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domingo, 21 de maio de 2017

História da Cidade de Goiás

1. - Fundação


Depois de descobertas, no século XVII,  as minas de ouro em Minas Gerais de um lado, e as minas de Cuiabá  de outro,   as atenções dos bandeirantes se voltaram para Goiás que ficava na região intermediária.

Em 1683, Bartolomeu Bueno da Silva, a frente de numerosa bandeira, da qual fazia parte seu filho, de igual nome e com apenas 12 anos, chegou até o rio das Mortes, seguindo o roteiro que Manuel Correia traçara em 1647. 

Ali, com o auxilio do bandeirante Pires de Campos, que Ihe indicou um guia, atingiu as cabeceiras de um rio que depois se chamou rio Vermelho. Foi nesse local que Bartolomeu usou a artimanha do prato de aguardente com fogo para impressionar os nativos, sendo cognominado Anhanguera - diabo velho. De regresso, além de ouro, trouxe grande número de índios cativos.

Local onde foi instalada a Cruz por Bartolomeu Bueno da Silva (filho), foto historiacomgosto


Cerca de quarenta anos depois, Bartolomeu Bueno da Silva (filho) foi incumbido, pelo governo de São Paulo, de chefiar uma bandeira de cem homens, com o fim de localizar o lugar onde estivera com seu pai. Tendo encontrado o aldeamento dos índios guaiases, ou Goiás, e vestígios da roça cultivada pelo Anhanguera, fundou, em 1726, o arraial da Barra, hoje Buenolândia, e no ano seguinte, os de Ouro Fino, Ferreiro e Santana, originando-se deste ultimo a atual cidade. Ali, onde habitava a nação Goiás, Bartolomeu Bueno da Silva fundaria, em 1727, o Arraial de Sant'Anna.

À medida que avançava a administração política de Goiás, Anhanguera (o filho)  foi perdendo autoridade. Ele faleceu em 1740, guerreiro solitário e com pouco prestígio.

fonte: Ibge


2. - Evolução da Vila a Capital da Província e do Estado


Pouco mais de uma década depois, em 1736, o local seria elevado à condição de vila administrativa, com o nome de Vila Boa de Goyaz. Nesta época, ainda pertencia à Capitania de São Paulo. Em 1748, foi criada a Capitania de Goiás, mas o primeiro governador, dom Marcos de Noronha, o Conde dos Arcos, só chegaria ali cinco anos depois.

Com ele,  a vila transforma-se em capital da comarca. Noronha manda construir, então, entre outros prédios, a Casa de Fundição, em 1750, e o Palácio que levaria seu nome (Conde dos Arcos), em 1751. 


vista do largo do rosario, início do século XX, foto de Alois Feichtemberg


Com o esgotamento do ouro, em fins do século XVIII, Vila Boa teve sua população reduzida e precisou reorientar suas atividades econômicas para a agropecuária, mas ainda assim cultural e socialmente sempre esteve sintonizada com as modas do Rio de Janeiro, então capital do Império. Daí até o início do século XX, as principais manifestações seriam de arte e cultura, com sarais, jograis, artes plásticas, literatura, arte culinária e cerâmica - além de um ritual único no Brasil, a Procissão do Fogaréu, realizada na Semana Santa.

Entretanto, a grande mudança, que já vinha sendo ventilada há muito tempo, foi a transferência da capital estadual para Goiânia, nos anos trinta e quarenta, coordenada pelo então interventor do Estado, Pedro Ludovico Teixeira. De certa forma, foi essa decisão que preservou a singular e exclusiva arquitetura colonial da cidade de Goiás.


3. - Herança Portuguesa - Patrimônio Histórico Mundial


A transferência da capital de Goiás para a cidade de Goiânia, apesar de ter causado a sua queda econômica, foi uma das razões pela qual o seu casario e a sua arquitetura colonial foi preservada. 

