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terça-feira, 9 de abril de 2024

Pompeia, uma cidade interrompida!

 1. Origens até a colonização romana


Pompeia foi originalmente um assentamento osco no século 8 a.C., antes de passar sob o controle dos samnitas, e eventualmente se tornar parte do Império Romano no século 1 a.C. Com sua localização estratégica e o desenvolvimento de infraestruturas como o porto e as estradas, Pompeia floresceu, atraindo comerciantes e visitantes de todo o Mediterrâneo.

Pompeia atual, foto Campania Hotel


Obs: Os Oscanos, ou Óscos, eram um dos vários povos itálicos que habitavam a península Itálica antes e durante o início da expansão romana. Eles falavam o osco, uma língua do grupo itálico que também incluía o latim, entre outras línguas. Os samnitas eram outra tribo que também falava o oscano mas era mais organizada e mais guerreira


Conquista Romana e Aliança


Pompeia, originalmente um assentamento osco, entrou pela primeira vez na esfera de influência romana no século IV a.C. Durante as Samnitas Wars, particularmente a Segunda Guerra Samnita (326-304 a.C.), Pompeia e outras cidades da Campânia encontraram-se no meio do conflito entre Roma e os Samnitas, um poderoso povo itálico que controlava uma grande área da Itália central e meridional. Após a derrota dos Samnitas, Pompeia e suas cidades vizinhas foram forçadas a reconhecer a supremacia de Roma, tornando-se aliadas (socii) de Roma.


Estatuto de "Socii"

Como socii, Pompeia manteve um grau de autonomia, incluindo o direito de governar-se e de gerir os seus próprios assuntos internos, mas estava obrigada a fornecer apoio militar a Roma quando solicitado. Esta relação permitiu a Pompeia prosperar sob a paz romana (Pax Romana), beneficiando-se do comércio e da estabilidade proporcionados pelo império em expansão.
Rebelião e Revolta

A relação entre Pompeia e Roma não foi, no entanto, sem tensões. No contexto da Guerra Social (ou Guerra dos Aliados) de 91-88 a.C., Pompeia juntou-se a outros povos itálicos numa revolta contra Roma, buscando o pleno direito de cidadania romana e uma maior igualdade dentro do sistema romano. A guerra foi marcada por conflitos brutais e extensos, mas terminou com a concessão da cidadania romana aos povos itálicos, incluindo os habitantes de Pompeia.
Colonização e Romanização

Após a Guerra Social, Pompeia foi transformada numa colônia romana, a Colônia Cornelia Veneria Pompeianorum, em 80 a.C., sob o general romano Sula. Este evento marcou o início de uma intensa romanização de Pompeia. A cidade foi reestruturada segundo o modelo romano, com a construção de novos edifícios públicos, um fórum, templos e um teatro, refletindo a arquitetura e os valores romanos. A população local foi aumentada com a chegada de veteranos romanos, que se estabeleceram na cidade como colonos, trazendo consigo as práticas, a língua e a cultura romanas.

2. - Organização e vida de Pompeia entre 60 e 79 d.C.


O Terremoto de 62

Na época da erupção, a cidade tinha aproximadamente 20 000 habitantes, estando localizada na região onde os romanos mantinham suas vilas de férias. Os moradores já haviam se habituado a tremores de terra de pequena intensidade, mas, em 5 de fevereiro de 62, um grave sismo provocou danos consideráveis na baía e particularmente em Pompeia. 

Acredita-se que o terremoto tenha atingido uma intensidade de 5 ou 6 na escala de Richter, provocando caos na cidade, então em festividades. Templos, casas e pontes foram destruídos, e as cidades vizinhas de Herculano e Nuceria foram também afetadas. Não se sabe quantas pessoas deixaram Pompeia, mas um número expressivo mudou-se para outros territórios do Império Romano, enquanto as remanescentes deram início à árdua tarefa de superar os saques, fome e destruição, enquanto tentavam reconstruir a cidade.


Economia e Comércio

Pompeia beneficiava-se de sua localização estratégica próxima ao Mar Tirreno, servindo como um importante centro comercial que facilitava o comércio entre Roma e as províncias do sul da Itália. A economia da cidade era diversificada, com um forte enfoque na agricultura, especialmente na produção de vinho e azeite, que eram exportados por todo o império. Além disso, a cidade abrigava uma variedade de ofícios e comércios, incluindo padarias, lavanderias, oficinas de tecelagem e cerâmica, evidenciando uma comunidade urbana vibrante e economicamente ativa.

