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sexta-feira, 14 de abril de 2017

Quaresma VIII - Cristo e o bom ladrão (Ticiano)

I. - Sexta-feira Santa - "Cristo e o bom ladrão" pintura de Ticiano


O Cristo e o Bom Ladrão, pintura de Ticiano, nos imerge no espírito sombrio e puro da Sexta-Feira Santa - um sentimento de agonia e desgosto. Mas mesmo nisso, vemos um sinal de esperança e conversão no exemplo do Bom Ladrão. 

A composição de Ticiano utiliza a cor para definir o sentimento. A pintura é quase monocromática, usando uma variedade de ferrugem de seus tons mais escuros a tons mais claros, evocando a terrosidade, mas também a cor do sangue derramado. Tanto o Cristo como o Bom Ladrão estão fora do centro, com uma coluna flexível, mas ominosamente cinza,  que domina o espaço central. 

À direita, o corpo moribundo de Jesus é luminoso, mas traz um contraste com sua cabeça enforcada e exausta. É a justaposição de vida e morte, luz e escuridão. 

No lado esquerdo nas sombras, o bom ladrão é animado por sua conversão, Seus momentos finais que se tornam os mais importantes de sua vida. Seu corpo sombreado reflete vagamente a luminosidade de Cristo, mas a luz de seus olhos também vem de dentro, uma clara mancha branca perfurando a escuridão enferrujada.



quadro de Ticiano, O bom Ladrão, mostra Cristo crucificado ao lado de um ladrão
Cristo e o bom ladrao, Ticiano, 1566, pinacoteca nacional, Bolonha


Os corpos pintados por Tiziano estão conversando. Cristo paira em silêncio após horas de agonia, e transmite: "Está terminado", mas também passa um senso de estabilidade e segurança para o Bom Ladrão. 

O Bom Ladrão está experimentando a conversão, o seu peito para a frente e o rosto voltado para Cristo, uma encarnação dele voltando sua mente e seu coração para Jesus Cristo. Seus braços sinalizam a volta que ele está tomando - da mão esquerda pendurada apertada na fumaça cinza à sua mão direita levantada animadamente, alcançando os céus e oferecendo sua resposta de fé ao convite amoroso de Deus.

A descrição de Isaías do servo sofredor nos ajuda a entender a conversão do Bom Ladrão. O pecado do homem levou-o à sua sentença de morte, mas agora reconhece em Cristo a liberdade, a esperança e a promessa possíveis mesmo em seus momentos finais. 

Olhando para Cristo, os olhos do homem estão abertos para ver que são as suas enfermidades que Cristo carrega, o seu sofrimento que ele suporta; Ele entende que o Senhor é trespassado por suas ofensas e esmagado por seus pecados. Uma pessoa de pecado sabe que levantar esses fardos é um dom imensurável de liberdade, vida nova e possibilidade. Nisto, o Bom Ladrão alegra-se e antecipa a verdadeira liberdade, mesmo quando seu corpo está pregado numa cruz. 

À medida que nos aproximamos da cruz em veneração esta Sexta-feira Santa, perguntemos, onde nós buscamos a liberdade, esperança, e uma vida nova cheia de glória ?


Comentário é de Daniella Zsupan-Jerome, professora assistente de liturgia, catequese e evangelização na Universidade Loyola de Nova Orleans.



II. - Ticiano



quadro com as feições de Ticiano já mais velhoTiciano Vecellio nasceu em  Pieve di Cadore, em torno de 1473/1490 e faleceu em Veneza em 27 de agosto de 1576. Foi um dos principais representantes da escola veneziana no Renascimento antecipando diversas características do Barroco e até do Modernismo. Ele também é conhecido como Tizian Vecellio De Gregorio.

Reconhecido pelos seus contemporâneos como "o sol entre as estrelas", Ticiano foi um dos mais versáteis pintores italianos, igualmente bom em retratos ou paisagens, temas mitológicos ou religiosos.

Se tivesse morrido cedo, teria sido conhecido como um dos mais influentes artistas do seu tempo, mas como viveu quase um século, mudando tão drasticamente seu modo de pintar, vários críticos demoram a acreditar se tratar do mesmo artista. O que une as duas partes de sua obra é seu profundo interesse pela cor, sua modulação policromática é sem precedentes na arte ocidental.