O município foi tombado pelo patrimônio histórico nacional desde os anos 50, e reconhecido em 2001 pela UNESCO como sendo Patrimônio Histórico e Cultural Mundial por sua arquitetura barroca peculiar, por suas tradições culturais seculares e pela natureza exuberante que a circunda.



4. - Locais de Interesse


a) Praça do Coreto


Coreto charmoso que na parte de dentro tem uma sorveteria, foto historiacomgosto

b) Igreja Matriz de Santana


A Igreja Matriz de Santana, Catedral da cidade de Goiás, teve sua construção iniciada em 1743, quando o Ouvidor Geral resolveu demolir a capela de mesma denominação construída em 1727, para em seu lugar construir uma Igreja maior que atendesse o crescente aumento populacional para atuar na atividade de mineração.

O projeto veio de Lisboa mas a construção foi tão imperfeita que apenas 16 anos depois de finalizada, em 1759, todo o teto da Igreja desabou. Ao longo dos séculos XVIII e XIX várias manutenções foram feitas por conta de desabamentos e rachaduras. 



Matriz de Santana, foto historiacomgosto





Em 1929 com o edifício totalmente arruinado foi contratado o arquiteto Gastão Bahiana, professor de Arquitetura da Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro, para fazer um projeto novo e definitivo, tomando como base os pilares da antiga igreja. Alterado esse projeto na década de 1950, somente em 1998 a Igreja foi concluída.

c) Palácio do Conde dos Arcos


Quando em 1748 foi criada a Capitania de Goiás, ficando independente de São Paulo, a área passou a ter governos privativos com sede na cidade de Goiás e o seu primeiro governador foi Dom Marcos de Noronha "Conde dos Arcos". Quando este chega à cidade, não encontra nenhuma casa com estrutura razoável, solicita e obtém autorização do Rei de Portugal para construir a residência oficial.



Palácio do Conde dos Arcos, foto historiacomgosto



Em 1751, foram compradas cinco moradas de casas, que foram demolidas, e no local foi construído o Palácio do Governo, conforme mostrado nas fotos.



sala de estar / convidados
capela / oratório


Ainda hoje, uma vez ao ano, a cidade de Goiás passa a ser a sede oficial do Governo, e o Governador com sua família transfere-se para o Palácio do Conde dos Arcos, onde também faz os despachos e reuniões de trabalho.


Quarto do Governador
Copa / Sala de Café


d) Igreja da Boa Morte - Museu de Arte Sacra


A Igreja de Nossa Senhora da Boa Morte foi iniciada em 1762, concluída , ocupada em 1779, e transformada em Museu de Arte Sacra em 1967. A sala principal é dedicada às imagens do escultor Veiga Valle.

Igreja da Boa Morte, hoje Museu de Arte Sacra, obras de Veiga Valle

Veiga Valle


José Joaquim da Veiga Valle nasceu na cidade vizinha de Meia Ponte (atual Pirenopólis) em setembro de 1806. Em 1841, na idade de casar, mudou para a cidade vizinha, capital da Provincia, que ficava cerca de 10 léguas da sua vila natal, para trabalhar no douração dos altares da Matriz de Santana. Não se tem notícia de outras viagens, logo, Veiga Valle é um artista nascido e criado no sertão brasileiro das minas de Goiás. Produziu a maior parte de seu trabalho na cidade de Goiás. Veiga Valle faleceu em outubro de 1874. O seu trabalho mostra uma boa técnica e caracteriza um artista que com pouca formação e informação foi capaz de desenvolver trabalhos de ótima qualidade.

Ostensório usado nas Procissões
Nossa Senhora do Parto (com menino), Veiga Valle

e) Chafariz de Cauda


A chegada da água para o chafariz vem por um meio de encanamento sobre a terra protegido por uma pequena galeria de tijolos que formam uma espécie de cauda.