Vida Urbana e Social

A estrutura urbana de Pompeia refletia o planejamento típico de uma cidade romana, com ruas reticulares, um fórum central que funcionava como coração político e social, termas públicas, teatros e anfiteatros. Estas estruturas não apenas atendiam às necessidades diárias dos cidadãos, mas também serviam como locais para eventos sociais, políticos e religiosos que fortaleciam a coesão da comunidade.

A vida social em Pompeia era rica e diversificada, com uma agenda cheia de festivais religiosos, competições atléticas, espetáculos teatrais e lutas de gladiadores. Estes eventos eram momentos cruciais para a expressão da identidade comunitária e para o entretenimento da população.

Práticas Religiosas

A religião desempenhava um papel central na vida dos pompeianos, com um panteão que incluía deidades romanas, locais e importadas. Templos dedicados a Júpiter, Apolo, Vênus e outros deuses romanos pontuavam a paisagem urbana, enquanto santuários menores e larários (altares domésticos) atestavam a prática de cultos domésticos e a veneração dos antepassados. A inclusão de deidades egípcias, como Ísis, reflete a natureza cosmopolita da cidade.

Vida Doméstica

As casas em Pompeia, desde modestas residências até luxuosas villas, eram centros de vida familiar e social. Muitas casas eram ricamente decoradas com afrescos que retratavam cenas mitológicas, paisagens e atividades cotidianas, oferecendo um vislumbre da estética e dos valores da época. Os pompeianos valorizavam a hospitalidade, e muitas casas eram projetadas com átrios e peristilos que facilitavam a realização de banquetes e reuniões sociais.


3. - A Erupção do Vesúvio


Quando o Vesúvio finalmente entrou em erupção, a magnitude e a violência do evento foram surpreendentes. A erupção começou no dia 24 de agosto de 79 d.C., lançando uma coluna de cinzas e rocha a uma altura de cerca de 30 quilômetros no céu. Isso foi seguido pela precipitação de pomes e outros materiais vulcânicos sobre Pompeia, enterrando a cidade. Nas horas seguintes, fluxos piroclásticos e surges (ondas de gases quentes e cinzas) atingiram Pompeia e as áreas circundantes, causando destruição adicional e a morte daqueles que não haviam fugido.

Percepção e Reação

Apesar dos sinais precursores, a maioria dos habitantes de Pompeia e Herculano não reconheceu a gravidade do perigo iminente até que fosse tarde demais. A falta de conhecimento sobre vulcanologia e a inexistência de sistemas de alerta precoce contribuíram para a tragédia. Alguns habitantes conseguiram fugir a tempo, mas muitos outros foram pegos de surpresa pela rapidez e intensidade da erupção.

Um estudo vulcanológico multidisciplinar e bio-antropológico das consequências e vítimas da erupção, aliado à simulações e experimentos numéricos, indicam que no Vesúvio e nas cidades circunvizinhas, o calor foi a principal causa de morte, no que anteriormente se supunha ser devido às cinzas e sufocação. Os resultados do estudo demonstram que a exposição ao calor de pelo menos 250 °C a uma distância de 10 quilômetros da erupção foi suficiente para causar morte instantânea, mesmo daqueles abrigados em construções. 

A população e construções de Pompeia foram cobertos por doze diferentes camadas de piroclasto, que caiu durante seis horas e totalizou 25 metros de profundidade. Plínio, o Jovem, forneceu um relato de primeira-mão da erupção do Vesúvio de sua posição em Miseno, do outro lado do golfo de Nápoles, numa versão escrita 25 anos após o evento.


4. - Pompeia atual


4.1 - O Fórum Romano


O Fórum de Pompeia foi construído por volta do século IV a.C., próximo a um ponto de comunicação crucial que ligava Neápolis, Nola e Stabiae. Construído com tufo vulcânico e lava solidificada, havia muitas lojas na área que acabaram sendo conquistadas e expandidas pelos romanos por volta do século II a.C.

A renovação completa feita pelos romanos incluiu o surgimento de vários edifícios culturais e políticos. Sob o comando do imperador romano Augusto, foram realizadas obras de restauração durante o século I a.C., que incluíram novas estruturas, como o edifício de Eumachia, o santuário de Augusto e o Macellum.




Após os efeitos devastadores do terremoto em 62 d.C., os esforços de reavivamento começaram em toda a cidade de Pompeia, incluindo o Fórum de Pompeia. Os resultados e os vestígios desse reavivamento são o que vemos hoje no Fórum de Pompeia e em seus arredores.

