismo; já a Transfiguração mostra a nossa própria ressurreição. Desde já participamos da Ressurreição do Senhor pelo Espírito Santo que age nos sacramentos da Igreja. A Transfiguração dá-nos um antegozo da vinda gloriosa do Cristo, como disse S. Paulo, ” Ele vai transfigurar nosso corpo humilhado, conformando-o ao seu corpo glorioso” (Fl 3,21). Mas ela nos lembra também que com Jesus “é preciso passarmos por muitas tribulações para entrarmos no Reino de Deus” (At 14,22). Por isso, como Cristo, o cristão não deve temer o sofrimento.

Unidos a Cristo pelo Batismo, já participamos realmente na vida celeste de Cristo ressuscitado, mas esta vida permanece “escondida com Cristo em Deus” (Cl 3,3). “Com ele nos ressuscitou e fez-nos sentar nos céus, em Cristo Jesus” (Ef 2,6). Nutridos com seu Corpo na Eucaristia, já pertencemos ao Corpo de Cristo. Quando ressuscitarmos, no último dia, nós também seremos “manifestados com Ele cheios de glória” (Cl 3,3).


Texto do Professor Felipe Aquino, Editora Cleofas

V. - Referências

Prof. Felipe Aquino, editora Cleofas - Transfiguração

Wikipedia - Francesco Zuccarelli

Loyola press - Interpretação do Quadro

https://www.loyolapress.com/our-catholic-faith/liturgical-year/lent/arts-and-faith-for-lent/cycle-b/arts-and-faith-week-2-of-lent-cycle-b