Chafariz, foto historiacomgosto


f) Casa de Câmara e Cadeia - Museu das Bandeiras


A Casa de Câmara e Cadeia foi iniciada em 1761, concluída em 1766 e transformada em Museu das Bandeiras em 1950.


Casa de Cãmara e Cadeia, atual Museu das Bandeiras, foto historiacomgosto



local onde ficavam os presos
tear usado para confeccionar roupas


g) Ruas e casas




h) Restaurante


Não é o forte de Goiás ser um polo gastrônomico de alta qualidade, entretanto existem vários restaurantes no estilo "self-service" com comidas bem preparadas e gostosas. 

sala do restaurante, foto historiacomgosto



restaurante
delicioso"empadão goiano"

i) Igreja do Rosário


No início do século XVIII os escravos construiram a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, uma pequena capela em estilo colonial. Já no século XX a Ordem Dominicana instalada na cidade de Goiás ergueu uma nova igreja no lugar da antiga capela, com traços neo-góticos, bem ao gosto da época. As obras ficaram paradas um tempo, ficando a igreja sem a sua torre central. Depois de concluida, e agora depois de um restauro, a Igreja apresenta-se com cores acinzentadas que são predominantes nas obras dos dominicanos. 


Vista frontal da Igreja do Rosário, foto historiacomgosto


Frei Nazareno Confaloni

O conjunto de painéis representando os mistérios do rosário é de autoria do Frei Nazareno Confaloni, nascido em Viterbo, Italia, em 1917. Religioso da ordem dos dominicanos, ele passou por várias cidades do interior de Minas Gerais e São Paulo até se estabelecer na cidade de Goiás onde foi pároco por muitos anos. Tendo feito formação artística na sua cidade natal, Frei Nazareno nunca separou as atividades de pároco e de artista. Sempre levou as duas juntas centradas na religiosidade. Mudou-se para Goiânia e foi um dos fundadores da escola de belas artes e da faculdade de arquitetura. Lecionou desenho e artes plásticas até o dia de sua morte em 1977. (fonte: UEG Turismo)


nave principal
Santíssima Trindade coroando Maria, Rainha da Igreja


j) Igreja da Abadia e Igreja de Santa Bárbara



Igreja da Abadia
Igreja de Santa Bárbara


k) Outras construções


Igreja de São Francisco
Prédio em estilo colonial


5. - A História de Cora Coralina, filha ilustre de cidade.


Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas nasce em 20 de agosto de 1889 na cidade de Goiás. O seu pai faleceu em outubro deste ano deixando duas filhas pequenas Ana e Helena. Em 1907 funda com outras amigas o semanário "A Rosa" para ser o veículo das idéias do movimento literário feminino de Goiás.

Em 1908, Ana adota o pseudônimo de Cora Coralina e publica o conto "O celibatário" no jornal Goyaz. Em 1909 e 1910 continua a publicar textos e contos no jornal de Goyaz e também no jornal "Paiz" do Rio de Janeiro, um dos mais importantes da época. 

Ainda em 1910, com 20 anos seu conto "Tragédia na Roça" foi elogiado e incluído no Histórico do Estado de Goiás. 

Mudança para São Paulo

Em 1911 muda-se em novembro para São Paulo com o advogado mineiro Cantídio Tolentino com quem se casaria oficialmente em 1925. 

Entre 1912 e 1927 Cora teve seis filhos, sendo que dois morreram muito cedo na infância.

Em 1928 mudou-se para a capial São Paulo onde participou ativamente, como militante, da Revolução Constitucionalista.

Em 1934 com a morte do marido, Cora, viúva, aluga quartos para estudantes e começa a vender livros para o editor José Olympio de cuja família tinha estabelecido amizade.

De 1937 a 1956, Cora reside em Penápolis e Andradina, interior de São Paulo, onde plantou e vendeu muda de árvores, recebeu hóspedes, serviu refeições

O retorno

Em 1956 vende a casa e o sítio de Andradina e retorna sozinha para sua terra natal onde volta a  morar na bicentenária Casa da Ponte. Inicia a produção e venda de doces, nos quais trabalharia pelos próximos 14 anos. Escreve um conto "O cântico da volta", e passa a dedicar-se intensamente à escrita. 