4.2 - O Anfiteatro




4.3 - A Casa dos Vetii









4.4 - O Lupanare




4.5 - As Termas



4.6 - Villa dei Misteri


5. - Referências


domingo, 7 de abril de 2024

Capri, beleza da costa

 1. - Introdução


Capri, uma ilha encantadora localizada no golfo de Nápoles, na Itália, tem uma história rica e fascinante que se estende desde a pré-história até os dias atuais. Ao longo dos séculos, Capri foi habitada por gregos, romanos, e conquistada por diversas nações, cada uma deixando sua marca na cultura, arquitetura e tradição da ilha.

Visão Geral



2. - Pequeno Resumo Histórico


Os primeiros habitantes de Capri são um tema de estudo e fascínio, com evidências que remontam à pré-história. Acredita-se que a ilha tenha sido inicialmente ocupada durante o Neolítico, por volta de 8.000 a.C., por grupos de caçadores-coletores que mais tarde deram lugar a comunidades agrícolas.

As primeiras evidências concretas de assentamentos permanentes em Capri datam da época dos gregos, especificamente dos séculos VIII e VII a.C. Os gregos foram atraídos para a ilha devido à sua localização estratégica no Mar Tirreno, bem como pela sua beleza natural. Eles estabeleceram as bases para muitos dos caminhos, muros e estruturas que seriam posteriormente desenvolvidos e expandidos pelos romanos. Além disso, é aos gregos que se atribui a introdução do cultivo de videiras e oliveiras, práticas agrícolas que se tornariam importantes para a economia local.

Mapa da Ilha de Capri


A presença grega em Capri é evidenciada por achados arqueológicos, incluindo fragmentos de cerâmica e inscrições, que sugerem uma presença e influência significativas. Estes primeiros habitantes nomearam a ilha como "Kapros", em referência aos javalis selvagens que eram comuns na região.

Após o período grego, Capri caiu sob o domínio romano, tornando-se um retiro popular para os ricos e poderosos do Império Romano, incluindo os imperadores Augusto e Tiberius. No entanto, a importância e o impacto dos primeiros habitantes gregos na formação da identidade cultural e histórica de Capri permanecem evidentes até hoje.


História de Capri

Era Antiga: A história de Capri é marcada pela presença de figuras ilustres desde a antiguidade. Os romanos foram especialmente atraídos pela beleza da ilha, com o Imperador Augusto e seu sucessor, Tiberius, sendo os personagens mais notáveis. Tiberius, em particular, construiu várias villas na ilha, incluindo a famosa Villa Jovis, demonstrando seu amor por Capri.

Idade Média até o século XIX: Ao longo da Idade Média, Capri foi invadida por piratas e conquistada por várias potências, incluindo os normandos e os espanhóis. No século XIX, Capri tornou-se um destino popular entre artistas, escritores e intelectuais europeus, encantados pela beleza natural da ilha e pelo seu clima ameno.

Século XX até o Presente: No século XX, Capri continuou a atrair figuras de destaque da cultura e do entretenimento, consolidando-se como um destino de luxo e inspiração artística.


3. - Locais de Interesse em Capri

  • Villa Jovis (Vila de Júpiter): A maior das residências imperiais romanas em Capri.

Vila de Júpiter ou "Villa Jovis" é um palácio romano construído pelo imperador Tibério e completado em 27 d.C. Tibério governou principalmente de lá até sua morte em 37 d.C.

Villa Jovis é a maior das doze vilas tiberianas em Capri mencionadas por Tácito. O complexo inteiro, abrange vários terraços e uma diferença na elevação de cerca de 40 m, cobre alguns 7,000 m² (1.7 acres).



Enquanto os restantes oito níveis de muros e escadarias apenas denotam a grandeza que o edifício deveria ter tido em seu tempo, reconstruções recentes têm mostrado a vila para ser um notável testamento para a arquitetura romana do século I.
  • Gruta Azul (Grotta Azzurra): Uma caverna marinha famosa pela cor azul intensa de suas águas.
  • Villa San Michele: A casa do médico sueco Axel Munthe, hoje um museu.
Villa Michele, foto Wikipedia


  • I Faraglioni: Três espetaculares formações rochosas que emergem do mar.

As pilhas de Capri são três formações rochosas localizadas a sudeste da ilha de mesmo nome , famosas em todo o mundo graças ao panorama evocativo e histórico que oferecem os jardins de Augusto .

Estas saliências são identificadas com três nomes distintos: o primeiro (unido ao continente) é Faraglione di Terra; a segunda, separada da primeira pelo mar, é a do Meio; enquanto o terceiro, que se estende em direção ao mar, é o Faraglione di Fuori. Este último é muito conhecido por ser o único habitat do famoso lagarto azul .