III. - Reflexão- O perdão na cruz, Papa Francisco, 28/09/16



VATICANO, 28 Set. 16 / 10:35 am (ACI).- A Catequese do Papa Francisco na Audiência Geral desta quarta-feira abordou o perdão na cruz, falou sobre o bom e o mau ladrão que foram crucificados ao lado de Jesus e enviou uma mensagem de esperança ao dizer que, apesar do pecado que uma pessoa tenha cometido, Deus a perdoa se ela se aproxima de Jesus e se arrepende.

foto do Papa Francisco pregando a catequese na sala de audiência em RomaFrancisco recordou o relato da Paixão e as palavras de Jesus: ““Pai, perdoai-os porque não sabem o que fazem”. “Jesus nos salvou permanecendo na cruz” e “ali se cumpre a sua doação de amor e surge para sempre a nossa salvação”, recordou.

“Morrendo na cruz, inocente entre dois criminosos, Ele atesta que a salvação de Deus pode alcançar qualquer homem em qualquer condição, mesmo na mais negativa e dolorosa”.

O Papa assinalou que “a quem está acamado em um leito de hospital, a quem vive fechado em uma prisão, a quantos estão presos pelas guerras, eu digo: olhem para o Crucifixo; Deus está convosco, permanece com vocês na cruz e a todos se oferece como Salvador a todos nós. A vocês que sofrem tanto digo, Jesus foi crucificado por vocês, por nós, por todos. Deixem que a força do Evangelho penetre no vosso coração e vos console, vos dê esperança e a íntima certeza de que ninguém está excluído do seu perdão”.

Por outro lado, o “bom ladrão” pronuncia palavras que “são um maravilhoso modelo de arrependimento, uma catequese concentrada para aprender a pedir perdão a Jesus”.

“Não tem medo do amor de Deus, mas aquele respeito que se deve a Deus porque Ele é Deus”, explicou o Papa. “O bom ladrão recorda a atitude fundamental que abre à confiança em Deus: a consciência da sua onipotência e da sua infinita bondade” e isto “ajuda a dar espaço a Deus e a confiar em sua misericórdia”.

De fato, “Jesus está ali na cruz para estar com os culpados: através desta proximidade, Ele oferece a eles a salvação”. Portanto, “o bom ladrão se torna testemunho da Graça; o impensável aconteceu: Deus me amou a tal ponto que morreu na cruz por mim”.

“A própria fé desse homem é fruto da graça de Cristo: os seus olhos contemplam no Crucificado o amor de Deus por ele, pobre pecador”, disse o Santo Padre.

O relato da Paixão termina quando o bom ladrão pede a Jesus que se recorde dele no Paraíso. “Quanta ternura nesta expressão, quanta humanidade!”. “É a necessidade do ser humano de não ser abandonado, que Deus lhe seja sempre próximo”, afirmou.

O Papa acrescentou que “um condenado à morte se torna modelo de cristão que se confia a Jesus e também modelo da Igreja”.

“Na hora da cruz, a salvação de Cristo alcança o seu ápice; e a sua promessa ao bom ladrão revela o cumprimento da sua missão: isso é salvar os pecadores”, concluiu o Papa.

IV. - Referências


Cristo e o bom ladrão - https://www.loyolapress.com/our-catholic-faith/liturgical-year/lent/arts-and-faith-for-lent/cycle-a/arts-and-faith-good-friday

Ticiano - Wikipedia

Papa Francisco: Reflexão sobre o perdão na cruz.
https://www.acidigital.com/noticias/papa-francisco-embora-tenha-feito-algo-terrivel-jesus-tambem-te-perdoa-84845/


V - Série "Quaresma"


Quaresma I - Fé e Arte

Quaresma II - A Transfiguração de Rafael Sanzio

Quaresma III - A Samaritana

Quaresma IV - Cristo cura o cego de nascença (El Greco)

Quaresma V - Ressurreição de Lázaro por Janos Vaszary

Quaresma VI - Domingo de Ramos, pintura de Giotto di Bondone

Quaresma VII - Cerimônia do Lava Pés (pintura de Bernhard Strigel)

Quaresma VIII - Cristo e o bom ladrão
 
Quaresma IX - Sábado santo, "Da descida da Cruz ao Triunfo"

Quaresma X - Domingo de Páscoa, "A Ressurreição de Jesus Cristo", Piero della Francesca