Em 1959 aos setenta anos, iniciou um curso de datilografia para poder enviar os seus textos para apreciação dos editores. Ganha de presente de Tarquínio Oliveira uma máquina de escrever.

Em 1965, aos 76 anos de idade, publica seu primeiro livro "Poemas dos becos de Goiás e estórias mais".

O reconhecimento nacional

Em 1980 inicia correspondência com o escritor Carlos Drummond de Andrade. O poeta fica impressionado com seus versos e publica um longo artigo sobre Cora Coralina no Jornal do Brasil. 

Algumas Premiações

Em 1981 recebe o troféu Jaburu oferecido pelo Conselho de Cultura do Estado de Goiás e em 1984 torna-se a primeira mulher a receber o troféu Juca Pato, dado pela União Brasileira dos Escritores, como" Intelectual do Ano de 1983".

Em 1984 é também homenageada pela Organização das Nacões Unidas para Agricultura e Alimentação, como símbolo brasiliero do Ano Internacional da Mulher Trabalhadora.

Ingressa na Academia Goiana de Letras ocupando a cadeira 38.

Falecimento

Cora falece no dia 10 de Abril de 1985 em Goiânia de insufiência respiratória. 

Considerada uma das mais importantes escritoras brasileiras, Cora foi uma mulher simples, doceira de profissão, tendo vivido longe dos grandes centros urbanos, alheia a modismos literários, produziu uma obra poética rica em motivos do cotidiano do interior brasileiro, em particular dos becos e ruas históricas de Goiás. Cora frequentou apenas o curso primário. Leitora frequente ela chamava o Dicionário de seu "Livro de Amor". 


A Casa Velha da Ponte


Casa Velha da Ponte, hoje Museu Cora Coralina, casa da esquerda, foto historiacomgosto


A casa é do século XVIII, construída para uso dos recebedores do "Quinto Real". Foi residência na década de 1770 do inconfidente Capitão-mor de Vila Boa, Antônio de Sousa Telles e Menezes. Em 1825 foi adquirida pelo sargento-mor João José do Couto Guimarães, trisavô de Cora Coralina, passando a pertencer á família até 1986, quando os herdeiros, após a morte da escritora, venderam a casa à construtora Alcindo Vieira de Belo Horizonte, que fez a doação à Associação Casa de Cora Coralina. 

6. - Atualidade


Com cerca de 25.000 habitantes, Goiás se localiza em terreno bastante acidentado onde se destacam a Serra Dourada e os Morros de São Francisco, Canta Galo e das Lages. Essa dificuldade de expansão da cidade foi fator fundamental para a escolha de construção da capital em outra localidade.

Situada a 140 Km de Goiânia, Goiás tem hoje como principal fonte de renda o turismo. Mais de 90% de sua arquitetura barroco-colonial original foi conservada, graça ao tombamento, desde os anos 50, desse patrimônio arquitetônico do Século XVIII. A Cidade de Goiás é um magnifico mostruário do Brasil oitocentista.

A Universidade Estadual de Goiás mantém na cidade o Campus Cora Coralina com os cursos de Geografia, História, Letras, Matemática e Superior de Tecnologia em Gestão de Turismo. O campus destina-se a tender a população de 26 municípios da região.


7. - Referências


a) Universidade Estadual de Goiás 

https://www.coracoralina.ueg.br/conteudo/4690_campus_goias


b) Wikipedia - Cidade de Goiás

c) Veiga Valle - Instituto Casa Brasil de Cultura

d) Museu Casa de Cora Coralina - Cronologia

e) Guia Cidade de Goiás

f) Fotos de HistóriacomGosto - Maio de 2017