I faraglioni, foto dreamstime

Etimologicamente o nome deriva do grego faros , que significa farol.

Antigamente, de facto, nas montanhas e rochas próximas da costa, acendiam-se grandes fogueiras durante a noite, para sinalizar aos navegadores tanto o percurso como quaisquer obstáculos perigosos para a própria navegação. As pilhas provavelmente tinham a mesma função.

  • Giardini di Augusto: Belos jardins com vistas espetaculares das falésias de Capri.

  • Porto de chegada - Marina grande:




  • Piazetta


4. - Dados de Interesse


Como ir para Capri a partir de Nápoles:

Para a viagem de barco Nápoles - Isola di Capri, é melhor viajar com: Snav ou NLG. Além disso, você pode acessar a plataforma ou o app Omio para encontrar opções para a viagem Nápoles - Isola di Capri. Afinal, o mais importante é chegar ao seu destino, Isola di Capri, em segurança!

Ida Capri ==> 08:00h / 08:35h / 09:10h / 10:10h (50 min)
Volta Capri ==> 14:40h / 16:30h / 19:15h (50 min)

Reservas podem ser feitas online no site da Direct Ferries.
local de partida em Nápoles:
Os barcos (aliscafi) para Capri partem do Molo Beverello. Do Plebiscito Boutique rooms é 9 min de carro (2,1 km) ou 15 min andando (1,1 km).  Eles chegam Capri na Marina Grande.

Como ir de Marina Grande para a Piazetta ? 

A maioria dos visitantes chega a Capri nos barcos que atracam na Marina Grande. Para chegar ao centro da cidade, a opção mais fácil e barata é o funicular, um teleférico que sobe a colina até a cidade desde a marina.  Opera a cada 2 minutos entre as 6h30 e as 23h, a viagem dura 5 minutos e o bilhete custa 1,80 €

Um bilhete único custa 1,80 € (preço em 2022) e pode ser adquirido nas bilheteiras da Marina Grande, na Piazza della Pace em Anacapri e perto da Piazzetta no centro da cidade de Capri.

Um bilhete diário custa 8,60 € e permite um número ilimitado de viagens de autocarro ou duas viagens no funicular entre a Marina Grande e Capri.
A rota mais popular é aquela que circula entre Capri e Anacapri. É uma viagem curta (cerca de 15 minutos), mas emocionante, porque percorre penhascos íngremes com vistas extraordinárias. Olhar pela janela, em certos momentos, pode causar algum desconforto a quem tem medo de alturas.

Os passeios de barco são uma das coisas mais populares para fazer em Capri. É fácil alugar um barco para um passeio privado ou simplesmente fazer uma excursão de grupo.
Os passeios organizados partem da Marina Grande, o porto principal de Capri, e em regra continuam ao longo da costa sul da ilha até às famosas formações rochosas Faraglioni e até o pitoresco Farol de Punta Carena.

A Gruta Azul é uma das atrações mais visitadas da ilha. Além dos encantadores reflexos azul-turquesa das suas águas cristalinas, é a experiência de entrar na gruta que a torna verdadeiramente excecional: o acesso só é possível nos tradicionais barcos "gozzi", guiados com mestria pelos barqueiros de Capri.

A Gruta Verde, localizada no lado sul da ilha, imediatamente a seguir à Marina Piccola, também merece uma visita pelos seus reflexos únicos e tons de esmeralda da água cristalina.



Como ir para Capri a partir de Sorrento:




5. - Referências

quarta-feira, 27 de março de 2024

Arte e Fé - Quinta feira da Semana Santa, Ciclo B - Quadro de Tintoreto, "Jesus lavando os pés dos discípulos".

I. - Quinta feira Santa



A  Quinta-feira Santa relembra a última ceia que Jesus tomou com seus Apóstolos, em preparação à Páscoa. Durante a Ceia, Jesus surpreendeu a todos ao se levantar e lavar os pés de cada um dos Apóstolos, mostrando que a autoridade só pode ser entendida como serviço aos outros.

Depois da purificação, Jesus instituiu a Eucaristia, repartindo o pão e o vinho, transformados em seu Corpo e Sangue. Depois da Ceia, Jesus saiu com seus discípulos e foi para o outro lado do riacho do Cedron, onde havia um jardim. Judas Iscariotes também conhecia este lugar e levou uma tropa e alguns guardas dos chefes dos sacerdotes que prenderam Jesus e o levaram para Anás, começando, assim, o seu calvário. (fonte: Portal PUC Campinas)

Evangelho (Mc 14, 12-16.22-26)

No primeiro dia dos Ázimos, em que se imolava o cordeiro pascal, os discípulos perguntaram a Jesus:

«Onde queres que façamos os preparativos para comer a Páscoa?».

Jesus enviou dois discípulos e disse-lhes:

«Ide à cidade. Virá ao vosso encontro um homem com uma bilha de água. Segui-o e, onde ele entrar, dizei ao dono da casa: "O Mestre pergunta: Onde está a sala, em que hei de comer a Páscoa com os meus discípulos?". Ele vos mostrará uma grande sala no andar superior, alcatifada e pronta. Preparai-nos lá o que é preciso».

Os discípulos partiram e foram à cidade. Encontraram tudo como Jesus lhes tinha dito e prepararam a Páscoa.

Enquanto comiam, Jesus tomou o pão, recitou a bênção e partiu-o, deu-o aos discípulos e disse:

«Tomai: isto é o Meu corpo».

Depois tomou um cálice, deu graças e entregou-lho. E todos beberam dele. Disse Jesus:

«Este é o Meu sangue, o sangue da nova aliança, derramado pela multidão dos homens. Em verdade vos digo: Não voltarei a beber do fruto da videira, até ao dia em que beberei do vinho novo no reino de Deus».

Cantaram os salmos e saíram para o monte das Oliveiras.


II  - O quadro de Tintoretto - Museu do Prado, 1548 a 1549, 

"Jesus lavando os pés dos Apóstolos"


       Tintoretto, “Christ Washing the Disciples’ Feet,” 1548–1549, Museu do Prado


III. - Reflexão baseada no Quadro - Daniela Zsupan - Loyola University


A interpretação dramática de Tintoretto de Cristo lavando os pés dos discípulos nos convida a entrar em um grande salão, com arquitetura suntuosa e vistas esplêndidas. Tintoretto nos tira do contexto histórico da Jerusalém do primeiro século para mostrar a atemporalidade do acontecimento. Jogando ainda mais com o tempo, sua grande cena coloca lado a lado o passado, o presente e o futuro. A atenção cuidadosa a essas cenas justapostas nos convoca a navegar pela narrativa visual em forma de U, da direita para a esquerda.

No canto superior direito, obscurecido pela penumbra, está o passado recente: a cena da refeição da Última Ceia. Em primeiro plano está o presente – o momento do lava-pés. Tintoretto reproduz a mesa de jantar para sublinhar uma ligação com a refeição, cujos vestígios ainda perduram como se vê no pão e na jarra. O artista também reduz o tempo entre o lava-pés de Pedro, canto inferior direito, com o efeito que isso deve ter produzido no resto dos discípulos. Eles são convidados a participar do ritual também e, nesta cena, isso ocorre de uma só vez.

Os discípulos e suas variadas respostas ao lava-pés são o foco visual da cena. Os dois ajudando a despir os pés um do outro demonstram urgência. A figura na parte inferior esquerda desfazendo firmemente as tiras das sandálias mostra obediência constante, assim como o discípulo atrás de Jesus removendo a meia. A figura sentada em oração contra uma coluna nas costas é um exemplo de discernimento. Os que ainda estão sentados à mesa significam observação e diálogo e, por fim, a figura mais distante e mais escondida nas sombras mostra suspeita e resistência. Ele provavelmente é Judas.

No canto superior esquerdo da cena, vemos uma vista sobre um pátio com piscina ladeado por arquitetura clássica, que conduz a perspectiva muito além através de um arco. Passando do primeiro plano para o fundo da vista, as imagens nos dão uma visão abreviada dos eventos que acontecerão após a Última Ceia. A urgência dos discípulos prenuncia a sua pressa no jardim quando Jesus é preso. Judas, permanecendo nas sombras, convida-nos para as horas mais sombrias da Paixão de Jesus que se seguirão. A piscina com o barco é a morte, uma reminiscência da antiga mitologia da vida após a morte, especificamente da travessia do rio Estige da morte para a eternidade. A quietude evoca mais o Sábado Santo do que a Sexta-feira Santa. O arco e o obelisco são ambos sinais de conquista e triunfo na arquitetura clássica, e aqui nos dão uma promessa de esperança eterna e da vitória que virá no Domingo de Páscoa. Esta pintura é, portanto, um excelente convite a todo o Tríduo Pascal.

 

Commentary is by Daniella Zsupan-Jerome, director of ministerial formation at Saint John's University School of Theology and Seminary.


IV. - Quem foi Tintoretto

Tintoretto, nome artístico de Jacopo Robusti (Veneza, ca. 1518 — 31 de maio de 1594), foi um dos pintores mais radicais do maneirismo. Por sua energia fenomenal em pintar, foi chamado Il Furioso, e sua dramática utilização da perspectiva e dos efeitos da luz fez dele um dos precursores do Barroco. Seu pai, Battista Comin, era tintore (tingia seda), o que lhe valeu o apelido.

Tintoretto, autoretrato,



Tintoretto saiu pouco de Veneza, ele amava todas as artes, tocava vários instrumentos musicais, alguns de sua invenção, desenhou roupas e adereços para o teatro, era versado em mecânica e era uma companhia agradável. Dificilmente admitia algum amigo no local de trabalho e mantinha suas ideias e modelos escondidos dos olhares, mesmo de seus assistentes. Usava, por insistência da esposa, a roupa de um cidadão de Veneza.

A obra de Tintoretto era desigual, às vezes pintava muito rápido, com uma capacidade impressionante de trabalho. Seus contemporâneos diziam que Tintoretto em algumas obras era igual a Ticiano, em outras era pior que Tintoretto.

A comparação da Última Ceia de Tintoretto com a de Leonardo dá uma demonstração instrutiva sobre como o estilo artístico moveu-se durante o Renascimento. Leonardo é todo clássico response. A disciplina se irradia de Cristo em simetria matemática. Nas mãos de Tintoretto, o mesmo evento é dramaticamente distorcido, enquanto as figuras humanas são elevadas pela erupção do espírito humano. Pelo dinamismo de sua composição, seu uso dramático da luz e seus efeitos de perspetiva, parece um artista barroco antes da hora. (fonte Wikipedia)

V. Mensagem do Papa sobre o Lava Pés -  2023

“O rito do lava-pés não é folclore, mas nos diz como devemos ser”. "Todos podem escorregar, Jesus nos ama como somos". É a mensagem que o Papa Francisco deixa aos jovens na sua breve homilia durante a missa em Coena Domini (Missa do lava-pés), no Instituto Penitenciário para Menores de Casal del Marmo.

Bergoglio, em sua homilia pronunciada sem texto, recorda Jesus lavando os pés dos Apóstolos: "Os discípulos ficaram espantados quando viram Jesus fazendo trabalho de escravo. Se nós ouvíssemos isto de Jesus, iríamos imediatamente nos ajudar uns aos outros, mas em vez disso nos fazemos de espertos, aproveitando-se um do outro. É bonito ajudar, isso nasce de um "coração nobre"". Cada um de vocês pode dizer: "mas, se o Papa soubesse o que eu tenho dentro. Mas Jesus nos ama como somos, Ele não tem medo de nossas fraquezas. Ele quer nos acompanhar, nos levar pela mão. Farei o mesmo gesto de lavar os pés, mas não é folclore, é um gesto que anuncia como devemos ser".


''Na sociedade - a reflexão - há muitas injustiças: pessoas sem trabalho, pessoas que trabalham e são pagas pela metade, famílias desfeitas. Cada um de nós pode escorregar e isso nos dá a dignidade de ser pecadores. É por isso que Jesus quis lavar os pés para ajudar uns aos outros. Assim, a vida é mais bonita". E Francisco conclui: "Eu espero conseguir porque não consigo andar bem, mas vocês pensem: Jesus lavou os meus pés''.


VI. - Referências


Wikipedia - Tintoretto
Arte e Fé - Loyola Press


segunda-feira, 18 de março de 2024

Sorrento, ponto de passagem especial

 1. - Introdução

A

A história de Sorrento é uma mistura das civilizações que aqui floresceram. Os gregos antigos foram os primeiros a serem seduzidos por sua beleza, chamando-a de "Syrrentum", um nome que ecoa as sereias mitológicas que, segundo a lenda, habitavam suas águas. Diz-se que essas criaturas encantavam os marinheiros com seus cantos hipnóticos, atraindo-os para a costa rochosa de Sorrento, onde encontravam seu destino nas mãos da natureza implacável.

Visão de Sorrento, wiki.en


Com o passar dos séculos, romanos, bizantinos, normandos e espanhóis deixaram sua marca nesta terra, cada um contribuindo para o rico mosaico cultural de Sorrento. As ruínas romanas, igrejas medievais e palácios renascentistas contam histórias de um passado glorioso, enquanto as estreitas ruas mostram a vida e as tradições do presente.

Entretanto, Sorrento não é apenas um relicário de história e cultura. É principalmente um santuário de belezas naturais, onde a magia se manifesta em cada esquina. Os penhascos dramáticos se erguem majestosamente sobre o mar azul-turquesa, oferecendo vistas de tirar o fôlego que inspiraram poetas, pintores e sonhadores ao longo dos séculos. Os jardins exuberantes e os pomares de limões dourados exalam um perfume doce, uma promessa etérea de felicidade e serenidade.

2. - História resumida de Sorrento


A história de Sorrento é rica e multifacetada, marcada por influências de diversas civilizações ao longo dos séculos. Vamos percorrer os principais fatos históricos, desde a sua fundação até os dias atuais, destacando os principais protagonistas e eventos de cada época.

  • Fundação e Era Antiga: Século VIII a.C.: Acredita-se que Sorrento foi inicialmente habitada pelos Italiotas, ou seja, os povos gregos que se estabeleceram no sul da Itália. A cidade era conhecida como Surrentum.
  • Século V a.C.: Os oscos, um dos povos itálicos, tomaram a região, deixando suas marcas na língua e na cultura local.
  • Século IV a.C.: A cidade passa a fazer parte da esfera de influência de Roma. Durante o domínio romano, Sorrento floresceu, tornando-se um resort popular entre os patrícios romanos, como é evidenciado pelas luxuosas villas que pontilham a costa.
Os romanos

  • Idade Média:455 d.C.: A cidade sofre com as invasões dos vândalos.
  • Séculos IX-XI: Sorrento enfrenta constantes ataques de sarracenos e normandos. No entanto, durante este período, a cidade consegue manter uma certa autonomia, graças à sua posição estratégica e às fortificações construídas para se defender dos invasores.
  • 1133: Sorrento é conquistada por Roger II da Sicília, tornando-se parte do Reino Normando da Sicília.
  • Renascimento e Idade Moderna: Século XV: Sob o domínio de Fernando I de Aragão, Sorrento conhece um período de paz e prosperidade. A cidade se torna um centro de humanismo e cultura, atraindo artistas, poetas e filósofos.
Fernando I de Aragão

  • 1558: Sorrento é saqueada pelos otomanos sob o comando de Piyale Pasha, um evento traumático que leva à reconstrução e fortificação da cidade.
  • Era Contemporânea:Século XIX: A cidade se transforma em um importante destino turístico durante o Grand Tour, atraindo escritores, artistas e aristocratas de toda a Europa, incluindo personalidades como Lord Byron, John Keats e Friedrich Nietzsche.
  • Unificação da Itália (1861): Sorrento é incorporada ao Reino da Itália. Durante este período, a cidade continua a florescer como um destino turístico, beneficiada pela sua beleza natural e patrimônio histórico.

Garibaldi, unificação italiana

  • Século XX: Sorrento e a Costa Amalfitana se consolidam como destinos turísticos de elite. A cidade sofre danos durante a Segunda Guerra Mundial, mas se recupera rapidamente, continuando a atrair visitantes de todo o mundo.
  • Dias Atuais: Sorrento mantém seu charme histórico, com suas ruas estreitas, igrejas antigas e vistas deslumbrantes do Mar Tirreno. A cidade é conhecida por sua produção de limoncello, artesanato e como ponto de partida para explorar a Costa Amalfitana, Pompeia e o Monte Vesúvio.

Ao longo de sua história, Sorrento foi palco de eventos significativos e lar de várias figuras importantes, incluindo o poeta Torquato Tasso no século XVI. A cidade reflete um legado de resiliência e beleza, atraindo visitantes com sua rica história, cultura vibrante e paisagens deslumbrantes.


3. - Principais locais para visitar em Sorrento

Sorrento é uma cidade repleta de história e cultura, com muitos de seus pontos turísticos refletindo séculos de desenvolvimento. Vamos revisar os principais locais para visitar em Sorrento, adicionando informações sobre suas datas de construção e seus fundadores, sempre que disponíveis:
  • Il Vallone dei Mulini (Vale dos Moinhos): Este local encantador remonta ao século X, embora o moinho abandonado visível hoje tenha sido construído no início do século XIX. O vale era originalmente usado para moer trigo, com a energia fornecida pela força da água.

Vale dos Moinhos, foto idealista.pt


  • Marina Grande: Embora a Marina Grande seja um porto natural que tem sido usado desde tempos antigos, a configuração atual do porto de pesca e a comunidade que o rodeia desenvolveram-se ao longo de séculos, sem uma data específica de construção ou um único fundador.

  • Marina Piccola: è da Marina Piccola que saem a maior parte dos ferry-boats e barcos para a Costa Amalfitana.
Marina Piccola, wikipedia en
  • Cattedrale di Sorrento: A construção da catedral atual começou no século XV, especificamente no ano de 1474. A catedral foi dedicada a São Filipe e São Tiago e é resultado da evolução de construções religiosas anteriores no mesmo local.

Foto Expedia.com
  • Chiostro di San Francesco (Claustro de São Francisco): Este belo claustro foi construído no século XIV, fazendo parte de um complexo religioso que também inclui a Igreja de São Francisco de Assis. A construção do claustro é atribuída à ordem franciscana, que teve uma presença significativa em Sorrento.
Claustro de São Francisco, dreamstime


  • Corso Italia: O Corso Italia é a principal rua de Sorrento e, como tal, tem evoluído com a cidade ao longo dos séculos. Não há uma "data de construção" específica, pois a rua reflete o crescimento contínuo e as mudanças de Sorrento ao longo do tempo.

  • Museo Correale di Terranova: Este museu foi fundado no final do século XIX, especificamente em 1924, por Alfredo e Pompeo Correale, últimos descendentes de uma das famílias mais nobres de Sorrento, que decidiram legar sua casa e coleções ao público.
  • Bagni della Regina Giovanna: Este local natural, com suas ruínas romanas, tem sido um ponto de interesse desde a antiguidade. A piscina natural e as estruturas associadas não têm uma data de construção específica, mas as ruínas próximas datam do período romano.

Banho da Rainha Giovana, foto Italia.it

  • Belvedere di Sorrento (Mirante de Sorrento): Como um ponto de vista natural, o Belvedere di Sorrento não tem uma "data de construção". No entanto, a área tem sido equipada e melhorada para visitantes ao longo dos anos, especialmente no século XX.

  • Basilica di Sant’Antonino: A basílica original foi construída no século XI, dedicada a Sant'Antonino Abate, o santo padroeiro de Sorrento. A igreja foi reconstruída e ampliada em várias ocasiões desde então.
  • Piazza TassoPiazza Tasso é um lugar central e praça em Sorrento, no sul da Itália . A praça leva o nome do poeta Torquato Tasso (1544–1595).

    Na praça principal, conhecida como Largo da Casta, encontra-se a Igreja Carmelita Barroca del Carmine, pintada de amarelo, que guarda no seu interior uma pintura de Onofrio Avellino da Virgem Maria com São Simão Stock e anjos. Na praça ergue-se uma estátua de S. Antonino Abbate. A rua comercial Via San Cesareo sai da praça para o oeste.

    Também perto da Piazza Tasso fica o Palazzo Correale, agora também um museu, Museu Correale .
Piazza Tasso, pinterest, foto de


  • A produção de Limoncello: O limoncello é uma tradição de longa data em Sorrento, com suas origens exatas  perdidas na história. No entanto, acredita-se que a produção deste licor de limão começou no final do século XIX ou início do século XX.
lemoncello in Il Convento

Cada um desses locais oferece uma janela para a rica tapeçaria histórica e cultural de Sorrento, desde antigos vales de moinhos e portos de pesca até majestosas catedrais e claustros medievais. A cidade é um verdadeiro tesouro de descobertas para qualquer visitante.


3. Pequeno Mapa de Sorrento




4. - Como ir para Positano e Costa Amalfitana

Para ir a Positano de Sorrento por mar, pode-se tomar o trajeto do Porto de Sorrento, conhecido como Marina Piccola. Esse porto è facilmente acessível do centro de Sorrento, seja a pé, de ônibus ou um funicular /ascensor da Praça Tasso, o coração da cidade.   

O serviço é operado por diversas companhias de navegação. Durante a estação turística, de Abril a Outubro, tem mais horários disponíveis.    

As companhias são NLG (Navigazione Libera del Golfo), Alilauro, e Positano Jet, tra le altre.  

Meios de Transporte em Sorrento

No entanto, Sorrento é relativamente pequena e caminhar por ela oferece a oportunidade de apreciar a bela arquitetura e as vistas. Para aqueles que preferem evitar escadas ou terrenos íngremes, há alternativas como o uso de ônibus locais ou um pequeno serviço de ônibus (minibus) que conecta diferentes partes da cidade. Além disso, há um elevador (ascensore) que liga a Piazza Tasso, o coração de Sorrento, à Marina Piccola, proporcionando uma opção conveniente para evitar a caminhada íngreme.

https://www.ferryhopper.com/pt  horários 9:15, 10:00h, 10:30h, 11:00h


5. - Referências

Wikipedia - Sorrento

ChatGpt - Locais e eventos históricos em Sorrento